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1.8 O ensino profissional no Brasil

1.8.5 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996

A nova LDB também traz uma concepção profissionalizante para a educação de nível médio, que substituiu o antigo ensino de 2º grau, mas não repete o sentido lato de ensino profissional, que se generalizou com a LDB de 1971.

O artigo 21 da LDB/96 fixa a composição da “educação escolar”, dividindo-a nos seguintes níveis: I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio e II – educação superior. O artigo 27 traça as diretrizes dos conteúdos curriculares da educação básica, que depois de prever a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática, também prevê a “orientação para o trabalho”.

O ensino médio, etapa final da educação escolar básica, com duração de três anos, tem suas finalidades determinadas nos artigos 35 e 36, nos quais se observa que a preparação para o trabalho e a compreensão dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção são metas determinantes para o desenvolvimento de seus currículos.97

97 Art. 35. “O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina”.

Art. 36. “O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes:

I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania;

II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes;

III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. § 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:

I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;

III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. § 2º O ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas.

Sublinhe-se que essa orientação para o trabalho está reservada, via de regra, ao ensino médio, já que o ensino superior será sempre considerado como uma educação

profissional e os artigos 29 ao 33, que disciplinam a educação infantil e o ensino

fundamental, objetivam a formação básica do estudante, cujas disciplinas visam seu desenvolvimento na leitura, na escrita, no cálculo e nas demais atividades que o preparem para compreender o mundo exercendo sua cidadania com regras de convívio social.

Todavia, no Capítulo III, reservado especialmente à “Educação Profissional”, artigos 39 a 42 da LDB/96, percebe-se que a especificidade dos cursos

profissionalizantes poderão alcançar, também, alunos matriculados no nível

fundamental de ensino, objetivando, preferencialmente, o oferecimento de cursos e programas de formação inicial e continuada a jovens e adultos já inseridos no mercado de trabalho98, que não tiveram acesso ou continuidade dos estudos na idade própria. § 4º A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional, poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação com instituições especializadas em educação profissional”.

98 Sobre a Educação de Jovens e Adultos – EJA – a LDB/96 traz disciplinamento nos artigos 37 e 38 e as

possibilidades de acesso à educação profissional estão previstas nos artigos 39 a 42: DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Art. 37. “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.

§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si”.

Art. 38. “Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.

§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:

I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.

§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames”.

DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Art. 39. “A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.

Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional”. Art. 40. “A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho”.

Art. 41. “O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos.

Parágrafo único. Os diplomas de cursos de educação profissional de nível médio, quando registrados, terão validade nacional”.

Na LDB/96 a educação profissional está configurada como um sistema paralelo

e distinto do ensino médio, embora com ele articulada, podendo se apresentar em três

níveis.

O Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997, foi o primeiro Regulamento da LDB, que posteriormente foi revogado pelo Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004. É no atual Regulamento que se verificam as modalidades de cursos e programas que compõem a educação profissional.

A primeira modalidade é a “formação inicial e continuada de trabalhadores”, que se destina, preferencialmente, a jovens e adultos inseridos no mercado de trabalho, de qualquer nível de escolaridade. A preferência por jovens trabalhadores não exclui dessa modalidade de formação, todavia, outros jovens que ainda não se iniciaram na carreira profissional ou que dela encontra-se afastados. Ao final do curso, o aluno fará jus a certificado de formação inicial ou continuada para o trabalho. 99

A segunda modalidade é a “educação profissional técnica de nível médio”, que se desenvolverá de forma articulada com o ensino médio e será oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental e esteja matriculado em cursos técnicos definidos pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Essa articulação poderá, agora, se dar de três formas: a) integrada, cujo objetivo é assegurar, simultaneamente, a formação geral e o preparo para o exercício de profissões técnicas, no mesmo curso e na mesma escola, com uma só matrícula e carga horária ampliada para tal finalidade. Essa possibilidade não estava prevista no Regulamento anterior; b) concomitante, pela qual a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio se complementam em dois cursos distintos, com duas matrículas, podendo ocorrer na mesma instituição de ensino ou em instituições distintas; c) subseqüente, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino médio de formação geral. Aos alunos formados será conferido o diploma de técnico, desde que concluído o ensino técnico e o ensino médio, concomitantemente. Prevalece, portanto, ainda que com uma

Art. 42. “As escolas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade”.

99 Nessa modalidade enquadram-se os cursos de aprendizagem do SENAI e alguns programas de inclusão social para educação de Jovens e Adultos como, por exemplo, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), criado pela Lei n. 11.129, de 30 de junho de 2005 e Decreto Regulamentador n. 5.557, de 05 de outubro de 2005.

articulação mais aproximada, a dualidade entre ensino médio e ensino técnico, dependendo este da conclusão daquele para conferir diplomação.

A terceira modalidade é a “educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação”, destinada aos alunos de nível superior matriculados em cursos da área tecnológica, conforme diretrizes curriculares definidas pelo CNE. Aos alunos que concluem o curso é conferido diploma de tecnólogo.

No que diz respeito ao estágio curricular, o artigo 82 das Disposições Gerais da LDB/96 delega aos sistemas de ensino o estabelecimento de normas para sua realização, deixando genericamente expresso que ele se verificará entre alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior. 100

Considerando que o atual Regulamento da LDB, assim como o anterior, não fez referência especial aos contratos de estágio, prevalece as disposições contidas na Lei n. 6.494/77 e seu Regulamento, com todas as discussões interpretativas para adequá- las às novas diretrizes da educação contidas na LDB/96, aqui apresentadas.

Toda essa exposição relativa à organização do ensino geral e profissional objetivou demonstrar que o Brasil ainda está buscando a melhor forma de integrar os dois sistemas educacionais, razão porque a extensão do estágio profissional aos alunos de nível médio, sem caráter profissionalizante, deve ser tomada com o devido cuidado. Isso porque pode-se estar correndo o risco de repetir erros do passado, quando, sob o escopo de implementar sua capacitação para o trabalho, se enclausurou jovens nas fábricas com uma carga horária proibitiva, sacrificando-se, em contrapartida, sua educação e formação geral para a vida cidadã.

Assim, de forma a atender aos objetivos deste trabalho, faz-se necessário o estudo da sistemática dos contratos de estágio contida na legislação especial, analisando seus requisitos formais e materiais, o que se propõe no próximo capítulo.

100 LDB/96, Art. 82: “Os sistemas de ensino estabelecerão as normas para realização dos estágios dos alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior em sua jurisdição.

Parágrafo único. O estágio realizado nas condições deste artigo não estabelecem vínculo empregatício, podendo o estagiário receber bolsa de estágio, estar segurado contra acidentes e ter a cobertura previdenciária prevista na legislação específica”.

2 A SISTEMÁTICA DOS CONTRATOS DE ESTÁGIO

Como se viu pelo contexto até aqui apresentado, não só a educação, na generalidade do termo, está dividida entre ensino geral e ensino profissionalizante como também a própria aprendizagem profissional apresenta divisões.

São duas as formas de aprendizagem profissional: a escolar (relação escola- aluno) e a empresária (relação empresa-empregado). A aprendizagem empresária, como o próprio nome já diz, é patrocinada pelas empresas e objetiva dar treinamento aos alunos que estão empregados. A aprendizagem escolar se realiza em estabelecimentos de ensino, ou em ambientes com eles conveniados, e visa o treinamento de jovens que ainda não estão inseridos no mercado de trabalho. É na aprendizagem escolar que estão inseridos, portanto, os contratos de estágio.

Neste capítulo, é analisada a dogmática da Lei 6.494/77 – Lei de Estágio – e demais normativos conexos, buscando-se apresentar a natureza jurídica do instituto, os requisitos formais e materiais de contratação, as partes envolvidas e suas responsabilidades, os pontos e contrapontos do aprendizado. Também são apresentados os projetos de lei que estão em andamento visando modificar a Lei Especial.