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A normalização dos Sistemas de Gestão da Qualidade, do Ambiente e da Segurança

3.2 OS SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE, DO AMBIENTE E DA SEGURANÇA

3.2.1 A normalização dos Sistemas de Gestão da Qualidade, do Ambiente e da Segurança

3.2.1 A normalização dos Sistemas de Gestão da Qualidade, do Ambiente e da Segurança

Os Sistemas da Qualidade sistematizam os aspectos que podem ajudar uma Organização a satisfazer consistentemente as exigências dos clientes, introduzindo dinâmica e fluidez (ver Figura 3.11) e procurando assegurar que o produto virá a estar alinhado com os requisitos do mercado a que se destina.

Um Sistema da Qualidade, por si próprio, não conduz automaticamente à melhoria dos processos de trabalho ou da Qualidade do produto, sendo acima de tudo um meio que permite abordar mais sistematicamente as principais vertentes da Organização e atingir os objectivos definidos.

Figura 3.11 - As etapas da Qualidade no ciclo de vida de um produto

Na Qualidade, é observável que a legislação subjacente é de expressão manifestamente inferior à existente, por exemplo, para a Segurança e Ambiente; as motivações para instalação de um Sistema da Qualidade assentam na necessidade de uma ferramenta que facilite a obtenção continuada do nível da Qualidade desejado, ou seja, uma ferramenta que assegure que o produto corresponde ao que se pretende e que a sua produção seja fiável. O desenvolvimento natural, lógico e prático desta abordagem, conduziu ao reconhecimento da necessidade da participação de todos dentro da Organização e que se deveria tender para uma melhoria continuada da Qualidade. O grande salto deu-se, no nosso entender, quando os clientes – as Organizações em geral – começaram a exigir, explicita ou implicitamente, aos seus fornecedores a existência de um Sistema da Qualidade.

O Sistema de Gestão da Qualidade está suportado na estrutura de Gestão proposta por Deming (1986) através do já citado ciclo PDCA. A lógica das normas da família ISO 9000 é, a partir da série 2000, a de um Sistema de Gestão; de facto, anteriormente, as normas da série ISO 9000:1994 apresentavam apenas linhas de acção para a implementação de um Sistema de Garantia da Qualidade. Em 1996 quando surgiram as normas da série ISO 14000 estruturando a implementação de Sistemas de Gestão Ambiental, vários especialistas e opinion makers como Lundgreen et al (1998), assumiram-se defensores das normas ISO 14000 como sendo estas as mais evoluídas. Posteriormente (BSI, 2000), as normas OHSAS 18000, baseadas nas ISO 14000, vieram também definir linhas de

orientação para a implementação de Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST). Faltava de facto a Qualidade dar o passo para a Gestão, o que ocorreu com a aprovação das normas da série ISO 9000:2000.

Desde 2000, com a revisão das normas da família 9000, que as normas da série ISO 9000, são um conjunto de documentos que facilitam a gestão das Organizações pela Qualidade, definindo conceitos (ISO 9000), especificando requisitos para os Sistemas da Qualidade (ISO 9001) e dando orientação para a interpretação e implementação do Sistema da Qualidade (ISO 9004). Na Figura 3.12, apresenta-se o modelo de gestão da Qualidade pela norma ISO 9001:2000, actualmente já na versão 2008.

Em 2000, Conti compara as normas da Qualidade (à data em revisão) e o modelo de excelência da EFQM, verificando a diferença existente entre a posição das normas, mais fechada; na altura, reconheceu, apesar de tudo, que o novo modelo era mais integrador e que permitia a abordagem da Organização de uma forma mais abrangente.

As normas de Qualidade do produto, as normas de Sistemas da Qualidade, ou as simples propostas de melhoria da Qualidade constituem, quando utilizadas, meios de se alcançar a satisfação dos clientes e de aumentar a competitividade da Organização, não se excluindo mutuamente. C L I E N T E S Entradas C L I E N T E S Saídas R E Q U I S I T O S S A T I S F A Ç Ã O Responsabilidade da Administração Gestão dos Recursos Medições, Análises, Melhorias Realização do Produto e/ou Serviço Produto Serviço

É fundamental rever e melhorar o Sistema da Qualidade, para assegurar que se alcançam as melhorias exequíveis e economicamente viáveis. Nas normas da série ISO 9000 (no concreto a ISO 9004), os diferentes requisitos são complementados com linhas de orientação que a Organização poderá usar como base para os programas de melhoria. Na implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade, convém ter presente que todas as Organizações possuem uma estrutura de Gestão, a qual deverá servir de base para a construção do Sistema da Qualidade. Deverá acautelar-se o excesso de burocracia, ou menor flexibilidade, resultantes de uma abordagem virada para o detalhe exaustivo de aspectos pouco significativos da Organização.

Observando a estrutura das 3 Normas, a Norma ISO 9001 está estruturada em 5 requisitos de ordem superior, enquanto a Norma ISO 14001, bem como a norma OHSAS 18001, encontram-se estruturadas em 6 requisitos. A principal diferença, é que na ISO 9001 a revisão pela gestão de topo está inserida no requisito melhoria, enquanto que tanto na ISO 14001 como na OHSAS 18001 a revisão pela gestão de topo é um requisito de ordem superior. Utilizando como base de trabalho a norma ISO 9001, pode-se desenvolver uma lista de verificação para auditar simultaneamente e de forma integrada o Sistema de Gestão da Qualidade, o Sistema de Gestão Ambiental e o Sistema de Gestão da Segurança.

Os requisitos da ISO 9001 que não parecem ajustar-se directamente aos requisitos da ISO 14001 ou da OHSAS 18001, introduzem um factor de melhoria nestes Sistemas, tal como os requisitos específicos destes sistemas (o controlo operacional ou a gestão da emergência) acrescentam valor significativo.

Da análise atenta às normas ISO 14000, ISO 9000 e OHSAS 18000 observa-se a existência de princípios comuns, tais como:

• Abordagem sistemática de todas as actividades que possam influenciar a Qualidade, o Ambiente e a Segurança;

• Prevenção em detrimento de actividades de mera constatação de resultados de inspecção/monitorização ou de correcção;

• Necessidade de evidências objectivas, decorrentes dos processos e da existência de documentação controlada, contribuindo, assim, para atingir os objectivos da Qualidade, os objectivos e metas ambientais e os objectivos e metas da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho.

Visando a certificação de um Sistema de Gestão da Qualidade/Ambiente/Segurança de uma Organização, é necessário que esta cumpra, pelo menos, os requisitos da Qualidade/Ambiente/Segurança constantes das respectivas normas, bem como os requisitos legais subjacentes. Para efeitos de certificação de um Sistema de Gestão Ambiental é considerada a norma ISO 14001. Relativamente à certificação de um Sistema de Gestão da Qualidade, considera-se a Norma ISO 9001. No caso da Segurança recorre-se à norma OHSAS 18001 – Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho.

Um ponto comum a estas normas de gestão, é assumirem que o sistema que normalizam deve ser considerado parte integrante do sistema de gestão da Organização, contribuindo para outras áreas da gestão como a financeira ou as operações e recebendo inputs destas. Considerando as suas semelhanças de requisitos e de posicionamentos, face à Organização, a implementação deverá ser considerada numa perspectiva integrada, evitando-se duplicações e/ou potenciais conflitos.

No domínio da Segurança e Saúde no Trabalho, O British Standard Institute (BSI), mantendo-se pioneiro no lançamento de normativo à semelhança do que sucedeu com os Sistemas da Qualidade e do Ambiente, lançou em 1996 a norma BS 8800 - guia para Saúde e Segurança Ocupacional.

Este guia atingiu notoriedade significativa tendo a possibilidade de ser aplicado através da abordagem da HSG 65 (2001), denominada de: Gestão Bem Sucedida da Segurança, da Higiene e da Saúde (ver Figura 3.13), ou através do modelo da ISO 14001 (2001), (ver Figura 3.14).

Figura 3.14 - A Abordagem segundo a ISO 14001 (adaptado de BSI, 2001)

As orientações seguidas, quer na primeira quer na segunda abordagem, são muito semelhantes, sendo a diferença mais significativa a ordem de apresentação. É perfeitamente indiferente a abordagem utilizada, visto ambas permitirem integrar a SHST no sistema geral de Gestão da Organização.

Em 1999 surgiram as normas OHSAS 18001 e OHSAS 18002, visando a primeira a definição de requisitos e a segunda funcionando como guia para definir linhas de orientação e, assim, facilitar a implementação de um Sistema de Gestão da SHST pela primeira (ver Figura 3.15).

Estes guias, basicamente, contêm requisitos para um Sistema de Gestão da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, que permita a uma Organização controlar os seus riscos em Matéria de SHST e melhorar o seu desempenho. Baseiam-se nos princípios gerais da boa Gestão e destinam-se a permitir a integração da Segurança, da Higiene e da Saúde no Trabalho num Sistema mais geral da Gestão das Organizações.

Figura 3.15 - A Gestão da SST segundo a OHSAS 18001 (adaptado de BSI, 2000)

É relevante o facto da ISO não normalizar no domínio da Segurança e Saúde no Trabalho, contrariamente a todas as expectativas desenvolvidas desde a conferência da ISO realizada em 1997; na altura, o ISO technical management board (ISO TMB) deliberou não normalizar na SST (ISO 1997), decisão que tem perdurado. É um facto assinalável mas indissociável das poucas probabilidades de gerar um consenso num domínio onde as diferentes posturas culturais à escala global têm inviabilizado um consenso alargado.