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A Institucionalização nas Políticas Europeias e a CSR Europe

No documento Mónica de Melo Freitas (páginas 31-35)

Parte I. Enquadramento e Problemática

Capítulo 2: A Institucionalização Internacional da RSE

2.1. A Institucionalização nas Políticas Europeias e a CSR Europe

A análise bibliográfica realizada mostrou que não existe consenso quanto à implementação das primeiras iniciativas políticas de promoção em RSE na Europa. Segundo fontes consultadas, o Livro Verde da RSE na União Europeia, apresentado pela Comissão Europeia em 2001, retomou de certa forma os valores que estiveram na base do Tratado que instituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço entre França, Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos. O chamado Livro Verde, intitulado Promover um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das

Empresas, pretendia incentivar os Estados membros à mobilização das empresas em

matéria de direitos humanos e desenvolvimento sustentável, de modo a contribuir para a estratégia de competitividade e inovação das organizações.

Na definição do Livro Verde, a RSE compreende “um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo” (Comissão Europeia 2001, 4). Além de as orientações emanadas de organismos internacionais (como a ONU, a OIT e a OCDE) terem explicitamente influenciado a criação deste documento, o impulso maior para a sua criação foi dado pelo Conselho Europeu de Lisboa em março de 2000, quando “formulou um apelo especial ao sentido de responsabilidade social do meio empresarial no que toca às melhores práticas em matéria de aprendizagem ao longo da vida, organização do trabalho, igualdade de oportunidades, inclusão social e desenvolvimento sustentável” (3). Invocando a cimeira de Lisboa, o precedente do apelo de Jacques Delors em 1993 para a participação das empresas da UE no combate à exclusão social, e colocando a par o trabalho político então em curso para uma Carta Europeia dos Direitos Fundamentais consagrado pelo Conselho Europeu de Nice em dezembro de 2000, as conclusões do Conselho Europeu de Estocolmo de março de 2001 que apelavam à responsabilidade social das empresas em parceiras com diversos

stakeholders e as do Conselho Europeu de Gotemburgo de junho de 2001 sobre

crescimento económico, coesão social e sustentabilidade ambiental, o Livro Verde procurava assim lançar a discussão política sobre o desejado papel a assumir voluntariamente pelas empresas nesses domínios:

Ao afirmarem a sua responsabilidade social e ao assumirem voluntariamente os compromissos que vão para além dos requisitos reguladores convencionais a que, de qualquer forma, estariam sempre vinculadas, as empresas procuram elevar o grau de exigência das normas relacionadas com o desenvolvimento social, a proteção ambiental e o respeito dos direitos fundamentais, e adotam uma governação aberta, em que se conciliam os interesses de diversas partes, numa abordagem global da qualidade e do desenvolvimento sustentável.

Embora se reconheça a importância de todos estes aspetos, o presente documento centra-se fundamentalmente nas responsabilidades das empresas em termos sociais (...). A União Europeia interessa-se pela questão da responsabilidade social das empresas, uma vez que pode constituir um contributo positivo para atingir o objectivo estratégico definido em Lisboa: “tornar-se na economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social” (Comissão Europeia 2001, 3). Em linha com as abordagens instrumentais referidas no capítulo antecedente, a Comissão Europeia (2001 5, 7-8) defendia que:

Dado que a responsabilidade social é um processo pelo qual as empresas gerem as suas relações com uma série de partes interessadas que podem influenciar efectivamente o seu livre funcionamento, a motivação comercial torna-se evidente. Assim, à semelhança da gestão da qualidade, a responsabilidade social de uma empresa deve ser considerada como um investimento, e não como um encargo. (...)

Assim, o facto de se transcender as obrigações legais elementares no domínio social – por exemplo, em termos de formação, condições de trabalho ou das relações administração-trabalhadores – é passível de ter também um efeito directo sobre a produtividade. Possibilita igualmente uma melhor gestão da mudança e a conciliação entre o desenvolvimento social e uma competitividade reforçada. (...)

Os resultados positivos diretos podem derivar, por exemplo, de um melhor ambiente de trabalho, levando a um maior empenhamento e uma maior produtividade dos trabalhadores, ou de uma utilização mais eficaz dos recursos

naturais. Os efeitos indiretos são consequência da crescente atenção dos consumidores e dos investidores, o que aumentará as oportunidades de mercado. Inversamente, as críticas dirigidas à prática de uma empresa poderão, por vezes, ter um efeito negativo sobre a sua reputação, afectando activos fundamentais – as suas marcas e a sua imagem.

Entre os vários tópicos de debate levantados pelo Livro Verde, salientamos ela sua pertinência para o presente trabalho os que apontam para a constituição de redes colaborativas de empresas e stakeholders:

Quais as melhores formas para estabelecer e desenvolver um processo de diálogo estruturado em matéria de responsabilidade social das empresas entre estas e as suas diversas partes interessadas?

Quais deverão ser os papéis a desempenhar pelos protagonistas, isto é, empresas, parceiros sociais, autoridades públicas, ONG, na promoção da responsabilidade social das empresas? (Comissão Europeia 2001, 25)

No sentido de alcançar as metas estipuladas em termos de desenvolvimento económico e do desenvolvimento sustentável e da confluência dos vários sectores em redes de stakeholders, a Comissão Europeia (2006, 4) insistiu no maior empenho dos Estados membros, dos dirigentes e das empresas na implementação das recomendações do Livro Verde “(…) A Comissão convida as empresas europeias a passar a uma velocidade superior e a reforçar o seu compromisso com a RSE”. Como, apesar dos apelos, a implementação deste documento não atingiu os resultados pretendidos (Comissão Europeia, 2011, 6), a Comissão Europeia decidiu reformular a sua política de RSE, procurando aproximar a abordagem da RSE na Europa às Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais, à ISO 260001 e aos Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas.

A nova estratégia europeia da RSE, publicada em 25 de Outubro de 2011 (Comissão Europeia 2011), veio, de certa forma, clarificar o sentido estratégico da RSE, reforçando os princípios utilitaristas e assinalando o seu contributo para o sucesso e para a competitividade do negócio, quando totalmente integrada na estratégia empresarial. A União Europeia passaria a desempenhar um papel mais ativo na mobilização dos

1 A ISO 26000 é uma norma não certificada de suporte à implementação RSE, criada pela ISO em 2010. Cf. secção 2.3, infra.

Estados membros, na consolidação de ambientes mais propícios à atuação voluntária das empresas europeias, através da criação de políticas de atribuição de prémios e de benefícios fiscais a empresas socialmente responsáveis, e da criação de manuais de RSE específicos para as indústrias de maior peso na Europa. Além disto, a UE ficaria também incumbida da função de acompanhar os avanços conseguidos pela RSE e de informar sobre eles. Com vista a cumprir a função de relato que lhe foi atribuída, a EU comprometeu-se em divulgar regularmente os relatórios no website, segundo os parâmetros internacionais de reporte.

Apesar da existência de divergências, podemos dizer que a RSE se encontra consolidada na Europa, tanto do ponto de vista político-discursivo como do estratégico- operacional. O Livro Verde e as sucessivas comunicações da Comissão Europeia aos Estados membros em 2004, 2006 e 2011 traduzem os desígnios da EU de transformar o continente num bom exemplo mundial em matéria de responsabilidade social, para o que conta com o suporte da Rede Europeia de Empresas para a Responsbilidade Social, a CSR Europe.

A CSR Europe foi criada em 1996 com o nome de Rede Europeia de Empresas pela Coesão Social, em resposta ao apelo do Presidente Jacques Delors, acima referido. Também em resposta ao apelo da Cimeira de Lisboa em 2000, colaborou com a Comissão Europeia na definição da Estratégia Europeia para a RSE. Em 2010, a UE lançou a Enterprise 2020, para enquadrar o contributo das empresas para a Estratégia Europeia 2020. Esta rede é hoje composta por 59 empresas multinacionais e 45 organizações nacionais de RSE, que no seu conjuto associam mais de 10.000 empresas. A Enterprise 2020 procura articular dois grandes eixos: o do desenvolvimento sustentável, onde é proposta a inclusão das preocupações sociais, ambientais e económicas nas opções estratégicas das organizações, e o da a inovação dos produtos e dos serviços produzidos na Europa. Às organizações membros, disponibiliza guias e outros instrumentos de apoio à implementação da RSE, serviços de consultoria, canais de comunicação e de troca de conhecimento e de experiências com outros profissionais, além dos vários seminários, workshops e outros encontros europeus e internacionais que promove.

A análise da lista das organizações membros da CSR Europe mostrou-nos que uma parcela significativa das empresas que a compõem é constituída por empresas

representado, contando apenas cinco empresas (Amgen USA, MSD Bélgica, Novartis Suíça, Novo Nordisk Dinamarca, Sanofi Alemanha), maioritamente dos segmentos biotecnológico e farmacêutico.

2.2. A International Organization for Standardization e a Global Reporting

No documento Mónica de Melo Freitas (páginas 31-35)