• Nenhum resultado encontrado

A partir dos estudos de Schumpeter (1997), foram lançadas as bases para a investigação da inovação e de sua concepção como um processo, em oposição à concepção de que a inovação representaria um evento isolado e regido pelo acaso. Como apontado anteriormente, Schumpeter considerou a inovação como um processo de destruição criativa capaz de desenvolver novas e melhores combinações produtivas com o consequente abandono de produtos e práticas antigos e obsoletos.

A abordagem neo-schumpeteriana da inovação tem alguns de seus principais enunciados na obra de Richard Nelson e Sidney Winter (1982). Esses autores desenvolvem uma teoria evolucionária das capacidades e do comportamento das empresas que operam em ambiente de mercado, de modo que tal teoria é apontada como útil para analisar diversos fenômenos associados à mudança econômica, dentre os quais o resultante da inovação por parte das firmas.

No contexto da teoria evolucionária, as firmas são tratadas como motivadas pelo lucro, e comprometidas com a busca de maneiras para aprimorar seus lucros, enfatizando a tendência das mais lucrativas em expulsar as menos lucrativas. Denota-se a influência da obra de Schumpeter na abordagem evolucionária, ao passo em que Nelson e Winter (1982) ressaltam que o termo ‘neo-schumpeteriano’ é uma designação tão apropriada para essa abordagem quanto o termo ‘evolucionário’.

Por sua vez, o termo ‘evolucionário’ denota que foram tomadas emprestadas algumas ideias básicas da biologia, em geral, e do pesquisador Charles Darwin, em particular, tais como a seleção natural, aplicada à economia por meio de uma preocupação com processos dinâmicos que determinam conjuntamente os padrões de comportamento da firma e os resultados de mercado ao longo do tempo. A teoria evolucionária se configura, assim, como um análogo econômico da seleção natural, que opera na medida em que o mercado determina quais firmas são lucrativas e quais não o são, tendendo a separá-las, a partir dos

resultados de seus esforços para superação de problemas e de eventos aleatórios, ao longo do tempo (NELSON; WINTER, 1982).

Ao descrever a abordagem evolucionária, Nelson e Winter (1982) retomam de Schumpeter o termo ‘rotina’, para caracterizar padrões comportamentais regulares e previsíveis nas firmas. Assumindo a função que os genes apresentam na teoria evolucionária biológica,

(...) tais rotinas são características persistentes do organismo que determinam seu comportamento possível, bem como são hereditárias e selecionáveis. Embora as rotinas que governam o comportamento sejam dados de um determinado momento, as características das rotinas vigentes podem ser entendidas com referência ao processo evolutivo que as moldou (NELSON; WINTER, 1982, p.36).

Nelson e Winter (1982) remetem à concepção sistêmica de que a organização constitui um sistema aberto que sobrevive por intermédio de alguma forma de intercâmbio com o seu meio ambiente. Dessa forma, a rotina da organização, considerada como o ‘modo de fazer as coisas’, é uma ordem que só pode persistir se for imposta a um conjunto específico de recursos em contínua mutação, e assim, assume configurações singulares naquele contexto.

Por conseguinte, os processos da firma são guiados por regras, ou seja, guiados por rotinas e modificadores de rotinas, e são modelados por Nelson e Winter (1982) como “buscas”. A busca constitui a contrapartida da mutação na teoria evolucionária biológica. E a abordagem da busca como parcialmente determinada pelas rotinas da firma é paralela à abordagem da mutação na teoria biológica, parcialmente determinada pela constituição genética.

Assim, as firmas têm certos critérios com os quais avaliam as mudanças de rotinas propostas por meio da busca, com vistas à seleção, e um dos critérios utilizados é o lucro antecipado. Nessa perspectiva,

a lucratividade opera como importante determinante da expansão ou da contração das firmas. Com o tamanho das firmas assim alterado, as mesmas características operacionais geram níveis de insumo e de produção diferentes, que passam por mudanças dinâmicas no nível agregado, a partir desse processo de seleção. Concluindo, busca e seleção são aspectos simultâneos e interativos do processo evolucionário, de modo que os mesmos preços que geram o feedback da seleção também influenciam as direções da busca (NELSON; WINTER, 1982, p.43).

Dessa forma, as firmas evoluem ao longo do tempo por meio da ação conjunta de busca e de seleção, e a situação do ramo de atividades em cada período carrega as sementes

de sua situação no período anterior. Assim, a teoria evolucionária contempla tanto a herança de características adquiridas quanto o eventual aparecimento de variações sob o estímulo da adversidade. É pertinente analisar com mais detalhes como surgem tais variações.

De acordo com Nelson e Winter (1982), uma maneira pela qual o comportamento rotineiro da organização pode contribuir para o surgimento de inovações é mediante respostas solucionadoras de problemas rotineiramente evocados, as quais podem gerar resultados que levam a mudanças fundamentais. Portanto, os esforços para solucionar os problemas que se iniciam com a rotina existente podem levar à inovação. Em suma, na perspectiva neo-schumpeteriana, o comportamento das firmas é explicado por mecanismos de busca e seleção, que alteram rotinas e resultam em inovação, a qual corresponde a um processo não estático.

Nesse sentido, Nelson e Winter (1982) destacam a importância de romper com a rotina, argumentando que Schumpeter realçou a inovação como um desvio do comportamento rotineiro, destruindo continuamente o equilíbrio. Dessa forma, o fenômeno da inovação envolve mudança na rotina, de modo que é enfatizada a incerteza que inevitavelmente abrange diversos tipos de inovação.

A respeito do processo de inovação tecnológica, Nelson e Winter (1982) desenvolvem dois modelos de crescimento econômico baseados na teoria evolucionária, caracterizando a mudança tecnológica de forma consistente, e harmonizando os fenômenos microeconômicos e macroeconômicos dentro de um mesmo arcabouço intelectual. Em seguida, os autores se propõem a enriquecer a caracterização da busca e da seleção, de modo que esses componentes possam esclarecer e estruturar o que se sabe sobre os fenômenos microeconômicos relativos ao avanço tecnológico.

Rosenberg (1982), por sua vez, considera o fenômeno do progresso técnico e características significativas da tecnologia, no âmbito da indústria de aeronaves comerciais nos Estados Unidos, no decorrer do século XX. O foco principal do estudo não é dirigido às “grandes inovações de magnitude schumpeteriana, mas aos pequenos melhoramentos que determinam a taxa de crescimento da produtividade que as inovações principais são capazes de gerar” (ROSENBERG, 1982, p.50), esclarecendo os elos entre os processos tecnológicos e suas consequências econômicas. Dessa forma, na medida em que a atividade econômica envolve uma significativa dimensão do aprendizado, Rosenberg (1982) aponta que a inovação tecnológica pode ser concebida como um processo de aprendizagem.

De modo a identificar diversas tipologias para tais processos, bem como sua natureza e a forma como integram padrão de atividades referente à inovação tecnológica, Rosenberg (1982, p.56) aponta as seguintes categorias de aprendizagem:

- produção de novo conhecimento científico;

- incorporação de novo conhecimento ao projeto de um novo produto; - aprendizagem de novas atividades produtivas quando um produto novo

é posto em produção;

- aprendizagem de meios para melhorar o próprio processo produtivo, os quais brotam da experiência com esse processo.

Cabe salientar que, na visão schumpeteriana, o empreendedor corresponde à mola propulsora da inovação, e é apontado como o principal responsável pelo desenvolvimento econômico. A visão neo-schumpeteriana difere da schumpeteriana, entre outros fatores, por ir além dessa relação de causalidade, pois a inovação passa a ser vislumbrada como uma das forças dinâmicas fundamentais dos sistemas econômicos modernos, com estreitas relações com o crescimento econômico e mudanças tecnológicas. Assim, o papel do empreendedor schumpeteriano se redefine, deixando de ser a mola propulsora do desenvolvimento econômico, e mesclando-se a outras forças no processo de inovação (BARCELOS; BATISTA; RAPKIEWICZ, 2005).

Pode-se ressaltar que tanto Nelson e Winter (1982) como Rosenberg (1982) mencionam claramente o termo ‘inovação tecnológica’, destacando a importância exercida pela abordagem neo-schumpeteriana em relação ao modo como o termo é compreendido e investigado por estudos posteriores, concentrados, especialmente, no âmbito da ciência econômica.

Assim, e ainda com enfoque voltado à compreensão do fenômeno da inovação, são apontadas a seguir algumas concepções e abordagens referentes à inovação tecnológica, destacando brevemente suas especificidades e algumas considerações relevantes a respeito das maneiras segundo as quais tal termo é compreendido e mensurado pela literatura pertinente ao tema.