• Nenhum resultado encontrado

A Instrução Normativa CVM nº 388 e sua Proposta de Alteração

CAPÍTULO IV – A INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 388

4.1. A Instrução Normativa CVM nº 388 e sua Proposta de Alteração

Na Reunião do ―Colegiado sobre Regulação‖ da Comissão de Valores Mobiliários, realizada em 14 de agosto de 2007, foi colocada em discussão pública a questão da regulação da atividade dos jornalistas especializados na divulgação de informações relacionadas à área de mercado de valores mobiliários. Para proporcionar esta e outras mudanças, o Edital de Audiência Pública nº 09/07, publicado em 15 de agosto de 2007, propunha a alteração da ICVM 388, que regulava a atividade dos analistas de valores mobiliários e as condições para o seu exercício (posteriormente substituída pela ICVM 483).

A ICVM 388 tratava dos assuntos relacionados aos analistas de valores mobiliários, tais como: a entidade credenciadora dos profissionais, as suas normas de conduta, as suas responsabilidades, o seu registro (substituído pelo credenciamento em entidade autorreguladora), as vedações relativas ao exercício da atividade, dentre outros pontos relevantes.

96 A regulação da atividade de analista é de competência da CVM, e assim dispõe expressamente o artigo 1º, inciso VIII, da Lei n.° 6.385/1976170. Tal entendimento é reforçado pela leitura de outros dispositivos da mesma lei. O art. 9º, inciso I, alínea ―f‖, trata dos poderes da CVM para examinar e extrair cópias de documentos de analistas de valores mobiliários. O art. 8º, inciso III, dispõe sobre os poderes para fiscalizar permanentemente as atividades e os serviços do mercado de valores mobiliários (descritos no art. 1º, o que inclui os analistas), bem como a veiculação de informações relacionadas ao mercado.

O Edital de Audiência Pública, que é um dos meios pelos quais a CVM exerce a sua competência normativa (objeto de estudo do item 1.4.2.2 deste trabalho)171, indicava nove pontos que necessitariam de mudanças, quais sejam:

1) previsão de modalidades de exercício da atividade de analista; 2) criação de ―safe harbor‖ para jornalistas;

3) criação de diferentes níveis de registro de analistas;

4) reconhecimento da aprovação em exame de certificação realizado no exterior; 5) divisão entre as declarações de responsabilidade do analista sênior e da pessoa

jurídica à qual ele esteja vinculado e mudança na forma de prestação das declarações do analista;

6) ajustes na regra do período de vedação à negociação;

7) explicitação da responsabilidade da instituição a que está vinculado o analista pela verificação do registro;

8) divulgação, no Brasil, de recomendações de investimento elaboradas por analistas localizados em outras jurisdições; e

9) regra de cancelamento e suspensão da autorização.

170 ―Art. 1º Serão disciplinadas e fiscalizadas de acordo com esta Lei as seguintes atividades: (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 31/10/2001) (...) VIII – os serviços de consultor e analista de valores mobiliários.‖

171 O parágrafo 3º do artigo 8º da Lei nº 6.385/76 estabelece que ―Art. 8º (...) §3º Em conformidade com o que dispuser seu regimento, a Comissão de Valores Mobiliários poderá: I - publicar projeto de ato normativo para receber sugestões de interessados; (...)‖.

97 O objetivo deste trabalho é analisar um único ponto do Edital: a criação do ―safe harbor‖ para o exercício da atividade jornalística. O Edital de Audiência Pública nº 09/07 foi uma das escassas vezes em que a CVM, como órgão estatal, tratou da atividade jornalística. A minuta para a nova ICVM 388 propunha duas medidas:

Primeiro, tal minuta sugeria a inserção de um dispositivo, nos moldes encontrados no art. 2º da Diretiva 2003/125/CE da Comunidade Europeia, que dava aos jornalistas de mídia especializada, cuja atividade implica a divulgação de opiniões ou recomendações gerais sobre tendências de mercado, uma ressalva explícita de não estarem exercendo atividade de análise regulada pela CVM. A minuta de 2007 também propunha certas cautelas a serem tomadas pelos jornalistas quando suas atividades envolvessem avaliações sobre valores mobiliários específicos, com o objetivo de assegurar que as análises produzidas ou divulgadas pelos jornalistas estivessem sujeitas a normas de conduta profissional.172

Com a nova proposta de redação, houve uma tentativa de esclarecer a interpretação da ICVM 388, de cujo texto não era possível subtrair a distinção entre as atividades dos analistas e dos jornalistas de atuação especializada no mercado de capitais.

Após estabelecer de forma clara a distinção entre as referidas atividades, a CVM pretendia, pela divulgação do Edital de Audiência Pública, que os jornalistas não ficassem sem nenhuma regulação quando da publicação de análises ―assegurando que as análises produzidas ou divulgadas pelos jornalistas, além de disponíveis publicamente, estejam também sujeitas às normas de conduta profissional da classe, ou à norma interna aprovada pelo veículo de informação que divulgar as recomendações.‖173

Resumidamente, a intenção da CVM com a Audiência Pública era colher dos participantes do mercado e demais interessados, principalmente dos órgãos de classe dos jornalistas, respostas e sugestões para os seguintes questionamentos relacionados à nova minuta da ICVM 388:

1) Os requisitos exigidos pela minuta para a dispensa de registro quando se tratar de atividade jornalística que envolva avaliações sobre valores mobiliários específicos estão corretos? Que requisitos diferentes dos ali explicitados poderiam ser propostos?

2) As normas de conduta profissional aplicáveis aos jornalistas — oriundas de seus órgãos de classe ou, ainda, dos veículos de comunicação ao qual estão ligados — são suficientes para evitar a possibilidade de abuso?

172 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Processo Administrativo nº RJ-2006-6136, p. 496. 173 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, Edital de Audiência Pública nº 09/07, p. 2.

98

3) O conteúdo mínimo previsto para as normas de conduta profissional está adequado? Que outros requisitos diferentes dos ali previstos poderiam ser requeridos?174

O prazo estabelecido pela CVM para o encerramento do recebimento de sugestões dos agentes do mercado sobre o Edital de Audiência Pública nº 09/07 foi o dia 17 de setembro de 2007. Contudo, devido a problemas técnicos em seu endereço eletrônico, a CVM prorrogou o prazo para 17 de outubro de 2007.

A minuta da ICVM 388 sugerida pela CVM suscitou muitas críticas, as quais permaneceram em fase de análise pela Superintendência de Desenvolvimento de Mercado (SDM), órgão encarregado da consolidação das sugestões e comentários, até a publicação do Edital de Audiência Pública nº 03/2008, em 25 de junho de 2008 (edital este que será tratado no item 4.4 adiante). Nos próximos itens deste trabalho haverá um estudo, com mais profundidade, sobre o Edital de Audiência Pública nº 09/07 e a tentativa de resposta a cada uma das indagações da CVM transcritas acima.