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A NÁLISE E A PRESENTAÇÃO DOS R ESULTADOS

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 108-111)

F ONTE : PEREIRA, 1995.

4.4.3 A NÁLISE E A PRESENTAÇÃO DOS R ESULTADOS

De posse do conteúdo transcrito das entrevistas, estas foram lidas exaustivamente.

A fase de tratamento dos dados foi operacionalizada conforme preconiza Minayo (1999), por meio da ordenação e classificação dos dados para posterior análise.

Para atender, com o máximo rigor possível, aos requisitos da imparcialidade, opto-se pela utilização do Programa Informatizado The Ethnograph v. 5.0, com vistas a operacionalizar tanto a ordenação e separação das estruturas de relevância e das categorias analíticas e empíricas, quanto para realizar o posterior reagrupamento dos dados em blocos temáticos.

O programa The Ethnograph permite a codificação de segmentos do texto e seu agrupamento por unidades temáticas, de acordo com a classificação estabelecida pelo pesquisador previamente. Permite, ainda, revisões sistemáticas, facilitando o processo de construção e interpretação dos resultados.

O referido programa, cujo manejo não prescinde o raciocínio analítico do pesquisador, é bastante utilizado para codificação e classificação de dados qualitativos, uma vez que as reflexões teóricas e análise conceitual se fazem necessárias durante todos os momentos da codificação dos dados. O programa não substitui a criatividade e esmero do autor na análise dos dados (CASSIANI; ZAGO, 1997).

Com a intenção de garantir o anonimato e facilitar a leitura, cada citação de depoimento veio seguida de uma indicação seqüencial numérica, sendo os números de 1 a 7 correspondem a cada uma das 7 participantes.

A análise dos dados foi fundamentada na perspectiva da hermenêutica dialética, em consonância com o referencial teórico-metodológico dessa investigação, o que permite a busca de dados empíricos com as suas particularidades, sem se perder de vista a compreensão da realidade em que se vive e a sua correlação com a perspectiva histórico-social.

A hermenêutica dialética é um método de análise das ciências humanas e sociais, ou seja, é um método de análise qualitativa. Discute a pesquisa

qualitativa não apenas quanto ao como fazer mas também quanto ao como pensar, levando o leitor a se inserir nesta proposta da busca do conhecimento. A hermenêutica concentra a sua atenção no compreender a realidade, considerando duas questões fundamentais que são “a subjetivação do objeto e a objetivação do sujeito” (MINAYO, 2002, p. 83).

E “compreender é, em princípio, entendimento, e compreender significa uns se entenderem com os outros” (GADAMER, 1999 apud MINAYO, 2002, p. 85).

Na busca da relação, da complementaridade da hermenêutica e da dialética, Minayo afirma que a hermenêutica se pauta na:

[...] compreensão como a categoria metodológica mais potente no movimento e na atitude de investigação [...] e no significado, que é o símbolo, a intencionalidade e a empatia como orientadores do pensamento. Por sua vez, a dialética é desenvolvida por meio da articulação da crítica, da negação, da “transformação da natureza e da realidade social (MINAYO, 2002, p. 83-4).

A hermenêutica está diretamente ligada à arte de compreender, à capacidade do pesquisador colocar-se no lugar do sujeito histórico-social, no tempo presente, estabelecendo a correlação, por meio da linguagem, entre o que passou e o que poderá vir a ser no futuro. Trata-se de compreender, que significa compreender e compreender-se, expondo-se inclusive aos erros na elaboração dos juízos, uma vez que existe “polaridade entre familiaridade e estranheza”, sendo essa a base da hermenêutica, na tarefa de esclarecer as condições sob as quais surge o depoimento do indivíduo com quem se interage (MINAYO, 2002, p. 92).

Com referência à relação entre a dialética e o marxismo, em que há a concepção de que as idéias, as instituições, as categorias não são estáticas, existe permanente transformação, Minayo (2002) aponta que, no marxismo, a dialética se transformou numa maneira dinâmica de interpretar o mundo, os fatos históricos e econômicos, as idéias, sob o referencial teórico do materialismo histórico. Também, que “a dialética está presente como método de transformação do real, que por sua vez modifica a mente criando as idéias” (MINAYO, 2002, p. 94).

Minayo (2002, p. 100-1) esclarece que enquanto a hermenêutica busca a compreensão, a dialética estabelece uma atitude crítica e que “o marxismo

reafirma que toda a vida humana é social e está sujeita às leis históricas”. Trata-se do exercício de interpretar, explicar, compreender determinado objeto de estudo.

Nessa perspectiva, optou-se pela hermenêutica dialética como método de abordagem e de análise do conteúdo das entrevistas já que propicia a análise do componente social do processo saúde-doença e dos fenômenos a ele associados. A cultura faz a mediação dos fenômenos biológicos, e a combinação entre hermenêutica e dialética pode contribuir para a compreensão desta complexa abordagem (MINAYO, 2002).

A denominação categoria é dada aos conceitos mais importantes dentro de uma teoria. O termo categoria foi utilizado por Marx para indicar conceitos relacionados à realidade histórica, expressando os principais aspectos das relações dos homens ente si e com a natureza, expressando também as unidades de relações entre o histórico e o lógico (MINAYO, 1999).

As categorias podem ser classificadas em:

ANALÍTICAS – “[...] aquelas que retêm historicamente as relações

sociais fundamentais e podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais” (MINAYO, 1999, p. 94), comportando distintos graus de abstração, de generalização e de aproximação.

EMPÍRICAS – aquelas que são construídas com o objetivo

operacional para organizar o trabalho de campo, ou seja, a fase empírica, ou são construídas a partir desse trabalho; as categorias empíricas “[...] têm a propriedade de conseguir apreender as determinações e as especificidades que expressam a realidade empírica” (MINAYO, 1999, p. 94).

Uma vez claramente definido o objeto científico específico da pesquisa, a construção teórica deve desenvolver-se no sentido de definir quais são as categorias analíticas que permitem o seu entendimento, isto é, que permitem explicitar as articulações internas e externas do objeto ao nível do pensamento (LAURELL, 1985).

No presente estudo, para a apreensão do objeto nos aspectos da realidade, ou seja, a relação entre os ATTs e e as cargas de trabalho sofridas pelos

trabalhadores de enfermagem, elegeu-se como categoria analítica o ATTs e o processo

de trabalho de enfermagem hospitalar e como categoria empírica as ATTs e as cargas

de trabalho de enfermagem. Por sua vez, como subcategorias dessas foram

consideradas as cargas biológicas, físicas, químicas, mecânicas, fisiológicas e psicossociais.

Como construção no campo da saúde, enseja-se a inserção nesse universo complexo, que necessita de compreensão, de intervenções e, sobretudo, de transformações na prática diária dos trabalhadores.

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 108-111)