1.4 O Poder Judiciário e a implantação de benefícios previdenciários
1.4.3 Os Juizados Especiais Federais
Sobre os Juizados Especiais Federais, defendemos anteriormente em artigo
publicado na Revista Direito Federal, da Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE)
53,
que no Brasil, ainda que com enorme atraso, também ocorreu, a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988, a consagração de novos direitos econômicos e sociais, em
especial o livre acesso à justiça. Na oportunidade, foram criados novos tribunais e houve
minuciosa divisão da competência para analisar e julgar os feitos, tudo a incrementar e
facilitar uma aproximação do Poder Judiciário com os cidadãos.
Somadas à conjuntura de abertura política, as atitudes dos governantes no
sentido de propagar o acesso à justiça provocaram uma imensa procura dos tribunais pátrios,
gerando sobrecarga de trabalho não dimensionada até aquele momento pelos legisladores
ordinários.
O sistema processual à época existente passou a ser constantemente criticado
pelos operadores do direito e pelos litigantes, na medida em que impunha exagerado tempo de
tramitação para solução da controvérsia colocada em Juízo.
Dentro desse panorama de crise na prestação da jurisdição pelo Estado –
necessidade de tutela efetiva (célere e eficaz) – exsurgem os Juizados Especiais Cíveis, com o
53 COSTA, Yvete Flávio da; SOUZA, Peterson de. A efetividade do processo nos juizados especiais federais.
Direito Federal: Revista da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Brasília, DF, ano 23, n. 83, p. 259-266, jan./mar. 2006.
fito de atuar nos conflitos de interesse com maior rapidez, imprimindo efetiva solução. Com a
regulamentação assentada na Lei nº 9.099/95
54, os Juizados Especiais Cíveis prevêem, a partir
da constatação dos problemas sócio-judiciais decorrentes da demora na prestação
jurisdicional, como elemento deteriorador do direito material que se discute (bem da vida) e
como fonte de descrédito do processo, novos procedimentos, dotados de técnica tendente a
vencer os óbices para uma prestação jurisdicional efetiva. Trata-se de um mecanismo
importante na incessante busca de uma tutela jurisdicional mais funcional, adequada, célere e
eficaz.
55Posteriormente, com a publicação da Emenda Constitucional nº 22
56, de 18
de março de 1999, que acrescentou parágrafo único ao artigo 98 da Constituição Federal, e o
advento da Lei nº 10.259/01, surgem os Juizados Especiais Federais, amparados nos mesmos
objetivos do similar estadual, acrescidos de “[...] características voltadas para a viabilidade da
prestação jurisdicional de acervos com grande volume de processos em boa parte
estereotipados e de menor complexidade [...].”
57.
Significativas alterações processuais foram implementadas no sentido de
retirar diversos privilégios que protegiam os entes públicos, tais como o pagamento através de
Requisição de Pequeno Valor (RPV) de valores não superiores a 60 salários mínimos (sem
precatório), a inexistência de reexame necessário e a possibilidade de se determinar o
seqüestro de numerário suficiente para o cumprimento da decisão proferida.
Houve, inequivocamente, limitação na utilização dos recursos disponíveis no
Código de Processo Civil (CPC). Na fase de instrução, por exemplo, não é possível,
observado o disposto nos artigos 4º e 5º da Lei nº 10.259/01, a utilização de agravo de
instrumento ou retido nos autos para combater decisão que não acolhe pedido de antecipação
de tutela ou deferimento de liminar. São admitidos apenas recursos das decisões que
antecipam a tutela ou concedem liminares, ainda que este dispositivo venha gerando
constantes protestos por parte das comunidades jurídicas envolvidas.
54 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 27 set. 1995. Disponível em: <http://planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm>. Acesso em: 15 maio 2008. 55 FARIAS, Cristiano Chaves de. Os juizados especiais cíveis como instrumento de efetividade do processo e a
atuação do ministério público. Revista de Processo, São Paulo, ano 29, n. 117, p. 138-139, set./out. 2004. 56 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federal do Brasil. Acrescenta parágrafo
único ao art. 98 e altera as alíneas "i" do inciso I do art. 102 e "c" do inciso I do art. 105 da Constituição Federal. Emenda Constitucional n. 22, de 18 de março de 1999. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 mar. 1999. Disponível em: <http://planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc22.htm>. Acesso em: 15 maio 2008. 57 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO [SÃO PAULO (Estado)]. Juizados Especiais Federais
A inexistência de prazos diferenciados nos Juizados Especiais Federais para
a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, conforme
disposição expressa do art. 9º da supra referida norma, evidencia a intenção do legislador de
não possibilitar condutas protelatórias por quaisquer das partes. Na mesma linha está o
parágrafo único do art. 10 daquele diploma legal ao permitir que os representantes judiciais da
União, autarquias, fundações e empresas públicas federais possam conciliar, transigir ou
desistir nos processos da competência dos Juizados Especiais Federais.
Os Juizados Especiais Federais ratificaram, ainda, a possibilidade de
utilização de meios eletrônicos de comunicação dos atos processuais, prevista nos §§ 2º e 3º
do art. 13 da Lei nº 9.099/95, que dispõem que os atos a serem praticados fora dos limites
territoriais do juizado podem ser praticados por qualquer meio idôneo de comunicação,
dispensando a formalidade das cartas precatória, de ordem ou rogatória, enquanto que apenas
os atos essenciais serão resumidamente registrados no processo, podendo os demais serem
armazenados em meios magnéticos com inutilização após o trânsito em julgado. E, inovaram
no que tange à citação e intimação das partes, pois o artigo 8º, § 2º, determina que “[...] os
tribunais poderão organizar serviço de intimação das partes e de recepção de petições por
meio eletrônico.”
Inegável, portanto, que todas essas medidas foram inseridas na Lei nº 10.259/01
para “[...] imprimir maior efetividade ao processo, garantindo o seu caráter instrumental, de
maneira a que sirva, de fato, à aplicação do direito material, dando a cada um o que é seu, de
modo adequado e célere.”
58.
Buscando obter resultados efetivos, a Justiça Federal reavaliou as estruturas
existentes, rompendo os paradigmas que até então orientavam a organização e a tramitação
dos processos nas varas comuns e estruturou os Juizados utilizando radicalmente os meios de
informatização disponíveis, inclusive no tocante à substituição do papel por “autos
eletrônicos”, “[...] o que ensejou modificações na estrutura administrativa, criando condições
para resultados positivos contínuos e progressivos, obtidos no aprimoramento do acesso à
justiça e no exercício da prestação jurisdicional.”
59A curta experiência dos Juizados Especiais Federais já permite uma
comparação que demonstra o quão efetivo é esse sistema de “distribuição de justiça”.
Consideradas as varas previdenciárias especializadas e o Juizado, todos em São Paulo –
Capital, verificou o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, após amplo levantamento
58 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO [SÃO PAULO (Estado)], 2004/2005, op. cit., p. 136. 59 Ibid., p. 8.