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5 Conclusões

5.3 Implicações Gerenciais

Os resultados dos experimentos demonstraram o impacto que desenvolver um

relacionamento (satisfação) pode ter para as empresas do setor financeiro,

assim como de outros setores, afetando as intenções de compra e disposição

de preços a pagar (FOURNIER, 1998; PAULSSEN e FOURNIER, 2007;

BREIVIK e THORBJORNSEN, 2008; WANG e HEAD, 2005, WANG et al.,

2006; GRÖNROOS, 1995:1997:2009; COVIELLO et al., 1997; KRASNIKOV et

al., 2009; PRADO, 2004; PRADO e SANTOS, 2004; BRANDÃO e

YAMAMOTO, 2006; REINARTZ et al., 2004:2005; PALMATIER et al., 2006).

As hipóteses foram testadas dentro de um cenário de setor bancário

controlando a diferenciação de atributos fazendo uma analogia à alta

normatização de produtos e serviços financeiros, e até uma falta de

compreensão destes pelos consumidores. Com este controle existiram apenas

duas variáveis (independentes) nas quais o consumidor poderia se

fundamentar, o preço e o relacionamento comercial que tinha com o banco.

Nestes experimentos foi possível verificar o impacto destes 03 (três) tipos de

relacionamentos comerciais, ou seja, os impactos que satisfação positiva e

negativa pode ter nos resultados, assim como a falta de benefícios e

interações.

Antes da coleta de dados presumia-se que o setor de serviços financeiros seria

um dos setores em que o consumidor não estaria disposto a pagar pelo

diferencial de relacionamento (GRÖNROOS, 2009), apresentando aspectos

mais transacionais (PRADO, 2004, BRANDÃO e YAMAMOTO, 2006) do que

relacionais. Entretanto, ao controlar variáveis externas e verificando o impacto

apenas do relacionamento (pela satisfação e confiança) e do preço em si, foi

possível rejeitar tal premissa. Com uma satisfação média geral baixa (amostra

geral) os indivíduos sim apresentavam aspectos transacionais, focando em

preços. Entretanto, os efeitos foram resultados da insatisfação ou a falta de

benefícios e interações. Com esta baixa média geral de satisfação (com 1/3

insatisfeitos, 1/3 neutros e apenas 1/3 satisfeitos), tantos as médias das

intenções de compra quanto as WTP foram baixas (menores que o concorrente

sem relacionamento). Entretanto, verificou-se que tendo satisfação positiva

(acima de 6 na escala) os consumidores tinham boas intenções de compra e

baixa susceptibilidade ao preço, e em média tinham uma disposição (simbólica)

em pagar preços premiums (e ainda muitos dispostos em pagar o valor “cheio”

de R$1.500,00).

O papel como viés da satisfação foi aqui corroborado não só ao comparar as

susceptibilidades às variações de preços, mas também ao tornar esta

avaliação mais saliente e próxima das decisões. Consumidores satisfeitos, ao

serem recordados (reforçando) sobre sua satisfação positiva teriam maiores

intenções de compra. Em um segundo momento, também não foram

influenciados por induções de autorregulação e focos regulatórios que

reforçavam a importância de metas de consumo e eram mais suscetíveis às

referências de preço (resultado da amostra geral e grupo Neutro). Entretanto,

mais uma vez recomendamos cautela. Enquanto recordar um cliente que ele

tem ou teve uma avaliação de satisfação positiva no passado tem relação

positiva na manutenção de relacionamentos, recordar um cliente que em anos

não teve benefícios (ou interações), ou mesmo teve aspectos negativos pode

ter um efeito proporcionalmente negativo - ainda que aqui não testado.

Estes resultados apesar de não poderem ser generalizados para um contexto

maior (outros produtos ou outros setores) devido à metodologia, corroboram

com outros estudos relativos ao marketing de relacionamento. Apesar de

dever-se restringir então à generalizações da teoria em si, foram coletadas

mais evidências que “aumentam a confiança na existência de uma relação

causal” (MALHOTRA, 2006, p.216) entre as variáveis relacionamento, preço e

empresas que busquem melhorar a qualidade das interações, e não apenas a

quantidade.

Um apontamento importante neste sentido foram não só os principais

benefícios resultados do teste de estímulo (de qualidade) e o valor dado a eles

pelos respondentes, mas também como eles podem ser atingidos. Ao

manipular apenas três benefícios relacionados à qualidade, vemos ainda que

estes três benefícios em si poderiam ser até classificados como básicos e

necessários para um setor como de serviços financeiros

41

. Empatia; Prazos

cumpridos e; Agilidade no atendimento.

Os respondentes os apontaram como sendo de baixo esforço e de grandes

benefícios, vemos baixos custos para realizá-los, ainda que devem ser

percebidos como tal. Dois dos três próximos benefícios, “informações são

prestadas com clareza” e “funcionários demonstram competência”, não são tão

diferentes. Em um setor - como outros relacionais - em que o foco é

basicamente o modelo satisfação/confiança/comprometimento/lealdade que

tem sido demonstrado como uma grande influenciador de resultados (RUST e

ZAHORIK, 1993, RAVAL e GROONROS, 1994, GROONROS 2009,

HALLOWELL, 1996; LAM, et al, 2004; TITKO e LACE, 2010; AFSAR, et al,

2010; LIU e WU, 2007; MCDOUGALL e LEVESQUE, 2000; SIDDIQI, 2010;

PETRIK, 2011; KIM, et al, 2009; PATTERSON e SPRENG, 1997; MIHELIS, et

al, 2001; BOORA e SINGH, 2011; REKETTYE e PINTER, 2006) não conseguir

entender o cliente, explicar com clareza o produto/serviço, não cumprir prazos

– além não demonstrar competência e agilidade – parece ser um verdadeiro

“tiro no pé” para empresas do setor, e pior ainda é verificar que isto de fato

acontece de forma quase generalizaza (visto serem um dos setores mais

requisitados no Procon e pelo baixa satisfação geral)

Como Grönroos (2009) já enunciou e completa-se aqui, ao não atenderem

estas demandas básicas de qualidade de atendimento, estão caindo na

41Relembrando que são principalmente afetados por que o setor tem: (1) componentes de alto

serviço; (2) possibilidade e necessidade de customização e personalização; (3) requer conhecimento técnico e profissionalismo devido sua complexidade e; (4) o próprio processo de tomada de decisão e momento de compra interfere no sucesso do relacionamento.

“armadilha do preço” (p.10), pois como não conseguem desenvolver interações

baseadas em benefícios relacionais, devem se basear em benefícios

transacionais.

Um resultado do experimento 2 pode ser levado à implicações práticas. Tentar

persuadir com mensagens próximas aos dois focos regulatórios demonstrou-se

danoso às intenções de compra, pois estes demonstraram-se mecanismos de

autorregulação efetivos. Outro apontamento é que a referência de preço

apontou para um efeito negativo significativo na interação com os focos

regulatórios e controle. Basear sua proposta de serviços em preços, ou ainda

tornando este fator relevante nas negociações pode ter um efeito indesejado,

reduzindo as intenções de compra iniciais e finais. Podendo verificar que o

consumidor está envolvido no processo de compra (estando possivelmente

com uma alta autorregulação e com um dos focos regulatórios), fazer

referências à benefícios do produto e serviços pode fazer com que estas

referências não sejam tão afetadas pelos mecanismos de autorregulação

quanto o fator preço. Como Grönroos (2009) aqui nossa recomendação é: não

negocie com preço, negocie com benefícios. Se a empresa já tiver uma

avaliação anterior de satisfação com resultados positivos, pode ser vantajoso

relembrar o cliente e aumentar este possível viés, mas tenha certeza que o

cliente está satisfeito antes de relembrá-lo. O viés pode ter efeito contrário.

Finalmente, sendo 125 milhões de correntistas no Brasil (em 2008), clientes em

158 bancos, praticamente qualquer diferença (até de R$1,00) em cada

transação nesta quantidade de clientes pode fazer uma grande diferença

42

.

42Se os clientes satisfeitos estão dispostos em média a pagar entre o mesmo preço e uma

pequena margem, os demais têm uma tendência de pagar cada vez menos conforme a satisfação passa de neutra para insatisfação. Um cliente com satisfação neutra pagaria em média R$87,00 a menos, e o insatisfeito R$196,00 em relação ao concorrente. Se a frase comumente usada em grandes empresas varejistas “mesmo uma pequena diferença é grande quando em grandes quantidades” deve tornar-se verdadeira. Digamos que se um banco possui 10 milhões de clientes sem estar satisfeitos ou insatisfeitos (neutro), a queda de faturamento no setor pode ser de aproximadamente R$870 milhões. Ainda se estes forem insatisfeitos, a queda de faturamento se os produtos forem em si (ou vistos como iguais) será de R$1,97 bilhões. Isto se o banco decidir “cobrir” a oferta da concorrência, senão, a queda de faturamento será multiplicado pelo valor inteiro. O impacto negativo em um banco será então proporcional ao número de clientes e a qualidade (negativa) percebida dos serviços prestados, visto que aqui foram três características dela.