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A parceria entre universidade e os professores da escola

No documento Educação física escolar (páginas 114-117)

A intervenção é um elemento gerador de sentido da própria área e a universidade não pode promover e intensifi car o distanciamento do campo da intervenção. A parceria entre universidade é um esforço necessário para que os saberes experienciais produzidos pelos professores possam incorporar os currículos da educação básica.

Maff ei (2014) sugere que embora esforços sejam feitos em prol da aproximação dos conteúdos dos cursos de formação ao campo de atuação profi ssional, ainda há muito a se fazer para que as ações formadoras valori- zem a dimensão da prática.

Uma das formas de aproximação entre universidade e as escolas, se refere a construção e desenvolvimento de pesquisas colaborativas junto com os professores das escolas. Contudo, uma metodologia colaborativa não pode estar apenas relacionada em dar voz aos professores, mas estabelecer processos refl exivos que permitam que o próprio professor refl ita sobre sua prática. Neste sentido, as pesquisas colaborativas também se caracterizam como ações formativas.

Desgagné (2007) aponta que a abordagem colaborativa deve ser en- tendida pelo viés do “saber exercer” ou do desenvolvimento do seu “saber profi ssional”. Ela supõe a contribuição dos professores em exercício no pro- cesso de investigação de um objeto de pesquisa, frequentemente formulado por pesquisadores universitários. Nesta metodologia, os professores da escola tornam-se “coconstrutores” do conhecimento que está sendo produzido. A pesquisa colaborativa contribui também para esclarecer os fatores de sucesso escolar.

É importante ressaltar que sob a égide de pesquisa colaborativa existe uma série de variações de metodologias que operam com o princípio da colaboração. Todavia, também tem sido comum observar pesquisa que se descrevem como colaborativas, mas não apresentam procedimentos

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compatíveis com esta metodologia. Neste sentido, é importante observar estes três princípios, descritos por Desgagné (2007), sobre a defi nição de uma pesquisa colaborativa:

1 A coconstrução de um objeto de conhecimento entre pesquisador e docentes

A pesquisa colaborativa supõe o engajamento dos docentes com o pesquisador, a fi m de explorar e compreender um aspecto ou fenômeno da sua prática, a ser tratado como o próprio objeto da pesquisa.

2 Associação entre produção de conhecimentos e desenvolvimento profi ssional

A pesquisa colaborativa não exige que os professores da escola assu- mam tarefas ligadas à realização da pesquisa, no sentido formal do termo, mas, que participem da pesquisa como coconstrutores do conhecimento. A pesquisa para o pesquisador é um objeto de investigação e para os docentes, uma oportunidade de formação. Portanto, o pesquisador deve anular os papéis de pesquisador e de formador.

3 Mediação entre comunidade de pesquisa e comunidade docente

Os conhecimentos desenvolvidos na pesquisa, devem ser produtos de um processo de aproximação e mediação entre teoria e prática, entre a cultura de pesquisa e a cultura da prática docente.

No sentido de contribuir com exemplos de aplicação de pesquisas colaborativas, apresento brevemente as ações que venho desenvolvendo no Laboratório de Estudos Culturais e Pedagógicos da Educação Física (LECPEF) na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf ). A ação em pauta faz parte de um projeto guarda-chuva denominado “Análise das boas práticas no ensino da educação física e construção de material pedagógico” que teve início no ano de 2013.

Este projeto foi aprovado no edital PPP-FACEPE 2014 e recebeu inúmeras bolas de iniciação científi ca e de pós-graduação da FACEPE e do CNPq. Este projeto foi dividido em etapas. Neste texto apresentarei a estrutura da terceira etapa que consistiu em realizar pesquisa colaborativa com professores e construir coletivamente um material pedagógico.

O primeiro passo que fi zemos foi construir um espaço de debate que pudesse agregar o maior número de professores interessados em discutir sobre o ensino e, construir coletivamente um material pedagógico. Nesse sentido, o grupo de pesquisa abriu as portas para professores de diferentes redes de ensino, a participação era livre e não havia data limite para entrada. Devido a este fato o grupo possuía uma grande rotatividade de pessoas, mas a média de participação era de 25 professores. Nesse grupo havia professores

Capítulo 7 – A produção de saberes na escola... e o que o CBCE tem a ver com isso?

de redes municipais, estaduais, federais e particulares que atuavam como professores de educação física em todos os níveis de ensino. Desta forma, garantimos ampla participação dos docentes de diferentes realidades.

No ano de 2015 se iniciaram estas reuniões e todas as decisões foram debatidas coletivamente, o grupo foi se apropriando do debate acadêmico ao tempo que as experiências sobre as práticas eram refl etidas e sistematizadas. E aos poucos o primeiro material pedagógico foi sendo construído na sua primeira versão. No sentido de agregar mais olhares, era importante que um maior número de professores pudesse ter acesso e debater o material. Logo, no ano de 2016 realizamos a primeira edição do curso de formação com professores “Dialogando sobre o ensino da educação física”, que foi sobre o tema atletismo na escola. Posteriormente, realizamos outras edições sobre os outros temas: lutas, ginásticas, esportes coletivos, práticas corporais de aventura e dança. Somado estas seis edições já reunimos aproximadamente 450 professores de mais de 20 municípios e 4 estados (Bahia, Pernambuco, Piauí e Ceará).

Nestes cursos de formação tivemos a oportunidade de realizar um de- bate sobre o ensino da educação física, ouvir os professores, apresentar nosso material e colocá-lo para avaliação, além de experimentar corporalmente atividades, tanto aquelas que foram construídas pelo grupo menor, quanto aquelas que os professores apresentaram como fruto de suas experiências. No curso, reservamos espaço para que os professores apresentassem suas práticas exitosas, assim como, convidávamos professores que se destacavam para palestrar nos eventos. Este esforço tinha como objetivo empoderar os professores da rede para que pudessem perceber que havia muitos saberes sendo desenvolvido entre os pares.

Ao fi nal do curso, tínhamos um material avaliado pelos professores e com atividades vivenciadas, fruto da experiência concreta. Após, isso o grupo menor de professores aplicava o material em suas aulas para novas adaptações e por último solicitávamos que os professores, que haviam rea- lizado o curso, nos permitissem realizar o acompanhamento de suas aulas e a utilização do material desenvolvido no curso, por meio de uma assessoria pedagógica. Todavia, o número de professores que nos permitia acompa- nha-los era mínimo, chegando, por duas vezes, a apenas um professor se disponibilizar para ser acompanhado. Essa, sem dúvida, é uma das maiores difi culdades em pesquisas colaborativas, romper o receio dos professores da escola em receber pesquisadores para acompanhar suas aulas. Contudo, este receio é justifi cado por uma má tradição de pesquisa em escola que adentra o espaço escolar apenas para avaliar o professor, tecer críticas e nunca retornar à escola para dialogar sobre os dados.

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Porém, mesmo com esta difi culdade temos realizados este acompa- nhamento em um formato de assessoria pedagógica (INBERNÓN, 2011), onde mais do que acompanhar os professores temos criado espaço de pla- nejamento, refl exão e troca de experiências com os professores que estão ressignifi cando nosso material; criando uma relação de ação-refl exão-ação (SCHÖN, 2009).

Os materiais atualmente deram origem a coleção de livros “Dialogando sobre o ensino da Educação Física” e foram publicados pela editora CRV.

No documento Educação física escolar (páginas 114-117)