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3. A Prática Pedagógica do PROEJA

4.6. Análise dos Dados das Entrevistas

4.6.2. Descrição e Interpretação dos Dados

4.6.2.8. Descrição e Interpretação dos Dados da Oitava Entrevista

A entrevista com D8 durou onze minutos e trinta e oito segundos. Esse discente é o mais novo do grupo entrevistado, tem 24 anos, estagia na área de mecânica das oito às quatorze horas. Cursa o sexto período de Mecânica. Sua última experiência no Ensino Básico foi em 2003, quando concluiu o Ensino Fundamental. Em 2006 participou da seleção para o PROEJA, começando a cursá-lo no ano seguinte.

Como discente do PROEJA, sente que, em alguns momentos, esses alunos são lembrados, mas, em outros momentos, são praticamente esquecidos. Cita como exemplo ―a carga horária do PROEJA, que é totalmente diferente da carga horária de um Sequencial ou do Integrado‖. Acredita que deveria ser igual.

Quanto às situações mais significativas na sua atuação como discente do Programa, considera algumas boas, como o estágio que está fazendo e alguns professores com os quais fez boas amizades. Contudo, destaca que houve ―mais pontos que não foram bons, principalmente nos primeiros períodos. Refere-se a comentários que diz ter ouvido de professores que o entristeceram e aos quais atribui a desistência de muitos alunos. Conta que muitos professores, ao invés de os incentivarem, os desestimularam, chegando a dizerem, segundo o discente, que o aluno ―estava na profissão errada‖. Considera esse tipo de observação ―uma coisa muito chata‖; mesmo assim, o aluno ao qual foi dirigido o comentário ainda se encontra estudando no IFPE. Deixa claro que não são todos os docentes que agem assim, pois existem alguns na escola que são ótimos, mas que ―a grande maioria‖, às vezes, nem quer se enquadrar ou dar aula para o PROEJA.

Perguntado sobre quais, entre os novos conhecimentos a que teve acesso, ganharam maior destaque em sua vida e por que, considera o aprendizado de Informática e o fato de ter conhecido a área de Desenho, que nunca tinha estudado, como acontecimentos positivos. Exaltou a postura do professor de Desenho como ―superdedicado‖, pois, além de ensinar a matéria, explicou como deveria fazer se quisesse ser um mecânico, ou se quisesse ir para a área de Desenho. Contou-nos com detalhes que o professor explicou que, ―se você começa

errado o desenho, deve voltar e apagar tudo, não ficar preocupado nem desistir, mas recomeçar tudo do zero. Nesse momento, D8 fala não só em seu nome, mas em nome da turma, e confessa que foi essa a disciplina de que mais gostaram, pois trouxe conhecimento novo e ―muito agradável mesmo‖.

Sobre as situações de confronto entre os novos conhecimentos apresentados no curso e os que já faziam parte da sua vida, D8 revela-nos que inicialmente há conhecimentos a que já tivera acesso, mas, do terceiro período em diante, foram os conhecimentos novos que modificaram muito a sua vida, ―coisas‖ interessantes que ele ―nem sonhava em ver e em fazer‖ e hoje faz a partir das aulas práticas.

Perguntamos-lhe, então, o que ele considera positivo no que passou a fazer e/ou a sentir que está ligado diretamente à sua participação no curso. Ele nos contou que a turma da qual faz parte atualmente não é a sua de origem, uma vez que não se sentia bem com a turma inicial e preferiu trancar um semestre para fazer outro curso em outra instituição, mas desistiu e passou a compor a turma em que se encontra, a qual considera totalmente diferente, pois, entre outras qualidades, é uma turma muito unida, em que todos se ajudam, há grupos de estudo para tirar dúvidas e ninguém se considera melhor do que ninguém.

Questionamo-lo sobre o que ele considera negativo no que passou a fazer e/ou a sentir que está ligado diretamente à sua participação no curso. O entrevistado, entendendo que estávamos perguntando sobre o curso, denunciou que achava negativa a forma como a coordenação é conduzida: ―a Coordenação do Curso de Mecânica, hoje, é praticamente abandonada‖. Para comprovar essa avaliação, lembrou que, se precisar de uma declaração de matrícula, que poderia ser feita em trinta minutos, leva três dias para recebê-la.

Explicamos melhor o que havíamos perguntado, tentando entender também a sua resposta. D8 declarou, então, que se decepcionara com a estrutura da Escola, pois antes de entrar tinha outra imagem do que seria o IFPE e, hoje, nota precariedades, como no laboratório de Mecânica, onde, dentre quinze ou vinte máquinas, só funcionam duas ou três, fato que não ocorre nos laboratórios de Eletrotécnica e de Refrigeração e Ar-Condicionado, onde ―tudo funciona normal‖.

O que mais lhe inspira confiança no curso são alguns professores e a própria turma, a qual faz de tudo para manter o vínculo a fim de que ninguém mais desista e todos cheguem até o final do curso.

D8 pretende cursar engenharia, tem vontade de fazer outras coisas, mas não quer desviar-se da área em que está e planeja casar-se.

Indagamos se ele se considerava uma pessoa feliz. Disse-nos que sim porque faz aquilo de que gosta. Perguntamos, ainda, se ele atribuía parte dessa felicidade ao fato de ser aluno do PROEJA, porém respondeu que não.

Ao lhe darmos oportunidade de falar sobre algo que não lhe foi perguntado, fez referência à Gestão Geral da Escola e atribui a ela o fato de o curso de Mecânica estar ―totalmente abandonado‖. Considera esse fato sério e que deveria ter destaque.

Finalmente, perguntamos sobre como o discente se sentiu ao participar da entrevista. Ele respondeu que se sentira, ―no início, um pouco enrolado, mas que depois foi se soltando e falando a verdade, falando o que realmente se passa no IFPE‖. Considera ―bom mostrar para as pessoas o que realmente acontece no IFPE, que não é só maravilhas, que se têm dificuldades, sim‖.

D8, como a maioria dos discentes entrevistados, não consegue realizar uma leitura da própria prática, mas faz críticas aos outros sujeitos discentes, aos docentes e à gestão. Só não critica o conhecimento, apesar de considerar pouca a carga horária para ele.

O discente, talvez pela pouca experiência, considera importante a união, a ajuda mútua, o fato de não se considerar melhor do que ninguém, mas, num primeiro momento, desistiu, sem tentar intervenção alguma, mesmo tendo voltado depois.

Notamos sua preocupação com o coletivo, pois, como D2 e D7, utiliza-se de forma recorrente da expressão ―a gente‖ para se referir a si, incluindo-se no grupo. É o que percebemos, por exemplo, em: ―a gente ouviu coisas que chatearam‖, ―a gente aprendeu um pouco‖, ―O professor superdedicado, que a gente tem e explicou a gente...‖

Percebemos que D8 ressignifica os conhecimentos das técnicas de desenho para a sua própria vida. Quando admira o professor que o ensina a voltar e recomeçar do zero, se errar, a não continuar o que percebe errado, seu relato parece-nos tão forte como se falasse além do desenho, como se dissesse das próprias atitudes.