• Nenhum resultado encontrado

A Política Agrícola Comum (de acrónimo PAC e em inglês CAP – Common Agriculture Policy) é um dos maiores instrumentos financeiros da União Europeia (UE) que no início da década de oitenta representava cerca de 66% do orçamento da UE, no Quadro financeiro de 2007-2013 representava 43% e presentemente para o Quadro financeiro de 2014-2020 representa cerca de 37,8%, com cerca de 363 mil milhões de euros a distribuir pelos seis anos do programa (Massot 2015). O objetivo principal da PAC é “assegurar um nível de vida justo aos agricultores e garantir um aprovisionamento alimentar estável e seguro a preços acessíveis aos consumidores” (European Comission 2013).

Em 1992, altura de uma grande reforma da PAC, foi considerado que o objetivo de assegurar o aprovisionamento alimentar da Europa a preços acessíveis estava a ser atingindo embora o mecanismo através do qual estava a ser obtido estivesse a gerar grandes excedentes alimentares (Massot 2015, sec.5.2.3). Estes excedentes deveram-se à política de apoio aos preços altos e a uma garantia de compra ilimitada aos agricultores. Ou seja, a par da intenção da UE de articular o mercado Europeu com a Organização Mundial de Comércio, considerou-se então que era importante harmonizar os preços do mercado agrícola Europeu com os preços de mercado mundiais. Consequentemente a PAC deixou de apoiar os preços mas sim dar aos agricultores medidas de compensação pela diferença de preços dos produtos Europeus face aos reduzidos preços do mercado mundial. Este sistema chamado de ajudas compensatórias aos rendimentos foi implementado através de ajudas diretas por hectare e relativamente à produção animal através da atribuição de prémios por cabeça de gado (Massot 2015, sec.5.2.3). A Agenda 2000 e a Reforma da PAC de 2003 foram duas etapas de grande importância na reforma da PAC que incluíram a i) dissociação das ajudas aos volumes produzidos; ii) a introdução do respeito das condições ambientais (eco-

68

condicionalidade) e de saúde pública (cross-compliance); iii) a criação de uma política de desenvolvimento rural que passou a ser chamada de 2º Pilar e no contexto da qual se reforçaram as medidas agro-ambientais; iv) a compatibilidade com as regras da Organização Mundial do Comércio e v) uma gestão flexível que permite aos Estados Membros aplicar de forma diferenciada alguns dos parâmetros da PAC (Massot 2015, sec.5.2.3).

Assim, desde 2005, a PAC está organizada em torno de dois fundos que são o FEAGA – Fundo Europeu Agrícola de Garantia e o Feader – Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural que são frequentemente apelidados de 1º Pilar e 2º Pilar, respetivamente.

O Feader ou 2º Pilar tem como objetivo a Orientação dos agricultores para a proteção dos recursos naturais e ainda a promoção do desenvolvimento rural, nomeadamente co-financiando “o reforço da competitividade dos setores agrícola e florestal, as medidas agroambientais, a melhoria da qualidade da vida nas zonas rurais e o encorajamento à diversificação da economia rural, bem como a constituição de capacidades locais” (Massot, 2015). Este pilar tem atribuído para o Quadro Financeiro 2014-2020 cerca de 8,8% do orçamento Europeu a que correspondem cerca de 85 mil milhões de euros a distribuir pelos seis anos do Quadro (Massot, 2015) e pelos Estados- Membros. Este orçamento corresponde a cerca de 23% do orçamento total da PAC. O FEAGA ou 1º Pilar tem como objetivo assegurar a Garantia da produção alimentar e mercado agrícola no espaço Europeu, nomeadamente através das ajudas diretas aos agricultores e às explorações. Este fundo representa para o Quadro Financeiro 2014- 2020, 28,7% do orçamento da UE e cerca de 277 mil milhões de euros divididos pelos seis anos do Quadro. Este orçamento corresponde a cerca de 77% do orçamento total da PAC.

As ajudas diretas aos agricultores podem ser dependentes daquilo que o agricultor produz (ajudas ligadas à produção) ou podem ser independentes do que produz e serem atribuídas por exemplo em função da área ou histórico ou outros critérios que não o da

69

produção (ajudas desligadas da produção). Tal como referido anteriormente, a PAC evoluiu ao longo do tempo de uma abordagem de atribuição das ajudas ligadas para o progressivo e quase total desligamento das ajudas. Massot (2015) afirma que, “no passado, os três primeiros sectores beneficiários do [antigo] FEOGA-Garantia eram as culturas arvenses (cereais, oleaginosas e proteaginosas), a carne de bovino e os produtos lácteos”. A partir da reforma da PAC de 1992 assistiu-se ao progressivo desmantelamento das medidas de suporte de preços e das ajudas diretas à produção (Santos et al. 2012). Após a reforma da PAC de 2003 é instaurada a dissociação quase total das ajudas relativamente à produção e “a primeira rubrica de despesas é ocupada pelos pagamentos às explorações (84 % do total do FEAGA em 2013), seguida das ajudas diretas ligadas à produção (7,9 %)” (Massot 2015). O desligamento das ajudas é feito através de um Regime de Pagamento Único por exploração (RPU e em inglês SFP – Single Farm Payment) que é definido com alguma flexibilidade por cada país-membro da UE. Em 2007 Fragoso e Marques (2007) afirmam que “a nova PAC possibilita que cada Estado Membro possa implantar o regime de pagamento único numa base nacional ou regional, apenas aos agricultores que já se beneficiavam anteriormente dos pagamentos diretos ou a todos os agricultores, e total ou parcialmente desligado da produção”. “Portugal optou pela aplicação parcial do pagamento único a partir de 2005, apenas aos agricultores que já se beneficiavam anteriormente dos pagamentos diretos da Agenda 2000”. “Nas culturas arvenses o pagamento será completamente desligado da produção e das superfícies cultivadas”. “Nos ovinos e caprinos o desligamento do prémio será de 50%, enquanto que nos bovinos se mantém a totalidade do prémio à vaca aleitante e ao abate de vitelos.” (Fragoso & Marques 2007)

A PAC pretende influenciar a forma como os agricultores gerem e praticam agricultura e tem conseguido atingir os seus objetivos não obstante surgirem vários efeitos secundários dos sinais enviados por esta Política aos agricultores e sociedade em geral. A atribuição das ajudas diretas aos agricultores ligadas à produção tem como objetivo

70

incentivar a produção mas tem efeitos secundários indesejados como incentivar a intensificação insustentável com impactos ao nível do meio ambiente, incentivar culturas desadequadas a condições locais ou incentivar o sobre-pastoreio com intensificação exagerada dos encabeçamentos do gado numa dada área. Por outro lado, pode ainda ter como efeitos secundários criar uma cultura de dependência e subserviência dos subsídios que habitua o agricultor a escolher as suas culturas e práticas agrícolas em função das orientações dos fundos públicos em detrimento de despertar a sua formação e capacidade de adequar as suas culturas e práticas agrícolas às condições edafo-climáticas da sua propriedade. Um outro exemplo de um efeito secundário das ajudas ligadas à produção é incentivar produções agrícolas de monocultura de larga escala com impactos regionais e locais na biodiversidade, fauna, flora, saúde pública, água, solos e cultura local. Outros impacto indireto é a transformação da agricultura de atividade produtora em equilíbrio com o meio ambiente para atividade consumidora de elevados níveis de inputs energéticos (fertilizantes, pesticidas, energia, CO2, água, solo) e desligada e independente das condições naturais da paisagem envolvente gerando assim produtos e paisagens insustentáveis.

Por outro lado, os problemas associados ao desligamento das ajudas são a possibilidade de subsidiar o abandono dos campos por pagarem aos agricultores simplesmente pelo facto de terem propriedade independentemente da sua utilização. Outro efeito secundário é o da alocação de subsídios a grandes empresas/grupos multinacionais, latifundiários ou famílias detentoras de propriedades com áreas superiores a países e regiões que não necessitam do subsídio para prosseguirem com as suas práticas de gestão da terra por serem entidades com grandes lucros anuais (FarmSubsidy.org 2015; Hencke & Evans 2005). Este efeito secundário significa gerir de forma ineficaz recursos públicos e simultaneamente tende a perpetuar a acumulação desproporcional de riqueza e poder o que por si só dificulta o caminho da sustentabilidade das regiões. (Marques 2014) afirma ainda que a PAC continua a ser uma Política que mantém a desigualdade entre países, regiões e agricultores. Uma vez que a PAC atribui os

71

pagamentos em função do histórico de produção, os agricultores, as regiões e os países recebem níveis de suporte diferentes baseados naquilo que produziam no passado e na diferente valorização que a PAC fazia dos diferentes produtos quando as ajudas ainda estavam ligadas à produção (Marques, 2014) .

No que a Portugal e ao Montado de Sobro diz respeito as Ajudas Ligadas à Produção incentivaram a produção de culturas e intensificação desadequadas o que causou pressão sobre o Montado ajudando ao seu declínio em algumas zonas. Fragoso e Marques (2007) referem que nas últimas décadas “as medidas da PAC de apoio à produção e de suporte aos preços dos produtos conduziram a que as escolhas produtivas dos agricultores fossem efetuadas em função das atividades agrícolas mais subsidiadas e não em função da sua competitividade”. Martins et al (2005) refere que o desligamento das ajudas parece ter um impacto negativo no rendimento económico das explorações agrícolas mas por outro lado parece ter um impacto positivo na performance ambiental das explorações e promover a extensificação da agricultura.(Martins et al. 2005). Em solos pobres e médios e explorações médias e grandes o Desligamento parece incentivar as atividades não agrícolas e a floresta de sobreiro e o montado multifuncional (Fragoso et al. 2009). Complementarmente, as tecnologias alternativas de mobilização do solo são incentivadas pelo aumento do apoio do 2º pilar em detrimento do 1º (Martins and Marques, 2006).

Portugal tem um modelo de agricultura que dificilmente se enquadra no mercado da PAC e nas políticas de preço comum. Como tal as mudanças do 1º pilar ao 2º pilar são benéficas para Portugal e para a Europa na medida em que contribuem para a coesão económica da União Europeia e para uma agricultura mais estável e sustentável (Martins & Marques 2006, p.858).

72

4 Metodologia do caso de estudo

O objetivo deste trabalho é estudar se é viável economicamente e financeiramente a exploração sustentável da floresta de sobreiro nas zonas declivosas localizadas na freguesia de São Martinho das Amoreiras.

A metodologia desenhada consiste em:

I. OBJECTIVOS, HIPÓTESE, CONCEITOS: definir os objetivos, hipótese, pergunta e conceitos utilizados

II. ESTADO DA ARTE: realizar e apresentar uma síntese do estado da arte das boas práticas na gestão sustentável do montado e floresta de sobreiro.

III. ÁREA DE ESTUDO: definir e caracterizar a área de estudo.

IV. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE: Residindo e trabalhando na área de estudo de 2006 a 2014, o autor pôde observar e acompanhar as práticas estudadas, obtendo dados sobre as práticas agrícolas e aprofundar o entendimento da região, da paisagem e dos seus atores através de um envolvimento próximo com a população.

V. OBTENÇÃO DE DADOS: Obter os dados económicos da exploração do montado e floresta de sobreiro na área em estudo através de entrevistas semiestruturadas. Desenhar o guia de entrevista e entrevistar uma amostra de peritos locais / proprietários e gestores da floresta de sobreiro da freguesia de São Martinho das Amoreiras.

VI. AVALIAÇÃO QUALITATIVA: Avaliar os conteúdos das entrevistas para perceber qual a razão da escolha dos diferentes modelos de gestão da floresta de sobreiro na área em estudo.

VII. AVALIAÇÃO QUANTITATIVA: Avaliar financeiramente a viabilidade da floresta de sobreiro sustentável na zona em estudo.

73

VIII. DISCUÇÃO TEÓRICA DOS RESULTADOS: discutir os resultados e identificar recomendações de boas práticas para o aumento da sustentabilidade ambiental e também da viabilidade financeira das explorações na região.

IX. DISCUSSÃO PRÁTICA DOS RESULTADOS: Se possível, apresentar os resultados obtidos aos peritos locais entrevistados para obter feedback das estratégias e resultados apresentados.