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O Papel das Empresas na Promoção da Responsabilidade Social

No documento Mónica de Melo Freitas (páginas 60-63)

Parte I. Enquadramento e Problemática

Capítulo 3. A RSE em Portugal

3.3. O Papel das Empresas na Promoção da Responsabilidade Social

Se num primeiro momento, a difusão da RSE em Portugal se deveu essencialmente à liderança das ONG, num segundo momento, a participação das empresas, quer a nível individual ou associativo, foi fundamental – sem esquecer que empresas pioneiras, como a PT Telecom, avançaram com a implementação da RSE logo numa altura em que as ONG e associações de suporte à RSE davam os primeiros passos no sentido da sua institucionalização. Desde 2005, o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, IAPMEI, vem intensificando o número de iniciativas desenvolvidas no âmbito da RSE em Portugal, quer na qualidade de entidade organizadora, quer na de parceira na organização de eventos. O total de iniciativas realizadas por este instituto público entre 2005 e 2014 rondou as 35, sem contar com as que foram desenvolvidos nas áreas da igualdade de género, tráfico de seres humanos, sustentabilidade e inovação, entre outras.

Desde 2001 que a empresa de telecomunicações PT Telecom atua na consolidação da sua estratégia interna de responsabilidade social. Em justificativa, a empresa invoca sobretudo razões que se prendem à criação de mais valias sociais e à

auferição de ganhos de imagem e reputação. A capacidade destes programas gerarem esses ganhos é bastante visível. Por exemplo, o programa Mão na Mão implementado pela PT Telecom, encontra-se a ser divulgado em pelo menos 12 websites institucionais, dos quais cinco pertencentes ao próprio grupo e os restantes a organizações externas. O projeto Mão na Mão envolveu até este momento, mais de 5.130 voluntários e beneficiou cerca de 155 mil beneficiários. Coma a coordenação centrada na PT Telecom, o projeto conta com a participação de várias organizações parceiras, entre as quais a Administração dos Portos de Leixões, o BNP Paribas, a Cisco Systems Portugal, a INOV INESC, a Jason Associates, a Loviril, a Novadelta, a Prosegur, a PT Inovação e Sistemas, a PT PRO, a Sacoor Brothers, a SAS, MEO, a Xerox Portugal, a Ericsson , a Totemic e a SPIE. Além deste, a PT Telecom desenvolve ou apoia outros 12 projetos, nomeadamente: Ajude quem Ajuda, Engage, Está lá Está bem?, Preparar o Futuro, Operação Nariz Vermelho, Reparar Vidas, Dar as Mãos sem Idade, Casa Solidária, Loja Solidária Troka Trapos, Volta Solidária, Campanhas de Recolhas de Alimento do Banco Alimentar, Parceria com a REFOOD.

A análise dos documentos político-programáticos, tal como dos indicadores económicos e sociais, mostrou que Portugal encontra-se numa fase bastante prematura em termos de desenvolvimento da responsabilidade social.

Nos dois estudos realizados pela KPMG (2005, 2008) sobre a divulgação de relatórios de sustentabilidade em Portugal e no exterior, constatou-se que em comparação a outros países, Portugal ainda requeria um investimento maior em termos de mobilização das empresas para essa atividade. O estudo coordenado por Santos (2011) identificou as dificuldades existentes em termos de avaliação dos impactes gerados pelos programas de responsabilidade social, como um dos grandes entraves à implementação da RSE, além da falta de conhecimento específico, da ausência de suporte estatal, da escassez de recursos financeiros para a realização de investimentos nesta área e do tempo dispendido.

Segundo Eugénio e Gomes (2013, 41), entre 2008 e 2010, foram as empresas do setor da Banca, Seguros e Serviços as que mais divulgaram relatórios de sustentabilidade em Portugal, seguidas pelas de serviços públicos e as de transportes e logística. Os dados indiciam que as empresas portuguesas apresentam resistências no que concerne à implementação de sistemas de gestão e de comunicação em sustentabilidade/responsabilidade social.

Apesar disto, 2008 e 2009, só 11% das empresas portuguesas que elaboravam relatório de sustentabilidade o fazia sem o suporte de quaisquer normas, ao passo que a maioria se apoiava nas normas GRI (Gomes 2012, 47). Durante o período 2008-2010, houve mais empresas portuguesas certificadas pela GRI em A+ e B+, o que significa que as empresas estão cada vez mais preocupadas com a melhoria da informação reportada (Gomes 2012, 50).

Atualmente, cerca de 70 organizações portuguesas divulgam os relatórios de sustentabilidade de acordo com as diretrizes da GRI, e reportam-nos através do website da organização responsável pela sua elaboração.

Em 2011, Portugal ocupava o décimo lugar mundial e o sétimo entre os países europeus com o maior percentagem de relatórios de sustentabilidade auditados, depois da Dinamarca, da Espanha, da Itália, de França, do Reino Unido e da Grécia, e muito acima de países, como a Alemanha e os Estados Unidos, por exemplo (Eugénio e Gomes 2013, 41).

Contudo, nem todas as empresas nacionais cotadas no PSI20 que divulgam relatórios de RSE submetem-nos à avaliação das auditorias externas. A maioria das empresas cotadas na Bolsa de Valores de Portugal divulga relatórios de sustentabilidade que não são objeto de auditoria externa. Isto ilustra bem a fraca abertura do tecido empresarial português às avaliações externas, apesar de pertencerem ao mercado aberto de capitais.

Nos estudos coordenados por Santos (2011) e PwC (2012) constatou-se que a auditoria externa ainda não era adotada como estratégia de regulação nas grandes empresas portuguesas, o que ao nosso ver, poderá estar relacionado com a fase prematura em que se encontra a gestão baseada na autorregulação em Portugal.

Ao invés das auditorias externas, as empresas portuguesas parecem continuar a privilegiar os canais de denúncia/reclamação anónima, as ações de formação, as auditorias internas e a investigação acompanhada de ações disciplinares, como ferramentas de suporte à regulação do comportamento ético no interior das organizações.

Além disto, os retornos financeiros continuam a ser preferidos em detrimento dos sociais e dos ambientais, na implementação da Responsabilidade Social, tanto nas PMEs (Santos 2011, 497) como nas grandes empresas (PwC 2012, 11). Qualquer

iniciativa de cunho ambiental ou social, que estas empresas desenvolvam, devem obedecer ao pressuposto máximo de criação de vantagem competitiva para a empresa/ organização.

A adoção do código de ética encontra-se por introduzir na maioria das empresas portuguesas. Contudo, importa destacar que a totalidade das empresas cotadas na Bolsa de Valores de Lisboa PSI 20, já incorporaram códigos de ética, embora tenham demonstrado alguma resistência quanto à avaliação de auditores externos, à certificação das práticas de responsabilidade social, além de outras.

No documento Mónica de Melo Freitas (páginas 60-63)