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AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E SUAS POTENCIALIDADES

A presença da tecnologia digital na sociedade contemporânea é uma realidade incontestável. Com a evolução dos suportes, dos recursos e das funcionalidades, os instrumentos tecnológicos foram sendo criados, adaptados e readaptados aos usos científicos, comerciais, estratégicos, comunicacionais e, em particular, educacionais. Com a popularização do acesso, o modo como os indivíduos relacionam-se com a tecnologia sofreu alterações.

Os recursos tecnológicos presentes na escola moderna resumiam-se, até bem pouco tempo, ao quadro negro ou branco, ao projetor de imagens estáticas por meio das transparências, mais recentemente os projetores digitais, os computadores alocados nos laboratórios de informática e setores administrativos. O livro didático era a fonte principal de aprendizagem dos alunos. O ensino regular e gradativo, o livro como fonte de informação, pesquisa, leitura e prática, e, por fim, o professor como detentor da informação a ser repassada aos alunos, sem estratégias que possibilitassem a formação crítica e cidadã.

Essa situação não mais se sustenta, uma vez que, o aluno tem hoje acesso facilitado a uma rede interconectada de informações sobre quaisquer fenômenos, assunto, dúvida ou questionamento que deseje esclarecer ao alcance de sua mão e apenas ao deslizar dos dedos. Mas ainda é papel da escola formar o pensamento crítico do aluno, de modo que ele possa exercer plenamente a sua cidadania. Diferentemente das gerações passadas que tinham pouco ou nenhum conhecimento a respeito dos recursos tecnológicos existentes, atualmente, crianças e jovens, chamados nativos digitais (PRENSKY, 2001), possuem grande familiaridade com as tecnologias existentes, dominam seu manuseio e conseguem torná-la um instrumento utilizado para diversos fins como informar-se, comunicar-se, divertir-se. No entanto, para que o potencial tecnológico seja utilizado de modo a construir aprendizagens mais significativas, é necessário que o professor desenvolva estratégias didático-pedagógicas adequadas.

Para compreender as relações estabelecidas entre a tecnologia e a educação, bem como o arcabouço teórico da Tecnologia Educacional (TE) como um campo de estudos e pesquisas, de natureza interdisciplinar que se caracteriza pela influência pedagógica e educacional sobre os recursos tecnológicos, com vistas a potencializar o ensino e

55 maximizar a aprendizagem, Candau (2006) estabelece três concepções as quais considera as três grandes tendências na evolução das TE. A TE como conceito centrado no meio, no processo e como estratégia de inovação.

Aplicação sistemática em educação de princípios científicos oriundos da teoria da comunicação, psicologia experimental de percepção, cibernética, etc.; o conjunto de materiais e equipamentos mecânicos ou eletromecânicos empregados para fins de ensino (projetores, gravadores, transparências, laboratórios de línguas, etc.); ensino em massa (uso de meios de comunicação de massa em educação); um sistema homem/máquina (CANDAU, 2006, p. 63).

Desse conceito descrito pela autora, ressalta-se a influência de áreas centrais no cerne da TE como a psicologia, a comunicação e a cibernética, assim como a aplicação sistemática desses princípios na criação de materiais a serem utilizados em situações de ensino com o propósito de promover a interação entre o homem e a máquina. A partir desse conceito, podemos compreender que a TE é regida por princípios basilares que vão além da técnica pela técnica, uma vez que consideram a subjetividade e a necessidade inata de comunicação humana, aplicando-os à lógica das estruturas de sistemas reguladores na construção de equipamentos, técnicas e recursos audiovisuais voltados ao ensino.

A segunda tendência abordada por Candau (2006) concebe a TE como um processo. Nela, os princípios behavioristas orientavam os pesquisadores e o interesse estava em perceber como os indivíduos respondiam aos estímulos da tecnologia. Buscava-se criar recursos tecnológicos que tornassem a aprendizagem pela instrução mais efetiva e com índices de resultados mais expressivos.

Uma forma sistemática de planejar, implementar e avaliar o processo total de aprendizagem e de instrução em termos de objetivos específicos, baseados nas pesquisas sobre aprendizagem humana e comunicação, congregando recursos humanos e materiais, de maneira a tornar a instrução mais efetiva (COMISSÃO SOBRE TECNOLOGIA INSTRUCIONAL, 1970 apud CANDAU, 2006, p. 63).

Entretanto, esse tipo de abordagem na relação homem-máquina mostrou-se pouco eficaz, uma vez que a necessidade de formação para o pensamento crítico tornou-se fundamental na prática educativa. Um exemplo clássico da TE como processo pode ser visto na substituição do antigo quadro negro da sala de aula pelo projetor digital, ou a transposição do livro didático para o livro digital. Juntos, recursos humanos e materiais,

56 mudavam as tecnologias, mas não mudavam o modo de uso, ou seja, o aprendizado podia se tornar mais eficaz, porém, permanecia a educação bancária.

A terceira e última tendência abordada por Candau (2006) concebe a TE como estratégia de inovação, por entender que os recursos tecnológicos criados para fins educacionais não podem estar resumidos à informatização das velhas práticas. É necessária uma mudança de postura, mentalidade, concepção, abordagem, comportamento e, principalmente, de atitude, para inovar a prática educativa.

Inovação no campo educacional por meio da viabilização de novas teorias, conceitos, ideias, técnicas ou aplicações enquanto processo de aprendizagem que proporcionem mudanças na essência do processo educativo e das práticas existentes e o consequente aumento qualitativo do rendimento educacional dos alunos (CANDAU, 2006). Inovação não se restringe à novidade, não pode caracterizar-se pela efemeridade, nem tão pouco pela utilização apenas por parte de uma minoria privilegiada. A inovação no contexto da TE deve ser entendida como um processo de mudança crítica, intencional, planejada, aplicada e replicada em larga escala para facilitar as atividades vinculadas ao ensino e à aprendizagem.

A TE, na perspectiva da estratégia de inovação, fundamenta-se em uma opção filosófica centrada no desenvolvimento integral do homem, inserido na dinâmica da transformação social, concretiza-se pela aplicação de novas teorias, princípios, conceitos e técnicas num esforço permanente de renovação da educação (ABTE, 1982 apud SAMPAIO, 1999). O uso da TE configurou-se como uma importante ferramenta na consolidação do ensino em massa, uma vez que ajudou a construir esquemas e métodos mais produtivos de ensino, orientou a distribuição dos recursos de forma eficiente, proporcionou a expansão rápida do ensino com o surgimento da modalidade a distância, propôs um uso mais criativo da internet e contribuiu sobremaneira com o ensino e a aprendizagem, uma vez que possibilitou sistematização das atividades, planejamentos mais flexíveis e implementação de novas formas de avaliação.

Do mesmo modo que a TE não pode ser vista apenas em suas possibilidades negativas como uma intrusa ou como elemento de dispersão de foco educativo por alunos e professores, seu manuseio e uso precedem elementos de uso crítico, e não somente técnico. O professor deve usar a TE em sala de aula de forma vinculada ao conteúdo, ao método e aos objetivos de aprendizagem. O aluno, por sua vez, deve compreender o papel da TE no

57 seu processo educativo e não privilegiar a técnica em detrimento do conteúdo. Só assim professores e alunos conseguirão aumentar qualitativamente o rendimento educacional.

Cada professor deve buscar a forma mais adequada para integrar os vários recursos tecnológicos no seu planejamento, observando que estes devem ser usados respeitando a natureza dos conteúdos e os objetivos de aprendizagem. O foco da aprendizagem deve se manter na utilização de informações atualizadas, disponibilizadas de forma organizada e significativa que possam vir a ajudar na construção de conhecimento dos alunos.

Nessa perspectiva, a mediação do professor se faz necessária no sentido de oferecer ao aluno oportunidades de construção significativa de conhecimentos que estão atrelados à atual conjuntura social, promovendo a utilização das tecnologias informáticas como instrumentos auxiliares da prática pedagógica com o objetivo de promover interação, cooperação, comunicação e motivação a fim de diversificar e potencializar as relações inter e intrapessoais mediante situações problematizadoras, que venham a dar um novo sentido ao processo de aprendizagem.