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A OPÇÃO PELA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

5 CASO REAL

5.3 A OPÇÃO PELA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Após ações administrativas e de gestão para readequação, as dificuldades não foram superadas, sendo necessária a contratação de empresa especializada no processo de recuperação empresarial. O processo de turnaround se deu a partir do diagnóstico inicial realizado pela empresa de consultoria contratada.

Com inúmeras ações de busca e apreensão, ações trabalhistas, ações tributárias e possíveis apontamentos no Serasa, o crédito da empresa deteriora-se, dificultando a captação de recursos que financiem a operação.

Uma das alternativas para o financiamento da empresa se deu por meio de fundos de investimentos em direitos creditórios e factoring com a cessão do crédito das duplicatas de venda mercantil para que, possivelmente, o recurso antecipado financiasse a operação produtiva.

A empresa se destaca em sua região pelo número de funcionários diretos contratados na ordem de 542 e, indiretos, na ordem de 1.500, tendo como maior proporção do quadro funcional a mão de obra feminina e desenvolvendo projetos sociais para crianças carentes e idosos, evidenciando sua função social com destaque para a inclusão social.

Os autores Coelho (2008), Milani (2011) e Salomão e Santos (2012) sugerem vetores de classificação quanto à viabilidade da empresa, sendo a importância social, mão de obra empregada e tempo da empresa, por exemplo.

De acordo com o art. 53 da lei 11.101/05, a empresa apresenta a justificativa da viabilidade da empresa pela implementação das ações na gestão da produção, gestão da área comercial, gestão da área financeira, redução de despesas administrativas, comerciais e industriais, revisão dos procedimentos operacionais e parametrização do sistema integrado de gestão, renegociação dos créditos não sujeitos à recuperação judicial, bem como as projeções das demonstrações contábeis, balanço patrimonial, demonstrativo de resultado do exercício, demonstrativo do fluxo de caixa, comprovando a capacidade de pagamento dos credores e a continuidade do negócio.

Identificados os credores, foram divididos em 3 classes de acordo com a preferência de recebimento em eventual liquidação, sendo respectivamente os credores trabalhistas com apenas 0,08% da dívida total, credores com garantia real, detentores de 27,54% da dívida total e credores quirografários com 72,38% de participação no montante da dívida.

Nota-se que a maior concentração da dívida encontrava-se com fornecedores e bancos, possivelmente havia ativos disponíveis em razão da baixa participação do credor com garantia real que contribuísse como alternativa para o financiamento da operação.

Portanto, a empresa se apresenta, de acordo com o plano de RJ, em capacidade de reverter o cenário de crise com o auxílio da lei.

A cronologia e atendimento da lei 11.101/05 está apresentada na figura 24, possibilitando a compreensão das ações e do tempo decorrido do início do processo com a petição inicial em 18.03.2013 findando em 29.04.2015 com a homologação da recuperação judicial e a publicação no Diário Oficial.

A partir da identificação da crise financeira e da necessidade de reorganizar o negócio, a empresa optou pela contratação de consultoria para diagnosticar a preparar-se para o processo de RJ, conforme apresentado abaixo:

 A Consultoria: a gestão de choque, como é conhecida no mercado, tem como principal objetivo diagnosticar as causas que levaram a empresa à perda de resultado e, consequentemente, crise financeira. Dentre outras ações, a consultoria exerce influência no caixa da empresa, reorganizando e controlando. A comunhão de esforços nas demais áreas proporcionam o realinhamento e melhor aproveitamento dos recursos de forma que os processos tornam-se produtivos;

 O FIDC: o momento crucial do processo de reestruturação é manter a operação, produzindo e gerando fluxo de caixa para que os compromissos já assumidos e os novos

compromissos possam ser respectivamente renegociados e cumpridos, portanto, a captação de recursos por cessão de recebíveis ou fomento torna-se indispensável para gerir a crise;

 A Petição Inicial: esta fase consiste da apresentação da intenção da empresa de ingressar com o processo de recuperação judicial, sendo necessária a apresentação do recolhimento das custas processuais, procurações, comprovantes de atividade, certidões negativas falimentares e criminais, demonstrações contábeis, relação de credores, relação de empregados, certidão da Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP), relação de bens, extratos bancários e de aplicações financeiras, certidões de protestos e relação das ações em que a empresa está citada;

 A Carta aos Credores e Clientes: consiste em informar que está em crise e a intenção da empresa quanto à necessidade de recorrer ao meio legal para reverter o problema;

 Deferimento da RJ: decisão do juiz em conceder ou não o benefício legal à empresa em crise. Para tanto, é analisado e determinado o cumprimento da lei, a nomeação do administrador judicial, a suspensão das ações e as execuções judiciais por 180 dias, a apresentação das contas mensais, os informes pelo administrador judicial, as comunicação às Fazendas Públicas e Federal em todos os estados onde a empresa tiver estabelecimento, o prazo para habilitação dos créditos, a publicação do edital em 10 dias, a relação de credores, os créditos trabalhistas e o prazo de 60 dias para apresentação do plano de RJ. Neste processo, a empresa solicitou e obteve o benefício da prorrogação do prazo de suspensão das ações diante da necessidade do realinhamento do processo e da convocação da AG.

 Aprovação da AG de credores: a concordância de 2/3 das classes de credores do plano de RJ proporciona à empresa devedora a aprovação necessária para que o juiz homologue o processo. Em havendo discordância ou não aprovação do plano na AG e sendo a empresa viável, o juiz pode conceder o benefício da RJ;

 Homologação do plano: validação do plano de recuperação apresentado pela empresa e aceito pelos credores, permitindo a execução durante os próximos 24 meses. Após este período e tendo cumprido todas as obrigações, a empresa reverterá o processo.

Com a reversão do processo, ou no jargão do mercado de “levantar a RJ”, a empresa obterá o direito de retirar do cadastro da Junta Comercial do Estado a anotação “empresa em processo de recuperação judicial”, a qual é adicionada ao nome da empresa após o aceite pelo juiz do plano de RJ.

Figura 24: Cronologia do processo de RJ – caso real

Fonte: Plano de recuperação judicial da empresa, elaborado pelo autor, 2015.

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