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4.1 DISSEMINAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA

4.1.2 Popularização da Ciência – O discurso de popularização

Há diferentes termos que podem ser utilizados como sinônimos para designar a difusão dos conhecimentos científicos para o público mais amplo da sociedade. Dentre eles, os mais comuns são: vulgarização da Ciência, divulgação da Ciência e popularização da Ciência. Nesta pesquisa, seguindo a tendência de países de língua inglesa, preferimos adotar o termo popularização da Ciência para essa atividade discursiva, por entender que o termo divulgação científica, muitas vezes, é confundido com a atividade de disseminar a Ciência.

Bakhtin (2006, p.276) utiliza o termo popularização científica ao expor a natureza dos gêneros secundários, particularmente nos retóricos, quando o enunciador coloca, no âmbito do seu enunciado, certas questões que ele mesmo responde, incluindo algumas modalidades de popularizações científicas.

O segundo nível da difusão científica é a popularização científica51, que, segundo

Bueno (1985, p.1421), “compreende a utilização de recursos, técnicas e processos para a veiculação de informações científicas e tecnológicas ao público em geral”. O autor menciona que a divulgação científica comumente também é denominada de popularização ou vulgarização da Ciência.

O termo vulgarização da Ciência foi utilizado com frequência para designar a atividade de popularização da Ciência devido à influência da cultura francesa no Brasil nas décadas de 20 e 30. Segundo Raichvarg e Jacques52 (1991, apud MASSARANI, 1998, p.14),

o termo “vulgarização” surgiu, na França, no início do Século XIX. Eles relatam também que, na década de 60 daquele Século, Camille Flammarion apontou as dificuldades existentes por trás desse termo, inclusive quanto à sua conotação pejorativa. Na mesma época, surgiu a expressão “popularização”, embora não tenha conseguido suplantar a designação anterior.

51Bueno utiliza o termo divulgação científica, porém, nesta pesquisa, adotamos o termo popularização por ser adequado para essa atividade.

52 RAICHVARG, Daniel, JACQUES, Jean. Savants et ignorants – une histoire de la vulgarization des sciences. Paris: Éditions du Seil, 1991.

Massarani (1998) afirma que, nas décadas de 1960 e 1970, o termo popularização da Ciência começou a ser empregado no Brasil e vem sendo muito utilizado, desde o século passado, nos países de língua inglesa. Essa forma de difundir a Ciência ocorre em suportes como jornais, revistas, livros didáticos, suplementos infantis, folhetos utilizados na prática de extensão rural, documentários, programas de rádio, entre outros, em museus de ciência, de arte e em diferentes esferas da atividade humana.

O DPC é endereçado a um público que, via de regra, desconhece os termos empregados na esfera científica, e por esse motivo, vê, com estranheza ou ruído, determinados termos técnicos e certos conceitos da esfera científica, o que lhe dificulta compreender responsivamente o DC. Diante do exposto, elaboramos o Gráfico 3 para representar o DPC e as esferas onde há um grau maior de ocorrência.

Gráfico 3 – O DPC e algumas de suas esferas

Fonte: Elaboração própria

Podemos concluir que a difusão da Ciência é realizada de duas formas: uma, em que é produzida e circula dentro da esfera científica, conhecida como disseminação da Ciência e que tem os gêneros do DC específicos dessa esfera, e a outra, relativa à informação sobre os resultados das descobertas científicas que circulam em gêneros do DPC para o público em geral,

DISCURSO DE POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA

E ALGUMAS ESFERAS

LEITOR/OUVINTE: público em geral

ESFERA JORNALÍSTICA Textos publicados em jornais e revistas impressas e digitais, em sites da internet, rádio, televisão, etc ESFERA EDUCACIONAL Textos publicados em livros didáticos, apostilas, aulas, palestras, etc. ESFERA CIENTÍFICA

Artigos escritos por cientistas publicados em revistas especializadas em popularizar a Ciência, ou em jornais, para o público em geral ESFERA CULTURAL Museus de Ciência, de artes, exposições e feiras de ciências, por exemplo

o que chamamos de popularização da Ciência, mas que também é conhecida como divulgação e vulgarização da Ciência. O Gráfico 4 - A difusão da Ciência e suas esferas - resume essas duas grandes formas de difundir a Ciência e a tecnologia e mostra as principais esferas onde ocorrem.

Gráfico 4 – A difusão da Ciência e suas esferas

É interessante enfatizar que não há um consenso sobre de quem é a responsabilidade de popularizar a Ciência para o público em geral da sociedade. Massarani (2002, p.16) diz que é de responsabilidade do cientista, do pesquisador e das próprias instituições popularizarem as descobertas de suas pesquisas. A autora ressalta que a discussão sobre o tema da descoberta científica é tão importante para a sociedade e sua cultura quanto a própria pesquisa científica e comenta sobre a responsabilidade e suas implicações quando da popularização da Ciência para a sociedade:

A divulgação das pesquisas científicas para o público, quando possível, deveria ser vista como parte das responsabilidades do pesquisador, de modo semelhante à publicação de suas pesquisas em revistas especializadas. (MASSARINI, 2002, p.16) [...]

Por outro lado, na complexa relação entre o cientista e a sociedade, deveríamos incluir o papel das instituições científicas, a quem, a meu ver, cabe mais do que ao cientista a responsabilidade política do bom ou mau uso dos avanços e descobertas científicas. São as instituições os responsáveis últimos pelo uso ponderado dos recursos e pelas avaliações dos resultados e seu significado. É a elas que os governos e a sociedade atribuem a responsabilidade pelo impacto de tudo aquilo que ocorre nos laboratórios que levam seu nome. São as instituições públicas – universidades, institutos etc. – as únicas que têm a possibilidade de resistir às pressões dos interesses econômicos ou corporativos. (MASSARANI, 2002, p.18)

Candotti (2002) assevera que é importante que a Ciência seja divulgada/popularizada pelo cientista para o grande público e que ela deveria ser vista como parte da responsabilidade dele. Na concepção do autor, isso se deve ao fato de que os fundos privados, captados de empresas interessadas em comercializar os produtos de pesquisa, dificilmente investem na promoção do livre “diálogo” sobre aspectos éticos das inovações e das descobertas que eles financiam. Por essa razão, seria importante que o financiamento público da pesquisa já colocasse um item em que fosse estabelecido que é do cientista a responsabilidade de popularizar a Ciência para o público leigo. Ao mesmo tempo, afirma que há uma relação complexa entre os cientistas e a sociedade, por isso seria também necessário atribuir às instituições científicas a responsabilidade de popularizar a Ciência mais do que aos próprios cientistas. Sobre esse aspecto, Candotti (2002, p.18) assim se expressa:

São as instituições os responsáveis últimos pelo uso ponderado dos recursos e pelas avaliações dos resultados e seu significado. É a elas que os governos e a sociedade atribuem as responsabilidades pelo impacto de tudo aquilo que ocorre nos laboratórios que levam seu nome.

Para o autor, atualmente, os caminhos da popularização científica passam pelos interesses dos meios de comunicação global que, raramente, coincidem com os da Educação e

da Ciência. Por isso ele acredita que isso limita a circulação das informações científicas para um público mais amplo, um obstáculo que, na opinião de Candotti (2002, p.16), deve ser superado: “Um obstáculo que a Unesco e cientistas comprometidos com a popularização da Ciência deverão superar, para promover os princípios da Carta de Budapeste” (Grifos nossos).

Segundo Candotti (2002),

há uma dimensão ética da divulgação científica na qual eu gostaria de me deter: a circulação das ideias e dos resultados de pesquisas é fundamental para avaliar o seu impacto social e cultural, como também para recuperar, por meio do livre debate e confronto de ideias, os vínculos e valores culturais que a descoberta do novo, muitas vezes, rompe ou fere. (2002, p.17)

Concordamos com Candotti (2002), quando afirma que existe uma dimensão ética53 da

popularização da Ciência em relação à circulação das ideias e dos resultados das pesquisas. Essa dimensão ética envolve a avaliação e o impacto social e cultural dos resultados das pesquisas. Acreditamos que esse debate é salutar, haja vista que todo enunciado é passível de uma compreensão responsiva. Esses resultados abrem um espaço para o diálogo, para a réplica e para a tréplica, em que muitas vozes entrarão no debate. Nesse sentido, Candotti (2002, p.17) diz que essa prática será um exercício de reflexão acerca dos impactos sociais e culturais das descobertas científicas. Nesse debate, os valores antigos devem ser respeitados, e os novos, pensados.

Quanto à relação dos cientistas/pesquisadores e dos jornalistas, Bueno (2014) 54 diz que,

durante muito tempo, houve uma rivalidade entre os pesquisadores e os jornalistas no que diz respeito à popularização da Ciência. No entanto, atualmente, a parceria entre jornalistas e cientistas é melhor do que a que existia há uma década ou mais. Bueno55 entende que

pesquisadores e jornalistas/divulgadores precisam estabelecer definitivamente uma relação de parceria porque ela é vital para a sociedade, porque pode contribuir para reduzir a exclusão social, promover a alfabetização científica e para incluir segmentos da sociedade no debate sobre Ciência e tecnologia.

53 Algumas descobertas científicas primam por questões voltadas para a vida humana, ponto que requer debates sobre o que é correto fazer com tais dados, haja vista que a ética é uma área que envolve responsabilidades político- econômico-sociais.

54 Em “Relação entre jornalistas e cientistas, jornalistas e pesquisadores: a parceria mais do que necessária”. Disponível em:

<http://www.jornalismocientifico.com.br/jornalismocientifico/artigos/relacao_jornalista_cientista/artigo3.php>. Acesso em: 10 mar. 2014. (O site não fornece a data de publicação do texto.)

Ressalte-se, contudo, que as relações entre pesquisadores e a mídia têm avançado positivamente, no que se refere à popularização científica de matérias voltadas para a sociedade. Apesar de ainda não ser suficiente e de determinadas áreas do conhecimento serem mais privilegiadas do que outras, há um crescimento cada vez maior para promover a popularização da Ciência por vários meios e de várias formas. No entanto, podemos dizer que, nos últimos anos, percebemos um avanço tanto por parte dos cientistas quanto dos jornalistas e dos governos de expandirem cada vez mais a prática da popularização da Ciência.