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Este estudo adota a concepção de Rumble (2003, p.32) para a gestão de sistemas de EaD, definida como “um processo que permite o desenvolvimento de atividades com eficiência e eficácia, a tomada de decisões com respeito às ações que se fizerem necessárias, a escolha e a verificação da melhor forma de executá-las”, ressaltando que tal processo comporta o planejamento, a organização, a direção e o controle. Consideram-se, assim, componentes da gestão de sistemas de educação a distância, os quais, de acordo com Rumble (2003), envolvem aspectos contingenciais em perspectiva administrativa, tais como: planejamento estratégico; recursos tecnológicos; formação de equipes; previsão orçamentária; controle financeiro; avaliação dos resultados, dentre outros.

Trata-se da investigação acerca do processo de inovação na gestão de sistemas de EaD, considerando suas dimensões internas e externas, e sua associação com a efetividade. Por oportuno, Eliasquevici (2008) salienta que, no caso específico da EaD,

medir a efetividade e o sucesso pode envolver a abrangência geográfica, a relação custo/benefício, as questões acadêmicas, entre outras. O ideal é que seja uma combinação de vários fatores, o que torna a tarefa de mensuração dos resultados um trabalho complexo (ELIASQUEVICI, 2008, p.195).

Assim, neste estudo acerca de sistemas de educação a distância no âmbito de duas universidades, julgou-se que a abordagem do processo de inovação por parte de Van de Ven (1986) – a qual ressalta a relevância do processo nas organizações com vistas ao aprimoramento de sua gestão – proporciona pertinentes reflexões a respeito do tema, ao compreender o processo de inovação influenciado por pessoas, transações, ideias, contexto e resultados. Desse modo, argumenta-se que tal abordagem pode apontar novas perspectivas a respeito de aspectos relacionados à gestão de sistemas de EaD.

Adicionalmente, Van de Ven (1986) e os pesquisadores do MIRP dão especial atenção ao caráter complexo e dinâmico do processo de inovação, à diversidade de fatores que afetam a efetividade do processo, e às percepções dos indivíduos envolvidos no processo de inovação, de modo que tal perspectiva foi adotada para a consecução de estudo aprofundado a respeito da gestão de sistemas de EaD. A seguir, são apontadas conceituações para esses termos, conforme opção teórica adotada na pesquisa.

Processo de inovação – definido como o desenvolvimento e a implementação de novas ideias por pessoas que, ao longo do tempo, se envolvem em transações com outras, dentro de um contexto institucional (VAN de VEN, 1986, p.595).

Em perspectiva gerencial, o processo de inovação consiste em motivar e coordenar pessoas para desenvolver e implementar novas ideias por meio do engajamento em transações (ou relacionamentos) com outras, e efetuando as adaptações necessárias para obter os resultados desejados dentro de contextos organizacionais e institucionais em contínua mudança (VAN de VEN; ANGLE; POOLE, 2000, p.9).

Dimensões internas à inovação– são aquelas relacionadas aos processos e ao contexto dentro da unidade organizacional da inovação; envolvem: ideias (a incerteza e a dificuldade da ideia inovadora); pessoas (a liderança, a influência na tomada de decisões, o tempo investido e as competências das pessoas envolvidas no desenvolvimento de inovações); transações internas (a padronização de procedimentos, e a frequência de comunicações, o conflito e os métodos de resolução de conflitos entre pessoas engajadas com inovações); e contexto (em termos de clima para a inovação, recompensas e escassez de recursos) organizacional (VAN de VEN; CHU, 2000, p.57).

Dimensões externas à inovação – são aquelas pertinentes ao ambiente transacional e global da unidade de inovação; envolvem transações externas (dependência, formalização, influência, efetividade do relacionamento); e incerteza ambiental (ambiente tecnológico, econômico, demográfico e legal/regulatório) associada à inovação (VAN de VEN; CHU, 2000, p.57).

Efetividade percebida da inovação– corresponde ao grau com que as pessoas percebem que uma inovação atinge suas expectativas a respeito de processo e resultados. Tais expectativas são caracterizadas da seguinte maneira: expectativas de processo lidam com a ocorrência de progresso ao desenvolver a inovação e ao resolver problemas na medida em que eles aparecem; e expectativas de resultados lidam com indicadores percebidos da efetividade atual da inovação e das contribuições que ela proporciona para que sejam atingidos os objetivos gerais da organização (VAN de VEN; CHU, 2000, p.58).

No arcabouço geral do MIRP, a efetividade percebida da inovação é hipotetizada em função de dimensões internas à inovação e externas à inovação (VAN de VEN; CHU, 2000, p.57).

Nessa perspectiva, o processo de inovação foi incorporado no contexto da gestão de sistemas de educação a distância por meio de esforço sistemático voltado à identificação, pautada na literatura pertinente ao tema e em estratégias metodológicas coerentes, a respeito do desenvolvimento e da implementação de novas ideias e práticas relacionadas à adoção, ao ajustamento e/ou ao aprimoramento de novos modelos e estruturas referentes à gestão de formas, unidades e subsistemas educacionais em sistemas de EaD. E, como apontado por Van de Ven (1986) e colaboradores, as percepções – acerca do processo de inovação – de indivíduos inseridos no contexto investigado são relevantes tanto para a introdução como para a efetividade percebida do processo, e para iniciativas de gestão identificadas nesse contexto.

Outro aspecto levado em consideração para a adoção dessa opção teórica corresponde aos conceitos básicos desenvolvidos pelo MIRP para explicar a dinâmica do processo de inovação, no âmbito de sistemas de EaD. Tal opção teórica possibilita, adicionalmente, que se busque identificar, em relação ao processo de inovação considerado em cada caso, a presença de seis observações comuns aos processos de inovação investigados pelo MIRP, tais como mencionadas por Schroeder et al. (2000, p.123-130), quais sejam:

1) Há um choque inicial (positivo ou negativo) que estimula o início da inovação;

2) A ideia inicial tende a proliferar-se em várias ideias durante o processo de inovação;

3) Ao gerenciar esforços voltados à inovação, imprevistos e reveses inevitavelmente ocorrem;

4) À medida que a inovação se desenvolve, o antigo e o novo coexistem, e convergem entre si ao longo do tempo;

5) A reestruturação da organização ocorre durante o processo de inovação, sob a forma de mudanças em unidades e em responsabilidades organizacionais, novas parcerias e inter-relações funcionais, alterações em equipes e em sistemas de controle etc. 6) O envolvimento da alta direção da organização ocorre no decorrer de

todo o processo de inovação.

Adicionalmente, salienta-se que tal opção teórica aponta outro relevante elemento: os fatores situacionais e contingenciais da inovação. Tais fatores, de acordo com Van de Ven e Chu (2000), referem-se à compreensão do processo de inovação em três perspectivas: o grau de novidade da inovação; o escopo ou o tamanho da inovação; e o estágio ou a idade da inovação. Tais fatores não são mensurados por meio de questões do MIS, mas por outros instrumentos desenvolvidos pelo MIRP, conforme caracterizados no Anexo B a esta tese, de

modo que são examinados sob a ótica de uma teoria contingencial subjacente ao modelo de mensuração do MIS.

Dessa maneira, tais fatores situacionais e contingenciais não foram considerados em relação à análise dos resultados no tocante aos casos investigados, contudo, foram levados em conta pelo pesquisador, particularmente, como critérios para selecionar a inovação mais relevante para investigação em cada caso. A opção por tais critérios para seleção de uma inovação, dentre as inovações identificadas, reflete estratégia empregada pelo pesquisador, ao compreender que tais fatores situacionais e contingenciais possibilitam a caracterização da inovação, de modo pertinente, em termos de sua relevância no contexto considerado.

Em suma, a investigação acerca do processo de inovação, com base nessa opção teórica, remete ao contexto dos sistemas de educação a distância, procurando evidenciar, assim, aspectos pertinentes a sua gestão. Sempre que oportuno, o estudo buscou identificar, ainda, aspectos que não tenham sido apontados pelos autores. Argumenta-se, assim, que a compreensão do modelo proposto por Van de Ven (1986) e colaboradores pode contribuir para a caracterização do processo de inovação e para o aprimoramento da efetividade associada à inovação na gestão de sistemas de EaD, tendo em vista contextos específicos das organizações pesquisadas.