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Avaliação do professor

2.4 Resenha histórica e legislativa da avaliação do desempenho docente em Portugal

2.4.2 O Decreto Regulamentar n.º 14/92, de 4 de julho

Na realidade o primeiro regime de avaliação do desempenho do pessoal docente do ensino não superior foi apenas regulamentado pelo Decreto Regulamentar n.º 14/92, de 4 de julho67 que como foi enaltecido no próprio documento, face à “importância da avaliação do desempenho na dignificação da carreira docente” esta pecava até então por não se encontrar “solenemente” regulamentada.

Este documento determinou os procedimentos necessários à consecução do processo de

avaliação que se iniciava68 com a entrega no órgão de gestão do estabelecimento onde o

candidato exercia funções de um relatório crítico da atividade por si desenvolvida na componente letiva e não letiva no período de tempo ao qual reportava a sua avaliação.

Neste relatório deveriam constar69 os seguintes indicadores e elementos de avaliação:

 o serviço distribuído;

 a relação pedagógica com os alunos;  o cumprimento dos programas curriculares;  o desempenho de cargos diretivos e pedagógicos;

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Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril.

67 O Decreto Regulamentar n.º 58/94, de 22 de setembro veio posteriormente regulamentar o processo de

avaliação de desempenho do pessoal docente que se encontrava a exercer funções de direção nos órgãos de administração e gestão dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário ou noutros de idêntica natureza na administração educativa. De notar que a nossa investigação versa sobre a ADD aplicada aos docentes que não se encontravam sujeitos a condições especiais de avaliação em virtude de ocupar funções de administração e gestão ou ainda se encontrem noutras situações equiparáveis.

68 Decreto Regulamentar n.º 14/92, de 4 de julho, art.º 5.º, n.º 1. 69

 a participação em projetos e atividades desenvolvidas no seio da comunidade educativa;

 as ações de formação frequentadas e as unidades de crédito obtidas nas mesmas;  os contributos inovadores no processo de ensino/ aprendizagem;

 os estudos que foram realizados e trabalhos publicados;  os níveis de assiduidade;

 as sanções disciplinares eventualmente aplicadas;  os louvores e distinções eventualmente atribuídos.

De salientar que a enfase na componente de formação contínua dos docentes estava associada à frequência e ao aproveitamento dos docentes em ações de formação de modo a obter um número mínimo de créditos equivalente ao número de anos que permanecia em cada escalão. A certificação das ações de formação contínua era parte

integrante do respetivo relatório crítico da atividade docente70.

O processo de avaliação concluía-se com a atribuição de uma de duas menções

qualitativas71, Satisfaz ou Não satisfaz as quais correspondiam efeitos na progressão na

carreira. A atribuição72 da menção Satisfaz era da competência do órgão de

administração e gestão do estabelecimento de educação ou de ensino, desde que não se verificasse qualquer das situações previstas no artigo 43.º do ECD:

 um insuficiente apoio e/ou deficiente relacionamento com os alunos, mediante sugestão do órgão pedagógico respetivo, baseada em informações fundamentadas sobre factos comprovados;

 a não-aceitação de cargos pedagógicos para que o docente tenha sido eventualmente eleito ou designado, ou ainda pelo seu deficiente desempenho, com base em informações fundamentadas sobre factos comprovados;

 a não-conclusão, em cada módulo de tempo de serviço do escalão, das ações de formação contínua a que eventualmente tenha tido acesso, em termos a regulamentar por despacho do Ministro da Educação.

A atribuição da menção qualitativa de Satisfaz determinava que fosse considerado o período a que respeitava para efeitos de progressão e promoção na carreira o que não

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acontecia73 caso fosse atribuída a menção de Não satisfaz como veremos posteriormente. Por uma só vez e após a prestação de 10 anos de serviço efetivo em funções docentes74, podia ser atribuída ao avaliado pelo Ministro da Educação, sob proposta fundamentada de um júri ad hoc por si nomeado que integrasse os diretores regionais de educação, a menção de Excelente, em caso de reconhecido mérito excecional. Esta decisão tinha que estar fundamentada com base num relatório justificativo a apresentar pelo docente e por informação fundamentada do órgão de administração e gestão do estabelecimento ou estabelecimentos de educação ou de ensino onde o candidato tivesse exercido funções docentes nos últimos três anos. A atribuição desta menção bonificava em dois anos no tempo de serviço do docente para efeitos de progressão na carreira75.

Na eventualidade de se ter verificado qualquer uma das condições anteriores76 o órgão

de gestão do estabelecimento de educação ou de ensino comunicava a título confidencial, a verificação de alguma destas situações ao respetivo diretor regional de educação, dando conhecimento, por escrito, ao docente em avaliação, nos trinta dias subsequentes à apresentação do relatório. Neste caso a atribuição da menção Não satisfaz era da competência de um júri de avaliação de âmbito regional, constituído por um representante da respetiva Direção Regional de Educação, um elemento do órgão pedagógico da escola onde o docente em avaliação exercia funções e um elemento da Inspeção Geral do Ensino.

A atribuição da menção de Não satisfaz tinha consequências77 para o docente, além de

determinar que não fosse considerado o período a que respeitava para efeitos de

progressão e promoção na carreira, a atribuição seguida ou interpolada, respetivamente, de duas ou de três menções qualitativas de Não satisfaz constituía fundamento para instauração de procedimento disciplinar por incompetência profissional. Para os docentes em pré-carreira a verificação desta situação determinava a cessação da nomeação provisória no termo do ano escolar. Note que a atribuição desta menção

também impedia78 a apresentação de candidatura à menção de Excelente antes de

73 Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril, art.º 46.º, n.º 1. 74

Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril, art.º 48.º. 75 Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril, art.º 49.º. 76 Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril, art.º 43.º. 77 Decreto-Lei n.º 139-A/90 de 28 de abril, art.º 46.º. 78

decorridos oito anos após a progressão ao escalão seguinte àquele a que se reportava aquela menção, classificado com menção de Satisfaz.

Como referimos anteriormente a revisão do ECD79 resultante da promulgação do Decreto-Lei n.º 1/98, de 2 de janeiro não só veio alterar o regime de acesso ao 8º escalão como enfatizou a necessidade de instituir “[…] mecanismos de avaliação e diferenciação interna, tomando como referência a qualidade do respetivo desempenho profissional.” (Ibidem, preâmbulo).

Com esta reformulação a avaliação do desempenho passou a ser apontada como elemento estratégico na forma como as instituições de ensino deviam valorizar dinamicamente os seus recursos humanos, neste caso particular, os docentes.

O estudo realizado por Simões (1998) veio evidenciar, ainda que de forma contextualizada, que a implementação do primeiro regime de avaliação do desempenho

docente não estava a produzir os efeitos apontados nos objetivos80 patentes no ECD

promulgado em 1990.

“ Se o sistema de avaliação assume como objectivo explícito melhorar a qualidade da educação e do ensino, através do desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, os resultados da investigação revelam que o impacto do modelo se apresenta merecedor de alguma apreensão. Dado que a maioria dos inquiridos considera que os objectivos não foram alcançados e que a actividade profissional dos professores não melhorou, [...].” (Simões, 1998, p. 244)

Os docentes que participaram no estudo entendiam o processo de avaliação como uma mera tarefa burocrática que lhes permitia percorrer a carreira docente de forma automática em resultado de uma pseudoanálise do relatório crítico da atividade docente que na realidade não os avaliava e lhes atribuía a classificação de Satisfaz como se de uma obrigação legal se tratasse.

Assim, a avaliação era atribuída com base no relatório da responsabilidade do professor. A utilização de uma só fonte (o professor avaliado) e de um único instrumento de avaliação (o documento de reflexão crítica concebido por este) não só inviabiliza os requisitos de validade e de fidelidade como indicia uma fraca consideração pela avaliação dos professores (Simões, 1998).

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