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A inserção curricular da Educação Ambiental na educação básica

No documento ... À Natureza, e à dádiva da vida... (páginas 113-117)

ESTRUTURA GERAL DA TESE

1.3 O cenário da institucionalização da Educação Ambiental no Brasil

1.3.1 A inserção curricular da Educação Ambiental na educação básica

Analisando especificamente a questão da inserção da Educação Ambiental no currículo escolar, a visão conservacionista dos movimentos ambientais dos anos 60 teve como resultado ―um visível desequilíbrio entre o ‗educacional‘ e o ‗ambiental‘, ou melhor dizendo, um questionável sentido ‗educativo‘ nas ações e formulações que se caracterizam como ambientais‖ (LOUREIRO, 2004, p. 15). Essa visão não possibilitava uma reflexão mais profunda sobre as consequências dos processos sociais que estavam instaurados na dinâmica da sociedade. Tristão (2007, p. 10) observa o evidente desencontro entre as leis/programas que tratam da Educação Ambiental e as que tratam da educação de modo geral: ―uma não faz referência à outra, as leis que regem a Educação Ambiental não se inserem nas leis da educação e vice-versa‖.

Desde a Conferência de Tbilisi orienta-se ações de Educação Ambiental com uma proposição não-disciplinar, o que, segundo Sato (2002) evidencia um singelo início de abandono dos moldes tradicionais da educação na qual há fragmentação do conhecimento, adotando-se então uma orientação com perspectiva interdisciplinar. Ainda assim, Carvalho (2002) destaca que em 1979 o Brasil

demonstra sua falta de amadurecimento na área, à partir da criação de um documento intitulado Ecologia: uma proposta para o ensino de 1° e 2° graus, que claramente apresentava uma visão bastante reducionista, já que tratava a Educação Ambiental no âmbito das ciências biológicas, como queriam os países desenvolvidos, sem tocar na questão cultural, social e política (BAGLIANO;

ALCÂNTARA; BACCARO, 2012).

Nesse sentido, a Educação Ambiental no Brasil, em sua origem, esteve subordinada a esse modelo justamente porque os discursos iniciais ―estiveram atrelados à proteção da natureza, direcionando-se com maior frequência à contemplação da natureza do que à interação com a natureza‖ (MORALES, 2009).

Carvalho (2002, p. 60) acrescenta, dizendo que

Ao encarar a Ecologia como uma disciplina compartimentalizada, revelando basicamente os aspectos naturais e biológicos do meio ambiente, escondia-se na verdade uma trapaça para desvirtuar o verdadeiro conteúdo abrangido pela temática ambiental [...] já que esta começou a se revelar

‗perigosa‘ demais para os interesses dominantes no país, que na época, vivia seus tempos de ditadura.

É possível dizer que a inserção das questões ambientais chegaram ao espaço da escola portanto, à partir de conceitos e componentes que advinh am da ecologia e da biologia, quase que exclusivamente nas disciplinas de Ciências e Geografia, se impondo a outros componentes que fazem parte das relações que envolvem o meio ambiente (GUERRA; LIMA; ROCHA, 2003; MORALES, 2009).

Tozoni-Reis e Campos (2014, p. 146) comentam que na década de 80 a discussão sobre a organização do ensino avançou no que se refere a perspectiva crítica. Segundo as autoras,

Essas posições críticas representavam uma abordagem teórica e prática da educação que, embora tivesse muita penetração entre os educadores, não se consolidou como hegemônica na organização das escolas públicas de educação básica.

Nesse sentido, em 1987 o parecer n° 226 (CNE) trouxe como avanço a inserção da Educação Ambiental não mais por temas meramente ecológicos, mas de maneira interdisciplinar e com a integração da escola com a comunidade. Além disso, elegeu-se a escola como o local que mais poderia potencializar a formação da

consciência ambiental, por meio da Educação Ambiental, que passa a ser considerada como campo de ação pedagógico91.

Um dos primeiros debates efetivos sobre a inserção curricular da Educação Ambiental no Brasil girou em torno da questão sobre as formas e modelos dessa inserção, destacando-se três: a forma interdisciplinar, a multidisciplinar e a transversal (TORALES, 2015). Adotado no Brasil o modelo transversal, este foi cristalizado em 1997, por meio da criação dos PCN‘s, pautados na LDB, que se apresentou superficial no que se refere especificamente a Educação Ambiental (LAYRARGUES, 2007).

Essa lei faz três referências a questões que estão imbricadas a Educação Ambiental: no artigo 32°, inciso II, a LDB traz como objetivo do ensino fundamental a formação básica do cidadão, mediante a ―compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade‖; no artigo 36°, § 1°, coloca como inserção curricular obrigatória (no ensino fundamental e médio) ―o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil‖ e no artigo 43°, inciso III, que aborda o Ensino superior, traz como uma de suas finalidades o incentivo ao

―trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive‖.

Em 1999 a Política Nacional de Educação Ambiental avança quando traz a Educação Ambiental como obrigatoriedade no sistema formal de ensino como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal (Art. 10). Tozoni-Reis e Campos (2014, p. 147) ressaltam ainda que há um avanço também no que se refere especificamente a maneira como a Educação Ambiental deve ser inserida na escola, já que enfoca sua natureza interdisciplinar, ao trazer, no artigo 10°, que a Educação Ambiental não deve ser uma disciplina específica do currículo escolar, salvo em currículos de formação de professores e ensino superior. Apesar disso, Layrargues (2007) diz que um dos principais dilemas que a lei não resolve é ―como operacionalizar a Educação Ambiental incorporando-a ao projeto político pedagógico e adequando-a à realidade local da comunidade escolar‖, trazendo ainda como definição para a Educação

91 Fonte: http://eduambiental.tumblr.com/post/68162531894/legisla%C3%A7%C3%A3o-ambiental

Ambiental um enfoque conservacionista, ainda que tenha citado termos como

―coletividade‖ e ―emancipação‖.

No que se refere a inserção da Educação Ambiental nos currículos, o Pronea, desde sua primeira edição, já incentivava sua efetivação de forma transversal e a inclusão da dimensão ambiental nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas por meio da pedagogia de projetos, promovendo a integração entre as diversas disciplinas. Além disso, avança quando sugere que fossem elaboradas publicações de Educação Ambiental no Programa Nacional de Livro Didático e que ela fosse incluída em escolas ―diferenciadas‖ (como indígenas, ribeirinhas, de pescadores, de assentamentos e de extrativistas).

Em 2012, as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Ambiental trazem que sua inserção nos currículos pode ocorrer:

Art. 16 [...] I - pela transversalidade, mediante temas relacionados com o meio ambiente e a sustentabilidade socioambiental; II - como conteúdo dos componentes já constantes do currículo; III - pela combinação de transversalidade e de tratamento nos componentes curriculares (BRASIL, 2012).

Ainda, reforçam que a Educação Ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino, trazendo as seguintes orientações sobre as atividades escolares (Art.17): observação e estudo da natureza e de seus sistemas de funcionamento; ações pedagógicas que permitam aos sujeitos a compreensão crítica da dimensão ética e política das questões socioambientais;

projetos e atividades, inclusive artísticas e lúdicas; experiências que contemplem a produção de conhecimentos científicos; trabalho de comissões, grupos ou outras formas de atuação coletiva favoráveis à promoção de educação entre pares.

Especificamente no caso da rede estadual de ensino do Paraná, a inserção curricular da Educação Ambiental é pautada também na Política Estadual de Educação Ambiental92, que traz como obrigatoriedade que a temática ambiental seja inserida nos currículos da educação básica ao ensino superior, incluindo a educação especial, educação profissional, educação de jovens e adultos e comunidades tradicionais.

92 Lei n°17.505 de 11 de janeiro de 2013: Institui a Política Estadual de Educação Ambiental e o Sistema de Educação Ambiental e adota outras providências.

1.3.2 Alguns aspectos sobre a Educação Ambiental formal no estado do

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