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A Viabilidade Económica e a Sustentabilidade Forte e Fraca do Montado de Sobro

A viabilidade económica diferencia-se da financeira na medida em que incorpora não apenas os valores de uso diretos e presentes dos serviços ou bens mas também os valores de uso futuro, os valores de não uso e os outros valores e serviços prestados à sociedade que permitem maximizar o bem-estar dos indivíduos e sociedade como um todo. É com esta abordagem sistémica e holística que se deve analisar a viabilidade económica do Montado e a importância da sua gestão sustentável nas paisagens do nosso país. Neste capítulo analisaremos ainda com algum detalhe e exemplos de que forma os conceitos de sustentabilidade forte e fraca podem ser aplicados na gestão mais ou menos sustentável do Montado. Procuraremos entender de que forma estas

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escolhas são viáveis economicamente e passaremos para o capítulo seguinte para entender as experiências práticas dos entrevistados na região de estudo que demonstram alguns constrangimentos sociais para a implementação de níveis superiores de sustentabilidade. Procurando então o entendimento da importância do Montado para outros aspetos da sociedade, ambiente e economia que não estão incorporados nos valores de uso e de mercado dos produtos do montado, o conceito de externalidades permite analisar e, caso se implemente uma análise custo benefício completa, quantificar monetariamente a importância do Montado para a sustentabilidade das paisagens e das regiões em que se insere. Olhemos então para algumas das externalidades positivas e negativas do Montado identificadas pelo autor que podem ajudar e entender a pertinência desta gestão sustentável.

Tabela 7.5 - Externalidades negativas do Montado. Fonte: identificadas e compiladas pelo autor a partir do capitulo 3 estado da arte e observação participante.

Externalidades Negativas do Montado

Ecológico Económico Social

Impedimento de propagação de outras espécies

Ocupação de áreas vastas que não são utilizadas de outras formas como estufas ou por exemplo outros sistemas agrícolas

intensivos e especializados

Ocupação de vastas áreas de território e proibição de abate de árvores

dificultando o surgimento e compatibilização com algumas outras atividades

Tabela 7.6 - Externalidades positivas do Montado. Fonte: identificadas pelo autor identificadas e compiladas pelo autor a partir do estado da arte e observação participante.

Externalidades Positivas do Montado

Ecológico Económico Social

Biodiversidade; prevenção de fogos; Adaptação ao clima; ecossistema sustentável; gestão da água pela floresta com regulação de fluxos hídricos de ribeiras, nascentes e prevenção de cheias; requer baixo input externo de energia; Sumidouro de CO2;

manutenção dos serviços do ecossistema; prevenção da erosão; Impedimento de propagação de novas espécies exóticas.

Aproveitamento do capital de conhecimento existente na região sobre a gestão deste ecossistema; criação de empregos, alimentos, produtos, lenha, lazer, turismo, caça; efeito multiplicador do montado (ex. mercado da cortiça, do porco preto, trabalhadores do montado gastam o seu dinheiro na região, etc.)

Manutenção da cultura e tradição e identidade da região; cultura está adaptada a este

ecossistema; paisagem; lazer; caça; produção de alimentos; serviços do ecossistema (água, ar, diversidade, amenidades, etc.)

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As externalidades acima apresentadas ilustram a importância do montado e listam serviços da paisagem que por vezes têm algum valor financeiro mas que porém não reflete toda a sua importância. Um exemplo disto é a importância estratégica de alguns serviços como a possibilidade de fornecer lenha como combustível. Este serviço tem um valor de uso presente mas o seu valor de uso futuro pode ser bastante superior no caso de existir uma crise energética ou no caso dos custos da energia subirem. Ou seja desbastar todas as árvores para consumir a lenha no presente sem guardar lenha para o futuro implica perder o valor de uso futuro de lenha. Outros exemplos são serviços que não têm de todo um valor financeiro como é o caso da regulação dos leitos das ribeiras e prevenção das cheias.

A internalização destas externalidades nos valores de mercado do montado é algo bastante complexo que pode essencialmente ser feito através do apoio das políticas públicas como a PAC através do Proder. Porém no objeto deste estudo importa analisar em que medida estas práticas são aplicadas ao nível concreto e em que medida elas são viáveis para o agricultor tendo em conta a sua realidade económica, social e ambiental. Sendo a sustentabilidade do montado alicerçada na sua multifuncionalidade e complementaridade entre serviços do ecossistema, não interessa portanto identificar qual o produto mais lucrativo do montado, mas antes identificar como potenciar a multifuncionalidade e a valorização máxima dos recursos do ecossistema, criando empregos e deixando para as gerações futuras uma quantidade igual ou superior de recursos e serviços do que os que existem no presente.

A sustentabilidade do montado depende essencialmente  ao nível ambiental:

o da sanidade e da manutenção da regeneração do coberto florestal; o dos solos, que constituem a base de toda a fertilidade e saúde do

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o da conservação da biodiversidade (preservação do património genético, não utilização de espécies invasoras, não utilização de organismos geneticamente modificados, etc.);

o da prevenção dos incêndios e boa manutenção e regeneração de áreas ardidas;

o da utilização de recursos locais (rações, água, energia, etc.) vs a importação dos recursos necessários à produção (rações, água, energia, etc.)

 ao nível económico:

o da viabilidade financeira da exploração e pagamento das externalidades da exploração (serviços de manutenção do ecossistema, etc.)

o da promoção (e valorização) das externalidades positivas e do efeito multiplicador do Montado para o desenvolvimento local e regional  ao nível social:

o da manutenção do conhecimento tradicional e da aprendizagem contínua sobre a gestão dos montados, práticas agrícolas e rurais essenciais à sua exploração sustentável;

o da permanência das populações em espaço rural para que continue a existir população local que se interesse por explorar localmente e de forma sustentável os recursos, possibilitando a sua vida em espaço rural (nomeadamente a existência de pastores);

o da remuneração adequada da mão-de-obra local e condições de trabalho;

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identificar algumas formas de gestão e exploração dos recursos naturais diferenciadora destas duas abordagens.

Ao nível da água e dos solos, numa lógica de sustentabilidade fraca, a fertilidade e captação de água no solo pode ser feita através da compra e adição de fertilizantes e de produtos higroscópicos ao solo. A abordagem da sustentabilidade fraca recorre ao capital para importar recursos de fora para criar a sustentabilidade no local criando, por outro lado, custos ambientais noutros locais, por exemplo através dos gastos energéticos e emissões de poluentes para o fabrico dos fertilizantes e dos produtos higroscópicos.

Por outro lado, numa lógica de sustentabilidade forte, a fertilidade e captação de água no solo é feita através de aumentar a matéria orgânica viva e aumentar a infiltração de água com o mínimo de erosão através da mobilização de conservação (mobilizar menos o solo e mobilizar em curva de nível), plantação de leguminosas e rotação do gado. Esta lógica de sustentabilidade forte aposta em utilizar os recursos locais para manter a sua sustentabilidade. Quando estes recursos já existem esta abordagem é financeiramente mais viável e quando estes recursos não existem é necessário um investimento de médio prazo que dificulta a viabilidade financeira sem o apoio ao investimento.

É precisamente neste ponto em que se encontra a discussão da viabilidade financeira da sustentabilidade forte na gestão do montado. Se for possível encontrar soluções ao nível local e o proprietário estiver motivado para tal, ele pode investir os seus recursos obtidos de alguns dos produtos do montado para regenerar os solos ou proteger a biodiversidade ou proteger dos incêndios. Se, por outro lado, o proprietário não estiver auto motivado para investir na regeneração e preservação do seu montado no longo prazo, então as razões para agir de forma sustentável têm de ser outras como a regulação, controle, sensibilização ou incentivo económico.

A conclusão que se retira da análise das contas da viabilidade da gestão do montado a partir da área de estudo é que existe algum lucro possível de obter dos vários produtos do montado que, quando geridos da melhor forma podem criar e potenciar

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ecossistemas de montado sustentavelmente fortes. Porém esta viabilidade está dependente de inúmeros fatores sociais, económicos e ambientais que o agricultor tem de gerir com alguma complexidade e que dependem bastante de cada propriedade e cada região.