• Nenhum resultado encontrado

A METACOGNIÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM (OU

APRENDIZAGEM METACOGNITIVA)

As teorias da aprendizagem têm seu arcabouço teórico na Psicologia do Desenvolvimento, que busca, até os dias atuais, compreender como se processa a aprendizagem humana. Desde os primeiros estudos elaborados pela Teoria Comportamentalista (Behaviorista) e pelos testes de ação e reação realizados por Skinner até os complexos testes piagetianos, cientistas e pesquisadores sempre desejam saber mais sobre como os indivíduos constroem o conhecimento e consolidam as aprendizagens.

Uma das inquietações que norteavam as pesquisas psicológicas estava relacionada ao desenvolvimento das crianças. Ao perceberem que alguns bebês se desenvolviam mais rapidamente que outros e, consequentemente, conseguiam alcançar níveis de desempenho físico e motor de forma superior, os pesquisadores começaram a acompanhar e comparar esses indivíduos na tentativa de tentar compreender as diferenças entre eles.

De modo similar ocorreu com as aprendizagens no contexto escolar. Sempre se buscou compreender quais fatores contribuíam para que algumas crianças tivessem mais facilidade em adquirir conhecimento que outras. Isso justificava o baixo desempenho escolar em sujeitos que entravam num ciclo de reprovação e repetência escolar por não conseguir consolidar as aprendizagens mais básicas.

As descobertas científicas nos levaram a perceber que as pessoas se relacionam de forma distinta com os objetos de conhecimento e, consequentemente, aprendem também de formas diferentes umas das outras. As investigações realizadas no âmbito da aprendizagem centraram seus interesses de pesquisas no conhecer e compreender as capacidades cognitivas e nos fatores motivacionais vinculados à aprendizagem como os fatores determinantes na aquisição de aprendizagens.

Na tentativa de compreender e superar essas dificuldades, surgem os estudos da cognição humana. Para Ribeiro (2003, p. 110), a cognição diz respeito a “qualquer tipo de

61 representação da informação proveniente do meio, incluindo todos os tipos de representações multidimensionais”, ou seja, refere-se à significação construída subjetivamente pelo indivíduo dos signos (linguagem) e instrumentos (meio) com os quais ele interage de forma ativa e intencional com vistas à construção do conhecimento.

A partir da década de 1970, o foco dos estudos e pesquisas é redirecionado e, ao invés de focar nas aptidões cognitivas e nas representações por ela construídas, ou seja, no que se aprende e como se aprende, as questões fundamentais agora voltadas para a memorização, preocupam-se em entender o funcionamento dos processos metacognitivos que regulam e coordenam as aptidões cognitivas de memória, leitura, compreensão e avaliar o que foi aprendido.

De acordo com Ribeiro (2003), o termo metacognição foi utilizado pela primeira vez pelo psicólogo americano John H. Flavell na década de 1970. Os precursores desses estudos foram Flavell e colaboradores, e conceberam os conceitos de metamemória e conhecimento metacognitivo, que pode ser compreendido como um conjunto de estratégias voltadas para autorregular e avaliar o processo cognitivo, ou seja, para o desenvolvimento das habilidades de adquirir, organizar e utilizar de forma consciente de seu próprio repertório de conhecimento. Ainda conforme Ribeiro (2003, p. 110), “A metacognição diz respeito, entre outras coisas, ao conhecimento do próprio conhecimento, à avaliação, à regulação e à organização dos próprios processos cognitivos”. Deve ser compreendida como a habilidade do sujeito ter consciência do que se sabe e de como posso usar aquilo que já se sabe na busca e construção de um novo saber.

A distinção entre cognição e metacognição é construída em uma linha difusa. Muitas pessoas confundem, acreditam se tratar de uma relação de superioridade de uma em detrimento da outra, ou até mesmo acreditam se tratar de sinônimos, pelo fato de serem dois processos constituintes de um mesmo universo, o do conhecimento. No entanto, faz-se necessário esclarecer que, enquanto a primeira diz respeito a informações, conhecimentos, experiências, raciocínio, leituras e aprendizagens consolidadas, a segunda exige dos sujeitos sensibilidade e autocontrole nas reelaborações, reflexões e regulações em diferentes níveis de complexidade do seu repertório individual e subjetivo; portanto, a metacognição vai além da cognição.

Diferentes correntes teóricas defendem perspectivas distintas, complementares ou até mesmo opostas sobre a compreensão do conceito de metacognição. Entretanto, Ribeiro (2003) ressalta que no domínio educacional o entendimento da metacognição suscita o

62 conhecimento sobre o conhecimento, ou seja, é preciso conhecer como se processa, armazena, busca e localiza conhecimento nos meios e suportes onde estes estejam armazenados e ter competências necessárias para acessá-los. Além disso, faz-se necessário desenvolver habilidades de autorregulação, de modo a ser capaz de ter controle da atividade cognitiva em todas as etapas do processo do conhecer.

Sujeitos eficientes na execução de tarefas acadêmicas possuíam também competências metacognitivas bem desenvolvidas, pois demonstraram compreender a finalidade da tarefa, planificar a sua realização, aplicar e alterar conscientemente estratégias de estudo e avaliar o seu próprio processo de execução (FLAVELL; WELLMAN, 1977 apud RIBEIRO, 2003, p. 109).

Um dos diferenciais propostos pelos estudos metacognitivos se localiza na ênfase dada à importância do sujeito não só de ser capaz de reconhecer a amplitude e os limites do seu repertório cognitivo, como também ser capaz de compreender aquilo que não se sabe, e ter consciência do quanto isto que ele não sabe pode ou não ser um dificultador para o seu processo de metacognição.

Em seu estudo Ribeiro (2003, p. 110) “[…] constatou que a prática da metacognição conduz a uma melhoria da atividade cognitiva e motivacional e, portanto, a uma potencialização do processo de aprender”. E, com vistas a possibilitar uma fácil compreensão do processo de cognição à metacognição, recorre a um esquema adaptado de Lawson e publicado pelo autor no ano de 1984, conforme a figura abaixo.

Figura 2 – Conhecimento metacognitivo como o resultado dos processos executivos

63

De acordo com a figura acima, os processos cognitivos correspondem ao repertório cognitivo, ou seja, seus conhecimentos prévios. Esse processo refere-se à habilidade que o indivíduo possui de conhecer e ter total domínio sobre seu próprio repertório de conhecimentos consolidados, ou seja, a seu repertório cognitivo. Tem-se consciência plena do que se sabe e consegue acessá-los a qualquer momento em que seja necessário para resolver um problema, tomar uma decisão ou construir novos conhecimentos.

No contexto escolar, os processos cognitivos podem ser acessados pelos alunos na realização de atividades mais complexas como, por exemplo: no desenvolvimento de projetos de pesquisa, elaboração de textos argumentativos, dissertativos ou de opinião que exigem níveis mais elaborados de escrita, organização, coesão, coerência e capacidade de síntese, resolução de cálculos matemáticos complexos e para os casos em que o professor fuja do roteiro tradicional e proponha formas inovadoras de avaliação como um jogo, uma intervenção artística, cultural ou a produção de um vídeo.

De uma perspectiva metacognitiva, o aluno dotado das competências e habilidades cognitivas, torna-se protagonista de seu processo de conhecer. Torna-se, portanto, um sujeito, ativo, crítico e reflexivo no percurso de aprendizagem, capaz de exercer controle e manipular seu próprio repertório de conhecimentos de acordo com seus objetivos e interesses e por meio da ação, reflexão e ação, constrói de forma autônoma e independente novos conhecimentos.O resultado proveniente das habilidades metacognitivas é a

[…] aquisição de estratégias cognitivas e metacognitivas que possibilitem ao aluno planejar e monitorar o seu desempenho escolar; isto é, que permitem a tomada de consciência dos processos que utiliza para aprender e a tomada de decisões apropriadas sobre que estratégias utilizar em cada tarefa e, ainda, avaliar a sua eficácia, alterando-as quando não produzem os resultados desejados (SILVA; SÁ, 1993 apud RIBEIRO, 2003, p. 115). Em síntese, Ribeiro (2003) considera que a aprendizagem numa perspectiva metacognitiva fornece aos indivíduos que a desenvolvem uma série de facilidades na busca e construção do conhecimento, uma vez que, dotados de autocontrole do próprio pensamento, conseguem permanecer com foco nas atividades e problemas que buscam resolver. Para a autora, a metacognição abre novas perspectivas para o estudo das diferenças individuais no rendimento escolar, uma vez que destaca o papel pessoal na avaliação e controle cognitivos tanto dos alunos, que apresentam capacidades intelectuais idênticas, quanto daqueles que apresentam diferentes níveis de realização escolar.

64 Cabe à escola e ao professor estimular o exercício e o domínio da metacognição, propondo situações de ensino e aprendizagem nas quais o aluno possa multiplicar suas habilidades cognitivas e aplicá-las em resoluções de problemas e circunstâncias de natureza complexas. Os processos metacognitivos podem ser estimulados no momento da busca por informações, na leitura crítica e reflexiva dos textos e documentos recuperados e na formulação do conhecimento novo. Mas será que o exercício da metacognição também pode ser estimulado na produção dos vídeos?

Percebe-se que o uso do vídeo é um instrumento de excelência no registro, sistematização e análise das aprendizagens, pois é quando o indivíduo tem a oportunidade de revisitar a totalidade de sentidos por ele produzidos, desenvolver estratégias para transmitir livremente uma afirmativa, recorrer à criatividade e eleger fatos por ele considerados como importantes. Portanto, o sentimento e a aprendizagem significativa tornam-se mais claros, os processos metacognitivos acontecem quando se volta àquele produto, após ter refletido no que se fez, ter conversado, ouvido novas opiniões, o saber sofre metamorfoses imprescindíveis a uma educação efetiva.