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3 A QUESTÃO DO COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL

3.3 Os mecanismos de combate à corrupção no Brasil

3.3.3 Convenções Internacionais

A corrupção não é um problema enfrentado apenas pelo Brasil, mas por todos os países do mundo. Além disso, os casos de corrupção tomam proporções extraterritoriais, ao prejudicar as relações exteriores ou ao envolver outros países no esquema, como quando os

corruptos se valem de países conhecidos como “paraísos fiscais” para cometer o crime de lavagem de dinheiro, por exemplo.

Preocupados com os prejuízos trazidos pela corrupção e convencidos de que esta deixou de ser um problema local para converter-se em um fenômeno transnacional, que afeta todas as sociedades, os países se mobilizaram para o combate à corrupção, criando instrumentos internacionais com o fim de promover a cooperação internacional e tomar as devidas providências contra essa prática (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2010, p. 1).

As convenções internacionais ratificadas pelo Brasil sobre o combate à corrupção são: a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, a Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.

A primeira, estabelecida no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, foi firmada pelo Brasil em 1997, ratificada em 2000, e promulgada pelo Decreto Presidencial nº 3.678/2000.

Tem como finalidade reprimir, efetiva e coordenadamente, o suborno de funcionários públicos estrangeiros nas transações comerciais internacionais, adotando medidas como a responsabilização de pessoas jurídicas que corrompam agentes públicos estrangeiros e a manutenção de registros contábeis que dificultem a lavagem de dinheiro e o pagamento de propinas, e obrigando cada país a adaptar a legislação para criminalizar o ato de corrupção de funcionários públicos, inclusive estrangeiros.

Para suprir essas exigências, foram editadas as Leis nº 10.467/02 e 12.846/13. A primeira acrescentou ao Código Penal um capítulo referente aos crimes praticados por particular contra a administração pública estrangeira. A segunda prevê a responsabilização de pessoas jurídicas que praticarem atos de corrupção contra a administração pública estrangeira.

A Convenção Interamericana contra a Corrupção foi firmada em 1996 no âmbito da Organização dos Estados Americanos, aprovada e promulgada (Decreto Presidencial nº 4.410) pelo Brasil no ano de 2002.

Tem como propósitos, definidos em seu artigo II, “promover e fortalecer o desenvolvimento, por cada um dos Estados Partes, dos mecanismos necessários para prevenir, detectar, punir e erradicar a corrupção”, bem como “promover, facilitar e regular a cooperação entre os Estados Partes a fim de assegurar a eficácia das medidas e ações adotadas.”

Para tanto, define alguns atos de corrupção para efeitos da Convenção em seu artigo VI e determina que os Estados Partes adotem medidas legislativas para criminalizar referidos atos, quais sejam:

l. Esta Convenção é aplicável aos seguintes atos de corrupção:

a. a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens para si mesmo ou para outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;

b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens a esse funcionário público ou outra pessoa ou entidade em troca da realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;

c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerci funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de sua; funções, a fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou pari um terceiro;

d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qualquer dos atos a que se refere este artigo; e

e. a participação, como autor, coautor, instigador, cúmplice, acobertado! ou mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de perpetração ou na associação ou confabulação para perpetrar qualquer dos atos a que se refere este artigo.

Prevê em seu artigo III que os Estados devem considerar a adoção de medidas preventivas, em seus próprios sistemas institucionais, como: o estabelecimento de normas de conduta para o exercício correto e honrado das funções públicas; a criação de mecanismos para tornar efetivo o cumprimento destas normas; a instituição de sistemas para arrecadação e controle da renda do Estado que impeçam a prática da corrupção; e o estímulo à participação da sociedade civil e de organizações não governamentais na prevenção à corrupção.

A Convenção prevê ampla cooperação entre os países, determinando a facilitação de diligências, ligadas à investigação e à obtenção de provas, solicitadas por autoridades do país estrangeiro, bem como possibilitando extradições de criminosos corruptos.

Em razão da referida Convenção, o Brasil já evoluiu bastante no combate à corrupção, através da edição de leis, como a Lei de Conflito de Interesses (Lei nº 12.813/13), que “estabelece formas do agente público se prevenir da ocorrência do conflito de interesses, prevendo, por outro lado, punição severa àquele que se encontrar em alguma dessas situações”, e da criação de órgãos como a Secretaria de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas – SPCI no âmbito da Controladoria Geral da União.

Por fim, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, assinada em 2003 e promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 5.687 de 2006. Contando com a participação de mais de cem países, é considerada a mais importante no combate à corrupção global.

Segundo o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes - UNODC (2010, p. 2), “a Convenção da ONU contra a Corrupção traz uma abordagem integrada e balanceada entre prevenção, criminalização, cooperação internacional e recuperação de ativos.”

Prevê, portanto, para a prevenção da corrupção: a criação de órgãos anticorrupção e maior transparência no financiamento de campanhas eleitorais e partidos políticos, a promoção da integridade nos setores públicos e privados, e o incentivo à participação de organizações não-governamentais e da sociedade civil.

Além disso, determina a criminalização de vários atos relacionados à corrupção, como tráfico de influência e obstrução da justiça; a cooperação entre os países a fim de facilitar a investigação e a adoção de procedimentos judiciais, com o compartilhamento de provas e extradição de pessoas condenadas; e, por fim, a recuperação de ativos, em que os recursos públicos desviados para o exterior deverão retornar ao país prejudicado, os bens aos seus legítimos proprietários e as vítimas receberão indenização (NAÇÕES UNIDAS, 2010, p. 2).

O Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes auxilia os países- membros a aplicarem as disposições da Convenção através de projetos de assistência técnica, direcionados tanto ao setor público quanto ao setor privado.

Sendo assim, desde de 2005 mantém uma parceria com a Controladoria Geral da União para fortalecer as instituições anticorrupção, com a aperfeiçoamento da legislação nacional e das técnicas de auditoria, e com a mobilização social.

4 A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO