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A relação entre educação e desenvolvimento

No documento ... À Natureza, e à dádiva da vida... (páginas 76-79)

ESTRUTURA GERAL DA TESE

1.2 Desenvolvimento e meio ambiente

1.2.1 A relação entre educação e desenvolvimento

Sauvé (2005) afirma que a educação é o espelho do desenvolvimento das sociedades. Nesse sentido, ―Educação e desenvolvimento conformam um binómio indissociável, porquanto a finalidade de ambas na sociedade é alcançar melhores condições de vida e uma maior humanização‖ (GÓMEZ; FREITAS; CALLEJAS, 2007, p. 168). Essa relação pode segundo os autores ser considerada sob duas vertentes: a que entende a educação como consequência do desenvolvimento (ou efeito) e a educação como prioritária e decisiva para o desenvolvimento. Quando interpretada como consequência, supõe-se que quanto mais eficientes forem os serviços aos quais a população tem acesso, incluindo a educação, maior é o desenvolvimento, ainda que em um processo de padronização (formação acadêmica, alfabetização e mão-de-obra qualificada).

Já quando a educação é interpretada como decisiva, é vista como estratégia para superar o subdesenvolvimento, ou seja, ela é causa e ao mesmo tempo consequência do desenvolvimento. É uma relação orgânica, já que nessa vertente o processo para o desenvolvimento é compreendido como sendo necessariamente educativo:

Toda a prática educativa é uma ação para o desenvolvimento e todo o processo de desenvolvimento é um acto educativo, pois ao educar-se, ao educar ao aprender e ao partilhar conhecimentos, as pessoas estão a fomentar e a praticar uma maneira de transformar o mundo, de validar ou recusar um modelo de vida e de desenvolvimento que, ao mesmo tempo, impõe uma determinada forma de encarar a educação (GÓMEZ; FREITAS;

CALLEJAS, 2007, p. 203).

Quando passa a ser vista por interesses políticos a partir da ideia de

―desenvolvimento‖, a educação coloca-se ainda mais disposta a manipulações e reproduções. Cabe lembrar que a partir da segunda metade do século XX, a educação realmente é colocada sob a determinação das condições de funcionamento da emergente sociedade capitalista, o que Saviani (2003) denomina de ―concepção produtivista de educação‖.

Em meados dos anos 50 e 60, aliada ao crescimento econômico, a relação da educação com o mercado (emprego) ganha maior ênfase, visto que o que se buscava como finalidade da escola era a conquista da máxima eficiência no trabalho. Vários estudos da época demonstraram que o nível educativo dos sujeitos estava relacionado a melhores salários, o que era visto como indício da contribuição

do capital humano no crescimento econômico. Dessa forma, estratégias para desenvolver a educação foram contempladas na perspectiva de modernização e industrialização, com intuito de serem revertidas no aumento do PIB dos países (GÓMEZ; FREITAS; CALLEJAS, 2007).

A complexa relação entre o desenvolvimento e a educação se torna notória quando dados sobre o investimento no ensino primário e seus elevados rendimentos, assim como a educação secundária, mostravam que a educação fazia diferença na convergência entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Assim, abrem-se as portas para a realidade de que a educação é fator preponderante no desenvolvimento econômico e, mais do que isso, o sujeito passa a ser visto como centro do processo de desenvolvimento.

A partir da década de 70, a educação enfrenta uma crise mundial, visto que houve, por um lado, uma crescente defasagem dos conteúdos escolares em relação às necessidades de desenvolvimento da sociedade e, por outro, um progressivo desiquilíbrio entre os altos custos com recursos educacionais. Ou seja, quando a educação passa a ser encarada como decisiva no progresso econômico, surge a questão do quanto os países podem ou desejam nela investir.

Na década de 80, marcada pela emergência de um pensamento que considerava os problemas da sociedade de maneira global, evidenciou-se a necessidade de uma educação que fosse integral e nesse sentido as ações comunitárias, que aliassem a educação com as reais necessidades das comunidades, foram intensificadas em várias partes do mundo, como já mencionado.

A partir da década de 90, impulsionada pelas ideias oriundas da Conferência Mundial de Educação para todos (Jomtien, Tailândia), que denunciava as condições precárias em que viviam milhares de pessoas, aumenta-se a preocupação com a necessidade de se construir um pensamento mais humanizado, mais solidário, holístico, e a educação é apontada como fator preponderante nesse processo.

Nessa perspectiva, além de adquirir consciência dos sistemas que regem nossa sociedade, a natureza e as relações existentes entre ambas, tornava-se necessário a criação de uma consciência planetária, na qual coexistem a descoberta de si mesmo e o enriquecimento do potencial do sujeito, o que corrobora com os objetivos da educação integral discutidos na época.

A mudança na percepção do conceito do desenvolvimento traz como consequência a revisão do conceito da própria educação, que passa a ser vista como característica da existência humana, enfatizando sua dimensão social, ou seja, ―ultrapassa os limites do calendário escolar, deixa de ser patrimônio da escola e vai mais além do espaço da sala de aula‖ (GÓMEZ; FREITAS; CALLEJAS, 2007, p. 189). Compreende-se a diferença entre educação e escolarização, alargando o conceito e identificando-a como aprendizagem ao longo da vida.

Tornam-se inseparáveis, dessa forma, todas as ―educações‖ recebidas pelos sujeitos ao longo da vida, pela família, pelo estado, pela sociedade em geral e pela escola. Passa-se a circular a ideia de uma educação para o desenvolvimento que integre todas as dimensões da vida em suas realidades, o que expande a concepção do processo educativo, não restringindo apenas à escola essa função. É como se pegassem partes inseparáveis – educação, ensino e desenvolvimento - de um só processo, mas cada um com autonomia suficiente para se sustentar (GÓMEZ;

FREITAS; CALLEJAS, 2007).

Para sintetizar essas ideias, é preciso compreender que a relação educação e desenvolvimento se constitui em um processo constante entre o poder transformador do ser humano e os limites que a natureza impõe. Sendo assim, é possível entender que é uma relação de produção e ao mesmo tempo de expressão dos sujeitos, já que permeia o conjunto de hábitos, competências e saberes necessários para repensar e reconstruir o sistema, a natureza e os modos de viver.

Neste sentido, a melhoria nas condições de vida precisa ser vista inseparavelmente das condições de formação emancipatórias que permitam aos sujeitos a participação nos processos decisórios, de transformação e melhoria de social, de maneira geral (GÓMEZ; FREITAS; CALLEJAS, 2007).

No que se refere ao discurso sobre o desenvolvimento sustentável, a responsabilidade da educação é promover a sustentabilidade social, uma de suas dimensões, na ―medida que a pobreza é considerada uma das causas da insustentabilidade ambiental‖ (TEIXEIRA, 2006, p. 141). Nesse sentido, ela seria uma ponte para a sustentabilidade ambiental e estaria embutida a noção de

―funcionalidade‖ da educação. Ainda segundo essa mesma autora, a perspectiva em relação a educação no discurso do desenvolvimento sustentável no Brasil é a de que a formação tenha como finalidade a integração dos sujeitos à sociedade globalizada. Mesmo que se tenha avançado nessa questão, a autora destaca que

essa sustentabilidade caiu em uma armadilha, já que a educação é vista como promotora de uma competência técnica, considerando-a apenas na perspectiva da integração social.

No documento ... À Natureza, e à dádiva da vida... (páginas 76-79)