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A intensificação da Campanha no Estado: criação dos Setores Regionais e

3 COMIDA E PODER: Análise histórica da CNAE Campanha Nacional de

3.1 A dinâmica administrativo-operacional da Campanha

3.1.5 A intensificação da Campanha no Estado: criação dos Setores Regionais e

O general José Pinto Sombra, juntamente com Pedro Almino, reuniram-se para acertar a criação dos setores do Ceará, que ficariam então subordinados àquele representante federal. Tudo visava à progressiva descentralização do atendimento da CNAE, partindo para áreas carentes do interior.

Seria uma "marcha para o sertão", e pretendia contar com o apoio dos poderes públicos e da comunidade em geral. Os setores criados pretendiam contar principalmente com a colaboração dos prefeitos, dos vigários, das professoras e dos pais e mães dos alunos, para que se pudesse alcançar sucesso no atendimento. (Cf. JORNAL UNITÁRIO, 16/12/1965)

O primeiro setor criado foi o da cidade de Sobral, que passaria a atender 34 municípios daquela zona do estado, ficando responsável pelo abastecimento dos gêneros. O prefeito de Sobral à época, Cesário Barreto, prometeu apoio incondicional à CNAE. Para dirigir aquele setor foi designada a Sra. Raimunda Aragão Carneiro, uma das que realizaram o curso de Supervisora. O setor entrou em em ação no começo do ano letivo de 1966, com pessoal administrativo, depósito e viatura ficando a cargo da prefeitura. (IBIDEM)

Sobre a criação desse setores, Pedro Almino nos confidenciou que

[...]os Setores Regionais, com escritórios, ficavam nas regiões mais importantes

da época, que eram: Quixadá, Iguatu, Crato, Sobral e Crateús. Em todas essas

cidades nós fizemos reuniões com a comunidade, explicávamos a finalidade da Campanha e a própria comunidade indicava, sugeria um nome para dirigir

aquele escritório (+) Todas elas passaram por esse crivo, não era uma indicação política, era uma indicação da comunidade, geralmente um professor, etc... teve até um promotor que assumiu esse encargo, o Dr. Glauco Magalhães, lá em

Quixadá.

[...] Ah, bom isso aí foi para melhor desenvolver o programa em nível local, porque cada prefeitura recebia aqueles alimentos através de um convênio e os levavam para as escolas (+) agora, se a prefeitura fosse mais organizada (as maiores por exemplo), que tivesse sua Secretaria de Educação, muitas criavam um

setor para melhor desenvolver o programa, isso já era o começo da

descentralização administrativa da Campanha. E uma das melhores coisas que eu

fiz aqui no Ceará foi a criação dos Setores Regionais, para um melhor

desenvolvimento do Programa ((e que também era uma espécie de descentralização local)) [...]. (In: SOUSA, Op Cit., p. 171- 178) (grifo nosso)

A Campanha havia realizado um curso sobre relações humanas para seus funcionários, no CETRECE, para melhorar a eficiência dos seus serviços administrativos; bem como um Curso de Supervisoras, para os fins de intensificação e fiscalização dos grupos escolares públicos e particulares beneficiários.

Algumas dessas supervisoras, nas palavras de Pedro almino, em sua entrevista recente, acima, dirigiriam os escritórios dos setores e seriam escolhidas pela comunidade local, sem ingerência política. Também não precisaria ser professora, como aponta o gestor para o caso de Quixadá. No entanto, o fato é que as prefeituras é quem designavam suas candidatas para os treinamentos, bem como quem quissessem para dirigirem os escritórios municipais, de preferência professoras diplomadas e com experiência. (IDEM, p. 171- 178).

O caso de Quixadá é uma exceção, tendo em vista tratar-se de um Promotor de Justiça influente, também envolvido com o Lions Club. Tal sistemática, no entanto, tentaria evitar, doravante, os desvios de gêneros alimentícios da Campanha.

Uma das maiores dificuldades encontradas naquele momento, pela CNAE, foi a inexistência de merendeiras em número suficiente para preparar os alimentos. Isso aconteceu primordialmente nas escolas particulares gratuitas atendidas, onde, para não haver descontinuidade, as mães faziam a função das serventes, preparando os pratos, num sistema de rodízio. (IBIDEM)

Também a Secretaria de Educação do Estado designou 4 funcionárias para prestarem trabalhos no setor de fiscalização. A Campanha passaria a realizar regularmente diversos cursos por meio da Escola de Nutrição Agnes June Leith, que fazia parte do acervo do SAPS (Serviço de Alimentação da Previdência Social), e que foi repassada à CNAE quando da extinção daquele órgão.

Na fala de Pedro Almino notamos a significância do repasse infra-estrutural do SAPS à CNAE:

[...] em determinada época essa Campanha recebeu um acervo

que pertencia ao antigo SAPS- Serviço de Alimentação da Previdência Social, que também tinha a Escola Agnes June Leith, cuja diretora era a Maria Semírames de Oliveira, depois

passou a ser diretora a Maria José Queiroz, que é minha irmã. Esta escola passou todo o acervo, toda a parte física e

estrutural, assim como os funcionários, tudo passou para a Campanha Nacional de Alimentação Escolar, sob a minha coordenação, subordinados à minha pessoa [...](In: SOUSA,

Op Cit., p. 171- 178) (grifo nosso)

Tal acervo englobava o Restaurante Popular de Jacarecanga, postos, serviços, auto-serviços e agências. Boa parte dos servidores do SAPS ficaram lotados junto à CNAE, inclusive as sua 11 visitadoras, que foram inicialmente transferidas para a COBAL, porém por falta de trabalho foram devolvidas à CNAE, onde evidentemente foram aceitas.

Começava a crescer significativamente o número de colaboradores da Campanha. O repasse do SAPS foi realizado em 03 de abril de 1967, na presença de representantes do MEC- Ministério da Educação e Cultura (Aprígio Pagnez), da coordenação nacional da CNAE (Clóvis Mascarenhas), bem como do coordenador da Campanha no Ceará (Pedro Almino) e do delegado do SAPS (Campos Leiros). (Cf. JORNAL UNITÁRIO, p. 8, 05/04/1967).

Fig. 12 - CNAE recebe acervo da Escola de

Nutrição do extinto SAPS. Fonte: Jornal

A aquisição mais importante nesse contexto foi, sem dúvida a Escola de Nutrição, pois proporcionou toda uma geração mais qualificada de pessoal atuante na Alimentação Escolar. Cidrack (2010, p. 101), em sua ensinança, diz que a Escola de Nutrição Agnes June Leith foi criada no Ceará em 17 de agosto de 1944, com o intuito de preparar jovens mulheres com formação normalista para atuarem na educação e mudança de hábitos alimentares dos trabalhadores, escolares e suas famílias.

Posteriormente foi denominada de Escola de Visitadoras de Alimentação – EVA. Nessa época, a Escola recebia alunas de todo o Brasil e mesmo de outros países da América do Sul, pois era a única escola de visitadoras do País.

Em 1952, foi criada a Escola de Nutrição Firmina San‟Ana, em Belo Horizonte,

dirigida pelo médico Pedro Escudero. Esta escola passou então a receber alunas dos estados do Sul, Sudeste e Centro–Oeste, ficando a Escola de Fortaleza responsável pela preparação das alunas do Norte e Nordeste brasileiros. (IDEM, p. 64).

Tão logo recebeu o acervo da Escola de Nutrição, Pedro Almino disse que a partir do dia 17 daquele mesmo abril de 1967, a CNAE realizaria ali seu primeiro curso sobre Educação Alimentar. Também os cursos que antes vinham se realizando nos setores do interior (Crato, Sobral, Crateús), exigindo a mobilização do pessoal discente e material, passariam agora a se realizar naquela Escola.

As professoras das escolas primárias fariam, doravante, seus cursos na capital. Ainda em 1967, a CNAE partiria para um amplo programa de atividades na Escola, após realizar um estudo sobre os meios meios econômicos e práticos para um programa de formação de pessoal de nível médio no campo da nutrição. (JORNAL TRIBUNA DO CEARÁ, p.7, 05/04/1967)

Sobre o desenvolvimento do plano da distribuição dos setores, a CNAE pretendia dividir o estado em 10 zonas, onde os alimentos seriam distribuídos com a orientação das Visitadoras de Alimentação, encarregadas de instruir o povo sobre o uso da alimentação. Pedro Almino afirmou que uma equipe de professoras havia sido designada para ministrar aulas a alunos e mestres sobre alimentação escolar. (JORNAL CORREIO DO CEARÁ, 09/08/1967).

Fig 13 - CNAE sempre correndo atrás de pessoal.

MERENDA quer ociosos da Assembléia. Fonte:

Por todo o conjunto dos fatos analisados sobre esse período de expansão administrativa, notamos que muitas notícias foram seguidamente emitidas falando do excelente trabalho de assistência alimentar da CNAE junto ao estudante cearense. O Programa da CNAE cearense seria proclamado, várias vezes, como o melhor do Nordeste.

A CNAE, em Fortaleza, localizava-se na Rua Pedro I, 584, 2o andar. No Brasil, a Campanha mantinha convênios com o Programa "Alimentos Para a Paz" (responsável por 50% dos gêneros) e com o "Programa Mundial de Alimentos" da ONU. A CNAE mantinha, desde o início da gestão de Sombra (1964), na administração de seu Programa, as seguintes Assessorias e Assessores: REGIÃO AMAZÔNICA OCIDENTAL (Magnólia Pessoa Figueiredo); REGIÃO AMAZÔNICA ORIENTAL (Graziela Natalina de Oliveira); REGIÃO NORTE (Pedro Almino de Queiroz e Souza); REGIÃO NORDESTE (Rosemiro Rodrigues de Barros); REGIÃO LESTE SETENTRIONAL (Antônio Caldas Rolim); REGIÃO CENTRO (Roberto Kafuri); REGIÃO CENTRO-OESTE (Gal. Ênio Gratidiano Dorileo); REGIÃO LESTE MERIDIONAL (Gen. Severo Barbosa) e; REGIÃO SUL (Gen. José Liberato Souto Maior).

A tarefa da CNAE, conforme fora amplamente noticiado nos periódicos jornalísticos, era dificílima, pois as condições fisico-demográficas eram as mais variadas, a infra-estrutura muito diversificada, a população distribuída de maneira irregular, os hábitos alimentares diferindo muito de região a região, com valores nutritivos muito díspares.

Havia uma grande variedade dos meios de transportes empregados, pois as dificuldades de comunicação eram tremendas, desde as sedes para os vários setores, e destes para os municípios; também

dos supervisores municipais com as diretoras dos grupos escolares situados nos interiores, dentre outras dificuldades relatadas, como falta de pessoal habilitado para o preparo das refeições, controle de serviços, combate às pragas, confecção de mapas e relatórios. (In: JORNAL DIÁRIO DE NOTÍCIAS, RJ, 07, 08/1969).

Foi, portanto, nessa linha dinâmica de ação, sempre tentando buscar os recursos humanos necessários ao seu funcionamento, ao tempo em que se tentava formar, qualificar essa mão-de-obra, que a Campanha seguia sua rotina administrato-operacional. À medida que

Fig. 14 - Pedro Almino e sua equipe.

ALIMENTAÇÃO ESCOLAR. Fonte:

seguia sua expansão geográfica, implantando-se mais e mais setores, novos problemas surgiam.

Nesse ínterim, novas idéias, novos métodos criativos adaptavam-se para driblar os mais diversos problemas operacionais, sendo implantados como pré-teste, como laboratório pela CNAE no Ceará (leia-se Pedro Almino), tanto para ajudar e facilitar o trabalho diário de distribuição da alimentação, como para ajudar as escolas a adaptarem suas instalações físicas e de equipamentos. É o que vamos ver agora.

3.1.6 Cantinas escolares, cozinhas centrais, merenda nas férias: novas idéias, utopias ou