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3. A Prática Pedagógica do PROEJA

4.6. Análise dos Dados das Entrevistas

4.6.2. Descrição e Interpretação dos Dados

4.6.2.7. Descrição e Interpretação dos Dados da Sétima Entrevista

A entrevista com D7 durou dezoito minutos e quatro segundos. O entrevistado tem 40 anos, é casado, supervisor geral na área de eletricidade e trabalha oito horas diárias. Cursa o sexto período de Eletrotécnica. Sua última experiência no Ensino Básico foi há aproximadamente vinte anos, quando começou a cursar ―o primeiro ano do Segundo Grau [que], por motivos de trabalho‖, teve que abandonar.

Declara que se sente realizado em voltar a estudar, porque sentia ―uma lacuna muito grande em aberto e a necessidade de um complemento‖. Agora, além de estar preenchendo essa lacuna, está também aprendendo uma profissão, o que considera muito importante.

Entende que todas as situações vividas na sua atuação como aluno do PROEJA são significativas, e destaca a interação com os outros alunos, o que os faz ―de certa forma se tornar uma família‖; o aprendizado, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento social. Percebe que o curso propicia ―uma abertura para um conjunto grande de desenvolvimento que é de interesse de todos‖.

Destaca, entre os conhecimentos a que teve acesso, os profissionais, da área técnica, porque eles completam a sua necessidade de uma nova qualidade profissional e de vida, o que já sente acontecer. Acredita que houve uma soma do que já sabia ao que está aprendendo, mas entende que os novos conhecimentos têm um valor muito importante. O que sabia era básico e conclui: ―então, eu diria que, comparando o que eu sabia com o que eu estou absorvendo hoje, há uma distância entre os dois tipos de conhecimentos‖.

Perguntamos a D7 que emoção que ele sentia diante desses novos conhecimentos e ele confessou tratar-se de um sentimento bom, de autoestima, ―um sentimento que elevava a personalidade e que os impulsionava a permanecer procurando sempre mais, a querer melhorar, a querer aprender mais e a prosseguir na vida acadêmica‖.

O discente acredita que a importância do PROEJA não se restringe à possibilidade de inserção no mercado de trabalho, mas estende-se à questão da valorização da pessoa e da educação em si, o que envolve ―os sentimentos, porque é uma questão de realização pessoal, é uma questão de valorização própria que impulsiona a querer aprender mais, a querer prosseguir, a querer ir em frente‖.

Perguntado sobre o que considera positivo no que passou a fazer e/ou a sentir que está ligado diretamente à sua participação no curso, reforçou o fato de o PROEJA proporcionar a elevação da autoestima dos discentes, fazê-los sentirem-se valorizados como pessoas por estarem inseridos novamente na vida acadêmica; permitir-lhes colher novas amizades, novos contatos, fazer novos amigos. Acha, contudo, que ainda há muito a buscar, porque ele acredita no PROEJA como ―um ponto de partida para que as pessoas deem continuidade aos seus sonhos, aos seus ideais profissionais, pessoais‖. ―O PROEJA cria expectativas, e os benefícios são enormes‖.

D7 acha que na vida o que faz as pessoas realizarem-se, serem felizes ou infelizes são as escolhas que fazem, e essas escolhas são pessoais. Considera a pouca convivência com a família, depois que passou a estudar, como um ponto não totalmente negativo, pois é um sacrifício válido porque, por meio dos estudos, conseguirá melhorar a qualidade de vida dos seus familiares, ou seja, tem ―uma perspectiva muito boa‖. Portanto, o lado positivo ―transpõe a questão da ausência‖.

Identifica como um sentimento negativo a discriminação que diz sofrer o discente do PROEJA. Acha que, ―até mesmo no mercado de trabalho, existe uma discriminação‖ e a considera bem clara e bem transparente, pois se pode percebê-la ao participar-se de uma entrevista, ao entregar-se um currículo, ao buscar-se o estágio. Conclui que, apesar de a qualidade de ensino ser a mesma, tanto para o PROEJA quanto para o sequencial, a discriminação ocorre.

O que mais lhe inspira confiança no curso é a qualidade de ensino e a possibilidade de inserção no mercado de trabalho. Vê a área que escolheu em expansão. Isso o deixa confiante quanto ao que vai fazer, pois acredita no que faz e ama fazê-lo. Declara que é ―o PROEJA que está lhe passando isso, está lhe dando um respaldo em termos de seguir adiante‖. O que faz hoje é com confiança devido à qualidade de ensino oferecida no curso.

Ao ser perguntado sobre o que modificaria no curso, D7 respondeu, de forma bem humorada, que extinguiria as provas como forma de avaliação. Em seguida, falou-nos sobre ―a atitude de certos professores que acreditam que estão dando aula para pessoas que já têm um conhecimento muito vasto e não voltam atrás‖. Considera que esses docentes não têm uma

qualificação específica para entender que no PROEJA as pessoas trabalham, vêm cansadas do trabalho, portanto precisam de uma atenção maior dos professores.

Sente-se feliz. Entende a felicidade como a soma de fatores e considera o PROEJA como parte integrante do rol de componentes da sua felicidade.

Seus projetos futuros são terminar o PROEJA, preparar-se para um curso de graduação na área de Engenharia Elétrica, dar continuidade à sua vida acadêmica e trazer qualidade de vida para os seus familiares.

Por fim, perguntamos a D7 como ele se sentira em participar da entrevista. Respondeu que se sentira gratificado porque pôde expor fatos, situações que iriam endossar, talvez no futuro, uma melhoria de ensino e qualidade no PROEJA e, quem sabe, de certa maneira, mudar a visão de certas pessoas com relação à qualidade de ensino, à questão de dar oportunidade, porque o PROEJA ―é uma porta aberta, é uma oportunidade que se está dando a pessoas que pararam de estudar. Jovens e adultos que, por algum motivo, lá trás, não tiveram condições de completar os seus estudos, e ninguém faz isso porque quer, as pessoas querem dar continuidade aos seus estudos‖. ―Acredito que a entrevista é importante por isso, porque vai se somar no trabalho a algo que já foi dito para ajudar ao PROEJA e a muitos, muitos jovens e adultos que precisam desse Sistema de Ensino‖. Conclui confessando que tem fé nisso.

D7 mostra-se realmente confiante, esperançoso, bem humorado; valoriza as relações com as pessoas; preocupa-se com o curso, pois se referiu à maioria dos problemas levantados pelos demais colegas entrevistados, com exceção dos relacionados aos equipamentos e à gestão.

Percebemos na sua prática que os problemas não são empecilhos que o fazem desistir, mas se tornam desafios que ele espera que, de alguma forma, sejam solucionados, e se dispõe a ajudar.

Um detalhe importante que nesse tipo de análise se configura como grande é que o entrevistado, de forma semelhante a D2, respondeu a maioria das perguntas como se estivesse falando em seu nome e em nome da turma. Por exemplo: ―a gente, quando abandona os estudos, sente uma lacuna muito grande em aberto‖; ―a gente começa a se tornar família...‖; ―É, se a gente for falar da área emocional, da questão dos sentimentos, eu acredito que não só prá mim, mas, eu digo, prá todos, é... mas vamos tratar do assunto particular...‖. Verificamos no último exemplo que o discente precisou se controlar para não falar em nome de todos, pois a pergunta era para ele.

D7 é então um discente que se mostra ativo, mais um sujeito que, a partir de suas estruturas prévias, ressignifica os conteúdos mostrando suas singularidades, não se pondo apenas como receptor de informações, mas reage e faz suas formulações (SOUZA, 2007, p 225).