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Segundo Sérgio Pinto Martins, “a Seguridade Social engloba um conceito amplo, abrangente, universal, destinado a todos que dela necessitem, desde que haja previsão na lei sobre determinado evento a ser coberto”.294

É, na verdade, o gênero do qual são espécies a Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde.

A Assistência Social tem seu fundamento no artigo 6º da CF/88 e irá tratar de atender os hipossuficientes, destinando os benefícios a pessoas que, via de regra, nunca contribuíram para o sistema. Visa a proteção da família, maternidade, infância, adolescência, velhice, alcançando, também, pessoas portadoras de deficiência.

A Saúde, também arrolada entre os direitos sociais do artigo 6º da CF/88, pretende oferecer uma política social e econômica destinada a reduzir riscos de doenças e outros agravos, proporcionando ações e serviços para a proteção e recuperação do indivíduo. Esses serviços permitem acesso universal e igualitário, como garantia da inviolabilidade dos direitos à vida e à igualdade previstos no artigo 5º da CF/88, independentemente de contribuição, através de suas redes integradas em sistema único.

Diferentemente da Assistência Social e da Saúde, a Previdência Social pressupõe a contribuição do segurado para que lhe sejam concedidos benefícios.

servidores públicos. Cite-se, como exemplo, o Edital publicado no Jornal O Estado de S. Paulo e divulgado no site <http://conjur.estadao.com.br/static>, em 23 fev. 2007, que torna público o I Concurso

Público de Provas e Títulos para Seleção de Estagiários de Direito da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. (Sublinhe-se, como já comentado, que os estágios relacionados aos estudantes do curso de

Direito podem estar amparados por legislação especial e própria do Estatuto da OAB, mas eles não deixam de se submeter aos objetivos da lei geral, exceto quanto aos requisitos formais de contratação). No edital de 95 itens e 13 laudas consta que a seleção será feita pelo concurso de provas e títulos. Para a prova objetiva, de caráter eliminatório, os alunos deverão demonstrar conhecimentos de Direito Penal, Processual Penal, Civil, Processual Civil e Constitucional. Segundo o edital, os títulos a serem reconhecidos são o diploma de graduação, ou de mestrado, ou de doutorado ou certificado de especialização em ciências humanas. Um outro exemplo foi encontrado no site do TRE do Estado do Piauí, que divulgou o Edital do 2º processo seletivo de estagiários do TRE/PI, do ano de 2005. Pelo edital, estavam sendo selecionados estagiários dos cursos de Direito, Administração, Ciências Contábeis, Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, Informática e Comunicação Social, além de alunos do ensino médio profissionalizante e dos cursos Técnico em Administração e Técnico em Informática.

A contribuição é, portanto, requisito essencial à concessão dos benefícios previdenciários, na medida em que as pessoas contribuem obrigatoriamente na busca de uma garantia, uma proteção na eventualidade de um infortúnio, como doenças ou incapacidades para o trabalho, ou para fins de obter sua aposentadoria, que também são direitos constitucionais sociais arrolados no artigo 7º da CF/88, que trata dos direitos dos trabalhadores. Distingue-se, portanto, da Assistência Social em razão desta ser não-contributiva e restrita aos necessitados.295

Ademais, o segurado não contribui somente para si, mas para manter toda o sistema de seguridade, como ilustra Marina Vasques Duarte:

Sem dúvida, prevalece no nosso sistema atual brasileiro a repartição, e não a capitalização. E isso pode ser constatado no dispositivo 195, inciso II, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual a Seguridade Social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além das contribuições sociais dos empregadores, dos trabalhadores e sobre a receita de concursos e prognósticos.296

Como se vê, o trabalhador financia não somente a sua previdência, mas a Seguridade Social como um todo, que compreende um conjunto integrado de ações dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à Saúde, à Assistência Social e à Previdência, para toda a população brasileira.

Já se falou que o estagiário não é segurado obrigatório da Previdência Social e, por isso, não goza dos benefícios e dos serviços previdenciários. Contudo, não há impedimentos à filiação facultativa do estudante. Neste caso, para obter os mesmos benefícios a que fazem jus os contribuintes obrigatórios (dentre eles os formalmente empregados), o estagiário tem de contribuir com a alíquota de 20% sobre o salário base, enquanto que para aqueles a alíquota não passa de 11%.297

295 As normas que regem os planos de custeio e benefícios da Previdência Social estão contidas nas Leis

n. 8.212/91 e 8.213/91.

296 DUARTE, Marina Vasques. Desaposentação e revisão do benefício no RGPS. In: ROCHA, Daniel Machado (Org.). Temas Atuais de Direito Previdenciário e Assistência Social. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 76.

297 Lei n. 8.212/91. Art. 21. “A alíquota de contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo

será de vinte por cento sobre o respectivo salário-de-contribuição. (Redação dada pela Lei n. 9.876, de

Recentemente, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia que criou o Fórum Nacional da Previdência Social, assinou o Decreto n. 6.042, de 12 de fevereiro de 2007, publicado no DOU de 13.02.2007, que leva o nome de Plano

Simplificado de Inclusão Previdenciária, dedicado a contribuintes que não estejam

exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da Previdência Social, dentre eles o estagiário.

O Plano prevê a redução da alíquota de contribuição previdenciária para contribuintes individuais e facultativos, especificamente, dos atuais 20% da remuneração mensal do trabalhador, para 11% do salário mínimo. Com essa contribuição, o segurado faz jus aos benefícios oferecidos pela Previdência Social, desde que faça expressa opção pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição.298

Cabe sublinhar que o instituto do estágio nasceu para os fins didático- pedagógicos, deixando expresso na Lei que não se trata de relação de emprego. Assim considerado, parece mais prudente se pensar que qualquer espécie de benefício assistencial vinculado ao instituto, ou a estudantes de modo geral, devesse ser criado por lei especial, como é a do estágio, que observasse seus parcos rendimentos e que atendesse às necessidades próprias da categoria, a exemplo do que já existiu na Lei n. 7.004/82, hoje revogada.

Considerando que a maioria dos benefícios exigem carências de tempo de contribuição que não se compatibilizam com a média de tempo dos estágios, e que muitos, em tese, não se mostram necessários ao pressuposto vigor dos jovens, é sintomático que tal redução será inócua para atrair, voluntariamente, a adesão dos estagiários, especialmente porque, para tanto, deverá abrir mão do único benefício que, de fato, lhe poderia soar atraente.

Considerando que não raro, “para não dizer em regra”, como refere Camino299, o

contrato de estágio tem-se constituído em instrumento de burla à legislação trabalhista, a lesão aos direitos do estagiário, no que diz respeito à seguridade e previdência, se mostra evidente.

298 Decreto n. 6.042/2007, que altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999.

Note-se que além de não usufruir dos direitos e garantias trabalhistas previstos na Constituição Federal e também na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, o estagiário também deixa de contribuir para o Regime Geral de Previdência com uma alíquota muito inferior, que é privativa dos segurados obrigatórios. Fosse ele reconhecido como empregado, de fato e de direito, estaria contribuindo com uma alíquota variável, de acordo com o salário recebido, entre o mínimo de 7,65%, para um salário de contribuição de até R$ 840,55, e máximo de 11%, para salários acima de R$ 1.400,92, fazendo jus a todos os benefícios garantidos em lei.

Por certo, há de se pensar que também o poder público e a sociedade de modo geral colhem as conseqüências dessa burla, uma vez que a contribuição suprimida é justamente aquela da qual se nutre boa parte do sistema de seguridade social solidária do país.

Possivelmente, foi essa constatação, especificamente, que levou a administração pública, antes mesmo de pensar em coibir tais abusos, a assinar o Decreto n. 3.048, em 06 de maio de 1999, que em seu artigo 9º, inciso I, alínea “h” afirma que é segurado

obrigatório da previdência social, como empregado, “o bolsista e o estagiário que

prestam serviços a empresa, em desacordo com a Lei n. 6.494, de 7 de dezembro de 1977”. Quer dizer, onde se esperava, e ainda se espera, uma ação estatal diligente na garantia dos direitos do estagiário, observou-se, sim, a astúcia de um Estado oportunista que, mesmo na burla, tratou de garantir os seus próprios direitos arrecadatórios.