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A International Organization for Standardization e a Global Reporting Initiative

No documento Mónica de Melo Freitas (páginas 35-37)

Parte I. Enquadramento e Problemática

Capítulo 2: A Institucionalização Internacional da RSE

2.2. A International Organization for Standardization e a Global Reporting Initiative

(…) os conflitos políticos em torno da regulação do capitalismo global – e a incrustação destes conflitos em regras e guiões neoliberais – geraram projetos de construção institucional que provaram ser cruciais para o crescimento da certificação. (...) Há indícios de que a certificação está em vias de institucionalização como um instrumento quase-político. (...) Além disso, as iniciativas de certificação tornaram-se num ‘campo da responsabilidade social’ cada vez mais elaborado, que mal existia há uma década atrás, mas que hoje produz uma plétora de documentos de políticas, conferências, consultoras, e até credenciais de ensino (Bartley 2007, 299, 302-3).

Apresentamos nesta secção alguns dos pontos altos deste processo de institucionalização correlativa entre a responsabilidade social e os instrumentos e agências de padronização normativa, criados no âmbito da “conflitualidade do capitalismo” (King e Pearce 2010, 260).

A ISO – International Organization for Standardization é a organização não governamental independente que é a maior produtora mundial de normas internacionais voluntárias. É composta por 162 países membros, que dispõem de organismos de padronização nacionais hierarquicamente vinculados ao secretariado central localizado em Genebra, na Suíça (ISO). As 60 normas ISO criadas especificamente para a área da saúde não fornecem linhas de orientação específicas para o setor em áreas como a sustentabilidade, RSE e gestão de stakeholders. Existem, sim, normas ISO sobre essas matérias, de aplicação transversal aos diferentes setores de atividade. As normas ISO 14000, por exemplo, aplicam-se aos vários aspetos da gestão ambiental, fornecendo ferramentas práticas para as companhias e as organizações que buscam identificar e controlar o seu impacto ambiental e melhorar constantemente o seu desempenho nesse domínio.

A ISO 26000:2010 compreende a primeira norma internacional de padronização da RSE. A norma fornece a orientação sobre os princípios de responsabilidade social a

seguir, identificando a responsabilidade social e os parceiros envolvidos, os temas centrais e as questões pertencentes à responsabilidade social, e os caminhos para integrar o comportamento socialmente responsável dentro da organização:

Um desempenho organizacional em relação à sociedade em que a organização opera e o seu impacto sobre o ambiente tornou-se uma parte crítica da mensuração da sua atuação global e da sua habilidade para continuar operando efetivamente. Isto é, em parte, um reflexo do reconhecimento crescente da necessidade de assegurar os ecossistemas saudáveis, a equidade social e a boa governança organizacional (GRI e ISO 2014, 6).

As áreas de atuação previstas para a RSE na ISO 26000 são as de Governança Organizacional, Direitos Humanos, Práticas Laborais, Meio Ambiente, Práticas de Operação Justas, Questões dos Consumidores, Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade (GRI e ISO 2014, 12-13). Dentro das áreas assinaladas, foram estipulados alguns eixos de atuação, de entre os quais assinalamos o eixo Saúde, que integra a área Envolvimento da Comunidade e Desenvolvimento.

A GRI – Global Reporting Initiative foi criada em 1997 em resultado de uma parceria consolidada entre a CERES (Coalition for Environmentally Responsible Economies) e o UNEP – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mais tarde endossada por parcerias com a iniciativa UN Global Compact para a promoção da sustentabilidade nas empresas e na economia global, pela OCDE e pela ISO. É uma rede composta por especialistas de todo o globo, cuja missão é difundir as Diretrizes para Elaboração de Relatórios de Sustentabilidade aplicáveis a todas as organizações que pretendam, de uma forma voluntária, difundir à escala global a informação económica, ambiental e social referente às suas atividades, produtos e/ou serviços.

Em dezembro de 2014, a KPMG analisou as práticas das 100 maiores empresas de 41 países, no que toca ao reporte da RSE. Entre as empresas mundiais que divulgavam relatórios de sustentabilidade, mais de 90% faziam-no seguindo os parâmetros da GRI, considerados como o padrão mais exigente a nível mundial, e aquele que tem maior reconhecimento internacionalmente. 71 das 100 maiores empresas analisadas assumiram nesse ano integrar a dimensão da responsabilidade corporativa nos relatórios divulgados, o que representava um aumento de 7% em relação a 2011. Tal contribuiu para que as empresas europeias fossem ultrapassadas pelas empresas do

2014, a Europa detinha 8.710 dos 21.263 relatórios de sustentabilidade publicados em todo o mundo, 7.742 redigidos de acordo com os parâmetros GRI. Dos relatórios divulgados na Europa, apenas 70, ou seja, 0.80% diziam respeito a empresas ligadas ao setor da saúde, nenhuma das quais portuguesa ou sedeada em Portugal.

Enquanto a GRI disponibiliza os parâmetros dos relatórios de sustentabilidade e responsabilidade, a ISO disponibiliza a norma ISO 26000. Ao contrário das normas da qualidade ISO 9001 e do ambiente ISO 14000, esta norma define novos valores éticos e procedimentos de suporte. Apesar de não ser passível de certificação, encoraja o reporte público sobre o desempenho socialmente responsável para com os parceiros internos e externos, tais como os empregados, as comunidades locais, investidores e reguladores. Em 2005, a ISO assinara um memorando de entendimento com a GRI no sentido de passarem a construir conjuntamente as ferramentas de suporte à implementação da responsabilidade social. De uma forma simplificada, pode-se dizer que os parâmetros de reporte da GRI4, lançada em 2013, foram criados para auxiliar as empresas na elaboração dos relatórios, tendo como base os parâmetros ISO 26000 de 2010.

A IS0 26000 introduz o princípio de responsabilidade social sobre o respeito pelos interesses dos stakeholders e indica que o reporte da informação para a responsabilidade social deveria ser “sensível aos interesses dos stakeholders”, e as Orientações GRI apresentam o princípio da Inclusividade dos Stakeholders. Além disso, a ISO 26000 fornece orientação sobre a natureza e o propósito do envolvimento dos stakeholders, enquanto as orientações da GRI estão focadas na inclusividade dos stakeholders no processo de reporte (GRI e ISO 2014, 8). As diretrizes do GRI defendem expressamente a verificação dos relatórios de sustentabilidade por auditorias de entidades independentes externas, de modo a assegurar a independência da informação reportada. Complementando os padrões do GRI para a avaliação e elaboração de relatórios de sustentabilidade, existem padrões de verificação por auditoria externa, de entre os quais se destaca a AA1000 Assurance Standard, cuja primeira edição data de 2003 (AccountAbility 2008).

No documento Mónica de Melo Freitas (páginas 35-37)