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Não pretendemos com o estudo ora desenvolvido adentrar nas origens do

instituto da antecipação da tutela no direito estrangeiro, mas tão somente analisar seu

surgimento no ordenamento jurídico brasileiro, demonstrando conseqüências práticas

propiciadas pela sua regular utilização em processos que possuem como objeto a concessão

de benefícios previdenciários.

Inserido no contexto em que já se encontrava à época o Poder Judiciário

Brasileiro, cuja lentidão na análise e julgamento das controvérsias a ele colocadas causa

cada vez mais revolta e descrença nas instituições do Estado por parte dos cidadãos, foi

introduzido no ordenamento jurídico pátrio o instituto da antecipação da tutela, sendo

alterada para tanto a redação do art. 273, do Código de Processo Civil.

Na mesma oportunidade, o legislador previu, ainda que de forma implícita,

a possibilidade de antecipação da tutela de ofício pelo magistrado, amparada no art. 461,

caput e §§ 3º e 5º, do Código de Processo Civil, na redação também dada pela Lei

nº 8.952/94

1

.

Para Friede

2

, “[...] deve ser reconhecido que a introdução da tutela

antecipada no Código de Processo Civil deve-se, sobretudo, a uma permanente preocupação

com a presteza da tutela jurisdicional.” No mesmo sentido, ensina Dinamarco

3

que:

É muito antiga a preocupação pela presteza da tutela que o processo possa

oferecer a quem tem razão. Os interdicta do direito romano clássico,

medidas provisórias cuja concessão se apoiava no mero pressuposto de

serem verdadeiras as alegações de quem as pedia, já eram meios de

oferecer proteção ao provável titular de um direito lesado, em breve tempo

e sem as complicações de um procedimento regular (cf. ALVES, José

Carlos Moreira. Direito romano, I, n. 132, especialmente p. 321-322). No

direito moderno, a realidade dos pleitos judiciais e a angústia das longas

esperas são fatores de desprestígio do Poder Judiciário (como se a culpa

fosse só sua) e de sofrimento pessoal dos que necessitam da tutela

jurisdicional. Fala-se no binômio custo-duração como o eixo em torno do

qual gravitam todos os males da justiça contemporânea (Vincenzo

Vigoritti) e com toda a autoridade já foi dito, em sugestiva imagem, que o

tempo é um inimigo do direito, contra o qual o juiz deve travar uma guerra

sem tréguas (Carnelutti). Acelerar os resultados do processo é quase uma

1 BRASIL. Lei nº 8.952, de 13 de setembro de 1994. Altera dispositivos do Código de Processo Civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1994. Disponível em: <http://planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8952.htm>. Acesso em: 15 maio 2008.

2 FRIEDE, Reis. Tutela antecipada, tutela específica e tutela cautelar. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 41. 3 DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma do código de processo civil. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 138-141.

obsessão, nas modernas especulações sobre a tutela jurisdicional. O novo

art. 273, do Código de Processo Civil, ao instituir de modo explícito e

generalizado a antecipação dos efeitos da tutela pretendida, veio com o

objetivo de ser uma arma poderosíssima contra os males corrosivos do

tempo no processo [...]. A técnica engendrada pelo novo art. 273 consiste

em oferecer rapidamente a quem veio ao processo pedir determinada

solução para a situação que descreve, precisamente aquela solução que ele

veio ao processo pedir. Não se trata de obter medida que impeça o

perecimento do direito, ou que assegure ao titular a possibilidade de

exerce-lo no futuro. A medida antecipatória conceder-lhe-á o exercício do

próprio direito afirmado pelo autor. Na prática, a decisão com que o juiz

concede a tutela antecipada terá, no máximo, o mesmo conteúdo do

dispositivo da sentença que concede a definitiva e a sua concessão

equivale, mutatis mutandis, à procedência da demanda inicial – com a

diferença fundamental representada pela provisoriedade [...]. Antecipar os

efeitos da tutela seria antecipar os efeitos do provimento, ou da sentença

que no futuro se espera. Na realidade, tutela jurisdicional é a proteção em

si mesma e consiste nos resultados que o processo projeta para fora de si e

sobre a vida dos sujeitos que litigam. Ela coincide com os efeitos dos

provimentos emitidos pelo juiz. Beneficiar-se de efeitos antecipados, como

está na letra do art. 273, é precisamente beneficiar-se da tutela antecipada

[...]. Obviamente, não se pode antecipar algo que de antemão já se sabe que

será impossível obter em caráter definitivo. O objeto cujo gozo se

antecipará não pode ser qualitativamente diferente, nem quantitativamente

maior do que aquele que foi pedido na inicial [...].

Sobre a efetividade do processo, assevera Vilar Filho

4

que:

[...] o processo, principalmente aquele que adota o rito ordinário, é tão

longo, em decorrência da necessidade de preservar a segurança jurídica e o

contraditório (e, ainda, em virtude dos problemas estruturais do Judiciário),

que os efeitos da sentença dele decorrente podem ser, muitas vezes,

inócuos. Com efeito, de nada adiantará ao cidadão, após vários anos de

intenso litígio judicial, vir a obter uma decisão final favorável ao seu

pleito, se tal decisão é incapaz de gerar efeitos satisfatórios no mundo

fático. Neste caso, não há processo efetivo, vez que a efetividade consiste

exatamente na obtenção de uma decisão, em tempo razoável, que gere

efeitos práticos satisfatórios. O inciso I do artigo 273 do CPC veio

possibilitar, assim, a proteção do resultado prático equivalente da tutela

jurisdicional, por intermédio da entrega, imediata, do bem da vida

pleiteado. Note-se que a eficácia do processo é protegida através da

satisfação, ainda que provisória do pleito autoral. A antecipação decorre,

pois, da preocupação do legislador em garantir que a prestação

jurisdicional seja entregue “em tempo adequado, mesmo que antes da

sentença, caso isso se mostre necessário a manter a integridade do direito

reclamado”. Referida preocupação é conseqüência lógica da proibição, no

Estado de Direito, do uso da autotutela, substituída que foi pela

exclusividade da jurisdição. Afinal, se o Estado monopoliza a solução dos

conflitos sociais, a solução por ele dada deve ser suficientemente eficaz de

atender ao seu desiderato. Do contrário, estaríamos diante de uma

4 VILAR FILHO, José Eduardo de Melo. A efetividade do processo e a irreversibilidade da antecipação de tutela: um choque de direitos fundamentais – proposta de solução. Revista Dialética de Direito Processual, São Paulo, ano 1, n. 5, p. 44-47, ago. 2003. (grifo do autor)

verdadeira denegação da justiça. Lembre-se, pois, a máxima chiovendiana

de que a necessidade de recorrer ao processo para obter razão não deve

reverter em prejuízo para quem tem razão [...]. Verificado, pois, o status

constitucional do direito à efetividade do processo, temos que a utilização

do instituto da antecipação de tutela, dele decorrente, deve ser pautada

sempre na preservação do referido direito fundamental [...]. Os direitos

fundamentais são elementos constitutivos do Estado de Direito e elementos

básicos de realização do princípio democrático, devendo ser considerados,

portanto, verdadeiros princípios do Estado Democrático de Direito. Como

princípios que são, os direitos fundamentais diferenciam-se das regras,

gozando, por conseguinte, de status jurídico privilegiado. Regras trazem a

descrição de estados de coisas formados por um fato ou certo número

deles. Já princípios referem-se diretamente a valores [...]. Temos, portanto,

que, aos direitos fundamentais, não são aplicáveis as classificações

usualmente trazidas pelos manuais de direito constitucional pátrio quanto à

chamada carga de eficácia das normas constitucionais. Isto é, os direitos

fundamentais não comportam classificação em direitos plenamente

eficazes, de eficácia limitada ou de eficácia contida, bem como não se pode

falar em normas constitucionais de direitos fundamentais meramente

programáticas. Essas normas, que consagram direitos fundamentais, têm,

na classificação de Canotilho, três funções distintas: a) a função de defesa

dos cidadãos, que assume duas perspectivas diferentes: no plano jurídico-

objetivo, a de competência negativa para os poderes públicos, de modo a

proibir a ingerência destes na esfera jurídica individual do cidadão e, no

plano jurídico-subjetivo, a de poder exercer positivamente os direitos

fundamentais e de exigir omissões dos poderes públicos, evitando lesões

por parte dos mesmos; b) a função de prestação social dos direitos

fundamentais, que corresponde a dizer que, tendo o particular o direito de

obter algo por intermédio do Estado, este deve propiciar meios para que o

particular obtenha o que lhe é devido, como, por exemplo, saúde,

educação, segurança, justiça; c) a função de proteção contra terceiros, que

significa a obrigação de o Estado proteger os titulares dos direitos

fundamentais perante terceiros. Assim, da garantia constitucional de um

direito, resultado para o Estado o dever de protegê-lo perante atividades

perturbadoras ou lesivas de terceiros, de modo a propiciar o seu livre

exercício. Portanto, sendo a efetividade do processo um direito

fundamental, deve o Estado (por meio de qualquer de seus três Poderes),

de acordo com o moderno constitucionalismo, usar de todos os meios

possíveis para que dele se possa extrair o máximo de eficácia, dando-se

vazão às citadas funções dos direitos fundamentais. Nesta esteira de

pensamento, cabe ao magistrado, quando, analisando um processo em que

a efetividade da tutela esteja ameaçada, tomar todas as providências

possíveis e necessárias para que o direito fundamental ameaçado seja

preservado, podendo, inclusive, deixar de aplicar determinada regra que

esteja colocando em perigo a efetividade do processo. De fato, qualquer

norma que, no caso concreto, ameace a efetividade do processo, será, em

face do direito fundamental consubstanciado no inciso XXXV do artigo 5º,

considerada inconstitucional. Os direitos fundamentais não podem ser, por

sua própria natureza, limitados por normas que não sejam princípios, ou

seja, não podem sofrer limitação por simples regras, de natureza

infraconstitucional. Portanto, aceitar que uma norma infraconstitucional

que contraria, ainda que somente no caso concreto, um direito fundamental

seja aplicada, seria o mesmo que admitir-se que uma norma de hierarquia

inferior desrespeitasse a Carta Magna, situada em patamar superior na

pirâmide normativa. Assim, temos que as normas de direito fundamental só

podem ser restringidas por outras de igual hierarquia constitucional. Ainda

em virtude da supremacia da Constituição, deve o magistrado, além de

deixar de aplicar as disposições normativas que considerar contrárias aos

direitos fundamentais, utilizar-se de instrumentos, ainda que não previstos

em lei, para imprimir a maior eficácia possível aos referidos direitos, pois,

conforme já asseverado, não mais se admite haver na Constituição normas

que sejam meras exortações morais ou declarações de princípios e

promessas a serem atendidas futuramente, se possíveis e na medida do

possível. Assim, deve o magistrado fazer tudo o que estiver ao seu alcance

para atender e concretizar os mandamentos constitucionais. Afinal, nunca é

demais repetir que a concepção que entende os direitos fundamentais e as

normas constitucionais em geral, como meras “linhas programáticas

dirigidas ao legislador, e não como autênticas normas jurídicas

imediatamente preceptivas e diretamente aplicáveis pelos tribunais ou

quaisquer outras autoridades” não pode mais ser aceita, devendo as normas

de direitos fundamentais, por força do § 1º do artigo 5º ser aplicadas com

eficácia e valor jurídico imediato.

Nesse contexto, Dias

5

também leciona que o princípio da efetividade da

jurisdição consiste numa das garantias fundamentais dos cidadãos previstas na Constituição

Federal de 1988, possibilitando não apenas o pleno acesso ao Poder Judiciário, assim como

uma prestação jurisdicional célere e eficaz. Para a autora, o atendimento ao princípio da

efetividade impõe necessariamente a sua compatibilização com o princípio constitucional do

devido processo legal, consubstanciado na segurança jurídica. Deve ocorrer, assim, a

possibilidade de todos os litigantes utilizarem-se de procedimentos previamente

estabelecidos na defesa do interesse (direito) debatido.

Na mesma linha, sustenta o Juiz Federal Francisco Barros Dias

6

que:

[...] ao visualizarmos o direito processual civil por meio de lente do acesso

à Justiça temos que fazer aflorar toda uma problemática inserida num

contexto social e econômico. Daí a necessidade do processualista socorrer-

se de outras ciências, bem como de dados estatísticos, a fazer refletir as

causas de expansão da litigiosidade, bem como os modos de sua solução e

acomodação. O processualista precisa certificar-se de que toda técnica

processual, além de não ser ideologicamente neutra, deve estar sempre

voltada a uma finalidade social. Deve convencer-se, ainda, de que não

somente os órgãos judiciários tradicionais têm condições para solucionar

conflitos de interesses. E, mais, se bem que indissociavelmente ligada à

noção de acesso, aquele que trabalha com o direito tem o dever de inbuir-

se da mentalidade instrumentalista, já que falar em instrumentalidade do

processo ou em sua efetividade significa como mostra Cândido Rangel

5 BUTTENBENDER, Carlos Francisco. A antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional pretendida. Porto Alegre, Síntese, 1997. p. 18 apud DIAS, Beatriz Catarina. A jurisdição na tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 69.

6 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela cautelar e tutela antecipatória. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 69, p. 105-110 apud DIAS, Francisco Barros. Processo de conhecimento e acesso à justiça (tutela antecipatória). Justa Legem: publicações de artigos, Mossoró, 26 maio 2000. Disponível em: <http://www.juxtalegem.com.br/artigos/Processo_de_Conhecimento_e_Acesso_a_Justica.php>. Acesso em: 20 mar. 2008. (grifo do autor)

Dinamarco, “falar dele como algo posto à disposição das pessoas com

vistas a fazê-las mais felizes (ou menos infelizes), mediante a eliminação

dos conflitos que as envolvem, com decisões justas”. Melhor é falarmos,

então, seguindo a feliz expressão cunhada por Kazuo Watanabe, em acesso

à ordem jurídica justa. Acesso à justiça deve significar o “acesso a um

processo justo, o acesso ao devido processo lega”, a garantia de acesso “a

uma Justiça imparcial; a uma Justiça igual, contraditória, dialética,

cooperatória, que ponha à disposição das partes todos os instrumentos e

os meios necessários que lhes possibilitem, concretamente, sustentarem

suas razões, produzirem suas provas, influírem sobre a formação do

convencimento do juiz”. E mais: deve significar acesso à informação e à

orientação jurídica, e a todos os meios alternativos de composição de

conflitos. O acesso à ordem jurídica justa é, antes de tudo, uma questão de

cidadania. A participação da gestão do bem comum através do processo

cria “o paradigma da cidadania responsável. Responsável pela sua

história, a do país, a da coletividade. Nascido de uma necessidade que

trouxe à consciência da modernidade o sentido democrático do discurso,

ou seja, o desejo instituinte de tomar a palavra, e ser escutado. É

necessário, portanto, que também a jurisdição seja pensada com vários

escopos, possibilitando o surgir do processo como instrumento de

realização do poder que tem vários fins”.

Em alguns momentos, inequivocamente, ocorre conflito entre os dois

princípios constitucionais referidos, situação na qual entendemos que deve prevalecer o da

efetividade da tutela (antecipação) sobre o do contraditório. É que, em algumas situações, se

a tutela não for antecipada não há utilidade ao processo, o que retira a relevância do pleno

contraditório. Ao contrário, se a medida processual é adequadamente utilizada para garantir

a efetividade do processo, temos a manutenção do interesse por um contraditório amplo,

possibilitando ao final da instrução do processo a manutenção da tutela antecipada ou a sua

revogação, com os seus regulares efeitos de direito.

Sobre os efeitos da revogação da antecipação da tutela, abordaremos, no

desenrolar deste estudo, as conseqüências processuais e econômicas advindas desta medida,

observado sempre o objeto do trabalho (antecipação da tutela na concessão de benefícios

previdenciários).

Através dos cinco escopos do processo efetivo abordados por Machado

7

,

quais sejam: primeiro, o processo deve dispor de instrumentos de tutela adequada a todos os

direitos; segundo, tais instrumentos devem se revelar praticamente utilizáveis por quem

quer que se apresente como suposto titular desses direitos, mesmo quando seja

indeterminada ou indeterminável o círculo dos sujeitos; terceiro, é necessário que se

assegurem condições propícias à exata e completa reconstituição dos fatos relevantes a fim

7 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Notas sobre o problema da efetividade do processo. In: TEMAS de Direito Processual, 3ª série. São Paulo: Saraiva, 1982. p. 27-28 apud MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Tutela antecipada. 3. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999. p. 35-36.

de que o convencimento do juiz corresponda, tanto quanto possível, à realidade; quarto, o

resultado do processo deve ser tal que permita ao vencedor o pleno gozo da utilidade

específica assegurada pelo ordenamento; quinto, tais resultados devem ser atingidos com

um mínimo dispêndio de tempo e de energia processual, podemos perceber que a

antecipação da tutela na concessão de benefícios previdenciários está diretamente ligada à

efetividade do processo, possibilitando o atendimento rápido e eficaz pelo Poder Judiciário

dos pedidos formulados pelos segurados e garantindo a utilidade do processo, na medida em

que afasta os dissabores ocasionados pela demora na tramitação das ações.

Ensina Marinoni

8

que o tempo é o eixo central do problema da antecipação

da tutela, na medida em que todos conhecem os prejuízos financeiros e psicológicos que a

pendência de uma lide pode ocasionar, configurando o grande adversário do ideal de

efetividade do processo. Para o autor “[...] a demora processual é tanto mais insuportável

quanto menos resistente economicamente é a parte, o que vem a agravar a quase que

insuperável desigualdade substancial no procedimento.”

9

De outra parte, com a constante aplicação da antecipação da tutela a partir

de 1994, tivemos uma aparente confusão entre este instituto e as cautelares anteriormente

previstas no Código de Processo Civil (CPC). No entanto, os doutrinadores se encarregaram

de afastar eventuais conflitos, observando basicamente que enquanto as medidas cautelares

almejam assegurar que o processo principal não tenha um resultado frustrado, inútil ou

inócuo, a tutela antecipada busca o próprio bem jurídico postulado, mas de forma

antecipada, ou seja, antes da finalização da tramitação do processo (trânsito em julgado).

Posteriormente, o legislador ordinário, procurando afastar eventual excesso

de formalismo existente na caracterização que envolve o instituto da tutela antecipada e a

medida cautelar, editou a Lei nº 10.444/02, que acrescentou o § 7º ao art. 273, do CPC,

possibilitando ao Juízo, em inegável utilização do tradicional princípio da fungibilidade,

deferir medida cautelar incidental no processo em que foi requerida providência dessa

natureza a título de antecipação da tutela, tudo a incrementar o poder coercitivo deste

instituto processual.

A filosofia desta lei, aduz o professor Arruda Alvim

10

, “[...] afina-se com a

tônica principal da maioria das reformas precedentes preordenadas, aquelas e esta, à

8 MARINONI, Luiz Guilherme. Efetividade do processo e tutela antecipatória. Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 54, n. 706, p. 56, ago. 1994.

9 Ibid., p. 56.

10 ALVIM, Arruda. Notas sobre a disciplina da antecipação da tutela na Lei 10.444, de maio de 2002. In: ______.; ALVIM, Eduardo Arruda (Org.). Inovações sobre o direito processual civil: tutelas de urgência. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 3.

concretização no plano normativo mais específico da efetividade e da instrumentalidade do

processo civil.” Para o autor, esta lei busca realizar, no plano prático, a efetividade do

processo, proporcionando que, “[...] entre a decisão e a real produção dos seus efeitos,

benéficos ao autor, a quem se outorgou proteção, decorra o menor tempo possível. Tende a

que, entre a decisão e a sua eficácia, não haja indesejável intervalo.”

Este foi o cenário de surgimento e aprimoramento do instituto da

antecipação da tutela no ordenamento jurídico brasileiro.