Avaliação do professor
2.4 Resenha histórica e legislativa da avaliação do desempenho docente em Portugal
2.4.5 O Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro
2.4.5.1 O “novo” modelo de avaliação do desempenho docente
As alterações no ECD resultantes da promulgação do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de
janeiro não podem ser reduzidas a uma das particularidades mais sensíveis como a
categorização da carreira docente107. Este diploma não procurou apenas introduzir uma nova forma mais rigorosa de avaliar e diferenciar os docentes.
Para além de:
“ […] uma nova codificação de direitos e deveres que consagra, em termos inovadores, os direitos à colaboração, à consideração e ao reconhecimento da autoridade dos professores pelos alunos, suas famílias e demais membros da comunidade educativa, e especifica os seus deveres
161
relativamente aos diferentes agentes e parceiros dessa comunidade.” (Decreto-Lei n.º 15/2007 de 19 de janeiro, preâmbulo)
Este novo desígnio legislativo não só findou os procedimentos que faziam depender a progressão na carreira “quase exclusivamente”: do tempo de serviço docente, do conteúdo de um relatório ou do número de ações de formação frequentadas. Também alterou o regime jurídico da formação contínua de professores de modo a assegurar que a formação não só não prejudicava as atividades letivas, mas também contribuía para a aquisição e o desenvolvimento de competências científicas e pedagógicas relevantes para o trabalho dos docentes e particularmente para a sua atividade letiva.
Entendemos que era fundamental reportar neste trabalho todas as “inovações” deste diploma, destacámos de imediato as condições de acesso à carreira docente que segundo o executivo então em exercício, se tornaram mais exigentes108.
O primeiro ano escolar no exercício efetivo de funções da categoria de professor correspondia ao período probatório109 e compelia o pessoal docente, para nomeação em lugar de quadro de ingresso, a ser apoiado no plano didático, pedagógico e científico por professores mais experientes.
Além do reforço de supervisão e acompanhamento por estes docentes, o legislador preocupou-se com a necessidade de garantir que os candidatos cumpriam as formalidades associadas ao perfil profissional exigido para o exercício de funções docentes. Para tal foi introduzida uma nova premissa para poder ingressar na carreira docente: obter aproveitamento numa prova de avaliação de conhecimentos e competências110. Segundo o legislador, a criação deste dispositivo assegurava que o exercício efetivo de funções docentes ficava reservado a quem cumprisse todos os requisitos necessários a um desempenho profissional especializado e de excelência111. Esta prova de âmbito nacional que ficou regulamentada pelo Decreto Regulamentar n.º 3/2008, de 21 de janeiro visava determinar em que medida os candidatos dominavam os conhecimentos e as competências exigidas para o exercício da função docente, na
108
Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro.
109 Correspondia ao primeiro ano escolar no exercício efetivo de funções da categoria de professor segundo o art.º 31.º do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro. Saliente-se que para os professores em período probatório só a obtenção da menção igual ou superior a Bom garantia a nomeação definitiva em lugar de quadro. A atribuição da menção de Regular obrigava à repetição do período probatório sem qualquer interrupção funcional e a obtenção da menção qualitativa de Insuficiente à exoneração automática do lugar de quadro onde o candidato se encontrasse provido (Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, art.º 31.º, n.º 11 e n.º 12).
110 Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, art.º 22.º, ponto 1, alínea f). 111
especialidade da respetiva área de docência. A mesma seria organizada segundo as exigências da lecionação dos programas e orientações curriculares da educação pré- escolar e dos ensinos básico e secundário112.
Foram dispensados da realização da prova113 os docentes que tinham celebrado contrato administrativo de serviço docente em dois dos últimos quatro anos imediatamente anteriores ao ano letivo de 2007/2008, desde que contassem, pelo menos, cinco anos completos de serviço docente efetivo e avaliação do desempenho igual ou superior a Bom.
Tendo em atenção que este mecanismo incidia sobre as competências transversais às diversas áreas de docência e sobre os conhecimentos de ordem científica e tecnológica próprios de cada disciplina/ domínio de habilitação, o legislador entendeu acautelar alguma contestação por parte dos sindicatos e/ou das instituições de ensino superior universitário/ politécnico responsáveis pela formação inicial dos docentes pelo que apontou que esta prova se destinava a separar “a fase de formação realizada nas instituições de ensino superior competentes, da fase de selecção e recrutamento
realizada pelo empregador interessado.”114
Apesar deste acautelamento, vários sindicatos rogaram que esta opção constituiu um afronto à qualidade da formação inicial de professores conferida pelas instituições de ensino superior universitário/ politécnico. Para muitos ao instituir uma prova de avaliação conhecimentos e competências o Estado desincumbiu as instituições de ensino superior do processo de avaliação dos postulantes a docentes e colocou em causa a qualidade dos seus estudantes finalistas. Os contestatários apontaram que a imposição de um novo requisito habilitacional colocava em causa o n.º 1 do artigo 34.º da Lei n.º 49/2005, de 30 de agosto (LBSE) que determinou que a qualificação profissional dos educadores de infância e os professores dos ensinos básico e secundário se estabelecia através de cursos superiores organizados de acordo com as necessidades do desempenho profissional no respetivo nível de educação e ensino.
Para todos aqueles que sempre colocaram em causa a média das licenciaturas obtidas pelos professores que se formaram no ensino superior privado, a implementação de uma prova de avaliação de âmbito nacional contribuía para reparar a injustiça provocada pelo
163
único elemento que até então diferenciava os professores profissionalizados que tinham frequentado instituições pública de ensino superior daqueles que eram oriundos de estabelecimentos privados: a média de final de curso. Pelo contrário, outros advogaram que a classificação final obtida fruto da frequência com aproveitamento de um curso superior já graduava os candidatos a professores e que por uma questão de igualdade de circunstâncias com outros postulantes a cargos na função pública, não era coerente “re- graduar” os docentes através da realização de uma prova de avaliação de conhecimentos e competências.
O desejo do legislador de condicionar a progressão na carreira em função da avaliação do desempenho dos professores e educadores115 propiciou uma rutura com o modelo de avaliação dos docentes em vigor até janeiro de 2007. Um dos reflexos desta fratura manifestou-se na obrigatoriedade de considerar a ADD não somente para efeitos de progressão na carreira como para a conversão da nomeação provisória em nomeação definitiva no termo do período probatório; para a renovação de contrato e para a atribuição do prémio de desempenho116.
Realizada no final de cada período de dois anos escolares117, a ADD reportava-se ao tempo de serviço prestado nesse período segundo critérios previamente definidos que permitiam aferir os padrões de qualidade do desempenho profissional118, tendo em consideração o contexto socioeducativo119 em que o avaliado desenvolvia a sua atividade.
O legislador reportou-se ao Decreto-Lei n.º 240/2001, de 30 de agosto, que estabeleceu o perfil geral de desempenho profissional dos educadores e professores dos ensinos básico e secundário, para estabelecer as quatros dimensões segundo as quais se
115 Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro. 116 Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, art.º 41.º. 117
Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, art.º 42.º, n.º 3.
118 Os docentes em período probatório e os docentes contratados cumpriam as orientações do n.º 5 e n.º 6 do art.º 42.º do Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro. Nomeadamente a avaliação dos docentes em período probatório era feita no final do mesmo e reportava-se à atividade desenvolvida no seu decurso. Quanto à avaliação do pessoal docente contratado esta realizava-se no final do período de vigência do respetivo contrato e antes da sua eventual renovação, desde que estes tivessem prestado serviço docente efetivo durante, pelo menos, seis meses.
119 Confirma-se a importância do contexto socioeducativo no processo de ADD reforçando-se assim a sua
inclusão na legislação desde a promulgação do Decreto-Lei n.º 1/98, de 2 de janeiro, art.º 39.º, n.º 2 e no Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, art.º 42.º, n.º 1.
concretizava a ADD120. Como salientámos anteriormente foi omissa a vertente social presente no supracitado diploma ficando assim definidas as dimensões121:
Vertente profissional e ética;
Desenvolvimento do ensino e da aprendizagem;
Participação na escola e relação com a comunidade escolar; Desenvolvimento e formação profissional ao longo da vida. O processo de ADD passou a incluir três tipos de intervenientes122:
os avaliados; os avaliadores;
a Comissão de Coordenação da Avaliação do Desempenho (CCAD).
Da leitura do diploma em análise inferiu-se que eram considerados como avaliados os indivíduos que cumpriam as características associadas ao pessoal docente, ou seja, ser portador de habilitação profissional para o desempenho de funções de educação ou de ensino, com carácter permanente, sequencial e sistemático, ou a título temporário, após aprovação na prova de avaliação de conhecimentos e de competências123.
Foram estabelecidos como avaliadores124:
o coordenador do conselho de docentes ou do departamento curricular ou ainda os professores titulares que por ele forem designados quando o número de docentes a avaliar o justifique;
um inspetor com formação científica na área departamental do avaliado, designado pelo inspetor-geral da Educação;
o presidente do conselho executivo ou o diretor da escola ou agrupamento de escolas em que o docente prestava serviço, ou ainda um membro da direção executiva por ele designado.
Em cada escola ou agrupamento de escolas funcionava a CCAD, coordenada pelo presidente do Conselho Pedagógico e constituída por mais quatro membros do mesmo
120 Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, art.º 42.º, n.º 2.
121 Note-se que a formação inicial destinada a dotar os candidatos à profissão das competências e conhecimentos científicos, técnicos e pedagógicos de base para o desempenho profissional da prática docente também passou a reger-se pelas mesmas dimensões, como foi apontado no n.º 2, do art.º 13.º