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Avaliação do professor

2.4 Resenha histórica e legislativa da avaliação do desempenho docente em Portugal

2.4.4 O Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de agosto

“ Cada um dos professores da escola tem visão, voz e vontade individual. O que se torna difícil é a construção e a manifestação de uma visão, de uma voz e de uma vontade colectiva, para que a acção de todos se enquadre, se associe, se harmonize na emergência de um todo consistente com os princípios e as metas.” (Candeias, 2009, p. 103)

A coerência cronológica e o desejo de aportar todas as informações relevantes para a interpretação destes e dos próximos diplomas associados à ADD que analisaremos, obrigaram-nos a desviar ligeira e aparentemente a nossa atenção ao incluirmos neste capítulo uma referência ao Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de agosto que estabeleceu o perfil geral de desempenho profissional do educador de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário.

“ A definição de perfis de desempenho para a profissão docente tem dois objectivos fundamentais: por um lado, constituir um referencial para a organização da formação dos educadores e dos professores, e, por outro, identificar um quadro de referência que possa ser considerado para o desenvolvimento da acção educativa nas escolas e naturalmente para a própria avaliação de desempenho dos professores.” (Sanches, 2008, p.45)

Estamos conscientes que este digresso pode aparentar não estar direta ou plenamente associado ao estudo da próxima reformulação do ECD que introduziu um “novo” modelo de ADD, mas entendemos que o mesmo ocupa um lugar que importa destacar na (r)evolução do processo de avaliação do desempenho docente.

O Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de agosto foi criado com as seguintes finalidades:

estabelecer um quadro de orientação na organização dos cursos de formação inicial de educadores de infância e de professores dos ensinos básico e secundário; garantir a

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certificação da qualificação profissional para a docência e a acreditação legal dos supramencionados cursos99.

Para instituir um perfil geral de desempenho do educador de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário o legislador recorreu a referenciais comuns à atividade dos docentes de todos os níveis de ensino, organizando os mesmos em quatro dimensões:

 dimensão profissional, social e ética100

(associada à promoção de aprendizagens curriculares para todos os alunos com respeito pelas suas diferenças fundamentando a sua atividade com base num saber específico e na reflexão sobre as suas práticas);

 dimensão de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem (associada à organização do ensino tendo em conta os saberes pedagógicos e didáticos e a organização de estratégias de diferenciação pedagógica e através do recurso a diversas modalidades de avaliação das aprendizagens balizadas por critérios de rigor científico e metodológico);

 dimensão de participação na escola e de relação com a comunidade (associada ao desenvolvimento profissional do professor com base na sua participação nas atividades do PE e dos projetos curriculares de escola e de turma);

 dimensão desenvolvimento profissional ao longo da vida (associada à forma como o professor incorpora a sua formação como elemento constitutivo da sua prática profissional, como a valoriza, partilha em trabalhos de equipa intra e extra escola e/ou na colaboração em projetos de investigação).

Candeias (2009), sintetizou estas quatro dimensões alicerçando o perfil de desempenho do professor em três pilares:

 O conhecimento académico que incorpora ao percurso formativo que integra a formação inicial e que é suportado por um quadro teórico associado às áreas científicas específicas de cada docente e às suas opções no que à continuidade da aprendizagem ao longo da vida respeita;

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Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de agosto, art.º 2.º.

100 Posteriormente no Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, o legislador contemplou apenas as vertentes profissional e ética (omitindo a social) quer nas competências e conhecimentos científicos, técnicos e pedagógicos de base para o desempenho profissional da prática docente (n.º 2 do art.º 13.º) ou ainda nas dimensões onde se concretizava a ADD (alínea a) do n.º 2 do art.º 42.º).

 O conhecimento experiencial resultante de uma simbiose entre a multiplicidade e a complexidade das experiências profissionais enquanto estudante e como professor;

 O conhecimento institucional associado à conexão entre orientações de política educativa nacional ou local e à sua interpretação pelos docentes aquando a implementação dos processos de ensino e aprendizagem.

A interação entre todas estas dimensões, quer consideremos o juízo do legislador e/ou à apreciação da autora, contribui para que se desenvolvam processos complexos de formação individual que, embora possam ser influenciados pelo coletivo, enformam num perfil único que caracteriza cada professor como um profissional do ensino. Daí advém a necessidade da existência de um perfil de desempenho basal que alimente os pressupostos necessários a um processo de ADD.

“ Os perfis de competências mencionados constituem o quadro de referência nacional para a formação inicial e, no entender do Conselho101, devem ser também adoptados como orientação geral para a avaliação docente e consolidação do desenvolvimento profissional, em contínua adequação a novos desafios.” (CCAP, 2008b, p. 4)

O Decreto-Lei n.º 241/2001, foi também publicado em 30 de agosto e definiu o perfil específico de desempenho profissional do educador de infância e do professor do primeiro ciclo do ensino básico organizado segundo duas dimensões. A primeira constitui a conceção e o desenvolvimento do currículo onde:

 o educador de infância concebia e desenvolvia o respetivo currículo com vista à construção de aprendizagens integradas;

 o professor do 1º ciclo do ensino básico desenvolvia o respetivo currículo, no contexto de uma escola inclusiva, mobilizando e integrando os conhecimentos científicos das áreas que o fundamentavam e as competências necessárias à promoção da aprendizagem dos alunos.

A segunda estabeleceu a integração do currículo onde:

 o educador de infância mobilizava o conhecimento e as competências necessárias ao desenvolvimento de um currículo integrado, no âmbito da expressão e da comunicação e do conhecimento do mundo.

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 o professor do 1.º ciclo do ensino básico promovia a aprendizagem de competências socialmente relevantes, no âmbito de uma cidadania ativa e responsável. Note-se que foram definidos objetivos específicos para a Língua Portuguesa, a Matemática, as Ciências Sociais e da Natureza, a Educação Física e a Educação Artística.

Ficaram assim estabelecidas as especificidades associadas ao desempenho profissional em cada um destes níveis de ensino. Não foram publicados em diplomas próprios, os perfis específicos de desempenho profissional dos professores dos segundo e terceiro ciclos do ensino básico e do ensino secundário102.