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A motivação nas aulas de educação física!

No documento Educação física escolar (páginas 122-124)

É de conhecimento que temos a motivação intrínseca e a extrínseca (MASLOW, 1943). Internamente somos movidos ao mundo do movimento de forma natural, faz parte do humano. Estarmos em movimento e acessar o mundo por meio do movimento são ações contínuas e naturais para nós. Historicamente formos criando situações e experimentos denominados de jogos, brincadeiras, esporte, danças e outras ações que potencializaram a estimulação ao movimento livre e prazeroso. Em nossa vida, as fases iniciais são as mais afetadas por essa intenção livre e prazerosa do movimento, pois representam a liberdade e a condição de ampliação das experiências.

A escola e sua estrutura proporcionam espaços pedagógicos nos quais os alunos podem exercitar essa motivação intrínseca, ou seja, movimentar-se livremente depois de horas aprisionados nas salas de aula e em suas carteiras (FREIRE, 1996). Esses momentos (poucos) de liberdade de movimento sofrem total infl uência da natureza humana, ou seja, da motivação intrín- seca do movimento livre. Nesses momentos os alunos se jogam em suas brincadeiras, correrias, empurrões, chutes, saltos e tantas outras formas de movimentos. O importante é estar livre para a ação de movimentar-se.

Ainda temos poucas escolas e estruturas que disponibilizam na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental profi ssionais de Educação Física para um trabalho estruturado com a Educação Física. Nesse sentido, por vezes esses momentos se resumem a estar livre no pátio da escola. O signifi cativo aqui é o espaço do movimento, a necessidade precípua do humano ser garantida.

Contudo, avançamos e a partir dos anos iniciais do Ensino Fundamental já podemos ter a Educação Física de forma sistematizada. Nesse sentido, essa área que foi atividade legalmente instituída (BRASIL, LDBEN 5.692/71), assumiu-se como o momento do lazer e da brincadeira constituindo no imaginário geral da sociedade a característica descompro- missada com o pedagógico formativo. Não vamos aqui discutir novamente as transformações gerais que a área sofreu desde a década de oitenta, pois já é sufi cientemente apresentada na literatura da área e produções acadêmicas. O destaque é apenas para a consequência da fruição decorrente dessa prática.

O fato de os alunos terem momentos exclusivos ao movimento fez desses, se não o mais prazeroso, um dos mais prazerosos da escola, pois neles os alunos se livravam da condição extenuante da cognição e poderiam ter a motivação intrínseca do movimento liberada e atendida. Com isso a Educação Física, sem um marco formativo pedagógico específi co, a não ser o lúdico, o esportivo e o da condição física (saúde), conquistou espaço no

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Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira -Vânia de Fátima Matias de Souza

momento do prazer dos alunos. A Educação Física se constituiu como o momento do descanso e do descompromisso com o pensar. A liberdade e a satisfação.

A liberdade e a satisfação foram, por muito tempo, atendidas por inúmeras e variadas formas de se estimular a condição física, a brincadeira, os jogos e o esporte. Por vezes, com excesso em relação ao esporte e a sua condição de seletividade, o que se refl ete numa desmotivação aos menos aptos esportivamente ao longo dos anos escolares.

Contudo, podemos atestar que a atratividade da Educação Física ainda é muito grande, mas não porque ela se apresenta pedagogicamente adequada ao processo formativo, vemos isso muito mais como uma condi- ção da motivação intrínseca humana pelo movimento e pela sua liberdade de execução. A vida social atual, por uma série de fatores que vão da orga- nização familiar à segurança, diminuíram drasticamente as possibilidades de movimentação livre das crianças. Com isso, os poucos momentos que vivenciam são marcantes. Desde que não sejam atrapalhadas.

Essa condição social e a estrutura escolar são pontos que caminham juntos com a evolução das crianças. Essa condição motivacional inicial de movimento tende a ser diminuída com o tempo, pois a partir de certo domí- nio motor e autossufi ciência de acesso ao mundo, a economia e a utilização da energia em outras ações ganham mais signifi cado, sendo a motivação intrínseca para o movimento diminuída tendo maior responsabilidade a motivação extrínseca para a execução do movimento.

Nesse sentido, podemos observar a evolução da motivação dos alunos com a Educação Física na escola. Na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, os alunos se dedicam de forma intensa nas aulas de Educação Física, têm participação completa. Com o passar dos anos essa motivação tende a diminuir. Não é estranho vermos em aulas de Educação Física no Ensino Médio a baixa participação e a desmotivação com as ati- vidades propostas.

É óbvio que essa desmotivação não é fruto somente da condição intrínseca que diminui ao longo da maturidade. Trata-se também da falta de objetividade, signifi cado e valor com os conteúdos que são tratados na Educação Física Escolar. No início da vida escolar a Educação Física apresenta uma série de atividades e brincadeiras que estimulam as crianças e as motivam. Com o passar dos anos a Educação Física passa a centrar-se em estimulação à prática do esporte e com uma repetição enfadonha e sem relação com as necessidades e interesses dos alunos. Isso vai gradativamente causando a desmotivação e desinteresse óbvio junto aos alunos, pois já conseguem ver e optar pelo que tem valor ou não em suas vidas.

Capítulo 8 – Educação física escolar: da atratividade da prática descompromissada à atratividade da prática formativa

Mesmo diante desse quadro, podemos afi rmar que a atratividade da Educação Física é muito grande, por conta da natureza humana com o mundo do movimento e pela sua potencialidade de variabilidade de estimu- lação motora e práticas corporais, algo que é inato ao humano, mas precisa ser seriamente refl etida e alterada de forma a não perder essa condição ao longo da vida escolar por falta de experimentos pedagógicos signifi cativos e de valor formativo. A grande oportunidade formativa está muito forte- mente vinculada a um planejamento adequado, variabilidade de atividades, conhecimento signifi cativo e sistematizado.

No documento Educação física escolar (páginas 122-124)