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3.1 PRINCIPAIS CONCEITOS DA TEORIA DIALÓGICA DA LINGUAGEM

3.1.2 A interação verbal e a orientação social do enunciado como unidade da

Todo enunciado concreto é concebido como unidade real e concreta da comunicação discursiva porque ele mesmo se encontra no âmbito das relações de sentido, só se realiza dentro de uma esfera da atividade humana e não pode ser comparado com as unidades sintáticas do sistema linguístico.

Para que o enunciado se realize, é necessária a presença de um locutor e de um interlocutor (ouvinte ou leitor). A orientação do enunciado do sujeito falante para o outro, o outro que me constitui mesmo quando estiver ausente, caracteriza essa orientação do discurso como um fenômeno biface, dialógico. Nesse processo, a linguagem está sempre em um constante devir, seguindo a evolução da vida dos sujeitos em sociedade, que sempre irão elaborar os seus tipos de enunciado para cada diferente tipo de comunicação social.

Segundo Bakhtin/Volochinov (1997) e Volochinov (1930), toda palavra, todo enunciado se dirige a um interlocutor - o ouvinte. É nessa orientação social do enunciado que se encontra o auditório do enunciado. O mundo interior, a reflexão e os posicionamentos de cada indivíduo “têm um auditório social próprio e estabelecido”, segundo Bakhtin/Volochinov (1997, p, 112), em cuja atmosfera esse indivíduo constrói suas deduções interiores, suas motivações, apreciações, seu juízo de valor acerca do mundo etc.

O auditório social é o lugar onde o discurso concretiza determinada formação, um dos tipos de comunicação verbal, que nada mais é do que “o vir-a-ser da comunidade social onde ocorre, no nível do discurso, a interação (verbal)” (VOLOCHINOV, 1930, p.1). Toda e qualquer interação verbal só pode se desenvolver em um auditório social, que reflete sua orientação social. Por isso se diz que os tipos de enunciados refletem o modo de vida da sociedade onde surgem. A mudança do auditório social e as relações de trabalho e de hierarquia determinam a orientação social do enunciado.

Além da orientação social, o enunciado comporta um sentido, um conteúdo, e de acordo com o contexto ou com as circunstâncias é que esse enunciado terá um sentido, a cada vez diferente, conforme refere Volochinov (1930). Para se construir o sentido do enunciado, é necessário levar em consideração uma das particularidades que é comum aos participantes discursivos - a situação social mais imediata e o meio social mais amplo que, juntos, determinam a estrutura do enunciado.

Essa estrutura é constituída de um contexto verbal, que é a parte percebida do enunciado realizada em palavras, e de um extraverbal, que é a parte presumida. O contexto extraverbal “compreende três fatores: 1) o horizonte espacial comum dos interlocutores (a unidade do visível) (...); 2) o conhecimento e a compreensão comum da situação por parte dos interlocutores e 3) sua avaliação comum dessa situação” (BAKHTIN/VOLOSHINOV32, 1976,

32Nota no final do texto Discurso na vida e discurso na arte (sobre poética sociológica) M.M. BAKHTIN/ V. N. VOLOSHINOV: “Esse texto foi originalmente publicado em russo, em 1926, sob o título Slovo v zhizni i slovo v poesi” na revista Zvezda nº 6, e assinada por V. N. Voloshinov. A tradução para o português, feita por Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza, para uso didático, tomou como base a tradução inglesa de I. R. Titunik

p.5. Grifos do autor). Ainda de acordo com Volochinov (1930), é a parte extraverbal do enunciado que lhe determinará o sentido.

A situação é parte constitutiva essencial da estrutura do enunciado e determina seu sentido e, por conseguinte, sua orientação social, em direção ao ouvinte que participa dessa situação. Conforme Bakhtin/Volochinov (1976, p.6),

a característica distintiva dos enunciados concretos consiste precisamente no fato de que eles estabelecem uma miríade de conexões com o contexto extraverbal da vida e, uma vez separados desse contexto, perdem quase toda a sua significação – uma pessoa ignorante do contexto pragmático imediato não compreenderá esses enunciados.

Convém enfatizar que, para existir, o enunciado requer uma situação, ou seja, o conjunto formado pelo espaço (onde aconteceu) e pelo tempo (quando) do evento, do objeto ou do tema do enunciado (aquilo de que se fala), a posição dos interlocutores sobre o fato, sua avaliação comum da situação. Ou seja, é do “conjuntamente visto”, do “conjuntamente sabido” e unanimemente avaliado que o enunciado depende diretamente. Ressalte-se, no entanto, que o enunciado também depende do seu complemento real, material, a parte percebida, realizada em palavras, que vem impregnada da expressão ideológica do seu enunciador, que é a materialização linguística - o texto.

O contexto imediato ao qual o enunciado está atrelado pode ter um escopo maior ou menor. Porém, o horizonte comum do qual ele depende pode se estender em relação ao espaço e ao tempo. Nesse sentido, o “presumido” pode ser o da família ou o da nação, pode abarcar dias, semanas ou épocas inteiras.

Quando o horizonte real presumido é estreito, isto é, quando o contexto imediato tem um escopo maior. Um exemplo disso é duas pessoas conversando em uma sala, onde o presumido e o dito do enunciado são compreensíveis, compartilhados apenas para esses dois sujeitos. Por exemplo: alguém chega à sala e pergunta para o amigo que está no local: “Ela ainda não chegou? Já passa das 15 horas”. Essas duas pessoas sabem de quem estão falando: alguém do sexo feminino que está sendo esperada para encontrar com eles naquele momento e está atrasada. Pela entonação dada - “ainda não chegou?”, podemos notar certa impaciência e frustração pela espera e uma expectativa, pois os dois sabem o motivo de estarem esperando essa pessoa. Nesse caso, o horizonte real geralmente coincide com o horizonte imediato dos envolvidos na enunciação, o que faz com que qualquer mudança, mesmo mínima, dentro desse

(Discourse in life and discourse in art – concerning sociological poetics), publicada em V. N Volochinov, Freudism, New York: Academic Press, 1976.

horizonte espacial e ideacional compartilhado, torne-se parte presumida do enunciado. No caso em que o campo de alcance é mais amplo, o enunciado só terá significado em sua plenitude se for “sustentado por fatores constantes e estáveis da vida e em avaliações sociais substantivas e fundamentais” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1976, p.6).

A escala avaliativa do evento, com seu conteúdo temático, é o primeiro fator que determina a forma do conteúdo; o segundo elemento, conforme Bakhtin/Volochinov (1976, p.12), é o grau de proximidade recíproca entre herói e criador, do sujeito falante (criador, autor) e do tópico da fala (herói), entre o autor e seu interlocutor (ouvinte/leitor) e o interlocutor em relação ao tema. A forma também será determinada pela maneira como o sujeito falante - que é o centro organizador do enunciado - percebe seu interlocutor, porquanto ele determina o estilo do sujeito falante. Então, os elementos principais da constituição e da organização da forma do enunciado são os elementos expressivos, a entonação, seguida da escolha lexical, e sua disposição no interior do enunciado.

Portanto, o enunciado é produzido em função do interlocutor, que se encontra em um meio social real, na interação verbal, pois, no fio da cadeia discursiva, os enunciados são dialógicos, e não, as unidades da língua, que, ao contrário dos enunciados, não são dirigidas a ninguém. Esse é o motivo pelo qual a linguagem é dialógica, uma instância viva e dinâmica, em que os sujeitos falantes se constituem por meio das interações sociais. Então, tudo o que dizemos, escrevemos e/ou fazemos é porque existe outro para escutar e responder ao nosso enunciado, visto que só há compreensão se esse diálogo for possível:

Qualquer tipo genuíno de compreensão deve ser ativo deve conter o germe de uma resposta. Só a compreensão ativa nos permite apreender o tema, (...). Compreender a enunciação de outrem significa orientar-se em relação a ela, encontrar o seu lugar adequado no contexto correspondente. A cada palavra da enunciação que estamos em processo de compreender, fazemos corresponder uma série de palavras nossas, formando uma réplica. Quanto mais numerosas e substanciais forem, mais profunda e real é a nossa compreensão (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1997, p.131-132).

Como o enunciado não existe fora das relações dialógicas e de um contexto extraverbal, todo enunciado é dirigido a um ouvinte, porém, nem sempre, a resposta é dada no momento da enunciação, mas em qualquer época. Essa resposta a que Bakhtin (2006) se refere pode ser verbal ou uma ação derivada do enunciado pronunciado. Esse comportamento ativo adotado pelo ouvinte o autor denominou de atitude responsiva. Nesse sentido, Francelino (2007, p.45) enfatiza que os sujeitos participantes do discurso “devem ser vistos sempre numa relação com outro, com e para quem eles adotam uma atitude responsiva ativa e no/para o qual eles se constituem sujeitos”.

Todo enunciado suscita uma resposta, uma réplica, que estabelece uma relação de sentido entre os enunciados. Ao mostrar a relação do discurso com sua resposta, Bakhtin (2014, p.89) apresenta sua concepção de diálogo vivo:

Todo discurso é orientado para a resposta e ele não pode esquivar-se à influência profunda do discurso da resposta antecipada. O discurso vivo e corrente está imediata e diretamente determinado pelo discurso-resposta futuro: ele é que provoca essa reposta, pressente-a e baseia-se nela. Ao se constituir na atmosfera do “já dito”, o discurso é orientado ao mesmo tempo para o discurso-resposta que ainda não foi dito, discurso, porém, que já foi solicitado a surgir e que já era esperado. Assim é todo diálogo vivo.

O discurso concreto, vivo (a enunciação) do locutor é apreendido pelo interlocutor no movimento dialógico, no confronto entre as palavras ditas e enunciadas pelo sujeito. Ao ser proferido, o enunciado provoca uma réplica, como já referimos. Portanto, se o sujeito foi capaz de uma ação responsiva ativa, é porque houve interação verbal entre ele e seus pares. Para Bakhtin (2006, p.328-332), a compreensão do enunciado pleno envolve tanto a compreensão responsiva quanto o juízo de valor, pois ele deixa de ser unidade da língua e passa a existir como uma unidade da comunicação discursiva, portanto, requer uma compreensão responsiva. É necessário, também, apontar que o enunciado, seu estilo e sua composição são determinados por dois elementos: o primeiro relacionado ao conteúdo semântico-objetal que determina as características estilístico-composicionais; e o segundo, o elemento expressivo, ou seja, a expressividade, que é uma característica constitutiva do enunciado que constitui a relação valorativa do sujeito falante com o elemento semântico-objetal do enunciado.

A composição e o estilo individual do enunciado são determinados pela expressividade demonstrada em gêneros orais, através da entonação33, e em gêneros escritos. Esse elemento

expressivo, segundo Bakhtin (2006, p.289), é “uma relação subjetiva emocionalmente valorativa do falante com o conteúdo do objeto e do sentido do seu enunciado”. Para o autor, um enunciado nunca é neutro, ele é valorado pelas pessoas que o produzem e pelo grau expressivo que cada enunciador lhe impõe e varia conforme sua intenção e o juízo de valor que lhe é dado. A entoação tem uma forte ligação com o discurso verbal e o contexto extraverbal e só é compreendida se os participantes do discurso assimilarem os juízos de valor presumidos pelo grupo social em que estão inseridos. A valoração dada pelo sujeito falante ao objeto do seu discurso influirá na escolha dos recursos lexicais, gramaticais e composicionais do enunciado.

A expressividade é tão importante que uma palavra, uma única palavra, se pronunciada em um contexto social com entonação, torna-se um enunciado concreto, pois os participantes do discurso compreenderão o sentido que o enunciador quer dar a ela. Segundo Volchinov/Bakhtin (1976, p.7), “a entoação sempre está na fronteira do verbal com o não- verbal, do dito com o não dito” (Grifos dos autores). É através dela que os sujeitos falantes se encontram com os interlocutores. Ela também marca uma relação com o objeto do enunciado, o conteúdo semântico-objetal, com o querer-dizer do enunciador. Nesse sentido, a estrutura formal - a materialização linguística do enunciado - tem relação direta com os juízos de valor do grupo social para o qual o enunciado está sendo endereçado.

Em relação à entoação, também é importante salientar seu caráter dialógico, biface:

Cada instância da entoação é orientada em duas direções: uma em relação ao interlocutor como aliado ou testemunha, e outra em relação ao objeto do enunciado como um terceiro participante vivo, a quem a entoação repreende ou agarrada, denigre ou engradece. Essa orientação social dupla é o que determina todos os aspectos da entoação e a torna inteligível. (VOLCHINOV/BAKHTIN, 1976, p.8, grifos dos autores)

Segundo os autores, essa mesma dupla orientação do falante ocorre para todos os outros aspectos dos enunciados verbais, sejam escritos ou orais. No discurso escrito, um dos recursos para demarcar a entonação é o uso de aspas, que também ajudam a delimitar a alternância do sujeito e podem marcar tons outros que ele queira impregnar em seu discurso, como ironia, simpatia, entre outros, e servem de norte para ouvirmos as relações dialógicas estabelecidas entre os enunciados.

Há que se ressaltar que qualquer locução dita na forma escrita ou oral, exceto palavras depositadas em um dicionário, é produto da interação verbal. A palavra retirada do dicionário é neutra, mas a emoção, o juízo de valor e a expressão que lhe é impregnada no momento da enunciação tornam-na um enunciado vivo, concreto. Uma palavra que, no enunciado, ganha uma reacentuação, não é mais uma palavra neutra, apenas com seu sentido lexicográfico. Por isso, para Bakhtin (2006, p.294),

qualquer palavra existe para o falante em três aspectos: como palavra da língua neutra e não pertencente a ninguém, como palavra alheia dos outros, cheia de ecos de outros enunciados; e, por último como a minha palavra, porque uma vez que eu opero com ela em uma situação determinada, com uma intenção discursiva determinada, ela já está compenetrada da expressão.

Nesse sentido, todo enunciado terá um valor axiológico e mostrará a posição axiológica do seu enunciador. O valor de juízo do sujeito falante é parte de sua experiência discursiva

individual e da forma como esse sujeito falante assimilou os enunciados dos outros, ou seja, como se apropriou da palavra do outro. Todo enunciado está prenhe de palavras dos outros. “Essas palavras dos outros trazem consigo a sua expressão, o seu tom valorativo que assimilamos e reacentuamos” (BAKHTIN, 2006, p.295). Dessa forma, a expressividade de uma palavra é o eco de uma expressão individual alheia.

Bakhtin (2006, p.296) enuncia que o estilo e a composição do enunciado são determinados por seu elemento expressivo, ou seja, pela “relação valorativa do falante com o objeto semântico-objetal”, revelada através dos juízos de valor que o enunciador faz desse objeto. No entanto, com a oração é diferente. “Ela só adquire uma entonação expressiva no conjunto do enunciado” (BAKHTIN, 2006, p.296), haja vista que, como unidade da língua, não tem entonação expressiva, mas uma entonação gramatical específica, como a entonação de acabamento, a explicativa, a disjuntiva e a enumerativa. E, embora o enunciado ocupe um lugar definido dentro da sua esfera de comunicação discursiva, sempre trará ressonâncias de outros enunciados que o unem através da identidade dessa esfera de comunicação e estão ligados por elos precedentes e posteriores, gerando relações dialógicas.

O enunciado do outro, a que daremos especial atenção mais adiante, pode ser introduzido no discurso do sujeito falante de forma direta, no contexto dos seus enunciados, ou somente por meio de palavras ou de orações, conservando ou não a expressão alheia, e pode ser reenunciado com graus diferentes de entonação, de reassimilações. Além disso, a expressão do enunciado do sujeito falante é determinada pelos enunciados do outro sobre o mesmo tema. Ela não estabelece somente a relação do sujeito falante com os objetos do enunciado, mas também com os enunciados alheios, ou seja, o enunciado volta-se tanto para seu objeto quanto para os discursos do outro sobre ele.

Bakhtin (2006, p.264) sugere que é “necessária uma noção precisa da natureza do enunciado, em geral, das particularidades dos diversos tipos de enunciados (primários e secundários), isto é, dos diversos gêneros do discurso”. Para se compreender a natureza do enunciado como unidade real da comunicação discursiva, é preciso compreender os limites que o definem, a saber:

• a alternância dos sujeitos do discurso (dos falantes); • a capacidade de definir respostas;

Só é possível compreender a natureza do enunciado se suas características forem bem assimiladas. A alternância dos sujeitos falantes, na comunicação discursiva, é constitutiva do enunciado e determina os limites dos enunciados do seu discurso. Essa alternância é bem marcada no diálogo vivo, por ser a forma mais comum de comunicação, e determina os limites dos enunciados. Quando para de enunciar, o sujeito dá ao outro o direito de réplica que, ainda que seja breve - uma palavra ou uma oração dita no fio do discurso - terá conclusibilidade, que é outra característica fundamental do enunciado.

Sob o ponto de vista de Bakhtin (2006), a natureza dos limites do enunciado é a mesma para outras esferas da comunicação discursiva, inclusive para a esfera da comunicação cultural (científica e artística):

Complexas por sua construção, as obras especializadas dos diferentes gêneros científicos e artísticos, a despeito de toda a diferença entre elas e as réplicas do diálogo, também são, pela própria natureza, unidades de comunicação discursiva: também estão nitidamente delimitadas pela alternância dos sujeitos do discurso, cabendo observar que essas fronteiras, ao conservarem a sua precisão externa, adquirem um caráter interno graças que o sujeito do discurso – nesse caso o autor de uma obra – aí revela a sua individualidade e estilo, na visão de mundo, em todos os elementos da ideia de sua obra. Essa marca de individualidade, jacente na obra, é o que cria princípios interiores específicos que a separam de outras obras a ela vinculadas no processo de comunicação discursiva de um dado campo cultural (...). (BAKHTIN, 2006, p.279, grifos do autor)

Outra característica do enunciado é a conclusibilidade, que é indissociável da alternância e dá inteireza ao enunciado. É, conforme Bakhtin (2006, p.280), “uma espécie de aspecto interno da alternância dos sujeitos do discurso, que pode ocorrer precisamente porque o falante disse (ou escreveu) tudo o que quis dizer em dado momento ou sob dadas condições” (Grifos do autor) e concluiu seu projeto discursivo dando margem à réplica do outro. É determinada pela capacidade ou a possibilidade de resposta, de ocupar, junto com o enunciado, uma posição responsiva.

A conclusibilidade é constituída de três elementos:

1) exauribilidade semântico-objetal do tema do enunciado, ou seja, do objeto e do sentido - “O objeto é objetivamente inexaurível, mas, ao se tornar tema do enunciado (por exemplo, em trabalho científico), ele ganha uma relativa conclusibilidade em determinadas condições (...) no âmbito de uma ideia definida do autor” (BAKHTIN,2006, p.281);

2) projeto de discurso ou vontade de discurso do falante - Segundo Bakhtin (2006, p.281),” em cada enunciado (...) a intenção discursiva de discurso ou a vontade discursiva do falante determina o todo do enunciado, seu volume e suas fronteiras. O que “o falante quer dizer” determinará a escolha do objeto, sua exauribilidade semântico-objetal e a forma do gênero em que o enunciado é constituído;

3) gêneros do discurso (posteriormente daremos especial atenção a esse conceito) - São indispensáveis para a comunicação. O sujeito falante escolhe determinado gênero do discurso para realizar sua vontade, sua intenção discursiva.

Podemos dizer, portanto, que o enunciado tem uma orientação social, é endereçado a um ouvinte e composto de uma parte verbal e uma extraverbal. A orientação do enunciado em direção a “outro” implica levar em consideração a relação social e a hierarquia que existem entre os participantes do discurso, entre os interlocutores. Essa dependência do enunciado, devido ao peso hierárquico e social do auditório, é chamada por Volochinov (1930) de “orientação social do enunciado”.

Para compreender o enunciado concreto, devemos levar em consideração a “situação social imediata”, quem são os interlocutores e onde se encontram. O ouvinte, ao perceber e compreender o significado do enunciado, passa a ter uma atitude ativa responsiva em relação ao seu locutor. A compreensão do enunciado concreto é o que produzirá a interação verbal entre os participantes do discurso.

Toda comunicação discursiva tem intrínseca relação com o mundo interior de cada indivíduo e com sua expressão exterior. Quanto mais letrado e aculturado for esse indivíduo, mais seu auditório interior (seu horizonte social mais imediato) chegará mais próximo do auditório médio da criação ideológica (o horizonte mais amplo).

Ademais, a situação social mais imediata e o meio social mais amplo determinarão totalmente a estrutura do enunciado, a partir mesmo do seu interior. E mais que isso, tanto a forma quanto o estilo do enunciado serão determinados pela situação e pelos participantes mais imediatos.