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4.1 DISSEMINAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA

4.1.1 Disseminação da Ciência: o discurso científico

A disseminação da Ciência, que Bueno (1985, 2010) também denomina de comunicação científica, é a difusão científica para especialistas, por meio da publicação de artigos científicos, relatórios de pesquisa e cartas (letters) em periódicos científicos especializados. Essa prática discursiva ocorre para um público especializado em dois níveis: intrapares e extrapares.

A disseminação intrapares compreende a circulação de informações da Ciência e da tecnologia para um público de especialistas que compartilham saberes científicos semelhantes de uma mesma área do conhecimento, em que prevalece um conteúdo específico, um mesmo código fechado do DC. Exemplos de disseminação entrapares são os “periódicos especializados e reuniões científicas” para um grupo restrito de especialistas. O autor menciona ainda, como exemplo, suportes como “revistas de geologia, de física ou de ortodontia, às quais só têm acesso os especialistas dessas áreas”. “Seminários de astrofísica, de cardiologia ou de psicologia clínica assumem a mesma configuração” (BUENO, 1985, p 1421).

A disseminação extrapares acontece quando a informação é disseminada para especialistas que não são da área-objeto da pesquisa científica disseminada. O público é especializado, mas, não necessariamente, naquele domínio específico da pesquisa. Bueno (1985, p.1421) dá o exemplo de “uma revista de economia ou de Ciências sociais que pode ser consumida por diferentes especialistas, e não, obrigatoriamente, por economistas, cientistas políticos ou sociólogos”. Um fato que contribui para isso é o de que essas revistas podem trazer pontos de interesse para vários especialistas. O autor (1985, p.1421) apresenta outro exemplo para a disseminação extrapares – “é o caso de um Curso de Homeopatia endereçado a médicos alopatas ou um de energia alternativa voltado para geólogos, físicos, químicos ou engenheiros”.

A Ciência é disseminada em círculos mais restritos, em publicações de artigos científicos de revistas especializadas, em congressos, enquanto sua popularização atinge uma audiência mais ampla, porquanto pode ser feita através da imprensa e de programas veiculados pela TV, em jornais impressos ou digitais, entre outros.

Falando-se em DC, é importante enfatizar que, segundo Pérez-Llantada48 (2012), há um

número muito maior de publicações científicas em inglês do que em qualquer outra língua, e essa predominância tem ditado as normas estabelecidas para a comunicação de pesquisas científicas com um inglês padrão científico. A autora (2012, p.50) considera o DC como uma prática social, através da qual os cientistas comunicam o resultado de suas pesquisas em um

“contexto de situação (na comunidade disciplinar), de cultura (em seu background cultural) e no contexto particular de gênero (artigos de pesquisa/artigos científicos).”

Ainda de acordo com Pérez-Lantada (2012, p.51-52), no DC, a depender do objetivo da disseminação do conhecimento científico, seu enquadramento pode ser atribuído a uma grande comunidade internacional científica e a uma subcomunidade científica de diferentes áreas do conhecimento. Assim, o DC irá tomar lugar intranacionalmente nas comunidades científicas e nas locais.

Pérez-Llantada (2012, p.54) propõe um enquadramento de contexto para o DC, que detalhamos a seguir:

1. Comunidade Científica Internacional (International Scientific Community) - Nesse nível, os cientistas se endereçam a uma comunidade mais ampla. As reivindicações do novo conhecimento interessam bem mais à sociedade. Seria o caso de publicações reconhecidas em todo o mundo, como Nature, Science49 or Cell50”.

2. Comunidades de prática de área específica internacional (International discipline- specific communities of practice) - Nessas comunidades, o DC é dirigido a comunidades internacionais de prática em uma área de domínio específico, como, por exemplo, as publicações internacionais especializadas, as conferências internacionais especializadas e os seminários ao redor do mundo.

3. Colaboração transnacional (Transnational collaboration) - Nesse nível, a disseminação do conhecimento científico envolve, geralmente, colaboração transnacional através de comunidades de pesquisa interdisciplinar. Por exemplo, quando os periódicos (journals) convidam cientistas para expressarem seu ponto de vista interdisciplinar da Ciência. Isso está sendo uma tendência crescente na forma de comunicação.

4. Comunidades científicas com base nacional e local (Local, national-based scientific communities) - Essas comunidades operam em um nível local, em território nacional. São os periódicos (journals) que convidam praticantes e cientistas para dividirem a pesquisa e agirem como uma grande rede de intercâmbio científico dentro do território nacional. Além de estimular a troca de resultados de estudos locais, os cientistas incluem informação de atividades e de conferências organizada por cada sociedade. Essa troca científica, geralmente, é financiada pelas sociedades

49Revista de onde retiramos o relatório científico (report) utilizada no corpus.

e pelas associações científicas com sede nacional, que organizam seminários e conferências regularmente.

5. Comunidades de prática de área específica com base nacional e local (Local, national-based discipline-specific communities of practice) – Promovem a disseminação e o intercâmbio entre colegas da comunidade e envolvem publicações locais em periódicos nacionais que combinam várias áreas afins. Incluem, também, popularização e palestras para um público geral aproximar-se do papel da Ciência na sociedade.

Substituindo o termo “comunidade” por esfera, a partir do exposto por Llatanda (2012), entendemos que, na esfera científica, formada por cientistas/pesquisadores, essa atividade humana pode se subdividir em cinco subesferas, em que a produção e a circulação do conhecimento científico envolvem a difusão da Ciência:

a) A subesfera científica internacional geral, que constitui a esfera mais ampla, e as comunicações científicas disseminadas são de interesse internacional e envolvem publicações em periódicos de grande espectro internacional, como o CELL, a Science;

b) A subesfera científica de área específica internacional, em que as comunicações são feitas por áreas específicas e realizadas em periódicos e revistas especializadas na área internacional, em seminários e congressos internacionais;

c) A subesfera científica transnacional, cujas pesquisas envolvem mais de um país que trabalham em colaboração de forma interdisciplinar. As comunicações acontecem através de especialistas envolvidos na pesquisa, para que expressem seu ponto de vista a um journal;

d) A subesfera científica geral, com base nacional e local, que envolve cientistas e pesquisadores em nível nacional, agrupados por associações, e cujas comunicações são disseminadas em revistas e periódicos nacionais;

e) A subesfera de área específica, com base nacional e local, dissemina a Ciência de forma local, em área específica do conhecimento, que envolve publicações em revistas e em periódicos locais e nacionais de áreas afins e inclui palestras como forma de popularizar a Ciência e a sociedade.

No Gráfico 2 - Subesferas da esfera científica – com base nos dados fornecidos por Llantada-Pérez (2012), apresentamos as subdivisões da esfera científica em subesferas:

Gráfico 2 – Subesferas da esfera científica

Fonte: Elaboração própria

Cada subesfera da esfera científica terá seus suportes próprios de publicação por seus pesquisadores: periódicos (journals), revistas, anais de congressos etc. A princípio, a circulação do conhecimento científico produzido no interior dessas subesferas ocorre entre seus membros. Ressaltamos que alguns cientistas/pesquisadores de uma subesfera de conhecimentos específicos poderão não ser os intrapares nem os extrapares de determinadas comunicações científicas. Isso acontece com cientistas/pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Por exemplo, um cientista/pesquisador de engenharia civil normalmente irá conceber com estranheza um artigo científico produzido por um cientista/pesquisador que publica um artigo na área de genética.

Nesse caso, ele se tornará um membro do público mais amplo da sociedade, por não ter os conhecimentos presumidos pelo enunciador para o seu destinatário. Haja vista que a

SUBESFERAS DA ESFERA CIENTÍFICA

subesfera científica internacional geral

subesfera científica de área específica internacional

subesfera científica transnacional subesfera científica com base nacional e

local

subesfera de área específica

com base nacional e local

linguagem científica tem um estilo e uma composição peculiares aos gêneros do discurso criados no interior da esfera científica, ela é construída com um léxico próprio do meio científico e de suas áreas de abrangências, o que é distinto da linguagem dirigida a destinatários que se enquadram nas esferas do cotidiano, como veremos a seguir.