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A LINGUAGEM AUDIOVISUAL COMO MÍDIA EDUCACIONAL

Dados mais recentes da GlobalWebIndex mostram que mais de 4 bilhões de pessoas em todo o mundo assistem a conteúdo de vídeo on-line todo mês, o que equivale a mais da metade da população total do mundo. Os vlogs são particularmente populares, com mais de 2 bilhões de pessoas sintonizadas para assistir aos seus influenciadores favoritos. (WE ARE SOCIAL, 2019).

Segundo a UNESCO (2014), pela primeira vez na história, existem mais telefones celulares e tablets do que pessoas no planeta. A sua utilidade, facilidade e custo baixo possui potencial para expandir as oportunidades educacionais dos estudantes, inclusive em áreas onde os recursos educacionais tradicionais são escassos. A democratização do aceso aos dispositivos móveis fez surgir na escola um novo fenômeno que é o uso do celular para fins educacionais.

De posse do aparelho na mão e durante a aula o aluno pode conversar com outros alunos da sala e fora dela, ver vídeos curtos, checar redes sociais e sites de notícias, mas também pode fazer uma pesquisa para tirar dúvidas ou contribuir com o assunto que está sendo discutido em sala. A forma como esse uso se dará será determinada pela concepção de TE que tanto aluno quanto professor apresentam. Desse modo, se por um lado o uso de

58 celulares em sala de aula pode ser uma barreira; por outro lado, pode se tornar um importante instrumento para que haja uma aprendizagem eficaz por parte do aluno, que terá maior disposição em assistir as aulas de forma mais interessada e participativa.

Quando os estudantes utilizam as tecnologias móveis para realizar tarefas rápidas ou que exigem mera memorização, como ouvir uma aula expositiva ou decorar informações em casa, eles têm mais tempo para discutir ideias, compartilhar interpretações alternativas, trabalhar em grupo e participar de atividades de laboratório, na escola ou em outros centros de aprendizagem. Ao contrário do que se pensa, a aprendizagem móvel não aumenta o isolamento, mas pode oferecer às pessoas mais oportunidades para cultivar habilidades complexas exigidas para se trabalhar de forma produtiva com terceiros (UNESCO, 2014, p. 18).

Na sociedade contemporânea “o visual” e a “mídia” desempenham papéis importantes na vida social, política e econômica (LOIZO, 2007). A escola é considerada por muitos um retrato da sociedade em dimensões miniaturizadas, mas em igual nível de complexidade das relações sociais, das benesses e das mazelas que compõem nosso organismo social. Por isso, não pode se afastar da influência da tecnologia.

A sociedade contemporânea é sobremaneira visual e audiovisual. Esses são os códigos de nosso tempo e que estão presentes na forma como nos comunicamos, relacionamo-nos com os outros, informamo-nos, criamos nossos contratos sociais condizentes com o modo capitalista de consumo. O recurso audiovisual oferece um registro poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais – concretos, materiais (LOIZO, 2007).

Para Loizo (2007), o vídeo tem a função óbvia de registro de dados sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivamente por um único observador, enquanto ele se desenrola. O vídeo é hoje o recurso em evidência. É a forma mais comumente utilizada para expressar opiniões, apoio, desagrado, defender uma causa, fazer carreira profissional, ver e ser visto pelo mundo.

[…] sensorial, visual, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí a sua força. Nos atingem por todos os sentidos e de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa entretém, projeta em outras realidades (no imaginário) em outros tempos e espaços. O vídeo combina a comunicação sensorial – cinética, com a áudio visual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. Combina, mas começas pelo sensorial, pelo emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional (MORAN, 1995, p. 27).

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O uso dos recursos audiovisuais na educação deve ser praticado de forma criteriosa, intencional e crítica, condizente com os conteúdos curriculares abordados e de modo que esteja adequado aos objetivos de aprendizagem propostos. Professores e alunos não podem perceber os recursos como substitutos ao papel desempenhado pelo professor em sala de aula, tampouco o professor deve supervalorizar as TDIC como estratégia única e suficiente para a promoção da aprendizagem. Loizo (2007) elenca alguns pontos práticos e de procedimentos a serem utilizados por professores e pesquisadores na produção de vídeos como recurso documental e audiovisual:

● Registrar com detalhes de título, data, local, pessoas e tempo de gravação no momento da finalização de cada gravação para facilitar posterior localização e uso; ● Armazenar o vídeo original em instrumentos de armazenamento de memória digital

como pen-drives ou computador pessoal, com o cuidado de fazer cópias extras para prevenir danos, extravios ou perdas;

● Cuidado com o uso de imagens de crianças ou adolescentes gravadas em locais e ambientes públicos;

● Garanta que os participantes do vídeo sejam informados por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos objetivos, finalidades de produção e reprodução do material produzido;

● Prestar a devida atenção à qualidade da imagem e som do material produzido; ● Não se deixar seduzir pelas funcionalidades e facilidades dos recursos tecnológicos,

de modo a dar mais visibilidade à técnica em detrimento do conteúdo;

● Examinar seriamente as gravações realizadas de modo a garantir que o material produzido tenha qualidade técnica e de conteúdo, vindo a tornar-se um produto de conhecimento passível de ser utilizado como fonte de pesquisa em momentos futuros.

Todas as produções de vídeos podem provocar reflexão, bem como o debate tanto sobre técnicas, como sobre conteúdo. O exercício de sistematizar saberes da tradição com novos saberes, recém-construídos, encaminha os alunos a uma formação crítica e sólida. Todas as etapas descritas acima influenciam no projeto de conceder voz aos alunos por meio das produções audiovisuais. O conhecimento permite a transformação e manutenção

60 das raízes culturais da Comunidade Quilombola de Coqueiros, com o olhar das inovadoras e criativas crianças. Esse contexto favorece experiências significativas pois permeiam o sentimento e o imaginário ao mesmo tempo em que se apropriam das tecnologias e se tornam produtoras críticas de conteúdo.