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3 A QUESTÃO DO COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL

3.3 Os mecanismos de combate à corrupção no Brasil

3.3.2 Criação e fortalecimento de órgãos investigativos e fiscalizadores

3.3.2.5 Ministério Público

O Ministério Público é uma instituição independente, organizada pela Lei Complementar nº 75/93, a quem cabe a defesa da ordem jurídica, do estado democrático de direito e dos direitos sociais e individuais indisponíveis, garantindo que os direitos constitucionalmente assegurados sejam respeitados.

É responsável, também, pela fiscalização da aplicação das leis, a defesa do patrimônio público e a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder. Organizado em câmaras de Coordenação e Revisão, tem a 5ª Câmara dedicada exclusivamente à repressão da corrupção.

Ademais, “...desde julho de 2014, mais de dez Núcleos e Ofícios de Combate à Corrupção foram criados em todo o Brasil, como uma estratégia para tornar mais rápida e eficiente a atuação do Ministério Público Federal em processos relativos à corrupção”, conforme Portal de Combate à Corrupção da própria instituição (2015, online).

Com função essencialmente jurisdicional, é munida de legitimidade para propor ações criminais e ações por ato de improbidade administrativa contra aqueles que desviam e aplicam indevidamente recursos públicos federais.

Sendo assim, possui papel indiscutivelmente necessário na luta contra a corrupção, visto que será o órgão responsável pela acusação dos culpados em busca de efetivas punições.

Em 14 de maio de 2015, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário 593727/MG de relatoria do Ministro Cézar Peluso, reconheceu o poder de investigação do Ministério Público, conforme trecho da decisão:

Em seguida, o Tribunal afirmou a tese de que o Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei nº 8.906/94, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante nº 14), praticados pelos membros dessa Instituição.

(STF, RE 593727/MG, Relator: Ministro Cézar Peluso, Relator para acórdão: Ministro Gilmar Mendes, Julgamento: 14/05/2015, Publicação: DJe 08/09/2015)

De acordo com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o Ministério Público busca, com isso, o trabalho conjunto com a Polícia, e não estabelecer uma cisão entre as duas instituições. Cada um contribuirá com a investigação naquilo que lhe é próprio, tornando-a mais ágil e eficiente. Junto à Polícia Federal, já foram realizadas grandiosas operações, como a Lava Jato, o Mensalão, a Sanguessuga, dentre muitas outras.

Conforme dados publicados pelo próprio Ministério Público, desde 2013 já foram propostas quase 5.500 ações de improbidade administrativa contra agentes públicos (gestores, ex-gestores e servidores) e particulares que se beneficiaram das irregularidades, concorrendo para o prejuízo ao erário. Referidas irregularidades (procedimentos licitatórios fraudulentos, desvio de verbas públicas, inconsistências na prestação de contas ou mesmo a sua omissão) podem dar ensejo, inclusive, à propositura de ações penais contra os agentes.

Percebe-se que há muitos órgãos e ações voltadas ao combate das práticas corruptas, no entanto, estas continuam a permear as relações públicas, causando enormes prejuízos aos cofres públicos e, consequentemente, ao povo.

Diante disso, o Procurador da República Deltan Dallagnol, um dos integrantes da Operação Lava Jato, afirmou não acreditar no combate à corrupção no Brasil. Segundo ele, com o sistema de dosimetria da pena e a demora nos julgamentos que levam à prescrição e contribuem para a impunidade, esta prática passa a valer à pena no país.

Visando aprimorar os procedimentos de prevenção e combate à corrupção e à impunidade (considerada principal responsável pela ocorrência desmedida de crimes), o Ministério Público lançou projeto de lei de “10 medidas contra a corrupção”.

As propostas objetivam, basicamente, conforme o Portal de Combate à Corrupção da instituição (2015, online), evitar a ocorrência de corrupção através da prestação de contas, treinamentos e testes morais de servidores, ações de conscientização e proteção à quem denuncia a corrupção; criminalizar o enriquecimento ilícito; aumentar penas da corrupção e tornar hedionda aquela de altos valores; agilizar o processo penal e o processo civil de crimes e atos de improbidade; reformar os sistemas de prescrição e nulidades; criminalizar caixa dois e lavagem eleitorais; permitir punição objetiva de partidos políticos por corrupção em condutas futuras; viabilizar a prisão preventiva para evitar que o dinheiro desviado desapareça; agilizar o rastreamento do dinheiro desviado; e, por fim, fechar brechas da lei por onde o dinheiro desviado escapa (por meio da ação de extinção de domínio e do confisco alargado).

Além disso, foi lançada a campanha internacional “#CORRUPÇÃONÃO”, objetivando a conscientização ética e política da sociedade, principalmente no que diz respeito ao papel do Ministério Público no enfrentamento da corrupção, e a ampliação do debate sobre o combate deste crime, tomando como base o fato de que a corrupção está presente no dia a dia de todos e que precisa ser combatida daí.

É veiculada através de páginas na internet e tem como público-alvo os jovens, visto que, segundo o Procurador-geral Rodrigo Janot, pesquisas recentes da Transparência Internacional dispõem que estes são os mais incomodados com a corrupção e estão mais dispostos a encarar as mudanças culturais necessárias ao enfrentamento desta.

Como se vê, é de suma importância a cooperação e integração dos órgãos do poder público para um ágil e efetivo combate, tanto preventivo como repressivo, da corrupção, formando um verdadeiro sistema em que cada órgão contribui e complementa a função do outro.