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2 BASE TEÓRICO-EMPÍRICA

2.1 Relacionamentos em Marketing

2.1.5 A influência dos Mecanismos de Tomada de Decisão

Nós definimos lealdade ao Banco como: a resposta enviesada de

comportamento, expressa no tempo, por alguma unidade de

construção de decisão com respeito a um banco ou um grupo de bancos, sendo uma função de um processo psicológico (processo de decisão e avaliação) resultando em comprometimento de marca. [...] como o compromisso que amarra o indivíduo à sua escolha de banco. [...] Como um resultado explícito e extensivo de um processo

de decisão, assim como avaliativo [...] (BLOEMER et al., 1998,

p.277) (negrito nosso)

Os consumidores possuem uma visão hierárquica não-linear nas tomadas de

decisões, com heurísticas e regras armazenadas (provenientes de outras

decisões) ou construtivistas (construídas no momentum) para decidir sobre a

compra que enviesam esta decisão (BETTMAN, 1970:1979, BETTMAN e

JONES, 1972; BETTMAN e ZINS, 1977).

Para Bettman e Park (1980) & Baron (2008) os consumidores muitas vezes

utilizam para a tomada de decisão um processo de múltiplos estágios. Neste os

consumidores “diminuem” a lista de opções sistematicamente, analisando

todas as opções e não cada uma em profundidade. Comparam os atributos

considerados principais e chegam a uma conclusão pessoal de qual opção

atende melhor às necessidades.

A qualidade desta decisão é resultado do conhecimento (expertise) e

capacidade de lidar com o problema mais do que a importância da decisão ao

consumidor, que funciona mais como um estímulo para a busca de

informações (PAYNE et al., 1992, SHEN et al. 2005). Sem esta capacidade,

cognitiva ou até emotiva, o número excessivo de informações pode levar o

consumidor ao erro (LURIE, 2004).

Baron (2008) ao revisar os principais métodos que influenciam a tomada de

decisão verificou um grande número de estudos indicando que os indivíduos

quando fazem decisões frente a incertezas violam a teoria baseada em

utilitarismo. Isto acontece porque, além de focarem em aspectos que

consideram salientes quando são incapazes de diferenciar ou entender

eficazmente atributos (PAYNE et al., 1992), o modo como uma informação ou

seu conteúdo é apresentado pode se tornar um viés que direciona as intenções

de compra. Ou seja, quando existem várias informações que não percebe ou

não compreende, o consumidor passa a dar maior valor e importância a tais

informações mais salientes e perceptíveis na busca pela compreensão, mesmo

que elas não sejam realmente relevantes. A aceitação e uso de tais

informações salientes é maior quando se ajusta a uma regra de decisão

compensatória ou racionalizada para justificar a decisão. Ao não compreender

ou não encontrar diferenças optaria por marcas tradicionais, costume, preço,

etc..., decisões que o próprio indivíduo possa entender e futuramente justificar

ao próximo e a si mesmo (PAYNE et al., 1992) (“porque comprei este leite?

porque estava mais barato/é da marca que sempre compramos”, etc...).

Estudos demonstram que ao manipular informações de preço, dando duas (até

múltiplas) referências, estas distorcem a percepção de valor e aumentam as

intenções de compra (KRISHNA, et al 2002). Para Howard e Kerin (2006) isto

ocorre porque indivíduos sem informações (referências) anteriores de preços

utilizam a referência dada pelo fornecedor para a decisão, e o mesmo poderia

ocorrer ao tomar decisões no setor de serviços, não só para o preço, mas

também para a avaliação de satisfação. Não encontrando ou compreendendo

diferenças além destas, quando uma destas informações se tornasse mais

saliente (por uma frase, um contexto ou situação que a tornasse significativa)

esta teria seu impacto significativamente alterado nas decisões. Assim, um

preço teria impacto nas decisões de compra quando o consumidor percebe

uma variação significativa, mas não quando fosse padronizado. Da mesma

forma, a avaliação de satisfação só tende a ser usada quando esta é possível

de ser comparada entre fornecedores. Não existindo uma avaliação de

satisfação, não se pode esperar que ela afete as decisões subseqüentes de

compras, fazendo que o consumidor haja baseado no preço, ou ainda de forma

mais transacional.

Resultados de McLaughlin, et al (2008) sugerem que um diagnóstico inicial à

um problema pode enviesar o processamento analítico subseqüente. Isto

acontece porque os consumidores utilizariam “atalhos de decisão” em

reaproveitar uma regra com um resultado satisfatório, continuando a

empregá-la para reduzir esforços e maximizar resultados produzindo viés em sua própria

decisão (BETTMAN e ZINS, 1977; PAYNE et al.1992). Estas seriam heurísticas

ou regras pré-processadas que o consumidor reutiliza em várias decisões de

compra (e.g. um indivíduo no passado realizou uma decisão baseada em

marcas tradicionais, e obteve um resultado satisfatório, tenderá a fazê-lo outra

vez e, se o resultado for insatisfatório, este buscará outro atributo para

comparar as opções).

Recordando a conceituação da lealdade e de dois de seus antecedentes, vê-se

usos similares a estes “atalhos” de avaliações e decisões anteriores. A

Satisfação “é uma avaliação global realizada ao longo do tempo baseada na

experiência total de consumo”, a Confiança é a “crença [...] que suas

necessidades serão atendidas no futuro por ações do seu fornecedor”,

enquanto a Lealdade “é um profundo comprometimento de um consumidor em

continuar consumindo ou comprando de um dado fornecedor, causando a

compra repetida” (PRADO e SANTOS, 2004, p.6) decorrente de uma

resposta com viés de comportamento, expressa no tempo, por alguma

unidade de construção de decisão” (BLOEMER et al., 1998, p.277).

Considera-se então que em um relacionamento comercial a avaliação da

satisfação pode funcionar como um “atalho” influenciando as decisões. Esta

avaliação de satisfação é uma regra simples a ser compreendida e justificada,

que influenciará as intenções de compra mesmo frente ao preço.

Consumidores que obtiveram bons resultados na avaliação de investimentos e

benefícios de um produto ou serviço (satisfação) em momentos prévios de

decisão, e que agora não conseguem perceber ou compreender diferenças

entre opções, continuarão a optar pelo mesmo fornecedor, esperando que suas

necessidades continuem a serem atendidas (confiança).

Ademais, repetindo suas compras com este fornecedor, o indivíduo pressupõe

não só que os benefícios que recebeu no passado justificam um preço maior,

mas também que continuará recebendo benefícios que mantenham sua

satisfação ou evitem uma insatisfação com um fornecedor desconhecido.

De forma semelhante irá pressupor que se teve uma avaliação negativa poderá

ficar insatisfeito no futuro, e que para manter-se com o fornecedor atual - tendo

falhado em oferecer benefícios no passado (monetários ou não-monetários) -

este deve agora fornecer uma contraposição financeira (menor preço) que

justifique a decisão.

Entretanto, quando não existir tal avaliação concreta de satisfação, os

consumidores não poderão se basear nela para tomar suas decisões, sendo

mais suscetíveis aos demais fatores salientes para decisão, mas não exigirão

contraposições monetárias tão altas quanto os indivíduos insatisfeitos

necessitam para justificar sua decisão. Enquanto a decisão basear-se em não

estar satisfeito ou não estar insatisfeito, e com um preço sem variação, o

consumidor não terá embasamento concreto para decidir. Quando houver uma

variação tornando o fator preço mais saliente, terá a maior queda de intenções

pois é o único fator que conseguirá utilizar para formar decisão.

Pressupõe-se, então que:

(H1): as intenções de compra e disposição de preço a pagar serão

maiores quanto melhores forem as avaliações de satisfação anteriores e;

(H1a) a incapacidade de avaliação de satisfação (positiva ou negativa) não

trará subsídios iniciais para decisão, e incidirá em maior susceptibilidade

à variação de preços nas intenções de compra.