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O termo ‘inovação tecnológica’ é utilizado, principalmente no âmbito de estudos erigidos sobre agregados econômicos, conforme delimitações conceituais apresentadas por importantes fontes de dados a respeito da inovação no campo da Economia, tais como: o Manual de Oslo (1997), da OCDE, em nível internacional; e a Pesquisa de Inovação

Tecnológica – PINTEC (2010), em nível nacional, que é realizada regularmente pelo IBGE, e que se apóia em definições conceituais estabelecidas pelo Manual de Oslo.

O Manual de Oslo (1997) pode ser apontado como uma das principais fontes internacionais de diretrizes para coleta e uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria. Em suas delimitações conceituais acerca da inovação, observa-se que o manual privilegia a investigação da inovação e de seus fatores no tocante à atividade industrial. Conforme indicado no parágrafo 10 do Manual de Oslo (1997), é apontada a relevância econômica da mudança tecnológica, a qual:

concentra na inovação em nível de empresa, mais particularmente, na abordagem neo-schumpeteriana (...). Contudo, o propósito desta discussão não é fixar-se em nenhum modelo particular de inovação, mas ilustrar que a inovação é uma atividade complexa, diversificada, em que vários componentes interagem.

Dessa forma, observa-se que, de acordo com o Manual de Oslo (1997), o termo ‘inovação tecnológica’ pode ser aplicado a dois tipos de inovação: a inovação de produto e a inovação de processo. A seguir, são apresentados os conceitos para esses dois termos, de acordo com o parágrafo 24 do Manual de Oslo (1997):

Uma inovação tecnológica de produto é a implantação/comercialização de um produto com características de desempenho aprimoradas de modo a fornecer objetivamente ao consumidor serviços novos ou aprimorados. Uma inovação de processo tecnológico é a implantação/adoção de métodos de produção ou comercialização novos ou significativamente aprimorados. Ela pode envolver mudanças de equipamento, recursos humanos, métodos de trabalho ou uma combinação destes.

Como é destacado no parágrafo 22, o manual concentra-se em inovações tecnológicas referentes a produtos (bens e serviços) e processos novos e significativamente aprimorados, de modo que o significado do rótulo ‘tecnológico’ pode não ser claro quando aplicado a produtos e processos e seu escopo preciso em pesquisas e estudos.

Por sua vez, a edição mais recente da PINTEC (2010), no ano de 2008, incorpora na pesquisa, além da questão tecnológica, questões a respeito da inovação organizacional, concebendo-a, tal comosugere a terceira edição do Manual de Oslo, como:

a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas, visando melhorar o uso do conhecimento, a eficiência dos fluxos de trabalho ou a qualidade dos bens ou serviços. Ela é resultado de decisões estratégicas tomadas pela direção e deve constituir novidade organizativa para a empresa (PINTEC, 2010, p.24).

Por oportuno, opta-se neste estudo pela diferenciação entre os termos ‘inovação tecnológica’ e ‘inovação organizacional’, em concordância com os argumentos de Barcelos, Batista e Rapkiewicz (2005, p.57), segundo os quais:

Inovações são ditas tecnológicas quando compreendem a apropriação comercial de conhecimentos técnico-científicos para introdução de aperfeiçoamentos nos bens e serviços utilizados pela sociedade. Referem- se à utilização do conhecimento sobre novas formas de produzir e comercializar bens e serviços. Já as inovações organizacionais referem-se à introdução de novos meios de organizar empresas, fornecedores, produção e comercialização de bens e serviços. Essas inovações são complementares. As inovações não se relacionam apenas com questões de ordem técnico-científica, mas apresentam, também, dimensões de ordem política, econômica e sócio-cultural.

Como argumenta Rocha-Neto (1997, p.1), o conceito de inovação tecnológica é essencialmente econômico, pois “compreende a apropriação comercial de conhecimentos técnico-científicos para introdução de aperfeiçoamentos nos bens e serviços utilizados pela sociedade”. Adicionalmente, o autor salienta que a dimensão econômica da inovação é ressaltada por meio de sua relação com a competitividade, de modo que a concorrência no mercado depende de vantagens obtidas pela exploração pioneira de produtos e serviços, ou seja, da capacidade de introduzir inovações no mercado.

De acordo com Dosi (1988), a influência do fator econômico está vinculada diretamente à tecnologia, pois, na existência de oportunidades tecnológicas, os agentes econômicos tendem a reagir ou antecipar as mudanças nos preços relativos e nas condições de demanda, procurando novos produtos e processos dentro dos limites tecnológicos.

E o papel do empreendedor como agente econômico que introduz inovações tecnológicas é ressaltado por Freeman (1994, p.79), de modo que a habilidade e a iniciativa do empreendedor são capazes de “moldar um ambiente, de propiciar novas descobertas dos cientistas e inventores, e de criar novas oportunidades para o investimento, para o crescimento”.

Um dos principais modelos referentes à inovação tecnológica corresponde à abordagem de Abernathy e Utterback (1978), por meio da qual é detalhado o processo dinâmico que ocorre dentro das firmas industriais, ao longo da evolução de uma tecnologia em termos de fases. O modelo remete a um ciclo de vida no âmbito das firmas, e implica que, na medida em que a tecnologia evolui através das fases, a firma requer diferentes tipos de capacidades para beneficiar-se dos avanços tecnológicos. Abernathy e Utterback (1978, p.43) denominam e caracterizam as três fases de seu modelo da seguinte maneira:

- fase fluida, na qual há muitas incertezas de mercado, a tecnologia se configura como um fluxo, e as firmas não têm clareza a respeito de onde direcionar seus investimentos em P&D.

- fase transitória, quando os produtores adquirem mais conhecimento a respeito de como responder às necessidades do consumidor, surgem inovações de produto, configura-se o desenho do produto e reduz-se o nível de incerteza.

- fase específica, na qual proliferam produtos em torno do desenho definido na fase transitória, e se enfatiza mais a inovação de processo.

Utterback (1996, p.235) ressalta que uma base tecnológica forte é tão crítica para a sobrevivência de uma empresa quanto um bom conhecimento do mercado ou uma situação financeira sólida. Adicionalmente, o autor salienta a influência de aspectos contingenciais nessa análise, na medida em que “não existe muitas ou até mesmo nenhuma resposta geral para os desafios que as mudanças tecnológicas lançam para as empresas líderes de grande porte”, e assim as soluções passam a depender tanto da empresa como do setor, dos tipos de produtos produzidos, e até mesmo da trajetória seguida pela empresa para atingir sua situação atual.

É oportuno salientar que a abordagem neo-schumpeteriana também produziu desdobramentos em relação aos estudos acerca da inovação tecnológica, como, por exemplo, os estudos de Dosi (1988), Dosi, Pavitt e Soete (1990), de Teece (1986) e de Freeman (1994). Sob enfoque de natureza schumpeteriana, Dosi (1988, p.229) afirma que o motor da dinâmica capitalista está na capacidade de produzir inovações, “por meio de um jogo competitivo em que as empresas buscam conseguir assimetrias que lhes garantam vantagens competitivas em face dos concorrentes”.

A exploração das competências de cada firma, a sua história de aprendizagem e as estratégias implementadas por cada uma delas são importantes para explicar o comportamento microeconômico, bem como as transformações do ambiente competitivo. Assim, cada firma tem sua trajetória específica de inovação, que depende de fatores como a aprendizagem, o desenvolvimento e a exploração de suas competências tecnológicas, de modo que uma inovação tecnológica corresponde ao resultado da evolução de uma dada trajetória tecnológica (DOSI, 1988; DOSI; PAVITT; SOETE, 1990).

Dosi, Pavitt e Soete (1990) apontam algumas razões para explicar variações dos avanços tecnológicos, de modo que os esforços das firmas para inovar estão relacionados: à estrutura da demanda, de modo que os agentes privados somente investirão numa oportunidade tecnológica se houver mercado para tal inovação; e às condições de apropriabilidade dos lucros gerados por uma inovação, as quais diferem entre indústrias e

entre tecnologias, e estão relacionadas à eficácia de mecanismos de proteção legal aos direitos de propriedade sobre inovações – patentes, direitos autorais, segredos comerciais e marcas registradas.

Teece (1986) também discute a capacidade de uma empresa obter retornos econômicos com inovações pioneiras, considerando o regime de apropriação e destacando a relevância da proteção legal de inovações tecnológicas, onde o know how e as habilidades desenvolvidas por uma empresa inovadora podem ser protegidos legalmente como propriedade intelectual. Dessa forma, o regime de apropriabilidade de uma inovação é mais forte na medida em que tal inovação é mais difícil de ser copiada pelos competidores. O autor acrescenta que, embora não exista estratégia ótima que garanta o sucesso de uma empresa inovadora, as decisões de investir em P&D não podem estar desligadas da análise estratégica de mercados e da posição da firma na indústria.

Por sua vez, Freeman (1994) remete às metáforas da abordagem evolucionária de modo a indicar similaridades e a destacar diferenças entre a evolução no mundo natural e a evolução nas ciências sociais, enfocando a inovação. A esse respeito, o autor salienta a relevância de que os pesquisadores tenham disposição para experimentar e para aprender não apenas por meio de modelos que investigam a mudança técnica, como também os que investigam a mudança social associada à inovação.

Benavides (2004), por sua vez, argumenta que existem duas formas de se compreender a inovação tecnológica. Na primeira, a inovação é vista como uma atividade racional, voltada a um objetivo, e com a escolha da melhor inovação dentre um conjunto de alternativas possíveis. Essa contextualização é característica de estudos desenvolvidos conforme abordagem econômica neoclássica, que buscam explicar a inovação tecnológica à luz dos objetivos que os produtores racionais almejam atingir.

Na segunda forma de se compreender a inovação tecnológica, de acordo com Benavides (2004), a mudança técnica é vista como um processo de tentativa e erro, ou seja, como um agregado cumulativo de certas modificações incrementais no processo de produção, pequenas e, em grande medida, acidentais. Esta forma de entender a mudança técnica é característica de estudos evolucionários, que fazem uma explicação mais literal que metafórica acerca da aplicação do processo de evolução biológica ao campo econômico (BENAVIDES, 2004).

Benavides (2004, p.56) ressalta que “ambas as explicações estão presentes no processo de inovação tecnológica, pois na evolução tecnológica as transformações também

podem ser direcionadas rumo a determinados objetivos”. A partir do estudo de Rosenberg (1982), Benavides (2004) retoma os conceitos de busca e seleção, e salienta que a compreensão da inovação tecnológica como um processo de aprendizagem envolve modelar interações estratégicas através do tempo por meio dos mecanismos de busca e de seleção. Dessa forma,

(...) a busca culmina na geração de novas estratégias, enquanto a seleção possibilita que as estratégias que produzam os maiores retornos prevaleçam. Posteriormente, novas buscas experimentam um processo de seleção, e só as melhores sobrevivem, as que sejam mais adaptativas. Dessa forma, tem-se um processo adaptativo em que, por meio da aprendizagem, aumenta a possibilidade de se escolher a melhor estratégia (BENAVIDES, 2004, p.60).

Assim, “a inovação tecnológica ocorre quando se aplicam novas rotinas no processo de produção, por parte das firmas. As novas rotinas representam, assim, variações nas características observadas para padrões e tecnologias existentes” (BENAVIDES, 2004, p.61). Em suma, Benavides (2004) argumenta que a inovação tecnológica representa mudanças no conhecimento tecnológico gerado por uma competição entre rotinas novas e antigas, o que é apontado pelo autor como um processo de aprendizagem, instigando os pesquisadores a buscar por elementos conceituais de tal inter-relação.

A compreensão do termo inovação tecnológica, por vezes, parece confundir-se com a própria concepção de inovação, o que tornaria desnecessário o adjetivo ‘tecnológica’. Stal (2007, p.28), por exemplo, argumenta que: “não existe uma definição-padrão para a inovação. Entretanto, o comum é a ideia de algo novo, seja uma característica de um produto, um processo, uma técnica, seja um novo uso de um produto ou serviço”. Adicionalmente, o conceito de inovação tecnológica aparenta ser particularmente pertinente para as pesquisas no campo da economia, uma vez que tal conceito “possui um sentido econômico, pois depende da produção ou da aplicação comercial do novo produto ou do aperfeiçoamento nos bens e serviços já utilizados” (STAL, 2007, p.29).

Com base nas informações apresentadas anteriormente, e reconhecida a importância das delimitações conceituais e dos indicadores presentes no Manual de Oslo (1997) e na PINTEC (2010) – direcionados, sobretudo, para a investigação acerca da inovação tecnológica no setor industrial –, observa-se que tal abordagem não se alinha aos objetivos propostos neste estudo, voltados à investigação da inovação no âmbito das organizações, especificamente no que se refere à gestão em sistemas de educação a distância, em contexto distinto ao do setor industrial.

Uma vez apontados aspectos referentes à compreensão do termo ‘inovação tecnológica’, são apresentados, a seguir, elementos característicos de abordagens acerca da compreensão da inovação no setor de serviços, salientando suas peculiaridades. É particularmente oportuno, no tocante a este estudo, caracterizar abordagens ao estudo da inovação em serviços, levando em conta que as atividades na área educacional, de forma usual, são setorialmente classificadas no âmbito dos serviços.