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Trata-se de uma pesquisa qualitativa com caráter exploratório, na medida em que se propõe a identificar e caracterizar aspectos que influenciam a inovação no contexto de sistemas de educação a distância. Os estudos exploratórios, de acordo com Sampieri, Collado e Lucio (2006, p.99-100), são realizados “quando o objetivo é examinar um tema ou problema de pesquisa pouco estudado, do qual se tem muitas dúvidas ou não foi abordado antes”, de modo que “normalmente estão associados a pesquisas qualitativas”.

A pesquisa de cunho qualitativo, de acordo com Gaskell (2002, p.73-74), envolve interação e troca de ideias e de significados, “de modo que várias realidades e percepções são desenvolvidas e exploradas, com a finalidade de investigar o espectro de opiniões e diferentes representações sobre o assunto em questão”. A pesquisa qualitativa comumente é realizada por meio de estudos de casos, os quais são descritos por Gondim et al. (2005, p.47) como “uma tendência na ciência social aplicada e, em especial, na Administração”. Ao definir a técnica do estudo de casos, os autores afirmam que:

(...) tal demarcação gira em torno de dois pontos. O primeiro diz respeito ao que é o caso. O que está em jogo é a tensão entre sua singularidade (especificidade e unicidade) e sua representatividade (o que há de comum com outros casos semelhantes). O segundo diz respeito aos motivos que tornam justificável um estudo de casos. Neste ponto, é preciso considerar as possibilidades de construção teórica da abordagem associada à utilização de múltiplas fontes para descrever e compreender o caso e seu contexto (GONDIM et al., 2005, p.52).

Estudos de casos são usualmente utilizados com vistas à compreensão de fenômenos complexos e multidimensionais, tais como o processo de inovação, investigando questões ligadas às relações entre processos sociais e o contexto ambiental. E, conforme apontado por Moreira e Queiroz (2007), corresponde a uma configuração de pesquisa usualmente adotada com vistas à investigação da inovação no âmbito das organizações.

Nessa perspectiva, e considerando que a inovação é vislumbrada por Schumpeter (1997) como um processo dinâmico e não-linear, e assim também é caracterizada por estudiosos como Van de Ven (1986), Damanpour (1991) e Tidd, Bessant e Pavitt (1997), o estudo de casos pode proporcionar investigação em profundidade a respeito da importância da inovação como meio para superação de desafios inerentes à gestão no âmbito de sistemas de educação a distância.

Os estudos de casos são caracterizados por diversos autores de modos distintos, ainda que complementares. Hartley (2004) aponta que o estudo de caso consiste de uma investigação detalhada, frequentemente com dados coletados ao longo de um período de tempo, dentro do contexto do fenômeno pesquisado. Gerring (2004) o compreende como um estudo intensivo de uma unidade singular com o propósito de compreender uma classe mais ampla de unidades similares. Por sua vez, Mashall (1999) argumenta que o estudo de caso é uma abordagem de pesquisa ideal para gerar dados contextualizados e em profundidade, com vistas à compreensão de fenômenos complexos e multidimensionais.

Por sua vez, Eisenhardt (1989) considera o estudo de casos como uma estratégia de pesquisa que enfoca o entendimento da dinâmica presente em contextos singulares. Tal caracterização se coaduna com o entendimento adotado no âmbito desta tese, de modo complementar às concepções de Hartley (2004), Gerring (2004) e Marshall (1999), de forma que o estudo de casos pode ser caracterizado como uma estratégia a ser empregada com vistas à investigação intensiva e detalhada, acerca da dinâmica inerente ao processo de inovação nos casos pesquisados, em profundidade.

Adicionalmente, Eisenhardt (1989) descreve uma abordagem de passos e atividades a ser seguidos em pesquisas por meio de estudo de casos, a qual foi levada em consideração de

modo a estruturar uma sequência de decisões metodológicas que culminaram na formulação do protocolo de pesquisa seguido por esta investigação, conforme o Quadro 12, a seguir.

Passos Atividades

Iniciando a pesquisa

Definição do problema de pesquisa Construtos a priori

Selecionando os casos

População especificada Seleção teórica, não-randômica Construindo instrumentos

e protocolos

Múltiplos métodos para coleta de dados Dados qualitativos e quantitativos

Indo a campo

Sobreposição de coleta e análise de dados, com anotações de campo Procedimentos de coleta de dados oportunos e flexíveis

Analisando os dados

Análise dentro do caso

Busca por padrões cruzados entre os casos

Moldando hipóteses

Tabulação iterativa de evidência para cada construto

Busca por fundamentação para relacionamentos entre categorias

Envolvendo a literatura

Comparação com a literatura similar Comparação com a literatura conflitante Alcançando conclusões Saturação teórica, quando possível

Quadro 12. Passos para pesquisa por meio de estudo de casos Fonte: Eisenhardt (1989), com adaptações.

Eisenhardt (1989) salienta que tais passos não seguem, necessariamente, sequência linear, de maneira que podem se sobrepor ou alternar entre si. Os passos e atividades a ser seguidos, conforme descritos no Quadro 12, buscam subsidiar a realização de pesquisas por meio de estudo de caso, o que foi julgado como pertinente ao âmbito desta investigação. Dessa maneira, as estratégias e as decisões metodológicas traçadas nesta tese buscaram seguir, sempre que pertinente, os passos e as atividades sugeridos por Eisenhardt (1989) de modo a desenvolver protocolo de pesquisa para consecução deste estudo de casos, como oportuno guia para orientar as iniciativas do pesquisador.

Dessa forma, o primeiro passo envolveu a definição do problema de pesquisa e a seleção dos construtos a priori considerados nesta investigação, quais sejam: inovação, processo de inovação e efetividade da inovação, conforme a abordagem de Van de Ven, Angle e Poole (2000); educação a distância e sistemas de EaD, conforme a abordagem de Moore e Kearsley (2008); e gestão de sistemas de EaD, conforme a abordagem de Rumble (2003).

Pelo exposto, considera-se que o estudo de casos é particularmente adequado para investigar questões que requerem entendimento detalhado acerca de processos sociais e organizacionais devido à riqueza dos dados coletados em seu contexto. E a inovação foi apontada pela literatura pesquisada como um processo complexo e ubíquo (TOTTERDELL et al., 2002), o que pode requerer a análise de considerável volume de dados referente a inter-relações entre aspectos da inovação e elementos do ambiente organizacional em que o processo se concretiza. Optou-se, assim, pela realização de estudo de casos junto a dois sistemas de educação a distância, sob perspectiva multidimensional, de modo que a implantação de formas de gestão inovadoras no contexto dos sistemas pudesse ser investigada em relação a determinado período de tempo.

Procurou-se selecionar casos polares, ou seja, caracterizados como situações extremas em uma dada perspectiva, no sentido de “atender categorias teóricas e fornecer exemplos de tipos polares” (EISENHARDT, 1989, p.537). Considerando que tais tipos correspondem, assim, a pólos opostos em relação a um dado referencial, e que ambos os casos envolvem sistemas de EaD, optou-se por selecionar, em um dos casos, uma instituição de finalidade única, que operasse com e-learning; e, no outro caso, uma instituição de finalidade dupla, que operasse com b-learning.

Alves-Mazzotti (2006, p.650) argumenta que o estudo de caso pode ser compreendido como “uma investigação analítica de uma unidade específica, situada em seu contexto, selecionada segundo critérios pré-determinados e utilizando múltiplas fontes de dados”, e salienta que a investigação de extremos pode justificar a opção por realização de estudo de caso único ou duplo. Adicionalmente, afirma que os resultados dos casos, embora não permitam generalizações do tipo estatístico, podem oferecer uma visão holística do fenômeno estudado.

Para a consecução do estudo de casos, a coleta envolveu dados concernentes a documentos internos de cada organização e a entrevistas, bem como a momentos informais vivenciados pelo pesquisador inserido no âmbito de cada contexto institucional. Procurou-se,

assim, utilizar múltiplos meios para coleta de dados, conforme o indicado por Eisenhardt (1989) como terceiro passo para pesquisa em estudo de casos, conforme o Quadro 12. Não obstante, a autora salienta a relevância de que, nesse ensejo, fossem obtidos em caráter complementar tanto dados qualitativos como quantitativos.

Uma vez que o presente estudo envolveu apenas a coleta de dados de cunho qualitativo, tal observação pode representar tanto uma limitação no âmbito desta investigação, como também uma opção da investigação, uma vez que, em tal decisão metodológica, foram consideradas certas limitações em termos de recursos materiais, temporais e pessoais disponíveis para lidar com a pergunta de pesquisa. Espera-se, auspiciosa e particularmente, que este estudo possa culminar em oportunidades para que seus achados sejam verificados quantitativamente, ou não, por meio de estudos posteriores. E, assim, cabe salientar o que argumenta Günther (2006, p.207):

(...) a questão não é colocar a pesquisa qualitativa versus a pesquisa quantitativa, não é decidir-se pela pesquisa qualitativa ou pela pesquisa quantitativa. A questão tem implicações de natureza prática, empírica e técnica. (...) coloca-se para o pesquisador e para a sua equipe a tarefa de encontrar e usar a abordagem teórico-metodológica que permita, num mínimo de tempo, chegar a um resultado que melhor contribua para a compreensão do fenômeno e para o avanço do bem-estar social.

Desse modo, a pesquisa qualitativa neste estudo envolveu a coleta de dados por meio de pesquisa documental, realização de entrevistas, e vivências do pesquisador em momentos informais. A pesquisa documental, considerando documentos internos obtidos junto às organizações investigadas de modo a subsidiar os propósitos da pesquisa, configurou-se como uma “técnica valiosa de abordagem dos dados qualitativos”, tal como mencionado por Lüdke e André (1986, p.3), ao complementar informações obtidas por meio de outras técnicas e, adicionalmente, ao revelar aspectos novos do tema investigado.

A entrevista, por sua vez, é definida por Zanelli (2002, p.83) como “uma conversação com um propósito [de modo a] entender o que as pessoas apreendem ao perceberem o que acontece em seus mundos”. Nesse sentido, a realização de entrevistas proporcionou a coleta de valiosas informações acerca das percepções dos participantes a respeito da gestão no sistema de EaD, bem como da introdução de inovações no contexto considerado, e de sua efetividade.

Como argumentam Van de Ven e Engleman (2004), é acentuada a importância da percepção acerca da inovação por parte do indivíduo ou da unidade que a adotará, uma vez que a inovação corresponde a uma ideia ou uma prática percebida como nova em relação à

unidade relevante de adoção. E, como argumentam Lüdke e André (1986, p.34), a realização de entrevistas tem como principal vantagem, no que se refere à investigação, à possibilidade para “captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”.

Desse modo, a decisão pela utilização de entrevistas nesta investigação coaduna-se com os argumentos de King (2004, p.11) acerca do propósito de qualquer entrevista em pesquisa qualitativa, qual seja o de “conceber e compreender o tópico pesquisado a partir da perspectiva dos entrevistados, e entender como e por que eles chegaram a essa perspectiva em particular”.

Adicionalmente, a realização de entrevistas contribuiu para a caracterização de inter- relações entre os atores inseridos nos contextos investigados, em cada caso, de modo que pôde fornecer:

dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. (...) Nesse sentido, a utilização da entrevista para mapear e compreender o mundo da vida dos respondentes é o ponto de entrada para o cientista social que introduz, então, esquemas interpretativos para compreender as narrativas dos atores em termos mais conceptuais e abstratos. (...) A entrevista qualitativa, pois, fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação (GASKELL, 2002, p.68).

Além da pesquisa documental e da realização de entrevistas, a investigação também levou em conta diversas experiências vivenciadas pelo pesquisador, inserido nos sistemas investigados, por ocasião de momentos informais captados no âmbito de cada caso. Tais momentos envolveram: conversas de cunho informal estabelecidas com indivíduos acerca da introdução da inovação; visitas ocasionais a diversas unidades e departamentos nas organizações pesquisadas; observações in loco referentes ao espaço físico e à estrutura desses locais; percepções a respeito da forma como indivíduos e grupos passaram a interagir entre si, no ambiente virtual de aprendizagem, em decorrência da introdução de inovações; reflexões acerca de aspectos explícitos e/ou tácitos (quando puderam ser observados) da cultura, compartilhados pelos indivíduos e grupos nos contextos investigados.

A seguir, são apresentadas algumas informações a respeito: da caracterização das instituições e dos sistemas de educação a distância estudados; da seleção dos casos investigados; dos documentos analisados por meio de pesquisa documental; e de indivíduos inseridos nos contextos organizacionais investigados, selecionados para participar de entrevistas.