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Para entender se a viabilidade financeira é o fator determinante para a gestão sustentável da floresta de sobreiro e também conhecer quais as motivações dos proprietários para a gestão sustentável, é essencial conhecer as suas práticas, as suas perceções e razões das suas escolhas. As entrevistas foram estruturadas para responder a este objetivo geral de análise da sustentabilidade dos montados no caso de estudo. Vejamos agora algumas das práticas mais relevantes determinantes para a sustentabilidade.

7.5.1

A Regeneração dos sobreiros;

Os entrevistados consideraram que a regeneração natural, quando feita de forma adequada, é preferível às plantações devido a vários fatores, nomeadamente: a regeneração sai mais barata e é mais eficaz pois os sobreiros quando vêm do viveiro trazem a raiz principal curvada o que dificulta o seu crescimento.

Por outro lado, quando se pretende regenerar numa área grande, a regeneração através de plantação financiada permite obter o cofinanciamento, essencial para suportar os custos não só da plantação mas também das podas e limpezas e manutenção dos terrenos sem outros usos, exceto a caça, durante dez a vinte anos.

Alguns entrevistados fazem uma regeneração totalmente natural, que é controlada e regulada através das limpezas dos matos com trator e grade ou roça-mato: quando o homem passa com a máquina e vê um sobreirinho dá a volta para não o matar. Se os sobreiros estão a nascer muito por debaixo de um sobreiro grande então são limpos com a máquina. Adicionalmente existe uma redução do adensamento pela presença de

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animais que comem as bolotas como os porcos-pretos, os javalis ou as cabras.

Desta forma é possível impedir um adensamento exagerado do sobreiral na perspetiva da exploração da cortiça, embora se afaste o sobreiral do bosque de sobreiro mais denso e o tal considerado como Floresta de Quercus Suber - Habitat 9330 na Rede Natura 2000 (ver capitulo 3.2.2 ).

As recomendações da gestão sustentável para a regeneração dos sobreiros apontam para a promoção de uma boa densidade de coberto florestal que permita a manutenção dos serviços do ecossistema e os serviços florestais. Na perspetiva dos serviços florestais, a regeneração natural, controlada com limpezas periódicas, permite manter as árvores existentes e impedir um adensamento exagerado mas é insuficiente ou demasiado lento na perspetiva de desenvolvimento local e regional para aumentar o número de árvores de sobreiro para áreas com pouca ou nenhuma cobertura florestal. Alguns entrevistados realizam a plantação em covacho sem subsídios pois preferem ser autónomos na decisão de onde plantar os sobreiros e a que distancias os colocar etc. Todos os entrevistados criticaram as regras das plantações financiadas e/ou os projetos dos engenheiros que obrigam a uma densidade exagerada de árvores por hectare, que posteriormente têm de ser abatidas e que aumentam de forma significativa os custos destas plantações, pois é necessário comprar demasiadas árvores, andar alguns anos a tratar delas e depois pagar o seu corte.

7.5.2

A Prevenção do Fogo;

A prevenção do fogo é realizada por todos entrevistados através da limpeza dos matos e da vegetação espontânea em toda a propriedade e através da criação de aceiros junto às margens das propriedades e junto às estradas. Estas operações são feitas essencialmente recorrendo a tratores com grade de discos e por vezes as limpezas são realizadas recorrendo ao pastoreio, essencialmente de cabras. Apesar de as cabras realizarem esta operação sem custos para o proprietário, apenas um dos entrevistados que não era proprietário de gado recorria a esta técnica, alugando os seus terrenos para

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pastagens, como forma de limpeza para também diminuir os seus custos na gestão da sua propriedade.

A prevenção do fogo através da limpeza dos matos é claramente uma preocupação de todos os entrevistados e uma das razões principais para as desmatações. Mesmo quando estas desmatações e limpezas constituem um dos maiores custos de manutenção, colocando mesmo em causa a viabilidade económica da sua propriedade, todos os entrevistados proprietários consideram esta operação ser sua obrigação.

7.5.3

Prevenção da erosão

A prevenção da erosão é claramente um dos fatores que afasta as práticas de alguns dos proprietários entrevistados da sustentabilidade. O problema centra-se essencialmente ao nível da mobilização do solo pois quase nenhum dos entrevistados que faz a mobilização do solo em curvas de nível e são vários os que utilizam grades de discos em solos com menos de 30cm de profundidade e com declives médios o que não é recomendado pelo manual de boas práticas na gestão de sobreirais da Direção Geral das Florestas (Barros et al. 2006).

Esta prática é feita pelos proprietários principalmente para a desmatação do sob- coberto dos montados como forma de prevenção contra incêndios e tem, como vimos, custos financeiros muito elevados.

A limpeza do sob-coberto com outras práticas menos causadoras de erosão como por exemplo a utilização de corta-matos ou roça matos manual não é utilizada por ser demasiado onerosa.

A prática da mobilização em curva de nível não é praticada exceto nas plantações financiadas de sobreiros em que tal prática é uma condicionante imposta pelo engenheiro responsável e pelo financiamento da plantação. A gradagem dos terrenos poderia ser também realizada em curva de nível para prevenir a erosão mas tal prática é frequentemente vista como perigosa por poder virar o trator em zonas muito declivosas e por outro lado aumenta o número de horas de máquina por hectare o que

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também aumenta os custos da limpeza e desmatação.

A limpeza do sob-coberto é por vezes realizada com o gado. Sendo esta uma prática com muito menos custos e até um lucro significativo, dependendo do tamanho do rebanho e dos animais, a limitação para esta prática pode ser o facto de existirem cada vez menos pastores e cada vez menos pastores jovens. Os entrevistados mencionaram existir na área de estudo apenas dois jovens pastores, dos quais um deles foi um dos entrevistados. Se não existem pastores então esta prática torna-se limitada por um fator social e não por um fator económico. Num trabalho futuro seria interessante perceber se o incentivo económico é suficiente para a existência de pastores, qual seria o valor desse incentivo e quais os outros fatores que podem incentivar o surgimento de jovens pastores ou pastoras.

7.5.4

A Conservação da Biodiversidade;

No que diz respeito à conservação da biodiversidade todos os agricultores manifestaram um interesse generalizado pela natureza e pelas espécies naturais, manifestando por outro lado a necessidade de equilíbrio entre as espécies naturais, não cinegéticas e as necessidades do agricultor. Foram dados vários exemplos para a necessidade deste equilíbrio entre biodiversidade e agricultura dos quais se destacam as raposas, as pegas- azuis (localmente apelidadas de charnecos) e as aves de rapina. Para as raposas e as aves de rapina, vários proprietários e pessoas locais afirmam que estas são libertadas na paisagem “pelos tipos do ambiente”, colocando em liberdade animais que estão habituados à presença humana em cativeiro e que devido a tal habituação se aproximam das populações para se alimentar de galinhas e outros animais de criação doméstica. Para as pegas-azuis, dois entrevistados manifestaram que esta espécie exótica deveria tornar-se espécie cinegética para passar a ser regulada e equilibrar a sua presença no ecossistema pois ela tem sido observada a comer os ovos dos ninhos de outras aves como pardais, perdizes, etc., além de se alimentar da vinha e outras frutas.

Apesar de existir um interesse na natureza existe porém uma postura crítica dos entrevistados face a aspetos específicos da conservação da biodiversidade. Apesar de

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existir um consenso generalizado sobre a conservação de espécies em vias de extinção, como por exemplo, o lince-ibérico, existe também o conflito sempre presente entre os interesses da fauna e flora selvagem e os interesses dos agricultores.

Nenhum dos entrevistados manifestou de forma clara uma preocupação com a manutenção dos habitats de cogumelos, insetos ou répteis.

7.5.5

O Impacte Ambiental da exploração;

No que se refere aos impactes ambientais da exploração, os entrevistados consideraram que o seu impacto era desprezível visto não utilizarem no montado pesticidas ou outros produtos a que reconheçam importantes impactes ambientais. Os proprietários identificaram o consumo de combustível como um impacte ambiental mas com carácter indispensável e sempre usado nas mínimas quantidades possíveis devido ao seu elevado custo. Nenhum entrevistado considerou como importantes os impactes ambientais decorrentes do uso de fertilizantes químicos, rações com ingredientes geneticamente modificados.

7.5.6

Os apoios públicos e a sustentabilidade

Vários dos entrevistados apresentaram críticas concretas aos apoios públicos à agricultura no que diz respeito ao incentivo da sustentabilidade ou adequação ao contexto local.

A primeira e principal crítica mencionada por vários entrevistados diz respeito às regras associadas à plantação dos sobreiros. Os entrevistados criticam o facto de serem financiadas e incentivada a plantação de demasiadas árvores por hectares e demasiado próximas, sabendo-se desde logo que caso exista sucesso terá de existir um grande desbaste da plantação. Esta plantação obriga a maiores custos e também a um maior custo ambiental com a compra de árvores a mais, tubos de proteção e operações de desbaste.

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incentivo à plantação de monocultura de sobreiros ao invés de se apoiarem culturas mistas de sobreiro com outras espécies que dão rendimento no curto e médio prazo como medronheiros e pinheiros mansos. Aparentemente, as regras são demasiado exigentes impedindo as culturas mistas ou não se aplicando aos relevos e condições naturais locais. Uma outra crítica é o facto de não existir obrigatoriedade de análise aos solos e microclimas locais (por exemplo vertentes sombrias versus solarengas) e adequação das plantações às condições locais. Esta crítica estende-se a outras culturas pois os apoios agrícolas subsidiam culturas que frequentemente são desadequadas das condições edafo-climáticas locais como no passado o girassol e presentemente o trigo duro, que por vezes é semeado no sob-coberto do montado para obter o subsídio sem um adequado aproveitamento agrícola. Esta situação tem vindo a acontecer cada vez menos devido ao progressivo e quase total desligamento das ajudas tal como mencionado no capítulo 3.5 A PAC das Ajudas Ligadas às Ajudas Desligadas.

Por outro lado, por vezes, os entrevistados criticam os apoios por obrigarem a patamares considerados por eles como demasiado elevados de sustentabilidade, como por exemplo a obrigatoriedade de manutenção de faixas intercaladas sem limpeza entre os sobreirais. Apesar de esta ser uma prática importante para a prevenção da erosão e até proteção de espécies cinegéticas como a perdiz, os agricultores por vezes sentem- se demasiado controlados na sua forma de gerir a propriedade.