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A distribuição espacial no território do montado de sobro e azinho está associada ao clima mediterrâneo e em Portugal aos padrões de precipitação e temperatura (DGF 2001) como se pode ver comparando a Figura 3.8 com a Figura 3.9.

O clima desta região mediterrânica é caracterizado pela precipitação concentrada no Inverno, por temperaturas médias de verão superiores a 22ºC e por uma variabilidade inter-anual da precipitação elevada, traduzindo-se na ocorrência periódica de secas (Belo et al. 2009).

A produtividade primária líquida do Sobreiro é menor quando a precipitação se reduz e a temperatura aumenta, ou quando a árvore é sujeita a ondas de calor e carência hídrica (Pereira et al. 2006).

As alterações climáticas que se têm observado nas últimas décadas têm, desde já, significado um aumento da temperatura média na Península Ibérica e redução do número de dias de chuva no ano e consequentemente aumento dos episódios de chuva forte (Santos & Miranda 2006).

Figura 3.8 - Área de distribuição do montado. Fonte (DGF 2001)

Figura 3.9 Precipitação média anual - observações em 1960- 1990. Fonte Santos e Miranda 2006

Figura 3.10 - Precipitação média anual em 2100 - previsões com o cenário GGA2 - modelo Hadrm3. Fonte Santos e Miranda 2006

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Para discutir o futuro do clima o quinto relatório do Painel Internacional sobre as Alterações Climáticas (IPCC) utiliza diferentes cenários denominados Representative Concentration Pathways (RCPs) que são construídos com base na quantidade de gases com efeito de estufa presentes na atmosfera e previstos de acordo com a sua evolução no tempo, os efeitos das políticas ambientais e cenários de desenvolvimento económico e social que condicionam as emissões de gases com efeito de estuda, o funcionamento dos sumidouros, etc. (Stocker et al. 2013a). As alterações climáticas previstas para o Globo (Stocker et al. 2013b), para a Europa (Jacob et al. 2013) e para Portugal (Santos & Miranda 2006) com os diferentes cenários mais moderados (RCP2,6), intermédios (RCP 4.5 ou A2) ou mais gravosos (RCP8.5) estimam que irá ocorrer um aumento da temperatura média global, que se traduzirá em Portugal e num aumento da temperatura média, num aumento das temperaturas máximas, num aumento dos eventos extremos como secas ou tempestades e numa redução da precipitação.

Pereira et al (2006) no capítulo Biodiversidade e Florestas do relatório “Alterações climáticas em Portugal. Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação - Projeto SIAM II” estima que a produtividade primária líquida do Sobreiro poderá decrescer entre 40% a

Figura 3.12 - Temperaturas máximas observadas 1961-1990. Fonte: Santos e Miranda 2006

Figura 3.11 - Temperaturas máximas previstas para 2100 com cenário intermédio A2. Fonte: Santos e Miranda 2006

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65% os próximos 100 anos de acordo com o cenário intermédio A2 ( Ver Figura 3.13a e 13b).

Estas estimativas podem significar que o sobreiro vai migrar para norte e para as regiões mais altas mas por outro lado existe informação histórica de que a flora do mediterrâneo já ultrapassou vários momentos de variabilidade climática no passado pelo que é de elevada importância conservar o património e diversidade genética no montado para que esta capacidade natural se possa manifestar na sua plenitude (Regato et al. 2008).

Figura 3.13a e 13b - Produtividade Primária Líquida (PPL) do Sobreiro em Portugal observada (esquerda) e prevista para o ano de 2100 (direita) com o cenário intermédio A2. Fonte: Pereira et al 2006

Para entender melhor de que forma o clima e as alterações climáticas efetuam pressão e resultam em impactes sobre as espécies vegetais, apresenta-se de seguida um esquema criado para clarificar os impactes que os diferentes fatores climáticos terão sobre as espécies vegetais, agrícolas e florestais. Estes cenários de alterações climáticas

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e consequentes impactes ilustram a necessidade de mitigar a componente das alterações climáticas geradas pelo ser humano que advém das emissões de gases com efeito de estufa mas também ilustram a necessidade de adaptação devido à sua elevada previsibilidade perante os recentes cenários do IPCC que já incluem a política climática (Hulme 2005).

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Figura 3.14 - Esquema dos impactes das Alterações Climáticas na Agricultura e Florestas do Alentejo. Fonte: Adaptado a partir da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas – Agricultura e Florestas (MAMAOT 2013)

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3.3.1

Adaptação às Alterações Climáticas

A adaptação às alterações climáticas para ecossistemas vulneráveis consiste na implementação a um nível local de práticas de gestão flexíveis que promovem a capacidade de adaptação e sobrevivência inerente às espécies e habitats desse ecossistema reduzindo assim a sua vulnerabilidade às tendências de alteração climática (Hulme 2005).

A “Estratégia de Adaptação da Agricultura e Florestas às Alterações Climáticas – Portugal Continental” definida pelo Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e Ordenamento do Território (MAMAOT 2013) considera que a adaptação do montado às alterações climáticas é essencial e define uma estratégia baseada em três objetivos principais:

i) Aumentar a resiliência, reduzir os riscos e manter a capacidade de produção de bens e serviços;

ii) Aumentar e transferir o conhecimento entre os agentes dos sectores; iii) Monitorizar e avaliar.

Esta estratégia define ainda 50 medidas de adaptação para o sector da agricultura e florestas para o continente Português e ainda um conjunto de dezenas de medidas para diferentes culturas agrícolas e florestais específicas como o trigo, o olival ou a vinha. No âmbito do projeto de investigação BASE - Bottom Up Adaptation Strategies Towards a Sustainable Europe(BASE 2016) o autor realizou, com o grupo de investigação CCIAM, um workshop apelidado de “Estado da Arte Participativo sobre a Adaptação às Alterações Climáticas no Alentejo – Agricultura e Florestas” que incluiu cerca de 36 investigadores sobre a temática em Portugal. Neste evento entre outros objetivos atingidos, foram discutidas e priorizadas as medidas de adaptação da estratégia nacional mencionadas acima e foram propostas mais algumas medidas de adaptação. O resultado, indicativo da direção a tomar, ajuda a selecionar entre a vasta informação

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existente as medidas a tomar em consideração na gestão sustentável do montado.  Conservação do solo e promoção da matéria orgânica no solo (ENAAC);

 Preservação dos recursos hídricos (ENAAC);  Promover o uso eficiente da água (ENAAC);  Replantar com espécies autóctones (ENAAC);

 Valorizar o património genético animal, vegetal e microbiológico (ENAAC);  Aumentar a capacidade de armazenamento e rega (ENAAC);

 Proteger e recuperar as linhas de água (ENAAC);

 Reforçar os mecanismos e instrumentos necessários à melhoria florestal (ENAAC);  Reforço do papel da agricultura e floresta na proteção do solo e água (ENAAC);  Seguros agrícolas (ENAAC);

 Extensão rural / aconselhamento agrícola associado a formação/ investigação/ demonstração (ENAAC);

 Aumentar o conhecimento sobre os cenários de evolução climática (ENAAC);  Educação ambiental nas escolas (ENAAC);

 Manter as populações em espaço rural; *

 Promover o acesso à terra e a renovação dos agricultores; *

 Incentivo e apoio aos modelos de precisão do encabeçamento (número de cabeças no tempo) para o pastoreio regional; *

 Pagar aos agricultores, pastores e florestais pelos seus serviços ao ecossistema e pagar em função dos serviços prestados; *

 Criar sistemas de alerta de impactes ambientais (utilizando indicadores de impacto e não de efeito): *

 Documentar e Disseminar as boas práticas tradicionais; *

 Desenvolver tecnologias mais simples para exploração de espécies de recursos naturais mais adaptadas ao futuro; *

 Ajustamento dos calendários das culturas ao clima; *

 Promover a visão sistémica local no planeamento agrícola e regional; *  Promover a investigação aplicada e interdisciplinar; *

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 Produzir e Disseminar conhecimento mais prático e útil. *

As medidas assinaladas com * são novas e foram adicionadas à estratégia nacional de adaptação.