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2.4 As partes envolvidas e suas responsabilidades

2.4.4 Agentes de integração

A Lei n. 6.494/77 não cogita de qualquer espécie de intermediação entre a instituição de ensino, a entidade concedente e o estagiário. Contudo, o Regulamento contido no Decreto n. 87.497/82, no artigo 7º, abriu a possibilidade de intervenção de

158 CAMINO. Op. cit., p. 628. 159 Idem, Ibidem, p. 630.

um quarto sujeito na relação jurídica já tão complexa, que são os chamados agentes de integração.160

Muito já se discutiu na doutrina sobre os aspectos legais desse dispositivo regulamentador, já que possibilitou a inserção de um quarto agente nas relações de estágio que nem mesmo a Lei especial previu. Todavia, o entendimento predominante foi por desconsiderar a disposição contra legem, pois assim como a Lei não previu, também não houve qualquer proibição nesse sentido.

Os agentes de integração são pessoas jurídicas de direito público ou privado que estão habilitadas pelo Regulamento para identificar para a instituição de ensino as oportunidades de estágios curriculares junto às entidades concedentes. Dentre suas funções estão a de facilitar o ajuste das condições, prestar serviços administrativos de cadastramento de estudantes e campos de oportunidades para realização do aprendizado, intermediar o pagamento e repasse das bolsas de auxílio mencionadas no artigo 4º da Lei n. 6.494/77 e co-participar, com a instituição de ensino, no esforço de captação de recursos para viabilizar os estágios. Constitui-se, portanto, de um serviço de apoio à escola.

Atualmente, as atividades desenvolvidas pelos agentes de integração estão fortemente concentradas no CIEE, entidade de direito privado, de abrangência nacional e declarada, segundo Camino, “de utilidade pública”,161 embora isso não exclua a

participação de outros agentes que, somados, também representam parcela expressiva na colocação de alunos na prática de estágios.

Em tese, o agente de integração não participa da relação jurídica tripartite entre estudante, escola e entidade concedente, mas auxilia na obtenção de condições aptas

160 Dec. 87.497/82. Art. 7º. “A instituição de ensino poderá recorrer aos serviços de agentes de integração públicos e privados, entre os sistemas de ensino e os setores de produção, serviços, comunidade e governo, mediante condições acordadas em instrumento jurídico adequado.

Parágrafo único: Os agentes de integração mencionados neste artigo atuarão com a finalidade de: a) identificar para a instituição de ensino as oportunidades de estágios curriculares junto a pessoas jurídicas de direito público e privado;

b) facilitar o ajuste das condições de estágios curriculares, a constarem do instrumento jurídico mencionado no artigo 5º;

c) prestar serviços administrativos de cadastramento de estudantes, campos e oportunidades de estágios curriculares, bem como a execução do pagamento de bolsas, e outros solicitados pela instituição de ensino;

d) co-participar, com a instituição de ensino, no esforço de captação de recursos para viabilizar estágios curriculares”.

à realização do estágio, tanto no setor privado quanto nos órgãos da administração pública.

Para que os agentes de integração cumpram seu papel disposto no Regulamento, o caput do artigo 7º do Decreto n. 87.497/82 exige “instrumento jurídico adequado”, entre eles e a instituição de ensino, no qual serão especificadas as condições acordadas, que Cortez exemplifica como “operações de recrutamento, seleção, acompanhamento, orientação, captação de vagas, cadastramento de alunos e demais providências administrativas necessárias à realização do estágio”.162

Como já comentado, os agentes de integração costumam atuar nas modalidades de estágio não obrigatório e, para tanto, têm atribuições delegadas pelas instituições de ensino mediante contratos previamente formalizados.

Considerando que a responsabilidade pelo desenvolvimento do estágio permanece imputada à escola, não se pode supor que as operações de recrutamento e seleção dos alunos, ou mesmo o credenciamento de concedentes, estejam ao arbítrio exclusivo dos agentes de integração, quando contratados para tais atividades. Parece mais correto deduzir que será a própria instituição de ensino quem determinará os requisitos para a formalização dos Termos de Compromisso de estágio, como, por exemplo, o nível em que deve se encontrar o aluno dentro do curso ou a espécie de atividade desenvolvida pelo concedente para que sejam atingidos os objetivos do aprendizado.

Todavia, o grande número de contratações de estágio realizado pelos agentes de integração acabou transferindo, na prática, a administração e fiscalização dos contratos a essas entidades intermediadoras. É o próprio costume a dar caráter de regularidade aos procedimentos realizados de forma independente pelos agentes de integração, tais como a liberdade em recrutar alunos em qualquer nível de aprendizado dentro dos cursos autorizados ou, ainda mais preocupante, a autonomia no acompanhamento e fiscalização do estágio, que costuma se dar mediante relatórios que são preenchidos pelos próprios alunos e concedentes de forma excessivamente objetiva. Nesse contexto, a instituição de ensino participa da relação jurídica, e assina o Termo de Compromisso, muito mais com o propósito de atestar a matrícula do aluno no 162 CORTEZ. Op. cit., p. 41.

curso do que prestar acompanhamento e avaliar a efetividade do aprendizado. Nesse aspecto, configura-se urgente a necessidade de revisão de tais procedimentos.

O trabalho realizado pelos agentes de integração, assim como aqueles implementados diretamente pela instituição de ensino, não poderá ser cobrado do estagiário, conforme determinado no artigo 10º do Regulamento163, mas a Lei não

proíbe, contudo, que seja remunerado com taxas pagas pelas próprias entidades concedentes. Isso é o que ocorre na quase totalidade dos contratos de estágio, nos quais as empresas remuneram mensalmente os agentes com um percentual aproximado de 15% a 20% sobre o valor da bolsa, enquanto durar o estágio.164

Considerando que os agentes de integração, via de regra, são entidades não- governamentais que subsistem às expensas das próprias entidades concedentes, não há como se pretender ou exigir que disponham de mecanismos, ou até de interesses, eficazes para coibir eventuais desvirtuamentos nos contratos. Daí a necessidade de uma regulamentação mais adequada a essa espécie de contratação.