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ALINHAMENTO DOS OBJETIVOS DA PESQUISA AOS RESULTADOS

Com vistas à consecução dos objetivos específicos da pesquisa, delimitou-se um conjunto de procedimentos previamente descritos no capítulo da Metodologia, e mais especificamente no tópico 2.3, no qual foram apresentadas as etapas da pesquisa. A partir de agora serão discutidos os seguintes aspectos:

● Relato sobre aplicação dos instrumentos; ● Apresentação dos dados coletados;

● Análise e discussão dos resultados alcançados com base no referencial teórico desta investigação;

● Apresentação do produto final, Sequência Didática.

Para buscar alcançar com êxito o objetivo específico, que visa “identificar os elementos constitutivos da sequência didática”, foi realizado um levantamento bibliográfico no sentido de identificar os elementos básicos de composição da sequência didática, realizada uma análise desses elementos em consonância com os preceitos da metodologia do tema de pesquisa, da metacognição e sua aplicabilidade na produção de vídeos.

No que se refere ao objetivo específico “definir os parâmetros formativos voltados para o domínio mínimo da linguagem audiovisual por parte dos alunos”, utilizou-se da estratégia de produção de vídeo livre, análise dos produtos dessa atividade com vistas a identificar quais competências os alunos precisavam desenvolver para conseguir compreender e aplicar a linguagem audiovisual com fins de aprendizagem e atendendo minimamente a critérios técnicos de qualidade. Por conseguinte, foi realizada uma oficina

70 intitulada “Registro em Movimento” na qual os alunos puderam aprender um pouco mais sobre produção e edição dos vídeos e a produção do vídeo final e pôr em prática os conhecimentos adquiridos na oficina.

Para finalizar, precisávamos verificar se o processo metacognitivo havia sido consolidado com êxito pelos alunos, ou seja, precisávamos avaliar se estes haviam realmente conseguido alcançar aprendizagens significativas e transmiti-las por meio de suas produções. Para tanto, com relação ao objetivo específico “delimitar critérios avaliativos para produção do vídeo com base na sequência didática e com vistas ao processo de aprendizagem”, foram eleitos como critérios avaliativos a capacidade de foco demonstrada pelos alunos no que diz respeito ao tema específico; a aplicabilidade dos recursos voltados à linguagem audiovisual aprendidos na oficina; e a relação de coesão existente entre os questionamentos iniciais da pesquisa e o conteúdo dos vídeos.

Durante a realização da prática pedagógica na comunidade percebeu-se algumas deficiências educacionais no que se refere ao desempenho escolar dos alunos e de gestão escolar pública relacionada à situação estrutural e de equipamentos tecnológicos na instituição que, embora não sejam alvo de avaliação nesta pesquisa, precisam ser destacados, porque direta ou indiretamente limitaram as possibilidades das práticas aqui realizadas.

Sobre os sujeitos participantes, é importante ressaltar algumas dificuldades iniciais para o desenvolvimento da pesquisa. O trabalho foi realizado com alunos do 4º ano do ensino fundamental e, portanto, a princípio já deveriam estar alfabetizados, uma vez que, de acordo com o Pacto Nacional para Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), o ciclo de alfabetização deve ter a duração de 3 anos, com início previsto para o 1º ano e término e consolidação até o 3º ano do ensino fundamental (BRASIL, 2015).

Entretanto, como nos mostram as pesquisas acerca do tema, a realidade é bem diferente. Os alunos, em sua maioria, não haviam consolidado o processo de alfabetização. Eram exímios copistas, mas não dominavam as habilidades de codificação e decodificação e apresentavam muitas dúvidas no momento que eram solicitados a escrever. Tais dificuldades surgiram mais fortemente no momento em que se precisou levantar os questionamentos iniciais e de forma mais enfática no momento de escrita dos roteiros para a produção dos vídeos.

Para tentar amenizar o impacto de tais dificuldades, durante a realização das atividades foi necessária uma constante mediação da professora auxiliando os alunos na

71 elaboração das questões, na escrita destas nos seus cadernos de registro, como pode ser visto na Figura 1, que apresenta o registro de escrita de dois alunos participantes da pesquisa e no manuseio dos equipamentos utilizados para gravação e edição dos vídeos para que as atividades fossem concluídas de forma satisfatória. Nesse papel de mediadora, exercido por mim, enquanto docente, me cabe a função de “favorecer e construir estratégias que direcionem o aprendiz à sua tarefa, independente dos obstáculos que possa encontrar, trabalhando numa perspectiva de superação, que é inerente ao processo de construção do conhecimento” (BEBER; SILVA; BONFIGLIO, 2014, p. 148).

Fotografia 1 – Registro das escritas dos alunos

Fonte: Acervo pessoal da autora (2020).

Como podemos ver nas fotografias acima, os níveis de domínio da escrita apresentado pelos alunos que estavam matriculados na mesma modalidade e frequentavam a mesma sala de aula são bem distintos. Durante a realização das atividades, os alunos que apresentavam mais facilidade para a escrita também auxiliaram seus colegas.

Subjacente a essa dificuldade veio a constatação de que os alunos desconhecem os gêneros textuais. Esse problema foi verificado inicialmente quando foi sugerido realizarem buscas no dicionário para compreender o significado da palavra “pesquisa”. Os alunos não compreendiam o que seria o termo “pesquisa”, tiveram então de consultar o dicionário para descobrir. Nessa tarefa de consulta também sentiram dificuldade. A pesquisa-ação se

72 depara com barreiras como essa, devendo considerar certo grau de flexibilidade para “sair” um pouco do percurso metodológico antes de dar prosseguimento aos procedimentos.

Nesse momento, portanto, a continuação das atividades foi colocada em suspenso, abrindo um momento durante a aula para apresentar o dicionário aos alunos, mostrando sua organização e manuseio. Essa interrupção do processo e readaptação do planejamento inicial é uma característica da pesquisa-ação que se coloca diretamente em contato com o campo de estudo, devendo prever situações-surpresa como essa.

O mesmo ocorreu quando foi apresentado aos alunos, sujeitos da pesquisa, o gênero roteiro. Muitos deles sequer tinham ouvido falar do termo ou sabiam das suas características. Até mesmo aqueles que já sabiam o que era um roteiro não ligavam esse gênero à produção de vídeos. Nesse momento foi apresentado para os alunos o gênero roteiro, suas principais características, as partes que o compõem, em quais situações ele é necessário e o que se precisava saber para escrever o roteiro para o vídeo objeto da pesquisa. E aqueles que não conseguiram escrever faziam seus registros na forma de desenho.

Também houve dificuldades por parte dos sujeitos da pesquisa no manuseio de computadores e notebooks. A quase totalidade dos alunos não possuía computadores em casa. Alguns deles apresentaram dificuldades básicas para ligar e desligar o computador. Outros já haviam tido contatos anteriores com computadores, mas não se sentiam seguros para manusear os editores básicos de textos e menos ainda softwares editores de vídeos. Essa realidade se distancia completamente dos preceitos da Política de Inovação e Educação Conectada, que atribui a inserção dos recursos tecnológicos nas escolas como algo imprescindível para possibilitar maior equidade no acesso à educação e ao ensino (BRASIL, 2017).

A inabilidade dos alunos no manuseio dos recursos tecnológicos nos mostra que categorizar genericamente jovens e adolescentes como nativos digitais (PRENSKY, 2001) pelo simples fato de eles pertencerem a uma geração que nasce imersa numa sociedade tecnológica é uma generalização perigosa. Muitos jovens, oriundos de periferias e moradores de comunidades que vivem à margem dos grandes centros, não pertencem a essa categoria. Na tentativa de sanar tais problemas, foram explicados para os alunos rapidamente os procedimentos básicos da máquina e durante a oficina de produção e edição de vídeos foi ensinado a realizar operações básicas de edição.

73 Levando em conta que os sujeitos da pesquisa não se encontravam num nível de formação adequado ao nível de ensino; que não possuíam habilidades mínimas para manuseio dos equipamentos, resta-nos indagar se de fato é possível melhorar a qualidade da aprendizagem, mesmo diante de tantos obstáculos. As dificuldades existem e não podem ser ignoradas. Por outro lado, é preciso perceber também que a mudança no processo educativo precisa ocorrer, sobretudo, no modo como a professora organiza sua prática pedagógica. Nesse sentido, a seguir serão apresentados os dados da pesquisa, buscando demonstrar que é possível a inovação na educação, mesmo frente a tantas adversidades.