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A parte final do artigo 4º da Lei n. 6.494/77 estabelece a exigência do estudante, em qualquer hipótese, estar segurado contra acidentes pessoais.178 Por sua vez, a

versão original do Decreto regulamentador n. 87.497/82 determinava, em seu artigo 8º, que a instituição de ensino, diretamente ou por meio de atuação conjunta com agentes de integração, deveria providenciar seguro contra acidentes pessoais em favor do estudante.179

Os dispositivos legais acima, como visto, preceituaram o dever de o estudante estar amparado com seguro contra acidentes pessoais. Entretanto, não determinaram o valor do seguro e nem de quem seria a responsabilidade por seu pagamento, o que ensejou algumas discussões doutrinárias sobre o assunto.

O que havia sido proposto anteriormente deixava mais clara a matéria, determinando que a responsabilidade pela contratação do seguro era da entidade concedente. Nesse sentido, a Portaria n. 1.002/67 preceituava no art. 2º, “c”, “a obrigação da empresa de fazer, para os bolsistas, seguro de acidentes pessoais ocorridos no local de estágio”. Também o Projeto de Lei n. 249-A/1971, já referido neste estudo, trazia a mesma disposição em seu artigo 2º, assim como outros projetos de regulamentação apresentados. Quanto ao estágio nos órgãos públicos, Cortez comenta que a Instrução Normativa n. DASP-52, de 31 de março de 1976, que disciplinava a execução do Decreto n. 75.778/75, também já comentado, previa, no item 6.1, a obrigatoriedade das entidades em contratar o seguro.180

Parte da controvérsia somente foi solucionada com a assinatura do Decreto n. 2.080, de 26 de novembro de 1996, que deu nova redação ao artigo 8º do Regulamento 178 Lei n. 6.494/77. Art. 4º. “O estágio não cria vínculo empregatício de qualquer natureza e o estagiário

poderá receber bolsa, ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, ressalvado o que dispuser a legislação previdenciária, devendo o estudante, em qualquer hipótese, estar segurado contra acidentes pessoais”.

179 Decreto 87.497/82. Art. 8º. “A instituição de ensino, diretamente, ou através de ação conjunta com os

agentes de integração, referidos no caput do artigo anterior, providenciará seguro de acidentes pessoais em favor do estudante”.

180 Instrução Normativa n. DASP-52/76, item 6.1. “Os Ministérios, Órgãos integrantes da Presidência da

República, Órgãos Autônomos ou Autarquias Federais, onde se realizar o estágio, farão, obrigatoriamente, para os estagiários, seguro de acidentes pessoais que tenham como causa o desempenho das atividades decorrentes do estágio”. In: CORTEZ. Op, cit., p. 32.

acima citado para imputar responsabilidade solidária à entidade concedente na contratação do seguro prescrito na Lei.181

Assim, é correto afirmar-se que o seguro é obrigatório e sua contratação poderá ser feita tanto pela instituição de ensino como pela entidade pública ou privada concedente do estágio, diretamente ou por meio de atuação conjunta com os agentes de integração.

O Parecer do Conselho Nacional de Educação n. CNE/CEB 35/2003, de 05 de novembro de 2003, ao dispor sobre a organização do estágio no ensino médio e educação profissional, refere que o seguro deve ser providenciado pela escola, com eventual cooperação do órgão de mediação entre a empresa e a escola, ou pelo contratante do estágio, mediante acordo específico com a entidade educacional. Também poderá ser providenciado por um gestor da rede de ensino como, por exemplo, uma Secretaria Estadual ou Municipal de Educação. Assim já entendia ser possível Cortez, quando defendeu, em 1984, a possibilidade do seguro ser pago por “um terceiro interessado em custeá-lo”.182 Na prática, a contratação do seguro tem

mesmo ficado sob a responsabilidade do concedente do estágio.

O mesmo Parecer defende que, no caso da atividade de estágio supervisionado envolver terceiros, como por exemplo, “enfermagem, estética corporal, podologia, cabeleireiro e outros similares”, é necessário, também, que a escola ou o concedente providencie aos alunos o correspondente seguro de responsabilidade civil por danos contra terceiros.

A legislação nada prescreve quanto ao valor das apólices de seguro, tendo a matéria recebido tratamento na Resolução CNE/CEB n. 1, de 21 de janeiro de 2004, originada do Parecer acima citado. O parágrafo 8º do artigo 6º da Resolução determina que “o valor das apólices de seguro retro-mencionadas deverá se basear em valores de mercado, sendo as mesmas consideradas nulas quando apresentarem valores meramente simbólicos”.183

181 Decreto n. 2.080/96. Art. 1º. “O art. 8º do Decreto n. 87.497, de 18 de agosto de 1982, passa a vigorar

com a seguinte redação: ‘Art. 8º: A instituição de ensino ou a entidade pública ou privada concedente da oportunidade de estágio curricular, diretamente ou através da atuação conjunta com agentes de integração, referidos no caput do artigo anterior, providenciará seguro de acidentes pessoais em favor do estudante’.”

No que diz respeito ao estágio do estudante menor de dezoito anos, a doutrina tem se posicionado no sentido de que sejam observadas as recomendações contidas no artigo 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), especialmente no que diz respeito à vedação do trabalho noturno, perigoso, insalubre ou penoso. Nessas situações, Camino comenta que

o estudante não se enquadra no conceito de trabalhador. Portanto, em princípio, não está abarcado pela rede de proteção da legislação do trabalho, nem pela vedação contida no inciso XXXIII do art. 7º da CF/88. Parece-nos, contudo, que, em tais casos, o estágio profissional é inviável, não diante da vedação da natureza trabalhista, mas diante da norma expressa no art. 67, incisos I e II, da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).184

Esses aspectos, portanto, deverão também ser observados pela instituição de ensino ao planejar os programas de estágio, especialmente quando se tratar de alunos de nível médio que, a teor do artigo 69 do ECA, têm o direito à profissionalização desde que esta respeite sua condição peculiar de “pessoa em desenvolvimento”.

Outro aspecto a ser considerado é o de que o estagiário não goza dos benefícios e dos serviços da Previdência Social, quer dizer, não é segurado obrigatório da Previdência Social. Nada impede, contudo, que o estudante se filie facultativamente ao Regime Geral de Previdência Social.

Cabe destacar, no entanto, que em 24 de junho de 1982 havia sido promulgada a Lei n. 7.004, que instituiu o Programa de Previdência Social para estudantes. A Lei era especial e aplicava-se somente a quem estudasse sem trabalhar, alcançando, portanto, o estagiário, mas não se aplicando ao aprendiz, por ser empregado.185 Os

estagiários podiam ser incluídos como segurados facultativos da Previdência, mediante

183 Segundo Juscelindo dos Santos, o seguro, com vigência igual ao Termo de Compromisso, cobrirá apenas o horário do estágio, incluindo os deslocamentos. A importância segurada varia em torno de R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00. Os riscos cobertos são: morte acidental, invalidez total ou parcial. “Deve-se ressaltar que não são cobertas, em qualquer hipótese, despesas médicas, ambulatoriais ou hospitalares”. (SANTOS, 2006. Op. cit., p. 85).

184 CAMINO. Op. cit., p. 631.

185 Lei n. 7.004/82. Art. 2º. “Considera-se estudantes, para os efeitos desta Lei, aquele ainda não incluído

entre os segurados obrigatórios da Previdência Social e que esteja matriculado em estabelecimento de

ensino de 1º e 2º Graus, em cursos universitários ou de formação profissional severamente reconhecidos ou autorizados pelos competentes órgãos ao Poder Executivo Federal ou Estadual”.

a contribuição de 8,5% do salário mínimo regional, que era devida pelo estudante mas poderia ser custeada pelo concedente.

A Lei especial estipulava que a adesão do estudante ao Programa de Previdência garantia-lhe, após a carência de 12 meses de contribuição, os seguintes benefícios: a) auxílio invalidez equivalente a 50% do salário mínimo, mensalmente, caso o estudante fosse vítima de enfermidade ou lesão que o incapacitasse totalmente para a atividade estudantil ou laboral; b) pensão mensal equivalente a 50% do salário mínimo concedida pela morte do pai ou responsável pela manutenção dos estudos, devida até o término do curso ou ingresso em atividade laboral; c) pecúlio por morte no valor de 2 salários mínimos, pagos em parcela única por ocasião da morte do pai ou responsável. Alguns serviços também eram disponibilizados ao estudante, após carência de 6 meses de contribuição, como assistência médica e reabilitação, nas mesmas bases e condições vigentes para os segurados da Previdência Social em geral. Não previa, contudo, o benefício da aposentadoria por tempo de contribuição.

A Lei n. 7.004/82 foi expressamente revogada pela Lei Geral de Benefícios da Previdência Social n. 8.213, de 24 de julho de 1991, deixando uma lacuna em termos de proteção social concedida, de forma especial, ao estudante.