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3. A Prática Pedagógica do PROEJA

3.1. A Instituição IFPE

3.5.4. A Organização dos Tempos e Espaços

Nessa proposta, os espaços e o tempo se ampliam para além da escola, pois se entende que ―os saberes são construídos na escola, na família, na cultura, na convivência social em que o encontro das diferenças produz novas formas de ser, estar e de se relacionar com o mundo‖. O projeto político-pedagógico funciona como um instrumento articulador das várias propostas de utilização de diferentes espaços como proposta para o aprendizado. Ou seja, é

nesse documento que devem ser registradas as propostas e o planejamento dessas atividades pedagógicas.

Quanto ao tempo, há de se respeitar a realidade própria do contexto.

Outro aspecto indispensável a destacar é que a organização dos tempos na modalidade EJA é sempre do projeto de curso, cumprindo definições legais, mas cabendo ao sujeito aluno a possibilidade de permanecer no curso por tempo diverso do previsto, segundo seu ritmo e saberes prévios, desde que tenha alcançado os objetivos previstos para a série/fase/etapa/ciclo de organização do currículo. Isto significa dizer que o aluno de EJA entra e sai de um curso dessa natureza a qualquer tempo, desde que verificadas suas condições para ingresso e o domínio de conhecimento atingido, em confronto com os objetivos definidos para o curso, o que tanto pode ser em tempo menor que o previamente fixado quanto em tempo maior (BRASIL, 2007, p. 41; 42).

Entendemos, junto com Souza (2007), que a educação não é um instrumento para a humanização, porém atividades culturais para o desenvolvimento da cultura em que se dá a construção da humanidade. Ela se realiza por meio de uma práxis pedagógica que opera uma ressocialização de seus sujeitos, os quais se expressam

por meio de ações que construam compreensões, interpretações, explicitações, expressões e projeções das contradições, conflitos, ambigüidades e possibilidades das realidades culturais e naturais, especificamente de suas inter-relações que contribuam para sua superação, fazendo-nos mais humanos (SOUZA, 2007, p. 15).

Portanto, ela deve ser permanente na vida do homem. E é na educação de jovens e adultos, em que nos deparamos com o máximo de diferenças dos sujeitos pedagógicos, com um leque de diferentes interesses desses sujeitos, que percebemos um campo coerente com a compreensão de educação acima registrada.

Goodson (2008) nos alerta para dois erros quanto às reformas e mudanças na educação. O primeiro é de muitas partirem do princípio ―de que, já que tudo não vai muito bem com as escolas‖, qualquer mudança ou reforma ―só pode ajudar a melhorar a situação‖. O segundo é que,

[...] ao anunciar claramente os objetivos, apoiada por uma bateria de testes, acompanhada por estratégias de prestação de contas e confirmada por uma

série de incentivos financeiros e pagamentos por resultados obtidos, irá inevitavelmente melhorar os padrões escolares (GOODSON, 2008, p. 109).

Esse autor chama a atenção para a crença de que toda mudança traz melhoras e para a valorização dos aspectos técnicos em detrimento dos aspectos biográficos no processo de avaliação. Defende o método biográfico (histórias de vida) como forma de se elaborarem propostas no campo educacional. Concordamos com o autor, pois, mesmo o PROEJA sendo uma proposta do Governo Federal que pressupõe mudanças, não garante as melhorias e não são os aspectos técnicos que as evidenciam.

Para Souza, a pedagogia, enquanto teoria ou ciência da educação, se concretiza através de proposta pedagógica pensada e articulada nas seguintes dimensões: concepção de educação, finalidade e objetivos dos processos educativos, conteúdos pedagógicos (educativos, instrumentais e operativos) e dispositivos de diferenciação pedagógica. Essa proposta deve ser mediada por um projeto pedagógico, ou um projeto educativo, ou um projeto político-pedagógico, que apresente em forma de documento as opções feitas em determinado contexto pela instituição. Contudo, é através do currículo que o projeto se especifica e é objeto de ação (SOUZA, 2007, p, 199).

Percebemos, na proposta do PROEJA, uma possibilidade mais abrangente de atender às especificidades do sujeito discente e aos seus interesses, como também uma rica oportunidade de crescimento docente. Destacamos três aspectos que, a nosso ver, podem enriquecer a experiência docente: primeiro o fato de tratar de um público que antes não fazia parte do contexto de uma escola pública federal; segundo, pela própria especificidade relativa às condições previstas no documento do perfil do aluno; e, por último, pela condição geral da proposta de inovação, principalmente quanto à integração curricular ao respeito às condições discentes referentes ao espaço e ao tempo.

Mesmo verificando tecnicamente que a proposta é uma provocação ―teórico-prática‖ a uma reflexão docente, é a partir do conhecimento da prática discente que pretendemos enxergar nuances da práxis pedagógica realizada, ao verificarmos sua contribuição para a ressocialização discente, ou seja, a subjetivização do processo educativo a partir desse sujeito.

Vamos, nesta parte do nosso estudo, relatar nosso percurso metodológico, caracterizar nossa pesquisa, apresentar as escolhas teórico-metodológicas assim como os instrumentos de coleta de dados, caracterizar os participantes a partir das respostas deles às perguntas fechadas, transcrever em forma descritiva as entrevistas e trazer os resultados das análises.

Demos início ao trabalho empírico com a revisão teórico-metodológica sobre a temática. Desenvolvemos a leitura, a descrição do Documento do PROEJA e tecemos considerações sobre a proposta que ele traz. Fizemos o levantamento do estado do conhecimento no recorte de tempo, 2007 a 2009, para, então, solicitarmos, por meio de ofício, a permissão de nosso acesso ao campo de pesquisa, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, onde colhemos os dados a partir de entrevista em profundidade.

Whyte (2005, p. 292) ressalta a importância da oficialização da intenção da investigação junto a uma instituição para o início da observação participante. Acreditamos, também, que tal procedimento é válido para a maioria das entradas em campo de pesquisa, principalmente onde a presença do pesquisador se faz necessária.

As perguntas que viabilizaram a investigação dizem respeito à experiência discente no Programa, às atitudes e emoções dos estudantes diante dos novos conhecimentos apresentados. A partir do referencial teórico, elegemos as categorias analíticas: o ―confronto‖ de conhecimentos e a ―mudança/permanência‖ de atitude e emoções para analisar as respostas. As duas primeiras perguntas, as quais consideramos fechadas, solicitam, contudo, dos participantes elementos para uma caracterização do perfil tanto do conjunto como dos indivíduos.

Procedemos, inicialmente, a uma pesquisa exploratória com três participantes, pois precisávamos verificar se a entrevista em profundidade e as perguntas norteadoras seriam instrumentos realmente adequados ao trabalho.

A fase exploratória é essencial para o desenvolvimento da pesquisa e ―o tempo em si mesmo é um dos elementos-chave‖ do estudo que envolve o comportamento e a ação de pessoas (WHYTE, 2005, p. 320). Observamos que todo tempo é tempo de avaliação e ajustes, mas o período exploratório é o mais propício.

4.1. Características da pesquisa

Investigamos o fenômeno educativo enfocando o caráter ressocializador da educação através da prática discente, das mudanças no sentir e no agir dos estudantes. Entendemos que

esse fenômeno poderia constituir-se como objeto/sujeito de pesquisa, visto que ele pode realizar-se em um sujeito inserido num contexto no qual exerce e sofre ações. Decidimos não hierarquizar os fenômenos observados, o que leva a considerar nossa pesquisa como fenomenológica.

Segundo Cintra,

Quaisquer que sejam as distinções que se possam fazer para caracterizar as várias formas de trabalhos científicos, é preciso afirmar preliminarmente que todos eles têm em comum a necessária procedência de um trabalho de pesquisa e de reflexões que seja pessoal, autônomo, criativo e rigoroso. Trabalho Pessoal [...], a temática deve ser vivenciada pelo pesquisador, ela deve lhe dizer respeito. [...]. A escolha de um tema de pesquisa, bem como a sua realização, necessariamente é um ato político. Também, neste âmbito, não existe neutralidade (CINTRA, apud SEVERINO, 2000, p. 145).

Na introdução, quando justificamos a relevância da temática no campo pessoal, acadêmico e social, apresentamos nossas escolhas como provenientes da realidade que vivenciamos. Quanto à utilização da fenomenologia como filosofia e metodologia da pesquisa, reconhecemos que os novos conhecimentos, experiências e emoções vividas e aprendidas no curso levaram-nos a assumir uma nova postura filosófica, política e pedagógica em nossa vida compatível com a fenomenologia.