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Avaliação do professor

2.4 Resenha histórica e legislativa da avaliação do desempenho docente em Portugal

2.4.1 A Lei de Bases do Sistema Educativo e Estatuto da Carreira Docente

Não era obviamente possível concretizar uma análise detalhada que percorresse os diversos documentos legais associados especificamente à ADD sem focalizarmos a nossa atenção em determinados aspetos consagrados em documentos estruturantes tais como a LBSE e o ECD. Em cada documento que analisámos e particularmente no que a estas duas últimas referências diz respeito, procurámos centrar a nossa atenção nos aspetos referentes direta e exclusivamente à avaliação do desempenho dos docentes. Por vezes a complexidade e a dinâmica legislativa associadas ao campo da educação depressa nos conduziram para problemáticas que não concerniam necessária e diretamente a temática em estudo, mas que optámos por abordar ainda que de forma concisa para enriquecer o nosso trabalho.

Procurámos incluir na análise que realizámos dos documentos legais produzidos a partir do ano de 1986, o maior número de pormenores e particularidades associados à avaliação do desempenho sem contudo aportar uma sofisticação de tal ordem que prejudicasse o entendimento da temática em estudo.

Numa primeira fase62, enfocámos a nossa análise nos aspetos da legislação que considerámos essenciais e pertinentes, nomeadamente: os objetivos da avaliação; os intervenientes; os procedimentos para a consecução do processo de ADD; as menções e as consequências dessa mesma avaliação. Complementámos, obviamente, a nossa observação com apreciações que perscrutámos na literatura.

A segunda abordagem63 realizada diferenciou-se da primeira por ser mais detalhada. A promulgação do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro desencadeou uma produção exponencial de legislação e de documentação associada à temática da ADD, o que justificou plenamente o nosso empenho.

Retomemos agora a nossa análise com o documento que:

62 Análise da legislação no período de tempo compreendido entre a promulgação Decreto-Lei n.º 46/86, de 14 de outubro até à promulgação do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro (exclusive).

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“ […], para além de defender uma maior autonomia para as escolas e a descentralização das decisões e procedimentos no que diz respeito ao sistema educativo, proclamava um maior envolvimento da comunidade.” (Ventura et al, 2006, p. 128)

A promulgação da LBSE em 14 de outubro de 1986 (Decreto-Lei n.º 46/86, de 14 de outubro) apontou de imediato uma importante referência à ADD, com este diploma ficou claramente definido que era necessário associar a progressão na carreira com alguma forma de avaliação da atividade docente, com efeito:

“ A progressão na carreira deve estar ligada à avaliação de toda a actividade desenvolvida, individualmente ou em grupo, na instituição educativa, no plano da educação e do ensino e da prestação de outros serviços à comunidade, bem como às qualificações profissionais, pedagógicas e científicas.” (Ibidem, art.º 36.º, n.º 2)

Posteriormente, a promulgação do Decreto-Lei n.º 409/89 de 18 de novembro que aprovou a estrutura da carreira do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário também estabeleceu as normas relativas ao seu estatuto remuneratório e alicerçou a elaboração de uma carreira única, onde a integração e a progressão passou a depender da habilitação académica do docente e não do seu sector de origem.

“ O pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário constitui um corpo especial e integra-se numa carreira única com 10 escalões.” (Decreto-Lei n.º 409/89 de 18 de novembro, art.º 4.º, n.º 1)

Este diploma definiu o tempo de permanência dos docentes em cada um dos escalões (dois, três, quatro ou cinco anos) assim como as condições associadas às suas progressões64:

 o tempo de serviço efetivo prestado em funções docentes;  a frequência com aproveitamento de módulos de formação;

 a avaliação do seu desempenho cuja regulamentação aguardava definição em diploma próprio.

De notar que na própria redação deste documento ficou desde logo referido que se encontrava em fase de conclusão de negociação com as organizações sindicais de pessoal docente o Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário que viria a ser decretado em abril do ano seguinte.

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O Estatuto da Carreira Docente aprovado pelo Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril desenvolvido em consonância com os princípios consagrados no 36.º artigo da LBSE veio mais uma vez confirmar a:

“ […] necessidade da avaliação do desempenho dos docentes, com vista à melhoria da respectiva actividade profissional e à sua valorização e aperfeiçoamento individual, da qual passa a depender a progressão na carreira.” (Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril, preâmbulo).

Neste mesmo diploma foram apresentados no n.º 3 do 39.º artigo os objetivos da avaliação do desempenho:

 melhorar a ação pedagógica e a eficácia profissional dos docentes;

 contribuir para a valorização e o aperfeiçoamento individual do professor;  inventariar as necessidades de formação e reconversão profissional dos

docentes;

 detetar os fatores que influenciavam o rendimento profissional dos professores;  facultar indicadores de gestão em matéria de pessoal docente.

A análise destes objetivos conduziu-nos à conclusão que o enfoque estava nos professores e nas consequências diretas desta avaliação nos mesmos, não sendo apontadas primordialmente melhorias que a mesma poderia aportar ao sistema educativo muito além da gestão do pessoal docente.

Estes primeiros passos calcorreados no trilho da avaliação dos professores foram fundamentais pois:

“ […] até à estruturação da carreira docente em 1989, os professores estavam socializados num processo onde, com base num sistema de “nada consta” no registo biográfico, a avaliação era de Bom e a progressão era automaticamente atribuída.” (Formosinho e Machado, 2009, p. 288)

Enquanto primeira tentativa de verticalização da carreira docente (Formosinho e Machado, 2009) esta estruturação da carreira docente não ficou isenta de críticas que se acentuaram quando foi promulgado o Decreto Regulamentar n.º 13/92, de 30 de junho que regulamentou o acesso ao 8º escalão que ficou assim dependente da aprovação em provas públicas às quais os docentes se candidatavam voluntariamente. Estas provas estavam sujeitas à apreciação de um júri65 constituído por: um presidente e quatro vogais a nomear por despacho do Ministro da Educação de entre individualidades de

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reconhecido mérito no domínio da educação e do ensino. Note-se que um dos membros tinha obrigatoriamente que ser um docente do mesmo nível de ensino e/ou do mesmo grupo de docência do candidato, encontrando-se forçosamente em escalão superior ao deste último. O júri tinha por objeto apreciar o curriculum de cada candidato e um trabalho de natureza educacional apresentado por este. Privilegiou-se assim uma avaliação do mérito em detrimento de uma avaliação do desempenho. Esta situação só veio a alterar-se com a promulgação do Decreto-Lei n.º 1/98, de 2 de janeiro que veio

alterar o ECD66 e que mais adiante examinaremos.