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RECONHECIMENTO DA REALIDADE

CONTEXTUALIZAÇÃO DA ILHA DO MEL

2.3 A Ilha do Mel: que lugar é esse?

2.3.1 Breve história

Até o final do século XIX a Ilha do Mel era conhecida como ―Ilha da Baleia‖. A origem do nome ―Ilha do Mel‖ tem várias versões (KIM, 2004). Entre elas, destaca-se a tradição da extração do mel silvestre realizada na parte norte da Ilha e em homenagem a família do Almirante Mehl que frequentava a região em meados da Primeira Guerra Mundial.

Os supostos primeiros habitantes que residiram na Ilha foram os índios Carijós, antes da invasão dos portugueses no século XVII, sendo sua presença

121 Fonte: http://www.cem.ufpr.br/litoralnotacem/ilhadomel/ilhadomel.html

evidenciada por meio dos estudos dos sambaquis localizados no Sul da Ilha122. Essas tribos, que se estendiam pelo litoral sul do Brasil, de Cananéia/SP até a Lagoa dos Patos/RS por volta do século XVI, eram consideradas ―dóceis‖ pela forma como acolheram os primeiros colonizadores portugueses, que encontraram ali lugar fácil tanto para a catequização, quanto para mão de obra (escravização dos indígenas) e extração das riquezas naturais da região (principalmente metais preciosos).

De acordo com Telles (2013), a mistura de raças entre a população que ali se encontrava e os colonizadores resultou em uma cultura conhecida como

―mameluca‖123, ainda que, segundo o autor, em relatos se levantem possibilidades de que muitas nacionalidades europeias procuravam a Ilha anteriormente em busca de descanso, uma vez que ela faz parte do caminho das Índias.

Athayde e Tomaz (1995) identificam três fatos de destaque na história da Ilha.

O primeiro se refere a construção, pelos colonizadores portugueses, da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, obra que perdurou por dois anos, entre 1767 e 1769, localizada no Morro da Baleia ou do Forte. A sua construção se deu pelo aumento da procura de outras nacionalidades de colonizadores e piratas pela região, principalmente por conta da mão de obra e descanso, como já comentado, e da fundação de Paranaguá e Coreatuba (futura Curitiba) no início do século XVII, a fim de proteger seu território. Eis que surge, dessa forma, o primeiro povoado que se tem registro na Ilha, composta de um batalhão para administração da fortaleza, que se apresenta como o único estabelecimento militar do Paraná em todo o século e o primeiro forte a entrar em batalha:

122 Os sambaquis são assim nomeados: Pontinha, Mangue do canudo e Rio Grande, e datados de 1500 a.C.

123 Miscigenação de carijós com brancos.

FIGURA 11 - Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres

Fonte: http://www.maisturismo.net/cidade-de-paranagua-parana-brasil/

O segundo fato é o incidente conhecido como Cormorant (CARNEIRO, 1950 apud ATHAYDE; TOMAZ, 1995), nome dado ao combate ocorrido em 1850. Na época já havia ocorrido as primeiras tentativas de proibição do tráfego de escravos no Brasil, fato que levou o país a firmar acordo com a Inglaterra, o qual permitia a perseguição de navios negreiros pela marinha inglesa mesmo dentro de águas consideradas brasileiras.

O Cormorant era um cruzador124 britânico que adentrou a baía de Paranaguá sem autorização, aprisionando navios brasileiros, o que fez com que a população nativa se revoltasse. Alguns homens se uniram e partiram para a fortaleza, trabalhando duro para colocá-la em funcionamento – já que estava desativada - culminando tal ação no ataque ao navio Cormorant, deixando alguns mortos e feridos.

Como terceiro fato que marcou a história da região, Athayde e Tomaz (1995) destacam a construção de um farol a leste da Ilha, conhecido como Farol das Conchas, em 1870, por ordem de Dom Pedro II. Sob o comando do Ministro da Marinha, a obra foi executada por uma empresa escocesa. O farol, que tem 18 metros de altura, internamente possui uma escada de ferro, vidros de cristais e espelhos e tem uma luz que alcança aproximadamente 20 milhas. Hoje pode ser considerado como um dos retratos da Ilha:

124 Navio poderosamente armado e empregado para o comando, escolta e luta antiaérea ou anti-submarina.

FIGURA 12 - Farol das Conchas

Fonte: http://www.panoramio.com/photo/46932049

No século XX, na década de 30, a Ilha teve uma primeira fase de seu uso turístico pelas famílias de classe alta de Curitiba que, segundo Pierri et al. (2006), compraram terrenos na região e construíram as primeiras casas de veraneio, ainda sem muito impacto ambiental e social. Os autores ainda mencionam que essas famílias ―compartilhavam o espaço com a população tradicional permanente de pescadores, sem maiores conflitos‖ (PIERRI et al., 2006, p. 160).

Em meados da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a Ilha era considerada

―zona de guerra‖, o que operou como restrição a esse e a outros usos (BRITEZ;

MARQUES, 2005). Em 1946 a Ilha teve conformação jurídica125 e foi considerada como bem da União (KIM, 2004).

Até a década de 60 a população local da Ilha tinha na pesca artesanal (para consumo e escambo) e na agricultura de subsistência suas principais fontes de renda (PIERRI; KIM, 2008) e, mais do que isso, seu modo de vida. Vilanova Júnior (2015) comenta que havia ainda a criação de gado nos morros. Esse autor destaca que nessa época a Ilha ainda não tinha sofrido a influência do meio urbano. A comunidade reunia-se para as festas de santos, para a dança do fandango, típica da região do litoral paranaense e para os bailões ou forrós.

Na década de 70 a BR-277, que dá acesso às praias do litoral paranaense, foi finalizada. Com a abertura de uma estrada em Pontal do Sul houve ainda mais facilidade no acesso à Ilha. Aumentou assim o número de visitantes, principalmente

125 Lei Federal n° 9.760 de setembro de 1946.

jovens que acampavam nas praias ou nos quintais das casas, a procura da beleza de suas paisagens e também por ser um lugar pouco habitado e sem policiamento (BIAZIN; ALMEIDA, 2009; SCHENA, 2006). Schena (2006) comenta que se o visitante da década de 1970 apreciava acampar da maneira mais rústica e improvisada possível, na década de 1980 inicia-se um turismo mais dependente de certos confortos.

À partir da década de 1980, Pierri et al. (2006, p. 160) destaca que a pressão turística começou a crescer e simultaneamente, a maior parte da Ilha foi transformada em Unidade de Conservação. Segundo os autores, isso ―não impediu o avanço turístico, muito pelo contrário, o legitimou, autorizando seu desenvolvimento nas áreas externas à Estação, que são áreas de amortecimento com regulação ambiental específica‖.

Em 1982, o serviço de patrimônio da união transferiu a administração da Ilha do Mel, por aforamento, ao estado do Paraná. Como condicionante a esse fato, foi instituída a criação Estação Ecológica. Um ano depois, com a colocação em vigor do Plano de Uso da Ilha, o governo tomou uma posição no sentido da preservação ambiental. O zoneamento proposto pelo plano também estabeleceu uma área de preservação na parte sul da Ilha, chamada de Reserva Natural (PIERRI; KIM, 2008).

No ano de 1985, a água tratada chega a Ilha. A partir de 1988, com a instalação da luz elétrica e o serviço regular de transporte marítimo, se intensifica ainda mais o turismo na Ilha, desencadeando um movimento de ocupação também mais intenso, ―de investidores turísticos, de veranistas que compraram casa, e de visitantes de um ou vários dias‖ (PIERRI et al., 2006, p. 181).

Ocorreram, desde então, mudanças mais significativas nas práticas pedagógicas sociais locais, com destaque para as influências sobre a cultura e os modos de vida dos nativos, agravando, por exemplo, o consumismo, a venda de drogas e o abandono de práticas pedagógicas tradicionais de sobrevivência como a pesca (FUZETTI; CORRÊA, 2009; SCHENA, 2006).

No documento ... À Natureza, e à dádiva da vida... (páginas 146-151)