• Nenhum resultado encontrado

A delação premiada como mecanismo de combate à corrupção política

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "A delação premiada como mecanismo de combate à corrupção política"

Copied!
92
0
0

Texto

(1)

BEATRIZ MACHADO BEZERRA

A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA

(2)

A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em Direito. Áreas de concentração: Direito Penal e Direito Processual Penal

Orientador: Professor Mestre William Paiva Marques Júnior

FORTALEZA

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca da Faculdade de Direito

B574d Bezerra, Beatriz Machado.

A delação premiada como mecanismo de combate à corrupção política / Beatriz Machado Bezerra. – 2015.

91 f.: 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2015.

Orientação: Prof. Me. William Paiva Marques Júnior.

1. Delação premiada (Processo penal). 2. Corrupção na política. I. Título.

(4)

A DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO DE COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em Direito. Áreas de concentração: Direito Penal e Direito Processual Penal

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Me. William Paiva Marques Júnior (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Profª. Ma. Fernanda Cláudia Araújo da Silva

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Profª. Ma. Camilla Araújo Colares de Freitas

(5)

Aos meus pais, Gilca e Rivardo, pela

compreensão e amor diários.

À minha irmã, pelo exemplo de dedicação e

(6)

Agradeço, primeiramente, à Deus, que me guiou e iluminou nessa longa

caminhada, pois sem ele nada seria possível.

Ao professor e orientador William Paiva Marques Júnior pela paciência,

disponibilidade e apoio despendidos na pesquisa; aos demais mestres da casa, pelos

conhecimentos transmitidos; e à Diretoria do curso de graduação da Universidade Federal do

Ceará, pelo apoio institucional oferecido.

Às professoras Fernanda Cláudia Araújo da Silva e Camilla Araújo Colares de

Freitas pelo tempo dedicado à esta monografia e por aceitarem, sem hesitar, o convite para

compor a minha banca.

À toda a minha família, em especial aos meus pais, Gilca Maria Machado Bezerra

e Rivardo César Chagas Bezerra, por além de me proporcionar o dom da vida, me mostrar que

os caminhos obscuros devem ser trilhados com coragem e honestidade; e à minha irmã,

Fernanda Machado Bezerra, por me inspirar, incentivar e apoiar em todos os momentos. À

eles dedico todas as minhas vitórias e conquistas.

Aos amigos de colégio, que se fazem presentes até hoje, por toda a paciência e por

todos os conselhos nesse momento tortuoso.

Finalmente, aos inseparáveis amigos de faculdade, Alysson Bezerra Miranda, Inês

Mota Randal Pompeu, Jordana Costa Marinho, Florence Helita Barroso Silva e Renan Melo

Aragão Timbó Martins Mendes Furtado, por se fazerem presentes em minha vida desde o

(7)

“Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a

maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual a

esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação

Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela

esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo.

Mas o crime não vencerá a Justiça. Criminosos não passarão sobre as

novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode

estancar a vontade de acertar no espaço público.”

(8)

RESUMO

O fenômeno da corrupção está enraizado na sociedade brasileira, ocorrendo durante toda a

história, mas vem recebendo especial atenção, inclusive de organizações internacionais, nos

últimos anos. Diante dos grandiosos esquemas de desvio de recursos públicos, como o

“Mensalão” e o “Lava Jato”, os países estão convergindo esforços e adotando diversas

medidas para combater de maneira eficaz esta prática que tanto prejudica o Estado

Democrático de Direito, a exemplo do instituto processual penal conhecido como delação

premiada. Como meio de obtenção de prova que é, possibilita o acesso às informações

privilegiadas oferecidas pelos próprios criminosos, auxiliando as investigações e

proporcionando o desmantelamento das organizações criminosas. Sendo assim, o presente

trabalho tem como objetivo analisar a importância da delação premiada para efeitos de

combate à corrupção política, examinando seus aspectos processuais e os diversos casos de

corrupção no Brasil, principalmente aqueles em que o referido instituto foi utilizado.

(9)

ABSTRACT

The corruption phenomenon is rooted in the Brazilian society, occurring during its entire

history, but it has been receiving special attention, including international organizations, in the

last years. In face of grand public resources deviation schemes, like the "Mensalão" and

"Lava Jato", countries are converging efforts and adopting several measures to combat

effectively this practice that undermines the democratic state of law, for example to

procedural institute known as plea bargaining, a criminal awarded tipoff. As a way of

gathering evidence that it is, it enables access to privileged information offered by the

criminals themselves, helping investigations and providing the dismantling of criminal

organizations. Therefore, the present work aims to analyze the importance of Plea Bargaining

to fight political corruption, examining your procedural aspects and the several corruption

cases in Brazil, especially those that the institute was used.

(10)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 DELAÇÃO PREMIADA: DELIMITAÇÃO CONCEITUAL, NATUREZA JURÍDICA E ASPECTOS PROCESSUAIS ... 14

2.1 Delimitação conceitual e natureza jurídica …... 15

2.2 Aspectos processuais …... 17

2.2.1 Lei nº 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos …... 18

2.2.2 Lei nº 9.034/95 – Lei de Combate ao Crime Organizado …... 19

2.2.3 Lei nº 9.080/95 ... 20

2.2.4 Lei nº 9.613/98 – Lei de Lavagem de Dinheiro …... 20

2.2.5 Lei nº 9.807/99 – Lei de Proteção a Vítimas e a Testemunhas ... 22

2.2.6 Lei nº 11.343/06 – Lei de Drogas …... 23

2.2.7 Lei nº 12.850/13 – Organização Criminosa …... 25

2.2.7.1 Características Gerais da Colaboração Premiada ... 26

2.2.7.2 Procedimento …... 30

3 A QUESTÃO DO COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL 34 3.1 Delimitação conceitual de corrupção ... 35

3.2 História da corrupção no Brasil …... 36

3.2.1 A corrupção durante o período colonial e o monárquico …... 37

3.2.2 República Velha ... 38

3.2.3 Ditadura Militar …... 39

3.2.4 Nova República …... 41

3.3 Os mecanismos de combate à corrupção no Brasil …... 44

3.3.1 Legislação Anticorrupção …... 46

3.3.2 Criação e fortalecimento de órgãos investigativos e fiscalizadores …... 48

3.3.2.1 Controladoria Geral da União …... 49

3.3.2.2 Tribunal de Contas da União …... 50

3.3.2.3 Departamento da Polícia Federal …... 51

3.3.2.4 Conselho de Controle das Atividades Financeiras …... 52

3.3.2.5 Ministério Público …... 53

3.3.3 Convenções Internacionais …... 55

(11)

4.1 A importância da delação premiada …... 59

4.2 Casos de aplicação do instituto …... 64

4.2.1 Mensalão …... 65

4.2.1.1 A origem e o funcionamento do Mensalão ... 65

4.2.1.2 A delação premiada no Mensalão ... 68

4.2.2 Petrolão (Lava Jato) ... 70

4.2.2.1 A origem e o funcionamento da Lava Jato ... 71

4.2.2.2 A delação premiada na Lava Jato ... 73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 80

(12)

1. INTRODUÇÃO

A corrupção política, principalmente no Brasil, não é uma prática atual, vem

ocorrendo durante toda a história da humanidade, sendo intensificada e tomando proporções

inexplicáveis.

No decorrer dos últimos anos foram descobertos grandes esquemas de corrupção

no País envolvendo os diversos setores da Administração Pública, bem como os Três Poderes

(Legislativo, Executivo e Judiciário), do servidor ao Magistrado, do Vereador ao Presidente

da República.

Verdadeiros escândalos que movem bilhões de reais do dinheiro público e

privado, que tornaram o cenário político brasileiro caótico e vergonhoso, como o caso

“Mensalão”, o “Petrolão”, atualmente investigado pela “Operação Lava Jato” e considerado

um dos maiores casos de corrupção da história, dentre diversos outros.

O que parece ser uma inovação diante desse cenário não são os casos de

corrupção em si, mas a efetiva punição de corruptos e corruptores que se utilizam do poder

inerente às suas posições para obter vantagens pessoais e cometer os chamados “crimes de

colarinho branco”.

Para que haja o desmantelamento desses esquemas de corrupção, com a

consequente punição dos envolvidos, os órgãos federais, como a Controladoria Geral da

União, o Ministério Público e o Departamento da Polícia Federal, estão estreitando laços e se

valendo do instituto da delação premiada, que vem se mostrando um importante instituto

processual penal para a busca da verdade real dos fatos e para o combate dessa forma de

criminalidade organizada no Brasil.

A delação premiada consiste, basicamente, no oferecimento de vantagens

(redução de pena, substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direito,

não oferecimento de denúncia ou, até mesmo, o perdão judicial), em troca da confissão de

participação no crime e de informações comprovadas e eficazes (identificação dos comparsas,

esclarecimentos sobre o fato delituoso, dentre outras) que permitam a resolução da questão.

Apesar de sofrer severas críticas, o referido instituto vem contribuindo de forma

inquestionável para o desmantelamento das organizações criminosas, tornando as

investigações mais ágeis e eficazes e possibilitando acesso à informações que talvez jamais

fossem descobertas pelo Poder Público.

Os grandes criminosos estão lidando, pela primeira vez, com a possibilidade da

(13)

propostas para sanar sua ineficácia e a consequente impunidade que alastra o país, os

criminosos estão quebrando a lei do silêncio que reinava entre os membros das organizações,

e o país passa a ser palco de uma verdadeira luta contra à corrupção.

O presente estudo buscará examinar de que maneira o instituto pode influenciar

no real combate à corrupção através de uma análise descritiva, que será desenvolvida através

de pesquisa bibliográfica, principalmente por meio de livros, revistas, publicações

especializadas, artigos científicos e dados oficiais publicados na internet, abordando

diferentes pontos de vista sobre variados aspectos relacionados ao tema.

Essa análise se mostra importante porque o instituto está sendo largamente

utilizado pelos órgãos públicos, levantando diversas dúvidas e controvérsias a respeito de sua

constitucionalidade e dos custos e benefícios trazidos ao réu e à sociedade.

Assim, no primeiro capítulo, serão analisados os diversos aspectos desse instituto

processual, delimitando seu conceito e sua natureza jurídica, buscando demonstrar diversos

posicionamentos doutrinários acerca de sua validade e necessidade, bem como prosseguindo

com uma análise dos vários dispositivos normativos que o preveem, dando enfoque à Lei nº

12.850/2013, a qual dispõe mais detalhadamente a respeito do instituto e de seus aspectos

processuais.

Nessa conjuntura, abordar-se-á, no segundo capítulo, a problemática da corrupção

política no Brasil, que ocorre desde os primórdios, dando-se exemplos de casos reais,

utilizando-se de dados oficiais publicados na internet, revistas, publicações especializadas,

pareceres jurídicos, dentre outras fontes, e demonstrando sua intensificação, bem como o

consequente aperfeiçoamento dos procedimentos de combate à esta prática, com a criação de

leis, órgãos, institutos processuais e convenções internacionais como medidas anticorrupção.

Por fim, no terceiro capítulo, será destacado de que forma a delação premiada vem

influenciando no combate a um dos maiores males da sociedade, em como os próprios

criminosos podem cooperar com o Estado para garantir a ordem pública e a aplicação da lei

penal, voltando-se para uma análise dos principais esquemas de corrupção que foram

desmantelados por meio de sua aplicação.

Para atingir os objetivos destacados, será realizada uma pesquisa exploratória

bibliográfica, legislativa e jurisprudencial, de modo a definir o posicionamento do Supremo

Tribunal Federal acerca da temática aqui proposta, vez que há bastantes decisões recentes

(14)

2 DELAÇÃO PREMIADA: DELIMITAÇÃO CONCEITUAL, NATUREZA JURÍDICA E ASPECTOS PROCESSUAIS

A delação premiada vem se mostrando um importante instituto processual penal

para a busca da verdade real dos fatos e para o combate das diversas formas da criminalidade

organizada no Brasil, dentre elas: a corrupção política. Os grandes criminosos estão lidando,

pela primeira vez, com a possibilidade da real punição. O sistema judiciário, com sua inércia e

consequente ineficácia, e o administrativo, eivado de corruptores e corruptos, ajudavam na

prática do crime, mas o que fazia com que a prática criminosa se mantivesse era o silêncio,

que vem por terra com a aplicação da delação.

Há quem considere a utilização de tal instituto uma atividade antiética, que causa

repulsa moral por incentivar a traição entre os “companheiros de crime”. No entanto, o que se

visa, principalmente, é a manutenção da ordem e da segurança públicas em meio à crescente e

descontrolada criminalidade do país. Além disso, quando em conflito o valor moral “ética” e a

criminalidade, acredita-se que a “ausência de ética” seja algo de menor potencial ofensivo que

a prática de um delito que comporte a aplicação da delação premiada. Dessa forma, mesmo

que moralmente criticável, a delação traz indiscutíveis benefícios à aplicação da justiça

(MENDRONI, 2010, p. 138).

No mesmo sentido Oliveira (2014, p. 839):

... nada disso vai de encontro a qualquer conceito de ética. A menos, é claro, que se passe à ideia de que a ética há de ser determinada pelo grau de lealdade entre partícipes de determinado empreendimento. Mas, aí, afastado de qualquer vinculação à moralidade, referido conceito não servirá para mais nada.

Ademais, Brito, Fabretti e Lima (2014, p. 204), sustentam que a delação pode

ocorrer pelos mais diversos motivos, inclusive de alto valor moral, como o arrependimento do

réu, o interesse em reparar os malefícios causados ou o reconhecimento da necessidade de

obediência às leis.

Há críticas severas, também, quanto à possibilidade de lesão ao princípio da

proporcionalidade da aplicação da pena, pois acusados que cometeram os mesmos crimes, nas

mesmas condições teriam penas diferentes. Porém, segundo Nucci (2008, p. 434), não há

violação de tal princípio posto que a proporcionalidade tem como base a culpabilidade do

acusado e este, ao delatar seus companheiros e confessar o crime, revela um grau de

(15)

2.1 Delimitação conceitual e natureza jurídica

O termo “delação” vem do latim delatione e significa "denunciar, revelar (crime

ou delito); acusar como autor de crime ou delito; deixar perceber; denunciar como culpado;

denunciar-se como culpado; acusar-se." (FERREIRA, 2005, p. 290). Segundo Nucci (2015,

A), ocorre a delação quando o corréu, ao ser interrogado, além de admitir a prática do fato

delituoso do qual está sendo acusado, atribui a outra pessoa algum tipo de conduta criminosa,

referente à mesma imputação.

Já a expressão “premiada” diz respeito a “existência de uma recompensa, de uma

remuneração, uma vez que não se pode, por ser forma abjeta, falar-se em distinção ou

galardão.” (ARANHA, 2008, p. 139).

Portanto, delação premiada consiste, basicamente, na oferta de benefícios (que

podem variar de redução da pena à extinção da punibilidade, a depender do caso) ao acusado

para que sejam prestadas informações capazes de desmantelar toda a organização criminosa,

com esclarecimentos do fato delituoso e de possíveis participantes, facilitando, assim, a

investigação criminal e contribuindo para a eficácia e aplicação da lei penal.

Ou, nas palavras de Nucci (2008, p. 433):

... delação premiada, isto é, a denúncia que tem como objeto narrar às autoridades o cometimento do delito e, quando existente, os coautores e partícipes, com ou sem resultado concreto, conforme o caso, recebendo, em troca, do Estado, um benefício qualquer, consistente em diminuição de pena ou, até mesmo, em perdão judicial.

Já o conceito da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), aplicado no

julgamento do HC 90.962 (São Paulo, Relator: Ministro Haroldo Rodrigues – Desembargador

Convocado do TJ/CE, Data de Julgamento: 19/05/2011), é: “O instituto da delação premiada

consiste em ato do acusado que, admitindo a participação no delito, fornece às autoridades

informações eficazes, capazes de contribuir para a resolução do crime.”

Cabe ressaltar que a delação premiada é considerada, por alguns, uma espécie da

colaboração, que é tida como gênero. No entanto, as expressões são utilizadas, na maioria das

vezes, como sinônimos.

Muito se discute a respeito de sua natureza jurídica. Não pode ser considerada

confissão (stricto sensu) uma vez que, segundo Bonfim (2015, p. 463), esta consiste em um

(16)

declaração do acusado incriminando a si mesmo, somente, e não a outrem, diferentemente da

delação.

Também não se trata de testemunho, pois testemunha é pessoa alheia aos fatos e

aos sujeitos processuais que presta depoimento sobre os fatos dos quais tomou conhecimento,

comprometendo-se a falar apenas a verdade e a ser imparcial, sob pena de responder por falso

testemunho, o que não ocorre com o delator, o qual é parte, ou seja, diretamente interessado

na solução da demanda, e, mesmo que esteja sob o compromisso legal de dizer apenas a

verdade (exigência estabelecida pela nova Lei de Organizações Criminosas), não poderá ser

processado por falso testemunho, respondendo, no entanto, por eventual denunciação

caluniosa (DEMERCIAN, MALULY, 2014).

Dessa forma, doutrinadores, como Aranha (2008, p. 132), consideram a delação

premiada como meio de prova, o que ocorrerá somente quando, além de atribuir a um terceiro

a participação como seu comparsa, o acusado e réu também confessar, pois, se o mesmo

escusar-se da autoria, não haverá valor probatório algum. Trata-se, contudo, de uma prova

sem previsão legal e anômala, pois viola o princípio do contraditório (um dos pilares da

persecução penal) ao ocorrer no interrogatório ou na oitiva policial, fases em que não há

influência das partes.

Já Mendroni (2015, p. 131) acredita que sua natureza jurídica decorre do Princípio

do Consenso (variante do Princípio da Legalidade) o qual permite que as partes entrem em um

consenso sobre o destino do acusado, que concordará, por qualquer motivo, com a imputação.

Segundo ele, a delação não se configura como um acordo de vontade entre as partes, pois

envolve a decisão de uma terceira pessoa que não participa do “acordo”, o Juiz, que decidirá

sobre a concessão ou não dos benefícios em troca das informações.

Cabendo, no que diz respeito ao Princípio do Consenso mencionado, a crítica feita

por Lênio Streck em seu artigo “Senso Incomum: O pan-principiologismo e o sorriso do

lagarto”, onde afirma que os juristas e doutrinadores estão sendo responsáveis pela criação de

vários princípios desprovidos de normatividade, que são propagados e utilizados para

fomentar o Direito quando, na verdade, são inexistentes.

Sendo assim, não se pode negar a natureza da delação como meio de prova,

principalmente porque há a confissão do delator, mas, segundo Enrico Altavilla (apud

ARANHA, 2008, p. 133), esta somente terá força incriminatória quando estiver totalmente de

acordo com o núcleo central acusatório, bem como precisa estar inserida em uma narração

(17)

Já outros doutrinadores, como Mittermayer (apud ARANHA, 2008, p.134),

acreditam que a delação só poderá ter valor probatório se houver outras provas, outros

elementos de convicção que apoiem o que fora dito; ela, por si só, não pode servir de base

para uma sentença condenatória. Coadunando com este entendimento, Aranha (2008, p. 135),

ao afirmar que “a chamada do corréu, como elemento único de prova acusatória, jamais

poderia servir de base a uma condenação, simplesmente porque violaria o princípio

constitucional do contraditório.”

Cabe mencionar, portanto, que o Supremo Tribunal Federal não tem admitido a

condenação baseada exclusivamente nas informações prestadas pelo colaborador. Nesse

sentido:

“Tráfico de entorpecentes: condenação fundada unicamente em chamada de corréu, o que a jurisprudência do STF não admite: precedentes. Ademais, ao fato de o paciente ser a pessoa indicada pelos corréus – conforme acertado nas instâncias de mérito –, per se, não permite extrair tenha ele praticado conduta descrita na denúncia. Manifesto constrangimento ilegal: concessão de habeas corpus de ofício” (STF, 1ª T., RHC 84.845/RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 12-4-2005, DJ, 6 maio 2005, p. 26). No mesmo sentido: STF, 1ª T., HC 94.034/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 10-6-2008.

Como se vê, há grande divergência doutrinária e jurisprudencial a respeito do

valor da delação como força condenatória. Mas, por haver grande possibilidade do acusado,

que se vê sem saída e desesperado pelos benefícios processuais oferecidos ou simplesmente

para dificultar a investigação criminal, denunciar caluniosamente pessoas que não se

envolveram com a atividade criminosa investigada, tem-se que o mais sensato e garantidor da

segurança jurídica seria admitir a delação como prova incriminatória quando houver outros

elementos que baseiem o convencimento do julgador, sendo tida, portanto, como meio de

obtenção de prova.

2.2 Aspectos processuais

Apesar de estar em grande evidência atualmente, o instituto da delação premiada

não é recente e está previsto em diversas leis, criando um emaranhado de normas que regulam

o instituto e que, mesmo assim, ainda deixam lacunas e diversas dúvidas. Até recentemente o

instituto não era muito utilizado por ausência de uma legislação que regulasse o procedimento

(18)

2.2.1 Lei nº 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos

A primeira delas foi a Lei de Crimes Hediondos – Lei nº 8.072/90 que trouxe duas

hipóteses de delação. Em meio à intensa onda de sequestros vivenciados pela sociedade à

época, tal lei trouxe a primeira hipótese em seu artigo 7º que deu nova redação ao §4º do

artigo 159 do Código Penal, o qual traz a possibilidade de redução de pena de um a dois

terços para o coautor que denunciar o crime de extorsão mediante sequestro cometido em

quadrilha ou bando, facilitando a libertação do sequestrado. Verifica-se, portanto, que o

objetivo principal não é a obtenção de provas contra os criminosos, mas, sim, salvar a vítima

sequestrada.

Em 1996, a Lei nº 9.269 alterou esse parágrafo novamente, sendo a redação atual:

“Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando

a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços”. Tal alteração tornou

o dispositivo mais abrangente, pois “na antiga redação era utilizada a palavra “coautor” e

exigia que o crime fosse cometido por ‘quadrilha ou bando’; agora é suficiente que o crime de

‘extorsão mediante sequestro’ seja praticado em concurso de pessoas, beneficiando o coautor

e partícipe.” (MONTEIRO, 2010, p.220). Alguns doutrinadores, como Bitencourt (2013, p.

349), acreditam que a delação premiada começou a se proliferar após essa modificação de

1996.

A segunda hipótese encontra-se no parágrafo único de seu artigo 8º, o qual dispõe

que haverá a redução de um a dois terços de pena para o participante e o associado de bando

ou quadrilha que denunciá-la, possibilitando seu desmantelamento.

Vê-se, novamente, a exigência de que o crime seja praticado por “quadrilha ou

bando”. Embora a expressão tenha sido alterada para “associação criminosa” pela Lei nº

12.850/13, o que se pretendeu foi aplicá-lo aos casos do artigo 288 do Código Penal, e

continua a ser aplicado desta forma (MENDRONI, 2015, p. 170).

A utilização da expressão “participante e associado”, nos leva à uma distinção de

agentes. Para Monteiro (2010, p. 222), o associado seria aquele que, além do crime de

quadrilha, comete outro crime, respondendo e sendo beneficiado pela redução de pena em

ambos os crimes. Já o participante seria o terceiro que, de alguma forma, concorreu para a

prática do crime cometido pela quadrilha, respondendo e sendo beneficiado pela redução

apenas neste.

Percebe-se que nas duas hipóteses de delação trazidas na referida lei exige-se a

(19)

do instituto a facilitação na soltura do sequestrado, com a redução de pena variando de acordo

com a facilidade encontrada pela autoridade, e a segunda tem como requisito a possibilidade

de desmantelamento do bando ou quadrilha.

Segundo Mendroni (2015, p. 170), o legislador não se refere ao desmantelamento

do bando em si, mas à conduta criminosa ora investigada, em todos os seus aspectos, pois não

é possível assegurar o verdadeiro fim da prática de um bando, já que podem, a qualquer

momento, voltar a se reunir.

2.2.2 Lei nº 9.034/95 – Lei de Combate ao Crime Organizado

Atualmente revogada pela Lei nº 12.850/13, a Lei nº 9.034/95 trazia a delação

premiada como colaboração espontânea e a previa em seu artigo 6º: “Nos crimes praticados

por organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração

espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria”.

Vê-se que tal dispositivo estabelecia 3 requisitos para a efetiva concessão do

benefício. Exigia-se que a delação se referisse apenas aos crimes praticados por “organização

criminosa”, não abrangendo aqueles praticados por “associação criminosa” ou por “quadrilha

ou bando”. Os grupos referenciados se distinguiam, essencialmente, pela quantidade de

participantes e pelos crimes que se destinavam a praticar. Quadrilha ou bando era prevista no

artigo 288 do Código Penal, atualmente modificado, e composta por mais de 3 pessoas com o

fim de praticar uma série indeterminada de crimes; associação criminosa, por sua vez, prevista

em legislações extravagantes, se configurava com a união de 2 ou mais pessoas para a prática

de certos crimes, como o tráfico de drogas; já a organização criminosa não se encontrava

definida na referida lei, sendo conceituada apenas posteriormente no art. 2º da Convenção de

Palermo como um grupo organizado de 3 ou mais pessoas com o propósito de cometer uma

ou mais infrações graves objetivando a obtenção de benefício econômico ou outro benefício

material e na nova Lei de Organização Criminosa – Lei nº 12.850/13.

Nota-se, também, a necessidade de que as informações prestadas pelo delator não

se restringissem ao esclarecimento de infrações penais cometidas pela organização criminosa,

devia-se, também, possibilitar o descobrimento dos efetivos autores dos delitos investigados.

Além disso, a colaboração deveria ser espontânea, ou seja, manifestação de

vontade do próprio delator, sendo sua a ideia inicial, sem interferência de terceiros, o que

difere da voluntariedade, que consiste na ausência de coação, apenas (TÁVORA, ALENCAR,

(20)

2.2.3 Lei nº 9.080/95

A lei nº 9.080/95 foi editada, exclusivamente, para acrescentar o §2º no artigo 25

da Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei nº 7.492/86 e o parágrafo único ao artigo

16 da Lei de Crime contra a Ordem Tributária, Econômica e Relações de Consumo – Lei nº

8.137/90.

Ambos os parágrafos têm a mesma redação e dispõem que: “Nos crimes previstos

nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através da

confissão espontânea revelar à autoridade policial toda a trama delituosa terá sua pena

reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).”

Nota-se a exigência de que os crimes previstos pelas leis sejam cometidos em

quadrilha ou coautoria para que seja aplicada a delação. A utilização da expressão “ou” nos

leva a crer que há a previsão de duas situações distintas, com “coautoria” se referindo a

crimes simples, ou seja, não cometidos por quadrilha ou bando (MENDRONI, 2015, p. 170).

Além disso, Bitencourt (2013, p. 351) afirma que o dispositivo analisado não

exige, para a concessão do prêmio, a eficácia da contribuição, ou seja, não se requer resultado

nenhum (como a recuperação de bens, por exemplo), não se exigiu explicitamente que sejam

apontados os demais coautores ou partícipes, basta que toda a trama delituosa seja revelada

pelo delator com o elemento da espontaneidade.

Atualmente, há uma particularidade quanto aos crimes contra a ordem econômica.

Com a edição da Lei nº 12.529/11, em seu artigo 87, parágrafo único, a delação premiada,

aqui chamada de acordo de leniência, poderá resultar em um benefício maior que a redução de

pena, qual seja a extinção automática da punibilidade, desde que cumprido o acordo, o qual

consiste em uma colaboração efetiva, com as investigações e com o processo administrativo,

de pessoas físicas ou jurídicas autoras do crime contra a ordem econômica que resulte no

reconhecimento dos outros infratores e a obtenção de informações que comprovem o crime

investigado (art. 86 da Lei nº 12.529/11).

2.2.4 Lei nº 9.613/98 – Lei de Lavagem de Dinheiro

Aqui denominada de “colaboração espontânea”, atentando-se novamente para o

elemento da espontaneidade, e não voluntariedade, a delação veio prevista em seu artigo 1º,

(21)

Art. 1º, §5º: A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Como se nota, a lei em referência traz pontos ainda não discutidos nas previsões

anteriores, tratando de aspectos processuais, como o regime de cumprimento de pena, e

trazendo novos benefícios, bem como novos beneficiários da delação. Estabelece que, caso o

juiz não conceda o perdão judicial ou substitua a pena privativa de liberdade por pena

restritiva de direitos, novas opções de prêmio extremamente brandas e atrativas ao delator, a

pena será reduzida de um a dois terços, devendo ser cumprida em regime aberto ou

semiaberto.

Traz, ainda, mais resultados possíveis dos esclarecimentos prestados, quais sejam:

a revelação do crime, a identificação dos autores, coautores ou partícipes ou a localização dos

bens, direitos ou valores objetos da lavagem, havendo qualquer um dos resultados já se fala

em eficácia da contribuição, aplicando-se, portanto, algum dos benefícios na medida do

merecimento do delator. No entanto, como afirma Mendroni (2015, p. 145), haverá grande

dificuldade em dissociar os efeitos “autoria” da “localização de bens, direitos, ou valores

objetos do crime”, haja vista os bens estarem sempre ligados à pessoas físicas e/ou jurídicas e

sua indicação levar, quase que inevitavelmente, ao seu proprietário.

Ademais, não se exige que o crime tenha sido praticado em coautoria, quadrilha

ou organização criminosa, podendo o autor único ser beneficiário da delação. (TÁVORA,

ALENCAR, 2012, p. 437).

Atualmente, após a edição da Lei nº 12.683/12, o referido parágrafo encontra-se

com a seguinte redação:

Art. 1º, §5º: A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Na nova redação são utilizadas expressões, como “a pena poderá ser” ou “a

qualquer tempo”, que nos inferem a uma maior discricionariedade do juiz, que poderá

(22)

2.2.5 Lei nº 9.807/99 – Lei de Proteção a Vítimas e a Testemunhas

A Lei nº 9.807/99 estabelece o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a

Testemunhas ameaçadas e trata da proteção de acusados ou condenados que tenham,

voluntária e efetivamente, colaborado com a investigação criminal e com o processo criminal,

dedicando seu Capítulo II inteiramente à estes últimos.

Ainda que já tivesse previsão da delação premiada em diversas normas, a referida

lei trouxe verdadeiras inovações no que diz respeito à aplicação do instituto. Como se vê, a

Lei de Proteção às Vítimas e às Testemunhas não é casuística como as anteriores, ou seja, não

se refere, especificamente, à nenhum crime, não restringe as hipóteses de cabimento, podendo

ser aplicada a qualquer infração praticada. Além disso, trata da proteção ao réu colaborador.

Dessa forma, dispõe sobre a colaboração em duas modalidades, com exigências e

prêmios diferentes, nos seus artigos 13 e 14:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa;

II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

De início, nota-se que não mais se exige o elemento da espontaneidade, devendo

haver apenas a voluntariedade para a aplicação do instituto. Há também a exigência de que o

crime seja praticado em concurso de agentes, associação ou organização criminosa, pois se

refere, em seu parágrafo 1º, a “demais coautores ou partícipes”, o que nos faz entender que a

palavra “acusado” utilizada no caput não deve ser interpretada como autor único

(MENDRONI, 2015, p. 137).

Ademais, percebe-se que na hipótese do artigo 13, há a possibilidade de concessão

(23)

seja primário e que sua colaboração dê ensejo a um dos resultados previstos (identificação dos

demais coautores ou partícipes; localização da vítima com integridade física preservada; ou

recuperação total ou parcial do produto do crime), não sendo necessária a ocorrência de mais

de um deles para a aplicação do instituto (TÁVORA, ALENCAR, 2012, p. 436).

No mesmo sentido Oliveira (2014, p. 444), “não será necessária a concorrência

simultânea de todos os objetivos declinados, até porque, em determinados crimes, isso nem

sequer será possível.”

Além dessas condições, exige-se também, no parágrafo único, que sejam

consideradas a personalidade do possível beneficiário do perdão judicial, bem como a

natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do delito.

Já no artigo 14 está previsto o prêmio mais comum e menos favorável ao acusado,

qual seja o da redução de pena de um a dois terços. Exige-se, novamente, apenas o elemento

da voluntariedade, mas não se requer a primariedade nem a ocorrência de um dos resultados

anteriormente citados, bastando que haja a colaboração.

Dessa forma, o delator que não preencher os requisitos exigidos pelo artigo 13,

bem dizer primariedade, boa personalidade e certos aspectos do crime que serão analisados ou

a obtenção do resultado, poderá se encaixar na norma ora analisada, considerada norma

residual (CAPEZ, 2014, p. 151).

2.2.6 Lei nº 11.343/06 – Lei de Drogas

Importante salientar que a Lei nº 11.343/2006 revogou a Lei nº 10.409/02 que

tratava da delação premiada em seu artigo 32, §§ 2º e 3º, e previa, além da possibilidade de

diminuição de pena e de perdão judicial, o sobrestamento do feito, benefícios estes (perdão

judicial e sobrestamento do feito) que não foram trazidos na nova Lei.

No caso da Lei nº 11.343/06, a colaboração premiada encontra-se prevista em seu

artigo 41:

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Percebe-se que o prêmio consiste apenas na redução de um a dois terços da pena e

(24)

inquérito instaurado com o respectivo indiciamento, ou processo criminal já deflagrado”

(TÁVORA, ALENCAR, 2012, p. 437).

Além disso, para aplicação do benefício, requer-se a identificação dos demais

coautores ou partícipes do delito e a recuperação total ou parcial do produto do crime. Há dois

impasses nesse trecho do artigo.

Primeiramente, há divergência doutrinária quanto à necessidade de

cumulatividade dos resultados. Autores como Távora e Alencar (2012, p. 437) e Rangel e

Bacila (2015, p. 138), acreditam que a obtenção dos resultados tem que se dar de forma

cumulativa, não havendo possibilidade de concessão de redução da pena se ocorrer apenas um

dos dois, sendo satisfatório, no entanto, apenas a identificação, não sendo necessária a

captura, dos demais envolvidos, bem como apreensão total ou parcial da substância

entorpecente. (TÁVORA, 2012, p. 437).

Já autores como Greco Filho e Rassi (2009, p. 160), Oliveira (2014, p. 821) e

Mendonça e Carvalho (2012, p. 191) apresentam a teoria da não cumulatividade. Acreditam

que a utilização da conjunção aditiva “e” deve ser entendida como “ou”, não obstando que o

juiz do caso conceda o benefício de redução de pena se tiver obtido apenas um dos resultados,

pois, assim como pode não haver produto do crime ou sua recuperação seja suficiente por si

só, as limitações do acusado deverão sempre ser observadas. Ou seja, pode haver casos em

que o produto já foi recuperado ou o delator não sabe onde o mesmo se encontra; ou, ainda,

saberá como recuperar o produto, mas não saberá identificar os demais autores.

Como expõe Mendonça e Carvalho (2012, p. 191): “Tal situação demonstra que o

magistrado deverá ter como parâmetro sempre estas duas circunstâncias na aplicação do

benefício, mas sem perder de vista as possibilidades do colaborador.” Dessa forma, só não

será aplicado o instituto se o suposto beneficiário tiver ambas as informações e deixar de

fornecer uma delas.

O mais vantajoso para o indiciado ou acusado seria interpretar desta maneira,

baseando-se na não cumulatividade. No entanto, a utilização da conjunção aditiva “e” torna

clara a vontade do legislador de limitar a concessão de tal benefício àqueles que contribuírem

para a obtenção dos dois resultados.

Em segundo lugar, há dúvidas a respeito de qual seria o produto do crime a ser

recuperado, pois a revogada Lei nº 10.409/02 trazia a necessidade de “apreensão do produto,

da substância ou da droga ilícita”, tornando a expressão “produto do crime” bastante vaga.

Como afirmam Mendonça e Carvalho (2012, p. 190), “produto do crime é o bem

(25)

Lei poderá variar, visto que apenas em algumas das condutas previstas, como preparar,

produzir e fabricar, a própria droga será o resultado da atividade criminosa. Na maioria das

vezes, a substância droga é apenas o objeto material do crime, que Jesus (2012, p. 221)

conceitua como “a pessoa ou coisa sobre que recai a conduta do sujeito ativo”. Na conduta

“vender”, por exemplo, o produto do crime será o valor obtido com a venda e a droga será

objeto material.

Dessa forma, não obstante a utilização da expressão “produto do crime” pelo

legislador, deve-se entender que o benefício da diminuição de pena deverá ser aplicado tanto

quando o colaborador ajudar na localização da droga quanto do dinheiro advindo da

comercialização da substância (este, geralmente, o real produto do crime de tráfico)

(MENDONÇA, CARVALHO, 2012, p. 191).

2.2.7 Lei nº 12.850/13 – Organização Criminosa

Após a análise das diversas legislações que tratam do instituto da colaboração

premiada, nota-se a fragilidade das mesmas, principalmente no que se refere aos aspectos

procedimentais e aos requisitos para sua aplicação. Eivadas de contradições, são vítimas de

severas críticas e ocasionam insegurança quanto à adequabilidade e à proporcionalidade entre

o prêmio e a colaboração, pois as lacunas tornam o instituto mais vulnerável à utilização

errônea com sua possível banalização.

Há muito se necessitava de uma legislação uniforme, que tratasse da colaboração

premiada como um todo, não apenas em seu aspecto material (ou seja, concedendo

benefícios), e que pudesse garantir sua aplicação justa e segura, haja vista ser um instituto

demasiado benéfico ao criminoso (que, vale salientar, praticou delitos de grande porte), além

de representar poderosa arma estatal contra as organizações criminosas.

Diante desse cenário, editou-se a Lei ora analisada, que revogou inteiramente a

antiga Lei de Combate ao Crime Organizado (Lei nº 9.034/95), e que dispõe sobre

legitimidade para propor a colaboração, sobre a atuação e garantias das partes envolvidas,

determina os requisitos para sua concessão, dá direitos ao colaborador e, principalmente,

estabelece o procedimento a ser seguido. Torna-se evidente que o legislador procurou

equilibrar os interesses do investigado/imputado/condenado e os da sociedade na ação penal,

ou seja, buscou o equilíbrio entre a eficiência da persecução penal com a necessidade de

punição do criminoso (“jus puniendi” estatal) e os direitos e garantias do mesmo, plasmados

(26)

Dessa forma, diante da omissão do legislador sobre diversos aspectos do instituto

da colaboração premiada nos dispositivos normativos anteriores, aplicam-se à todos eles,

analogicamente, o procedimento previsto nesta Lei. Além disso, a colaboração premiada está

prevista nesse dispositivo legal como forma de combate às organizações criminosas (e suas

formas equiparadas) e será prestada no âmbito de infrações cometidas pelas mesmas,

conceituadas em seu artigo 1º, §§1º e 2º:

Art. 1º § 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

§ 2o Esta Lei se aplica também:

I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território nacional.

Observa-se, portanto, que no eventual conflito entre o “jus puniendi” e o “status

libertatis”, prevalece o primeiro a fim de garantir a eficácia da delação, visto que de nada

adiantaria a aplicação desse instituto, apurando-se importantes informações sobre o crime, se

não fosse para punir os infratores.

2.2.7.1 Características Gerais da Colaboração Premiada

O instituto da colaboração premiada está previsto do artigo 4º ao artigo 7º da Lei

nº 12.850/13. Em seu artigo 3º já se dispõe que a utilização do instituto, como meio de

obtenção de prova que é, será permitida em qualquer fase da persecução penal, podendo haver

colaboração antes do recebimento da denúncia, fase pré-processual de investigação (artigo 4º,

§2º); na fase judicial (artigo 4º, caput); ou ainda na fase pós-processual, já na execução penal,

(conforme artigo 4º, §5º).

O artigo 4º estabelece os requisitos para sua concessão, os possíveis prêmios

obtidos, bem como alguns aspectos procedimentais para a aplicação do instituto:

(27)

direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

§1º Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.

Nota-se, de pronto, que os prêmios oferecidos ao colaborador são bastante

abrangentes, podendo ser concedido pelo juiz (1) a redução da pena em até dois terços, (2) a

substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ou (3) o perdão

judicial.

Além dos prêmios relativos à pena previstos no caput, o §4º, incisos I e II, traz um

benefício aplicável à colaboração ocorrida na fase pré-processual, qual seja o não

oferecimento de denúncia pelo Ministério Público se o colaborador não for o líder da

organização criminosa e se for o primeiro a prestar efetiva colaboração, cumulativamente.

Benefício este que rompe com o princípio da obrigatoriedade da ação penal.

Já o §5º prevê as benesses de redução da pena até a metade ou progressão de

regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos, aplicáveis à colaboração ocorrida na fase

pós-processual.

No entanto, para que haja a concessão de benefícios, exige-se que estejam

presentes os elementos da voluntariedade, ou seja, apesar da manifestação do colaborador ter

que estar livre de qualquer tipo de coação, ela não precisa ser espontânea, ideia do próprio

delator, podendo partir de aconselhamento do advogado ou proposta do Ministério Público; e

da eficácia, como deve ser entendido o termo “efetiva” utilizado pelo legislador, visto que,

segundo Aurélio Ferreira (2005, p. 334), “efetivo é aquilo que produz um efeito real, positivo,

permanente, fixo; eficiência: ação ou virtude de produzir um efeito; eficaz: que produz o

(28)

inciso I ao V, não sendo necessário o alcance de mais de um deles, como claramente dispõe o

texto) para que seja aplicado o instituto.

Além desses dois requisitos, percebe-se que, no parágrafo primeiro deste artigo 4º,

o legislador afirma que as circunstâncias objetivas e subjetivas do fato criminoso (como

personalidade do colaborador, natureza, gravidade e repercussão social do crime) devem ser

consideradas para efeitos de aplicação ou não do instituto e consequente concessão de

benefícios.

Atenta-se, portanto, para o fato de que a realização do acordo de colaboração não

se trata de direito subjetivo do investigado/imputado/condenado. O Ministério Público e o

Delegado de Polícia devem verificar a real necessidade da colaboração para a investigação e

para a persecução penal no caso concreto, não deixando de levar em consideração a

reprovabilidade da conduta criminosa, sua repercussão social e gravidade. Sendo assim,

sempre ficará a critério do Poder Judiciário a aplicação ou não do instituto.

No entanto, como afirma Oliveira (2014, p. 837), a partir do momento que a

contribuição for eficaz e produzir os resultados exigidos pelo legislador, poderá gerar as

consequências legais previstas no artigo 4º, caput, quais sejam, os benefícios, que, aí sim,

serão direitos subjetivos do colaborador.

Conclui-se, portanto, que a aplicação do instituto da colaboração premiada e o

benefício a ser concedido sempre dependerão da necessidade e eficácia das informações

prestadas, pois há de ser respeitado o Princípio da Proporcionalidade. Em vista disso, o

legislador editou o §2º do artigo 4º, possibilitando que, após a análise da relevância da

colaboração, vendo que foi maior que verificada no início, o Ministério Público e o delegado

de polícia poderão requerer melhor benefício (perdão judicial), ainda que não previsto na

proposta inicial:

Art. 4º (...) §2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).

Este dispositivo trouxe verdadeira inovação no que diz respeito ao momento de

aplicação da colaboração premiada, trazendo a possibilidade do delegado de polícia se valer

do instituto e requerer a concessão de perdão judicial perante o juiz, o que se tornou objeto de

(29)

Alguns doutrinadores, como Bitencourt (2014, p. 122), entendem que tal

disposição traz uma inconstitucionalidade flagrante, pois a colaboração premiada é

considerada um meio de prova processual, o que converteria o delegado de polícia em sujeito

processual. E explica:

A questão toda é que a iniciativa a respeito do emprego deste instrumento probatório e mesmo o sopesamento das consequências que ele gera para fins de aplicação do direito penal devem estar disponíveis tão somente para o titular da ação penal que, por disposição constitucional, é exclusivamente o Ministério Público, afinal, em certa medida, trata-se de dispor da persecução penal. O juízo de valoração sobre a conveniência e oportunidade de dispor da prova pertence ao Ministério Público e é ele, exclusivamente, junto com o defensor e o investigado, quem deve deliberar sobre os termos da colaboração premiada. (BITENCOURT, 2014, p. 123)

Já na visão de Mendroni (2015, p. 154), tal previsão é de grande utilidade, pois,

para que haja o real equilíbrio entre o prêmio concedido e a vantagem obtida com a

colaboração, é necessária a análise das informações prestadas, bem como a observação dos

possíveis resultados advindos delas, que poderão surgir pouco mais à frente do momento do

“acordo” que contém o possível benefício a ser concedido. Assim, para que se tenha tempo

hábil para a análise da colaboração e para a correta aplicação do instituto, a atuação do

delegado de polícia torna-se de grande importância. Esclarece:

Então, como as investigações – sempre em matéria de criminalidade organizada – costumam ser complexas e demoradas, mais coerente e viável será que o acusado, por conta própria ou mediante assistência do seu Defensor, ainda que para o ato, manifeste expressamente, no interrogatório na Polícia, o seu interesse em servir a administração da justiça em plano de colaboração premiada, gerando uma representação nesse sentido pelo Delegado de Polícia ou a qualquer tempo, mesmo em inquérito policial, ao Ministério Público. (MENDRONI, 2015, p. 155)

Para melhor viabilizar a aplicação do instituto na fase pré-processual, o §3º traz a

possibilidade de suspensão do prazo para oferecimento da denúncia, unicamente contra o

colaborador, com suspensão também do prazo prescricional, por até 6 meses, prorrogáveis por

mais 6, havendo um prazo maior para produção probatória e para que sejam avaliadas e

cumpridas as medidas do acordo de colaboração. In verbis:

§ 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

Conclui-se, então, que é de melhor aproveitamento a colaboração premiada ser

(30)

representante do Estado a ter contato com a infração penal e com o criminoso, tendo mais

proximidade e podendo agir prontamente para evitar novos crimes e desarticular a

organização criminosa.

2.2.7.2 Procedimento

A partir do §6º está previsto o procedimento de forma detalhada. Este parágrafo

trata da fase de negociação e acordo, onde o delegado de polícia, o investigado e o defensor,

com manifestação do Ministério Público, ou o Ministério Público, o investigado/acusado e

seu defensor negociarão para a formalização do acordo de colaboração. Não haverá a

participação do juiz, pois o legislador buscou garantir sua imparcialidade, mas sempre

ocorrerá com manifestação do Ministério Público e com a participação do defensor, sendo

considerado nulo qualquer ato sem a participação deste, diante do que preleciona o §15: “em

todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá

estar assistido por defensor.”

Esta fase se encerrará com um acordo de colaboração que será reduzido a termo e

deverá conter, conforme artigo 6º, o relato da colaboração e seus possíveis resultados; as

condições da proposta feita pelo delegado de polícia ou pelo Ministério Público; a declaração

de aceitação do colaborador e de seu defensor; as assinaturas das partes envolvidas

(representante do Ministério Público ou delegado de polícia, colaborador e defensor); e as

medidas de proteção a serem aplicadas ao colaborador e à sua família, se necessárias.

Consiste, portanto, apenas em uma proposta, que poderá conter o possível benefício a ser

concedido, mas que não vinculará o juiz sentenciante (GRECO FILHO, 2013, p. 41).

No §7º já se dispõe a respeito da fase de homologação, in verbis:

§7º Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.

O termo de acordo será remetido ao juiz para homologação com obediência ao

disposto no artigo 7º, ou seja, o pedido de homologação será distribuído sigilosamente e

conterá apenas informações que não possibilitem a identificação de seu objeto e do

colaborador, sigilo este que só cessará após o recebimento da denúncia, conforme §3º do

(31)

acesso aos autos, sendo permitido ao defensor, após autorização judicial, acesso aos

elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa (art. 7º, §2º).

Após distribuído o pedido de homologação, as informações pormenorizadas serão

enviadas ao juiz do caso que disporá de um prazo de 48 horas para decidir a respeito da

homologação ou não do acordo (artigo 7º, §1º). Para tanto, serão analisados apenas os

aspectos formais do acordo, como a regularidade, a legalidade e a voluntariedade, podendo o

juiz, sigilosamente, ouvir o colaborador acompanhado de seu defensor.

Conforme §8º do artigo 4º, as decisões possíveis são a homologação, a recusa

desta, ou a adequação da proposta ao caso concreto. Decidindo pela homologação, será

proferida uma decisão interlocutória, que não produz efeito de coisa julgada nem garante a

concessão de benefício, tendo por finalidade apenas qualificar o investigado como

colaborador, ensejando as medidas relativas a essa situação, como as do artigo 5º, que dispõe

sobre os direitos do colaborador (por exemplo: usufruir de medidas de proteção dispostas na

Lei de Proteção à Vítimas e Testemunhas, ter sua identidade preservada, cumprir pena em

local diverso dos demais corréus ou condenados, dentre outras) (GRECO FILHO, 2013, p.

41).

Se decidir por não homologar, deverá remetê-lo ao Procurador-Geral de Justiça,

por previsão do §2º do artigo 4º. Já a adequação do acordo deve se dar apenas no que diz

respeito aos pressupostos e requisitos legais, diante do possível comprometimento da

imparcialidade do juiz ao imiscuir-se em questão de mérito, podendo apenas, por exemplo,

excluir alguma cláusula inconstitucional (como a que abdica da impetração de habeas corpus)

(Silva, 2015, p. 67).

Caso o acordo seja homologado, o colaborador poderá ser ouvido pelo Ministério

Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações, desde que acompanhado

de seu defensor, conforme artigo 4º, §9º. Ou seja, é a partir da homologação que o

colaborador começará a contribuir, efetivamente, com a persecução penal, procurando

concretizar alguns dos resultados previstos na lei.

Contudo, ao prestar seus depoimentos, deverá, na presença de seu defensor,

renunciar ao direito ao silêncio e submeter-se ao compromisso legal de dizer a verdade,

estando sujeito às penas do crime de falso testemunho, de denunciação caluniosa ou do crime

previsto no artigo 19 dessa lei, dependendo do conteúdo de suas declarações (GRECO

FILHO, 2013, p. 43).

Além disso, o fato de a homologação da proposta não produzir coisa julgada resta

(32)

partes, caso em que as provas autoincriminatórias produzidas com a colaboração não poderão

ser utilizadas contra o colaborador, exclusivamente, podendo ser utilizadas contra terceiros.

Assim, se o Ministério Público ou o investigado não se satisfizerem com os

termos do acordo, após os atos de colaboração (que serão gravados ou salvos por outras

técnicas modernas para assegurar fidelidade das informações, §13), poderão desfazê-lo.

Importante ressaltar que “retratação não se confunde com revogação, que poderá ocorrer

quando houver quebra de uma das cláusulas do acordo, como a falta da prometida efetividade

na apuração dos fatos ou a delação parcial em juízo.” (SILVA, 2015, p. 68)

Finalmente, chega-se à fase da sentença, onde o mérito e a eficácia do acordo

serão examinados pelo juiz do caso, conforme §11 do artigo 4º. O magistrado deverá analisar

o comportamento do colaborador após o acordo e sua homologação, se realmente contribuiu

para a obtenção dos resultados desejados, pois apenas se a colaboração for exitosa e

possibilitar a coleta de provas idôneas é que se produzirá efeitos jurídicos em favor do delator.

Assim, “caso a colaboração seja efetiva e produza os resultados almejados, há que se

reconhecer o direito subjetivo do colaborador à aplicação das sanções premiais estabelecidas

no acordo, inclusive de natureza patrimonial.”, conforme afirma o Ministro Dias Toffoli em

seu voto no julgamento do HC 127483 / PR no dia 26.08.2015 (p. 59). E prossegue:

Assim, caso se configure, pelo integral cumprimento de sua obrigação, o direito subjetivo do colaborador à sanção premial, tem ele o direito de exigi-la judicialmente, inclusive recorrendo da sentença que deixar de reconhecê-la ou vier a aplicá-la em desconformidade com o acordo judicialmente homologado, sob pena de ofensa aos princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança.

Essa é a posição majoritária dos Tribunais Superiores. Dessa forma, o juiz só

poderá deixar de aplicar o benefício proposto, e com a fundamentação devida, se os termos do

acordo não forem cumpridos.

Por fim, o §16 dispõe que “nenhuma sentença condenatória será proferida com

fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.” Sendo assim, o sujeito deverá

provar a veracidade das informações prestadas para que estas sejam úteis à persecução penal,

pois, conforme afirma o Ministro Dias Toffoli (HC 127483 / PR, data do julgamento:

26.08.2015), mesmo que corroboradas por depoimentos de outros colaboradores, mas sem

provas que as sustentem, não serão idôneas para formar elemento de prova.

Na verdade, esse dispositivo veio apenas reconhecer o que, de início era bastante

divergente, mas já havia se tornado pacífico na jurisprudência, se devendo ao reconhecimento

(33)

algum corréu a acusar outro e, também, porque não havia o dever de dizer a verdade antes da

Lei nº 12.850/13.

Além de estar expressamente disposto no artigo 3º da Lei nº 12.850/13, o Ministro

Dias Toffoli, no já mencionado voto, afirma que a delação não é meio de prova, mas fonte de

obtenção de prova, pois enquanto os meios de prova se prestam diretamente ao

convencimento do julgador, os meios de obtenção de provas servem apenas indiretamente,

sendo instrumentos para a colheita de provas, estas sim, aptas a convencer o julgador.

Sendo assim, o acordo de colaboração é meio de obtenção de prova e os

depoimentos propriamente ditos do colaborador são meios de prova, que se mostrarão hábeis

à formação do convencimento judicial apenas se corroborados por outros meios idôneos de

Referências

Documentos relacionados

do foro por prerrogativa de função para evitar a impunidade da criminalidade de poder em relação aos atos de corrupção 254 4.4.3.1.2. A imunidade parlamentar

fez, se ofereceu para fazer ou aceitou fazer empréstimo, concessão, favor, doação ou outro pagamento por si, diretores, agentes, empregados, terceiros contratados, inclusive

e muito mais. Ao lado de tantos e talentosos nomes da música popular paraense e até mesmo da música nacional, Lucinnha revela que a parte mais difícil de elaborar o show, foi

Avanço no combate à corrupção e à fraude eleitoral 3 Eleições 2010 Prognóstico do DIAP revela renovação de mais de 40% na composição do Senado 5 a 9 Pauta

Parágrafo 3° - Na hipótese do empregado solicitar demissão antes do fechamento do período, será contabilizado o total de horas trabalhadas e o total de horas compensadas, se

TERMO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR DO PROJECTO DA INSTALAÇÃO DE GÁS JOSÉ RODRIGUES MACHADO, morador na Rua Lar do Montepio, nº 5, 2500-882 Caldas da Rainha, contribuinte nº

Em caso de não funcionamento adequado ao produto, adquirido dentro do prazo de garantia, o consumidor deverá entrar em contato com o suporte técnico da Epson no telefone 3004-6627

Ribeiro (2004) afirma que em muitos dos grandes escândalos de corrupção, a recapitulação dos fatos mostra que as auditorias conduzidas pelos Tribunais de Contas haviam detectado