• Nenhum resultado encontrado

Tratamento da informação: a Análise de Conteúdo

CAPÍTULO IV METODOLOGIA

4- Tratamento da informação: a Análise de Conteúdo

O tratamento da informação recolhida foi feito recorrendo à técnica de análise de conteúdo.

Enquanto técnica de análise de dados, a análise de conteúdo foi a que nos pareceu mais apropriada para análise das entrevistas e de outros documentos, nomeadamente depoimentos de alunos e professores, uma vez que das leituras efectuadas ressalta a ideia de que, por trás do discurso aparente, simbólico, podem esconder-se sentidos que devem desvendar-se. Quivy & Champenhoudt (2005: 195) parecem confirmar esta ideia ao afirmar que “em investigação social, o método das entrevistas está sempre associado a um método de análise de conteúdo”. Os mesmos autores (2005: 227) referem ainda que

“ O lugar ocupado pela análise de conteúdo na investigação social é cada vez maior, nomeadamente porque oferece a possibilidade de tratar de forma metódica informações e testemunhos que apresentam um certo grau de profundidade e de complexidade, como, por exemplo, os relatórios de entrevistas pouco directivas”.

Também Pardal (1995: 72-73), pronunciando-se sobre esta técnica, embora também haja quem a designe de método, diz que “viabiliza, de modo sistemático e quantitativo, a descrição do conteúdo da comunicação”, complementando que a sua utilização “permite detectar o conteúdo ideológico de uma mensagem televisiva, de um manual didáctico, de um filme, etc.”.

Para Almeida & Pinto (1976: 96) a análise de conteúdo “procura agrupar significações, e não vocábulos, e é, em princípio, aplicável a todos os materiais significantes, a todas as «comunicações», não se cantonando aos textos escritos”.

Contudo, foi Laurence Bardin que dedicou toda uma obra à análise de conteúdo, salientando a sua importância enquanto “conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a «discursos» extremamente diversificados”. Bardin (1977: 38) define análise de conteúdo como

“um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdos das mensagens, indicadores (quantitativos ou

128

não) que permitam a inferência32 de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”.

A mesma autora (1977: 45) refere-se também à análise documental, dizendo que

“alguns procedimentos de tratamento da informação documental apresentam tais analogias com uma parte das técnicas da análise de conteúdo, que parece conveniente aproximá-los para melhor os diferenciar”. Acrescenta que se à análise de conteúdo “suprimirmos a sua função de inferência e se limitarmos as suas possibilidades técnicas apenas à análise categorial ou temática, podemos, efectivamente, identificá-la à análise documental”.

Depois de tecer estas considerações e citando Chaumier, define análise documental como “uma operação ou um conjunto de operações visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a fim de facilitar num estado ulterior, a sua consulta e referenciação” (1977: 45).

Bardin (1977: 46) conclui, no entanto, que apesar da semelhança de certos procedimentos, existem diferenças fundamentais entre a análise de conteúdo e a análise documental, a saber:

 “A documentação trabalha com documentos; a análise de conteúdo com mensagens (comunicação).

 A análise documental faz-se, principalmente por classificação-indexação; a análise categorial temática é, entre outras, uma das técnicas da análise de conteúdo.

 O objectivo da análise documental é a representação condensada da informação, para consulta e armazenagem; o da análise de conteúdo, é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem”.

Do pensamento de Bardin, anteriormente exposto, salienta-se que um dos aspectos mais importantes da análise de conteúdo é a utilização de categorias embora, segundo a mesma autora, não seja uma etapa obrigatória. A categorização tem como objectivo inicial simplificar os dados brutos que são recolhidos na investigação, organizando-os. Esta autora (1977: 117-118) define categorização como“uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos”. Dando seguimento à

32 “Inferência: operação, pela qual se admite uma proposição em virtude da sua ligação com outras

129 ideia, entende por categorias “rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registo, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos”. Complementando, Bardin diz que “Classificar elementos em categorias, impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. O que vai permitir o seu agrupamento, é a parte comum existente entre eles”.

Bogdan e Biklen enfatizam também a importância da categorização como forma de organização dos dados recolhidos, mostrando a importância e a necessidade de definir um sistema de codificação desses dados com base em palavras ou frases que eles designam de

“categorias de codificação”. Para estes autores (1994: 221)“As categorias constituem um

meio de classificar os dados descritivos que recolheu, de forma a que o material contido num determinado tópico possa ser fisicamente apartado dos outros dados”.

A fim de definirmos as categorias que serviram de base ao estudo empírico, partimos da categorização definida por Estrela e analisámos os registos de incidente disciplinar do Gabinete Disciplinar (anteriormente referido), respeitantes ao ano lectivo de 2007/2008, com base nos quais definimos as categorias que se apresentam no quadro X:

QUADRO X – Categorias comportamentais

CATEGORIAS COMPORTAMENTOS

Relação professor-aluno

- "Sussurrar" tudo o que o professor diz.

- Interromper o professor com questões fora do assunto da aula. - Insultar o professor.

- Não estar atento e pedir ao professor, continuamente, para repetir. Relação aluno-aluno - Provocar os colegas.

- Insultar os colegas.

Comunicação oral clandestina e distracções

- Conversar com o colega do lado. - Rir exageradamente.

- Lançar papéis (ou outros objectos) pelo ar. - Fazer rir os colegas.

- Ler banda desenhada ou outras revistas. - Falar desordenadamente.

Movimentação - Balançar-se continuamente na cadeira. - Circular pela sala de aula.

Material escolar - Riscar nas carteiras. Trabalho

- Faltar às aulas sem razão.

- Não participar nas aulas; Estudar para outra disciplina. - Chegar atrasado às aulas.

- Não trazer o material escolar necessário.

Convenções sociais

- Demonstrar satisfação ao ser expulso da sala de aula. - Atirar "lixo" (papéis...) para o chão.

- Entrar na sala de aula sem pedir autorização. - Levantar-se do lugar sem autorização. - Permanecer na aula com o boné na cabeça.

130