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A origem e o funcionamento da Lava Jato

4 A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À

4.2 Casos de aplicação do instituto

4.2.2 Petrolão (Lava Jato)

4.2.2.1 A origem e o funcionamento da Lava Jato

A Operação Lava-Jato foi iniciada em 2009 pela Polícia Federal ao investigar, em Londrina, no Paraná, organizações criminosas lideradas por doleiros e responsáveis pela movimentação financeira e lavagem de recursos de pessoas físicas e jurídicas envolvidas com vários crimes, como o ex-deputado federal José Janene.

As organizações criminosas atuavam em vários estados brasileiros, à exemplo do Paraná, Brasília, Rio Grande do Sul e São Paulo, e uma delas, para movimentar o dinheiro, se utilizava de um posto de gasolina que tinha como proprietário um doleiro ligado à Alberto Youssef, envolvido em outros esquemas de lavagem de dinheiro, como o caso Banestado, e um dos primeiros delatores da operação, juntamente com Paulo Roberto Costa, que levantou suspeitas por ganhar um luxuoso carro de Youssef.

Com base nessas investigações, foram tomadas as primeiras medidas ostensivas da operação, quando foram apreendidos carros luxuosos, jóias, documentos, equipamentos eletrônicos e vários doleiros foram presos, bem como o ex-diretor Paulo Roberto. Diante disso, o Ministério Público conseguiu colher provas do grandioso esquema de corrupção na Petrobrás e passou a aprofundar as investigações.

Segundo o Ministério Público (2015, online), o esquema, que dura pelo menos dez anos, funcionava da seguinte maneira: grandes empreiteiras, organizadas em cartel, pagavam propinas (que variavam de 1 a 5% do valor total de contratos bilionários superfaturados) para altos executivos da Petrobrás e outros agentes públicos, que recebiam referido pagamento por meio de operadores financeiros, dentre eles os doleiros inicialmente investigados.

Sendo assim, foram identificadas quatro figuras necessárias ao funcionamento do sistema de corrupção na estatal: as empreiteiras, os funcionários da estatal, os operadores financeiros e os agentes políticos.

Como se sabe, para celebrar contratos junto ao Poder Público, deve ser obedecido um processo de licitação, no qual as empresas concorrem entre si e o órgão estatal contrata aquela que oferece o menor preço para o produto ou serviço requisitado.

No caso em questão, as empreiteiras se organizavam em cartel, como se fosse um clube, para forjar uma livre concorrência nas licitações feitas pela estatal. Os preços oferecidos à Petrobras eram previamente calculados e ajustados em reuniões secretas, nas quais decidiam, inclusive, “de quem era a vez”, ou seja, qual empreiteira celebraria aquele

contrato superfaturado. O sistema era muito bem organizado a fim de distribuir as obras da maneira mais justa entre as empresas.

Dentre as empresas investigadas estão as construtoras Odebrecht, Galvão Engenharia, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, UTC, a refinaria Abreu e Lima, dentre muitas outras.

Para garantir que apenas aquelas empreiteiras membros do cartel fossem convidadas para as licitações, elas precisavam do apoio dos funcionários da estatal “...que não só se omitiam em relação ao cartel, do qual tinham conhecimento, mas o favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as participantes, em um jogo de cartas marcadas.” (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2015, online). Referido apoio era obtido através do pagamento de propinas, obviamente, que envolviam valores altíssimos.

É nessa parte que entram os operadores financeiros. Estes, responsáveis por intermediar o pagamento do suborno e por entregá-lo já disfarçado de recurso lícito, recebiam o dinheiro das empreiteiras por movimentação no exterior ou através de contratos simulados com empresas de fachada para, posteriormente, entregá-lo ao beneficiário por transferência no exterior ou mediante pagamento em bens.

Por fim, os agentes políticos, responsáveis por indicar ocupantes dos altos cargos das diretorias envolvidas no esquema, que aprovavam os contratos com as empreiteiras. O envolvimento político se mostrou mais evidente, para o Ministério Público (2015, online), nas diretorias de Abastecimento, ocupada, de 2004 à 2012, por Paulo Roberto Costa, indicado pelo Partido Progressista (PP) com posterior apoio do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB); de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do Partido dos Trabalhadores (PT); e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB.

E expõe:

Para o PGR, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando Baiano e João Vacari Neto atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros, em nome de integrantes do PMDB e do PT.

Segundo investigações, Alberto Youssef era incumbido de repassar os recursos desviados à Paulo Roberto Costa, aos políticos do PP e PMDB (responsáveis por sua indicação) e, uma parte, aos políticos do PT, por terem indicado Renato Duque para Diretoria de Serviços, que determinava qual a empreiteira seria contratada; João Vacari repassava à

Renato Duque e aos políticos do PT; e Fernando Baiano à Nestor Cerveró e aos políticos do PMDB.

Em março de 2015, o Procurador-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 requerimentos para a abertura de inquéritos criminais objetivando investigar fatos atribuídos a pessoas citadas em delações premiadas, titulares de foro privilegiado e relacionadas aos partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2015, online).

A primeira instância ficou responsável por investigar e julgar os agentes políticos por improbidade, na área cível, e aqueles sem prerrogativa de foro na área criminal. Segundo site do Ministério Público (2015, online), até novembro de 2015, foram 116 mandados de prisão cumpridos, 85 pedidos de cooperação internacional, 35 acordos de colaboração premiada, 4 acordos de leniência, 173 pessoas acusadas criminalmente e 37 por improbidade administrativa, culminando em 75 condenações, dentre os condenados Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Alberto Youssef, Júlio Camargo e Fernando Baiano.