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1. Do Fenômeno Educação ao Fenômeno PROEJA

1.4. O PROEJA como desafio Político e Pedagógico

1.4.1. A Base Legal do PROEJA

Propomo-nos fazer uma breve apresentação do Programa, com base em seu Documento, visto que, na segunda parte deste trabalho, retomaremos o assunto ao tratarmos, especificamente, a prática pedagógica do PROEJA.

A construção do Documento-Base do PROEJA se deu com a participação de representantes das Escolas e Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica, do Fórum Nacional de EJA e da universidade brasileira. As discussões se concentraram, entre outros pontos, nos princípios e concepções que fundamentam o Programa e formas de organização para um currículo integrado em harmonia com os pressupostos da EJA. A integração entre ensino médio e educação profissional para um público de EJA é inédita para a educação no Brasil. Segundo o Documento, a proposta visa à formação e não apenas à qualificação do jovem e do adulto para o mercado. (BRASIL, 2007, p. 12).

O referido documento destaca que, anteriormente, as políticas públicas para a EJA eram de caráter descontínuo, tênues e ―insuficientes para dar conta‖ da necessidade existente a fim de que se cumpra, em termos do direito, o que é estabelecido pela Constituição Federal de 1988. Considera-as resultantes de iniciativas individuais ou de grupos isolados, especialmente no que se refere à alfabetização. Mesmo assim, tais esforços na área da EJA não têm alcançado o objetivo proposto: a universalização do acesso a essa etapa de ensino. Contudo, ―as lutas sociais têm impulsionado o Estado a realizar, na prática, as conquistas constitucionais do direito à educação‖ no sentido de instaurar a dimensão de perenidade nas políticas para o direito à educação. Esse direito prevê a oferta, a progressividade e a qualidade. Para isso, necessita-se de sistematização do financiamento, previsão de orçamento ―com projeção de crescimento da oferta em relação à demanda potencial e continuidade das ações políticas para além da alternância de gestões governamentais, entre outros aspectos‖ (BRASIL, 2007, p. 9; 10).

Como exemplo da atuação do Estado na EJA, é citado o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), desenvolvido desde 2003 em todo o território nacional. Esse Programa dá atendimento prioritário aos municípios que apresentam taxa de analfabetismo igual ou superior a 25%. Dos 1928 atendidos, 90% localizam-se na região Nordeste. O Governo Federal dá suporte técnico aos municípios para a implementação do PBA com o objetivo de garantir a continuidade dos estudos aos alfabetizados. Quanto à organização social, traz a mobilização de educadores através dos fóruns estaduais e regionais, espaços de debates criados em 1996 a fim de preparar a participação do Brasil para as discussões da V CONFINTEA (UNESCO, 1997) na Alemanha. É forte a reivindicação por bases e princípios epistemológicos norteadores de ações políticas que respeitem as dimensões sociais, econômicas, culturais, cognitivas e afetivas do jovem e do adulto em situação de aprendizagem escolar (ibidem, p. 9).

Certamente as ações têm se intensificado. Destacamos a realização da VI CONFINTEA em nosso país, ocorrida entre os dias primeiro e quatorze de dezembro de 2009, na cidade de Belém, Estado do Pará. Os objetivos desse encontro foram:

 impulsionar o reconhecimento da educação e aprendizagem de adultos como elemento importante e fator que contribui com a aprendizagem ao longo da vida, da qual a alfabetização constitui alicerce;

 enfatizar o papel crucial da educação e aprendizagem de adultos para a realização das atuais agendas internacionais de desenvolvimento e de educação: Educação para Todos (EPT), Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), Década das Nações Unidas para a Alfabetização (UNLD), Iniciativa de Alfabetização para o Empoderamento (LIFE) e

Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS); e

 renovar o compromisso e o momentum político e desenvolver os instrumentos para sua implementação visando passar da retórica à ação (UNESCO, 2010).

Como podemos ver acima, a questão da educação de adultos, no debate internacional, é tomada como crucial para o alcance das metas da Educação para Todos, devendo acontecer ao longo da vida, ou seja, de forma progressiva e não apenas com a finalidade de diminuir o número de analfabetos. Cobra-se ainda que haja instrumentos para que sua implementação seja efetiva.

Consideramos o PROEJA como exemplo de uma política efetiva para a EJA. Trata-se de uma política Federal que surgiu, em princípio, como um Programa de Integração da Educação Profissional Técnica de Nível Médio apenas ao Ensino Médio, no âmbito das escolas federais de educação técnica. Em 2006, porém, se expande por outras esferas de governo e ensino, passando a denominar-se Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA.

A Portaria nº. 2.080, de 13 de junho de 2005, que estabelecia as diretrizes para a oferta de cursos de educação profissional de forma integrada aos cursos de ensino médio, na modalidade de jovens e adultos (EJA) nos Centros Federais de Educação Tecnológica, nas Escolas Técnicas Federais (CEFETs), nas Escolas Agrotécnicas Federais e nas Escolas Técnicas das Universidades Federais, deu origem ao PROEJA, que se tornou um Programa a partir da promulgação do Decreto nº 5.478, de 24 de junho de 2005.

Verificada a necessidade de alteração nas diretrizes desse Programa para a ampliação da oferta pelos interessados, em 13 de julho de 2006 foi promulgado o Decreto no 5.840 revogando o anterior. As principais alterações foram: a possibilidade do oferecimento de cursos PROEJA nas esferas de ensino público estadual e municipal e de entidades nacionais de serviço social; aprendizagem e formação profissional ligadas aos sindicatos; e a possibilidade de articulação com os cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores com ensino fundamental na modalidade EJA. Podemos perceber esta última, na mudança do nome do Programa, pois ele antes se referia apenas ao ensino médio, mas depois se estendeu à educação básica. Esse Decreto estabelece que 10% das vagas das instituições federais de educação básica profissional devem ser destinadas ao PROEJA. Essa determinação ampliou as vagas a partir de 2007, sendo todas elas relativas ao nível médio. Assim, a oferta da rede

federal de educação profissional passou a ser subordinada à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) do Ministério da Educação (BRASIL, 2007).

A apresentação da segunda edição do Documento Base do PROEJA traz a seguinte consideração:

A ampliação dos horizontes do PROEJA traz novos desafios para construção e consolidação desta proposta educacional que se pretende base de uma política de formação de cidadãos e cidadãs emancipados, preparados para atuação no mundo do trabalho, conscientes de seus direitos e deveres políticos e suas responsabilidades para com a sociedade e o meio ambiente (BRASIL, 2007, p. 4).

Contudo, o direito garantido pela ampliação do número de vagas, que poderia levar os Estados, os Municípios e o Sistema ―S‖ de Ensino a oferecer o PROEJA, contemplando o parágrafo terceiro da LDB 9394/96, segundo o qual ―a educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional‖, não é garantido completamente (BRASIL, 1996). Ainda há uma tendência política de querer suprir equivocadamente a falta da aprendizagem que deveria ter ocorrido ao longo da vida das pessoas através de ações de caráter supletivo que mostram quantidade, mas comprometem a qualidade da educação.

Como exemplo disso, temos atualmente o Programa Travessia, adotado pelo Governo do Estado de Pernambuco em parceria com a Fundação Roberto Marinho e lançado em junho de 2007, cujo objetivo é ―acelerar os estudos de jovens e adultos‖ no Ensino Fundamental, nas séries finais, e no Ensino Médio para corrigir o que chamam de ―distorção idade/série‖. Esse Programa utiliza a metodologia ―Telecurso‖, na qual dois professores contratados – um da área de Ciências Humanas e outro da área de Ciências Naturais – são considerados mediadores, atuam em ―telessalas‖ com jovens e adultos acima de 17 anos e são também responsáveis pela condução das disciplinas e formação dos alunos em 15 meses.

Talvez a verdadeira ―distorção‖ desse Programa esteja na compreensão de como se aprende e por que se aprende, pois querer acelerar os estudos de quem não conseguiu dar continuidade a eles no tempo previsto é questionável, assim como se pode questionar o fato de um professor, com formação específica, assumir todas as disciplinas de uma determinada área.

Não podemos deixar de considerar a necessidade das pessoas de certificação dos seus saberes adquiridos de forma escolar ou não, mas, para isso, o INEP realiza anualmente o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA, 2010).