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2 BASE TEÓRICO-EMPÍRICA

2.1 Relacionamentos em Marketing

2.1.1 Consumidores Transacionais, Relacionais e Híbridos

Assim como as empresas, para a literatura do Marketing de Relacionamentos

os consumidores podem ser diferenciados entre relacionais, transacionais e

híbridos no continuum, dependendo do envolvimento, situações, contextos ou

mesmo de tendências pessoais (GRÖNROOS, 1997:2009; RICH, 2000; WANG

e HEAD, 2005; WANG, et al, 2006).

Para Grönroos (2009) os consumidores relacionais têm um pensamento

analítico de longo prazo, procurando benefícios além do preço e vendo cada

troca relacional como parte de um relacionamento cliente-empresa mais amplo,

sendo mais suscetíveis aos esforços do Marketing de Relacionamentos.

Valorizam os benefícios monetários e não-monetários dos produtos/serviços e

da relação, e quando satisfeitos desenvolvem mais rapidamente uma

confiança. Quando esta é desenvolvida, buscam informações principalmente

com este fornecedor, comparando menos produtos e preços, e

conseqüentemente tendo maior probabilidade de serem retidos e aumentar o

wallet share

4

por cross-selling

5

. (WANG e HEAD, 2005).

4 Participação na carteira de produtos do cliente: proporção de produtos que um fornecedor

tem na cesta/carteira de produtos consumidos pelo cliente no setor. Pode ser calculado de acordo com o consumo atual, mas também pela sua capacidade e propensão de compra.

5 Venda cruzada: objetivo de vender novos e diferentes produtos/serviços aos clientes já

Para Grönroos (2009) este grupo pode ser dividido entre (1) relacionais ativos -

que “estão procurando oportunidades para interagir com o fornecedor ou

prestador de serviço de modo a obter valor agregado” em que “a ausência

desses contatos os deixa desapontados porque está faltando o valor inerente

ao relacionamento“ e; os (2) passivos que procuram “saber que podem entrar

em contato com o fornecedor ou prestador de serviço”, buscando contato, mas

“raramente respondem a convites para interagir” (p.36). Desta forma sugere

que alguns clientes podem se envolver em um relacionamento como um

objetivo em si.

Diferentemente, os consumidores transacionais focam no curto prazo, no

agora e sem transações futuras com o fornecedor (GRÖNROOS, 2009; WANG

e HEAD, 2005). Estes consumidores têm menor envolvimento nos

relacionamentos cliente-empresa, mesmo satisfeitos buscam novos

fornecedores e não desejam pagar mais pelo mesmo produto, buscando

ofertas e comparando mais preços. São envolvidos com o processo de compra

em si. Seus objetivos não são de manter ou desenvolver um relacionamento

satisfatório, e sim completar o processo de compra satisfatoriamente. Assim

buscam informações por conta própria para não dependerem dos fornecedores

e se baseiam em suas próprias decisões sem interferência relacional,

geralmente com foco no preço. Por agirem desta forma estão mais sujeitos às

táticas do Marketing Transacional (como ofertas, bundeling

6

, descontos,

reduções de preço e promoções por tempo limitado).

Os consumidores híbridos são aqueles que apresentam tendências relacionais

e transacionais. Conforme Wang e Head (2005) podem ser posicionados em

pontos do continuum, sujeitos tanto às táticas do Marketing de Relacionamento

como do Marketing Mix.

Esta relação entre consumidores relacionais/híbridos/transacionais possui duas

abordagens diferentes, mas complementares.

6 Combo de produtos em que a compra conjunta pode ter desconto, ao invés de vendê-los em

A primeira é baseada no desejo e pré-disposição pessoal de

ter/manter/desenvolver um relacionamento. Estes indivíduos possuem uma

necessidade de interação pessoal, ou mesmo seu oposto, de se afastar dela

(MIKULINCER et al., 2003; MIKULINCER e SHAVER, 2003:2005;

PIETROMONACO et al., 2006; DIAMOND e HICKS, 2005; GILLATH et al.,

2006).

Conforme Gillath, et al, (2006), as pessoas podem ter inclinações e metas não

conscientes de se aproximar e buscar por ajuda, companhia e interação

humana (ou seu oposto), decorrente da ativação do sistema de apego

(BOWLBY, 1969:1982, apud MIKULANCER e SHAVER, 2003).

No caso de relações comerciais, pressupõe-se que estariam buscando suas

figuras de apego (parceiros de relações próximas) nos funcionários (PAULSEN

e FOURNIER, 2007) ou mesmo personificando empresas e marcas (AAKER,

1997; KAPFERER, 2003; AZOULAY e KAPFERER, 2003; ASPERIN, 2007;

BALL e TASAKI, 1992; FOURNIER, 1998; VLACHOOS et al., 2010) em figuras

com relacionamentos em si afetando a lealdade (FOURNIER e YAO, 1997).

Em suma, utilizam como base figuras próprias dos relacionamentos pessoais

para avaliar as figuras de relacionamentos comerciais (BOWBLY, 1962 apud

PAULSEN e FOURNIER, 2007).

Uma das críticas à esta visão na literatura do Marketing de Relacionamento

consiste na premissa de que relacionamentos pessoais - apesar do uso de

analogias ou metáforas, e das significativas correlações encontradas - não são

iguais a relacionamentos comerciais. A principal razão seria a incompatibilidade

de expectativas (PRICE e ARNOULD, 1999; GRAYSON, 2007). Os

relacionamentos pessoais (verdadeiros) não são motivados por benefícios que

podem ser usados além dos relacionamentos, enquanto os comerciais são

motivados, mesmo que parcialmente por objetivos mais instrumentais de algum

lado (GRAYSON, 2007). Neste pensamento, em algum momento os objetivos

instrumentais do relacionamento comercial terão uma maior influência. Ao

recordar que o Marketing de Relacionamento é o conjunto de atividades de

marketing orientadas a estabelecer, desenvolver, manter relacionamentos

rentáveis, ou ainda para terminar as trocas relacionais quando

necessário, vê-se tal aspecto. Não se pode esperar que o consumidor não

tenha também esta visão. Quando perceber que um relacionamento comercial

não é vantajoso, ele buscará outro parceiro.

Apesar disto, para Bloemer et al (1998) os relacionamentos comerciais entre

consumidores e empresas de produtos e serviços são (“até muito”) diferentes,

pois os serviços dependem mais do desenvolvimento de relacionamentos

interpessoais e têm maior influência do risco percebido devido sua

intangibilidade que altera a percepção de valor e satisfação com o

relacionamento.

Em uma segunda visão, mais construtivista e situacional, Rich (2000) aponta

que é preciso também diferenciar o envolvimento relacional entre as fases do

relacionamento. Wang e Head (2005) apontam para a mesma direção, como

um processo de relacionamento.

No início de um relacionamento (na primeira transação com a empresa) não se

pode esperar que o consumidor demonstre alto envolvimento relacional, e

assim, disposição em pagar um preço premium por um relacionamento que não

possui. Mesmo satisfeitos, não teriam ainda desenvolvido a confiança,

comprometimento e lealdade, fazendo com que aspectos centrais do produto

mantivessem maior influência, e em caso de produtos padronizados, os fatores

periféricos com valor ao cliente. Mesmo assim, neste estágio inicial do

relacionamento - de baixo envolvimento relacional - “a satisfação geral com o

produto é decisiva para a construção de um futuro relacionamento” (RICH,

2000, p.172).